quarta-feira, 10 de setembro de 2025

Duas pistas para Miguel Oliveira: entre a corrida e a sombra do teste

Há momentos na vida de um piloto em que a pista se transforma numa encruzilhada. Miguel Oliveira está precisamente aí: diante de dois mundos, um de pura competição e outro de bastidores, menos visível mas não menos decisivo. 


Em 2026, o futuro do piloto português continua por traçar. As portas da MotoGP estreitaram-se, as cadeiras da grelha rarearam. As hipóteses dividem-se entre uma aventura no Mundial de Superbike — onde Yamaha e BMW já acenaram com interesse — e uma função que, à primeira vista, pode soar discreta, mas que transporta peso de ouro: ser piloto de testes da Aprilia. 

E é aqui que a história aquece. Jorge Martín, atual campeão do mundo e companheiro de batalhas de Miguel, não poupou palavras ao comentar esta possibilidade. E já o disse de forma clara: “Dois pilotos de testes podem ser uma boa ideia.” A lógica é cristalina. No MotoGP de hoje, o desenvolvimento técnico é um duelo de titãs. Cada detalhe, cada décimo de segundo arranca-se ao cronómetro com suor e quilómetros. Ter duas vozes experientes no “banco de ensaios” é dobrar a perspetiva, é comparar sensações, é lapidar a máquina até à perfeição. 

Martín recordou a própria experiência com Marco Bezzecchi: quando voltou de lesão, pôde finalmente partilhar dados, cruzar informações, crescer em conjunto. E acredita que o mesmo se aplicaria numa equipa de testes reforçada. Lorenzo Savadori, eterno fiel da Aprilia, tem carregado o fardo com mérito. Mas Jorge não hesitou em sublinhar: “O Miguel está em plena atividade, conhece diferentes motos, está no ritmo de corrida. É uma opção muito válida.” 


O que paira no ar, no entanto, é a resistência natural de Oliveira. Aos 30 anos, o piloto de Almada não esconde: quer correr. Quer estar na grelha, sentir a adrenalina da partida, olhar para o semáforo vermelho e lançar-se de coração em fogo. A ideia de se limitar ao papel de piloto de testes soa-lhe quase como trocar o palco pelos bastidores. Mas também não fecha portas. “Estou aberto a tudo”, confessou recentemente. 

E é isso que torna o momento tão fascinante: Miguel Oliveira equilibra-se na corda bamba entre dois caminhos. De um lado, a continuidade de uma carreira no pináculo da velocidade, ainda que disfarçada sob o título de “teste”. Do outro, a mudança radical para o Mundial de Superbike, onde a luta é igualmente feroz, mas numa arena diferente, com motos derivadas das estradas que todos nós conhecemos. 

No fundo, a escolha de Miguel é maior do que a profissão de piloto: é uma decisão sobre identidade. Quer ser o gladiador que continua a rasgar curvas diante das bancadas, ou o arquiteto silencioso que constrói vitórias de bastidores? 


Seja qual for o rumo, uma coisa é certa: o Escape Mais Rouco vai estar na berma da pista, a ouvir o som do motor português. Porque Miguel Oliveira não é apenas um piloto — é um capítulo vivo da nossa paixão pelas corridas.

Sem comentários:

Enviar um comentário