Foto: Gonçalo Fabião |
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A minha geração cresceu num mudo bem diferente do actual. Nunca como hoje tanta informação e conhecimento estiveram ao alcance de tantos. Em miúdos líamos livros para saber e conhecer. A história da denominada conquista do monte Evereste era um dos episódios que mais nos fazia sonhar. Distante, exótico, vertiginoso, mais que épico: bíblico. E ao mesmo tempo tinha acontecido nesse século, o XX, em que nascemos e crescemos.
De facto, o monte Evereste é a montanha de maior altitude do nosso planeta. O seu topo está a 8 848,86 metros acima do nível do mar, estando localizado na subcordilheira Mahalangur Himal dos Himalaias. O maciço do Evereste inclui diversos outros picos situados acima da denominada zona da morte, incluindo os picos do Lhotse (8 516 m), Nuptse (7 855 m) e Changtse (7 580 m), entre outros. Desde 1921 foram múltiplas as tentativas de escalada feitas rumo à conquista. Em 8 de Junho de 1924, George Mallory e Andrew Irvine, ambos britânicos, fizeram uma tentativa de ascensão da qual jamais retornaram. Todavia, não se sabe se atingiram o pico e morreram na descida, ou se não chegaram até ele, tendo em conta que o corpo de Mallory, encontrado em 1999, se encontrava com objectos pessoais, mas sem a foto da esposa, que ele terá prometido deixar no topo.
A primeira ascensão até o topo que se conhece, foi levada a cabo pela expedição anglo-neozelandesa em 1953, dirigida por John Hunt. O pico foi alcançado em 29 de maio desse ano por Edmund Hillary e Tenzing Norgay. Edmund Percival Hillary era um alpinista e explorador neozelandês. Todavia, a personalidade que sempre me fascinou nesta história, foi o guia Sherpa Tenzing Norgay. Crescemos num mundo de heróis ocidentais. O exótico Tenzing e o povo Sherpa terão sido a única excepção. Assim, os Sherpas ficaram para sempre no nosso imaginário.
Os Sherpas são uma etnia da região mais montanhosa do Nepal, no alto dos Himalaias. Segundo os linguistas, são considerados como membros do povo tibetano. Os Sherpas foram de um valor incrível para os alpinistas das primeiras explorações da região do Himalaia, servindo de guias e carregadores nas altitudes extremas dos picos e passos da região.
Hoje, o termo foi estendido para se aplicar a praticamente qualquer guia ou carregador empregado pelas expedições que se aventuram pelos Himalaias. No entanto, no Nepal, os Sherpas insistem frequentemente em fazer uma distinção entre eles mesmos e os carregadores normais, já que eles têm também um papel de guias e reclamam salários mais elevados e maior respeito da comunidade.
SÓLIDA E ROBUSTA
Todo este longo e tortuoso caminho para sublinhar que Sherpa 450 (40 CV, 40Nm) é o nome oferecido pela marca indiana ao motor que equipa a nova Hiamalayan. É obviamente um motor que nasceu para ser robusto. E é o primeiro de refrigeração líquida fabricado pela Royal Enfield em toda sua história. Segundo a marca 90 % do binário máximo encontra-se disponível às 3.000 rpm.
Juntamente com o motor temos mais dois elementos na Royal Enfield Himalayan 450 absolutamente determinantes e que merecem desde já o nosso destaque. Desde logo o quadro. Estranhamente, poucos falam deste aspecto determinante em qualquer moto. Esquecimento ou pura ignorância? Desenvolvido pela Harris Performance no Reino Unido, o quadro da Himalayan 450 é uma estrutura complexa e simples ao mesmo tempo – perimetral? Formato diamante? Escolha você mesmo – fazendo o motor Sherpa 450 parte estrutural do conjunto. E, adiantamos já, a solidez desejada pela marca sente-se muito bem no desempenho do conjunto.
Terceiro elemento determinante: o novo conjunto de suspensões Showa. Na dianteira forquilha invertida SFF-BP com 43 mm de diâmetro e monoamortecedor no eixo traseiro. O único acerto que todo o sistema oferece é na pré-carga da mola do amortecedor traseiro.
SEM FRONTEIRAS
Stop! Vamos recuar um pouco. Pergunta: alguém sabe quando foi lançada a Himalayan original? Na verdade, a Himalayan que agora é substituída foi lançada pela Royal Enfield em 2016 com o objectivo de oferecer uma moto ao mercado interno que fosse literalmente a todo o lado em quaisquer condições de estrada e mesmo sem estrada. Uma moto sem fronteiras e limites. Sucede que a Himalayan original atravessou mesmo as fronteiras menos óbvias e granjeou pelas suas linhas, honestidade e desempenho uma gigante simpatia no ocidente que terá surpreendido o responsável mais optimistas na empresa. Ora, por exemplo, se uma holandesa loura de olhos azuis – Noraly, por todos conhecida como Iytchy Boots – que nunca tinha viajado de moto, podia pegar numa Himalayan e atravessar meio planeta rumo a casa numa jornada absolutamente épica, qualquer um de nós estava apto a dar a volta ao mundo naquela moto. Fácil!
Assim, o desafio de renovar a simpática Royal Enfield seria nunca menos gigante, tão gigante como os próprios Himalaias. E…, as nossas expectativas enquanto motociclistas apaixonados - os que o são - quanto ao resultado final acompanhavam o desafio da marca indiana.
Como tal o primeiro contacto com a Royal Enfield Himalayan 450 seria sempre desafiante. E foi. O primeiro toque impacta. A moto parece pesada parada – 196 Kg em ordem de marcha. Parece haver ferro a mais por todo o lado. O descanso lateral inclina demasiado a moto e obriga a esforço para ser retirado. Nada é fofinho, como agora todos querem. É sim honesto. É áspero. As irritações continuam com o motor já a trabalhar. Os espelhos têm de melhorar. O motor não é redondo abaixo das 3000 rpm. Pensamento positivo: temos moto e temos moto com personalidade. Vamos entende-la?
Optei propositadamente por provar a moto com o banco na posição mais baixa. Assim baixei ainda mais o centro de gravidade do conjunto. Os pés assentavam totalmente no chão. Podia abusar em quelhos e afins. Quis provar se esta nova Himalayan ia mesmo a todo o lado tal como a original. Com o banco naquela posição, senti as pernas algo encolhidas. Mas fiquei confortável. O guiador está bem posicionado e ainda na cidade começo a descobrir a incrível agilidade desta nova Himalayan 450. A brecagem é soberba e facilitadora. Ajuda muito na simplificação da vida diária.
VERSATILIDADE HONESTA
A moto na cidade revela toda a sua honestidade - jantes de 21" na roda dianteira e de 17" na roda traseira. Todavia é fora dela que a Royal Enfield Himalayan 450 se expressa em plenitude. Talvez o momento mais revelador desta prova se tenha dado quando foi possível “carregar” a moto para sentir o seu verdadeiro desempenho – são destas coisas que nunca vão ler no “pressrelismo especializado”, nem ver no “tal canal”.
E como podia eu “carregar” a Himalayan 450? Não foi difícil convencer a Miss Yoshimura a subir para cima da indiana, leva-la para fora da cidade e depois para o meio dos montes. Ah, e tal, que não se faz fora de estada a dois! Por que raio? Quem disse? Está escrito onde?
A Miss Yoshimura sempre muito entusiasta, ainda está naquela fase que julga que as motos são seres vivos providos de razão e decidiu dedicar à Himalayan 450 algumas palavras: “Himmi”, foi assim que te batizei, mesmo sem saber se vais ser minha! Tendo em conta que estou a escolher o tipo de moto que quero para mim, uma das fortes opções que está “no lugar de garagem” és tu! E és tu, porquê? Primeiro, és linda à brava, tens personalidade, és ágil, és versátil e, mesmo sendo uma trail, és elegante (aspecto muito valorizado por uma mulher como eu)! Mesmo sem ter tido a oportunidade de colocar as minhas mãos no guiador, senti que era eu que te estava a emprestar ao ESCAPE, para que ele pudesse comprovar o que digo sobre ti.
Deixei-o divertir-se em estrada e “num fora dela” bem simpático. Sentada na parte de trás, ia bem confortável e equilibrada, ao ponto de estar a filmar a fotografar os nossos percursos. “Himmi”, perdoa-me caso não sejas, ainda, a escolhida, pois fizeste bem o teu papel, apaixonaste-me!
O épico disto tudo é que a Royal Enfield Himalayan 450 parece ter melhor desempenho mais pesada. Parece? Ou melhorou mesmo? Isso vai ao encontro daquilo que a marca continua a desejar: uma moto que responda as necessidades do mercado interno, que vá a todo o lado e se for o caso funcione como o veiculo de família estilo “pau para toda a obra”.
O quadro que já tinha revelado certeza assume firmeza. O motor responde afirmativamente com uma caixa sempre tão suave e simples. Há resposta mesmo quando precisamos de mais um pouco para aquela ultrapassagem. Neste aspecto, motorização, não há comparação possível com a Himalayan original. Todavia o que brilha mais alto é o soberbo conjunto de suspensões. Há sempre acerto, há sempre conforto, há sempre eficácia. Mesmo quando há exigência. No asfalto e nos maus caminhos. Tudo isto com uma desconcertante facilidade de utilização. E muita coolness.
Se este ESCAPE desse notas, oferecia sete sólidos rateres para pontuar esta simpática Hanle Black que reclamou um consumo absolutamente patético de pouco mais de três litros de liquido inflamável doirado por cada cem litros boa energia oferecida. A marca solicita uma transferência bancária no valor de 5.887€ para que esta nova Himalayan enriqueça com sonhos de grandes espaços a vossa pequena garagem.
Raterómetro ******* (7/10)