quinta-feira, 14 de novembro de 2024

PSD afasta inspecção, quer classe própria de portagens e uso da faixa bus

Ano 1988 ou 1989. Nunca me recordo bem do ano. Sei que eu tinha menos de 18 anos. Provavelmente foi em 1989. Poucos já se recordam todavia, como diz o outro, recordar é viver. Naquele tempo não havia Facebook – sorrisos… 

Foto: Gonçalo Fabião

Naquele tempo queria eu dizer, as motos acima de uma determinada cilindrada pagavam 40.000$00 (quarenta mil escudos ou quarenta contos como quiserem; hoje duzentos euros) de Imposto de Luxo. Leram bem…, quase todos os motociclos pagavam um imposto extraordinário equivalente a duzentos euros actuais. Muito dinheiro? Agora imaginem “nos oitenta” do século passado. 

Estive lá! Na demonstração pública chamada de Manifestação que ajudou a finar esse imposto. Estive lá numa “casal de cinco”, a minha primeira moto…, que perdia o filtro de ar sempre que passava por cima de um dos muitos buracos que sempre existiram na cidade de Lisboa. Lembro-me que chovia. A minha “cinquenta” de pobretanas fazia um barulho do inferno e o pessoal dos “motões” olhava-me com bonomia. Chovia, repito, muito. Não havia GORE-TEX nem Instagram. 

Não tenhamos medo das palavras. Desde esse dia passaram-se cerca de 35 anos. É uma vida. Nesse dia passeamos pela cidade e descemos uma Rua de São Bento cheia de motos como nunca se tinha visto. É bom recordar esse dia. Pois são as pessoas que estiveram na frente desse Grupo que continuam a liderar aquilo que se costuma chamar de “interesses e direitos dos motociclistas”. 

Hoje o Publico escreve que consta num conjunto de medidas relacionadas com motociclos e segurança rodoviária entregue na passada terça-feira na Assembleia da República o “afastar de vez a hipótese de os motociclos serem sujeitos a inspecção”. 

O grupo parlamentar social-democrata, explicou o jornal, pretende igualmente avançar com alterações no Código da Estrada para que seja criada uma classe própria para as motos nas portagens. Segundo Miguel Santos, deputado do PSD, a situação actual “é injusta” para motociclos, que pagam o mesmo valor de portagem que um carro, apesar de ocuparem “um quarto do espaço” dos automóveis. Estes temas vão ser discutidos no Parlamento depois do ter sido fechado o processo orçamental. 

Num dos três projectos de lei apresentados pelo PSD consta assim a eliminação definitiva da obrigatoriedade dos motociclos passarem por uma inspecção periódica: era previsto que os veículos com mais de 250 centímetros cúbicos de cilindrada fossem obrigados à inspecção ainda este ano, mas foi adiada para 2025. A medida, que abrangeria 450 mil motociclos, motivou diversos protestos e manifestações, que consideraram a inspecção uma taxa extra a pagar, sem qualquer feito na prevenção da sinistralidade. 

Foto: Gonçalo Fabião

Para afastar de vez a inspecção, os deputados sociais-democratas entregaram um protejo de lei que visa a “adopção de medidas preventivas eficazes nas estradas, centradas ao nível das principais causas dos sinistros”, considerando que “a fiscalização dos motociclos deverá ser feita na estrada, onde os problemas se evidenciam”. 

Por fim, um terceiro diploma prevê mais alterações no Código da Estrada: o PSD pretende que seja permitida a circulação de motociclos em todos os corredores reservados para os transportes públicos, uma decisão que cabe actualmente a cada câmara municipal. 

O motociclismo está longe de estar perdido e está no bom caminho. Esperemos que os demais Grupos Parlamentares compreendam a elementar Justiça destas medidas para que esta viagem chegue enfim ao seu melhor destino.

quinta-feira, 7 de novembro de 2024

O estranho caso das novas Suzuki DR-Z4S e DR-Z4SM

O EICMA, Salão de Milão, tem como sempre nestes dias do ano dominado o motociclismo escrito, publicado e falado. A cobertura do evento por quem tem responsabilidade de o fazer tem sido a de sempre. 


Nós, os meios independentes apaixonados e não remunerados, não temos recursos para ir a Milão e fazer um trabalho sério. Quem o pode fazer, porque está há anos supostamente institucionalizado, aproxima o seu putativo profissionalismo da comunicação colaborativa, um tipo de comunicação bem mais própria das redes sociais - que tanto criticam - do que do vetusto jornalismo. 

Por outras palavras para que fique claro: qual o nível de análise crítica ao que se passa Milão? Zero absoluto! Nesse sentido, o texto que se publica infra da autoria do nosso conhecido amigo Rad Raven sobre a nova Suzuki - texto originalmente publicado no espaço SocialRidR que ele administra numa rede social - é um autêntico “rater de ar fresco” que merece ser lido e partilhado. Obrigado Tito pela cedência do mesmo ao ESCAPE

Faz realmente muita confusão o que vai na cabeça de quem está à frente das grandes marcas… 

Um modelo icónico como a DRZ-400 esteve praticamente duas décadas sem ser comercializado na Europa, por pura preguiça! Mas, por alguma razão que ultrapassa a minha compreensão, a Suzuki achou que agora é que chegou o timing perfeito para a trazer de volta… 


Se a tivessem relançado há uns meros 5 anos atrás, teriam dominado por completo o mercado!! Seria considerada a referência e o sinónimo de Dual Sport! Mas não… 

Agora, com a concorrência a ferver e propostas superagressivas a surgirem de todos os lados, é que a Suzuki achou que vai fazer a sua jogada de mestre. E ainda por cima, a mota vem com o mesmo motor, apenas modernizado, mas mais apagadito é claro, por causa do Euro5+.


E ninguém se lembrou de lhe adicionar mais uns centímetros cúbicos para compensar "a coisa”?! Será que mais 20cc não conseguiam gerar mais 1 ou 2 cavalitos que o modelo anterior… só assim, em jeito de animar a malta. Pelos vistos não. E para completar o ramalhete, decidiram esquecer a tão desejada sexta mudança – uma queixa que tem mais de 20 anos! 

Ah! Mas tem modos de condução e níveis de controlo de tração! Coisas absolutamente essenciais para uma moto com menos de 40cv e que, sejamos honestos, quem anda fora de estrada nem usa… 


Mas o pessoal está feliz! Feliz porque, ao fim de 20 anos, isto finalmente aconteceu!! Por isso, estamos todos contentes… agora, no momento de euforia!! Vamos ver é se o entusiasmo perdura, depois de o preço ser anunciado (que não se adivinha muito convidativo) e começarmos a comparar com as variadíssimas opções que agora invadiram o segmento intermédio, depois de anos às moscas… Como o meu amigo Diogo Guerra da Silva tem vindo a dizer: não há fome que não dê em fartura!

terça-feira, 5 de novembro de 2024

EICMA 2024 Honda revela a gama europeia

O Salão EICMA realizado na cidade italiana de Milão, é a maior feira de motociclismo da Europa, com mais de 560 000 visitantes na edição de 2023 - um aumento de 19% em relação a 2022. Milhares de profissionais da indústria, jornalistas e clientes deslocam-se a Milão para o certame, assegurando que a feira continua a ser o local ideal para lançar e apresentar todas as novidades das duas rodas motorizadas.


A Honda “roubou” mais uma vez a ”cena” manhã bem cedo, desde logo com uma forte e boa surpresa: o anúncio do protótipo de motor de combustão interna (ICE - Internal Combustion Engine) V3. Em exibição no Salão EICMA de 2024 está este novo conceito de Motor de Combustão Interna (ICE) de alta eficiência e alto desempenho que está a ser desenvolvido para motos de maior cilindrada. 

Esta unidade, desenvolvida de forma extremamente fina e compacta, um motor V3 a 75° arrefecido a água, está equipada com o primeiro turbocompressor elétrico do mundo para motos capaz de controlar a compressão do ar de admissão independentemente do regime do motor; isto quer dizer que está disponível um alto binário, logo a partir de um regime mais baixo, o que permite excelentes capacidades de resposta. A juntar a isto, este compressor elétrico permite um elevado grau de liberdade na disposição de todos os componentes no espaço limitado disponível numa moto, logo uma centralização eficiente das massas. 

Outra surpresa muito interessante foi o anúncio de dois novos protótipos de veículos elétricos - o EV Fun Concept e o EV Urban Concept que lançam luz sobre a próxima fase da jornada de eletrificação da Honda para as duas rodas. Estes protótipos mostram progressos na diversificação da gama elétrica da Honda e no cumprimento do seu objetivo de lançar 30 modelos de veículos elétricos de duas rodas a nível mundial até 2030. Foi também ainda confirmada a entrada do novo modelo CUV e: na produção em série como o segundo veículo elétrico de duas rodas da marca para a Europa. 

Protótipo EV Fun Concept 
Este é o primeiro modelo desportivo elétrico da Honda. Este protótipo oferece performances equivalentes às de uma moto com motor de combustão interna (ICE) de média cilindrada e a sua comercialização está prevista para 2025. Para além da superior capacidade de manobra cultivada pela Honda ao longo de décadas, o EV Fun Concept oferece uma condução silenciosa e sem vibrações que só é possível obter com a energia elétrica - numa embalagem "naked" muito fácil de gerir e com um design elegante e futurista. 


Desenvolvida através da aplicação do know-how e tecnologias desenvolvidas nos automóveis e nos produtos de força da marca, a bateria do protótipo EV FUN Concept é compatível com o carregador rápido CCS2* (o mesmo standard dos automóveis) e foi desenvolvida para dar o equilíbrio ideal entre baixo peso e performances nos carregamentos rápidos. A sua autonomia de cruzeiro será superior a 100 km. 

Protótipo EV Urban Concept 
Este é um modelo elétrico que incorpora a visão da Honda sobre a mobilidade urbana elétrica com o seu design funcional, tecnologias conectadas e um conjunto de baterias desenvolvido internamente. 


O modelo representa a visão da mobilidade do futuro próximo que coopera e se relaciona com as pessoas e a sociedade através do seu estilo essencial e sofisticado, do interface intuitivo homem-máquina (HMI - Human-Machine Interface) e promete dar uma nova experiência criada pela fusão de software e hardware. O objetivo da Honda é abrir a liberdade da mobilidade ao maior número possível de clientes e expandir as possibilidades de mobilidade para cada um deles. 

CUV e: 
A nova CUV e: torna-se o segundo veículo elétrico de duas rodas da Honda a ser confirmado para produção em série na Europa, após a introdução da scooter elétrica EM1 e: em 2024. CUV significa Clean Urban Vehicle (Veículo Urbano Limpo); esta scooter elétrica oferece uma condução sem emissões e um comportamento e desempenho semelhantes aos de uma scooter ICE de 125 cm³. A alimentação fica por conta de duas baterias Honda Mobile Power Pack e: intercambiáveis cuja carga total dá uma autonomia superior a 70 km; a scooter está equipada com uma extensa lista de especificações: escolha de um ecrã TFT de 5 polegadas ou um ecrã totalmente conectado (através da aplicação Honda RoadSync Duo) de 7 polegadas, iluminação completa por LEDs, ficha USB-C, três modos de condução e sistema de assistência da marcha-atrás (Reverse Assist). 

GB350S 
A nova GB350S é uma moto acessível, compatível com carta A2, com um charme retro e presta homenagem à ilustre história da Honda. 


Equipada com um motor a condizer, monocilíndrico e arrefecido a ar, este modelo foi concebido para dar puro prazer de condução a todos os níveis de experiência, com uma combinação de aspeto intemporal, preço acessível e tecnologia moderna, por exemplo, forquilha de 41 mm, travão de disco dianteiro de 310 mm, embraiagem deslizante, luzes de LEDs e controlo de tração variável Honda. 

NC750X 
Também a nova e actualizada NC750X foi apresentada no Salão EICMA deste ano. Para além das novas linhas de design mais nítidas, a NC750X ganha mais potência de travagem graças aos dois discos de travão dianteiros, maior conforto graças a um banco redesenhado e mais caráter prático graças a um novo ecrã TFT com conectividade Honda RoadSync. A caixa de velocidades opcional de dupla embraiagem (DCT) oferece uma condução ainda mais suave, especialmente a baixas velocidades. É também a primeira moto a utilizar material DurabioTM colorido nas suas partes principais (nas cores Verde Earth Ivy Ash e Preto Earth). 

CB750 Hornet 
A "fundadora" da mais recente família Hornet da Honda, a CB750 Hornet chega a 2025 com uma nova frente que tem um farol de LEDs de alto rendimento e uma carenagem bem envolvida para amplificar ainda mais o seu estilo streetfighter de vanguarda; além de um ecrã TFT de cinco polegadas revisto, as afinações das suspensão foram actualizadas para uma condução ainda mais desportiva. 

XL750 Transalp 
A XL750 Transalp também foi revista para 2025 com um impressionante novo design frontal influenciado pela Africa Twin, incluindo um novo farol de LEDs de duplo projector. 


A nova carenagem envolvente melhora os fluxos aerodinâmicos e o conforto do condutor, enquanto as novas afinações das suspensões proporcionam maior estabilidade sobre superfícies mais irregulares. 

CL500 
A "scrambler urbana" da Honda, compatível com carta A2, é atualizada em termos de conforto, ergonomia e estilo visual para 2025. O novo painel LCD oferece maior visibilidade em todos os cenários, enquanto o banco e a colocação revista dos poisa-pés aumentam o conforto do condutor. As novas opções de cor castanha e amarela aumentam o estilo já muito elegante deste modelo. 

CRF300L e CRF300 Rally 
Os populares modelos dual-purpose da Honda, a CRF300L e a CRF300 Rally, recebem uma série de atualizações de pormenor para 2025, com uma qualidade de condução ainda mais suave graças às revisões das suspensões e maior conforto do condutor graças a uma gestão mais eficiente do calor, além de ficha USB e gráficos revistos. 

PCX125 
Para 2025, a scooter mais vendida da Europa em 2023 apresenta uma forte evolução das suas linhas de design vanguardistas e fluidas, bem como um maior poder de travagem graças a um novo travão de disco traseiro. 


A versão Deluxe é uma nova adição e inclui um ecrã TFT de 5 polegadas e compatibilidade com a aplicação Honda RoadSync. 

SH350i 
O modelo topo-de-gama da sempre popular família SH da Honda, a SH350i - construída na fábrica da Honda em Atessa, Itália - pretende reforçar em 2025 a sua popularidade de longa data, com uma atualização de design liderada por um novo farol de LEDs de feixe dividido, quatro novas opções de cores e um porta-luvas maior, agora com uma prática luz interna. 

ADV350 
Outro produto da fábrica de Atessa, a mistura única de atributos, especificações e estilo da ADV350 é melhorada ainda mais para 2025, com um novo ecrã TFT de cinco polegadas para conectividade com smartphones através da aplicação Honda RoadSync e um novo interruptor de quatro vias, luz no compartimento debaixo do banco e piscas de cancelamento automático. Os novos amortecedores traseiros com reservatório remoto e pré-carga ajustável aumentam ainda mais a versatilidade deste modelo.

Notem que neste ESCAPE se cultivam valores como a transparência e honestidade.O que acabam agora de ler não é propriamente um post e sim um comunicado de imprensa, boletim de imprensa ou press release, como lhe quiserem chamar. Isto é, uma comunicação feita por um indivíduo ou organização visando divulgar uma notícia ou um acontecimento (ao qual tomamos a liberdade de fazer o corte e costura que achei mais conveniente).

segunda-feira, 28 de outubro de 2024

CFMOTO 450MT à prova

Fontes diversas sugerem que o denominado “Ovo de Colombo” é uma famosa metáfora, proverbio, do folclore italiano contada em todo o mundo, referindo-se a soluções muito difíceis de se alcançar e que quando reveladas mostram-se, incrível e paradoxalmente, óbvias e simples. Alguns dizem que Cristóvão Colombo, algures num banquete organizado pelo Cardeal Mendoza comemorativo da descoberta da América, foi questionado se acreditava que outra pessoa teria sido capaz de fazer a mesma epopeia que ele. 


Explicando e exemplificando, Colombo desafiou os presentes a colocar um ovo de galinha fresco de pé sobre uma das suas extremidades. Quase todos aqueles que estavam presentes aceitaram o desafio. Todavia, o tempo passava sem que ninguém resolve-se o enigma. Assim, Colombo terá decidido revelar a solução: bateu com o ovo contra a mesa ao de leve, quebrando um pouco a casca de uma das pontas, de maneira que assim ele se achatasse e pudesse ficar finalmente de pé. 

Contam ainda que o nobre que havia questionado Colombo exclamou que desta forma qualquer um poderia fazer. Tendo Colombo respondido que de facto qualquer um poderia ter chegado aquele resultado, no entanto teria de se ter lembrado disso mesmo. Ou seja, após Colombo ter mostrado o caminho para o Novo Mundo, qualquer um pode segui-lo, mas antes foi necessário que alguém tivesse a ideia, e, acima de tudo teve de colocá-la em prática. 


Em suma, o “Ovo de Colombo” é uma ideia ou solução aparentemente complexa ou difícil, que no entanto se revela simples e óbvia quando alguém a apresenta. 

A CFMOTO 450MT é claramente o “Ovo de Colombo” do motociclismo atual. Quase todos a quiserem fazer e todos a desejaram. A CFMOTO encontrou o caminho, fez o caminho e anunciou-o. Agora parece simples e obvio. A todos. Todavia foi a CFMOTO que encontrou a engenhosa solução. E agora? O mercado aplaude. E o senhor mercado tem sempre razão, meus queridos amigos. 

Ainda tão jovem no mercado português e a CFMOTO já reclama vitoriais históricas. Foi a mais vendida entre os motociclos acima de 125cc em junho e julho, os dois primeiros meses de comercialização em Portugal. No entanto..., esperem por favor. Pois “aqui” é ponto de partida e não ponto de chegada. Isto é só inicio. 

UMA NOVA MANEIRA DE VIVER A AVENTURA? 
Confesso a minha dificuldade em escrever sobre esta moto e confesso mais: este texto esteve para não ser escrito. Vários motivos. Já toda a gente escreveu sobre esta moto. No entanto…, a verdade é que lemos um e outro texto e parecem (quase) todos iguais. Como será que conseguem? Vou tentar ser o mais objetivo possível. Fazer perguntas será sempre uma boa tática. 


Afinal de que moto falamos quando falamos de CFMOTO 450MT? Trail? Rally? Enduro? Urbana? Turística? Tudo isto? Nada disto? O primeiro olhar é excelente. A moto impacta os sentidos e faz lembrar uma pequena Rally Replica. Este primeiro olhar é determinante para o sucesso. A seguir toque: a moto faz por ser leve. Esqueçam a ditadura dos números. Esta moto sente-se leve. Move-se fácil. Quase como uma pena. Este segundo input é também ele determinante. 

Ainda no local de levantamento desta unidade, apercebemo-nos que as suspensões estariam totalmente desreguladas - forquilha invertida KYB totalmente ajustável na dianteira e monoamortecedor também KYB com ajuste de extensão e pré-carga da mola na traseira. Já vos escrevi sobre este tema na Prova anterior. É incompreensível, sublinho. Foi então colocado o acerto de fabrica. Os primeiros metros nem foram totalmente agradáveis. Todavia a identificação com a posição de condução é obvia. Para jovens altos e espaduados como eu - metro e oitenta - chegar com os pés ao chão é mais fácil do que beber um copo de agua. Há uma jante 21 na dianteira. Tem de haver uma breve adaptação. 


A verdade é que são necessários poucos quilómetros para compreendermos que estamos desde logo aos comandos de uma moto que se assume com maior dose de agilidade na cidade do que uma scooter de baixa cilindrada. Primeira e fácil conclusão: a CFMOTO 450MT parece uma Rally todavia está perfeitamente identificada com a cidade, o que significa que as novas gerações estão automaticamente conquistadas. Quem nunca, em miúdo, sonhou com algo assim? 

PURO DIVERTIMENTO 
O desenho da 450MT é do gabinete europeu Kiska. A travagem vem equipada com pinças de travão J.Juan, com auxilio de ABS de duplo canal Bosch que - tal como o controlo de tração - pode ser desligado todavia somente na roda traseira. O motor é o já conhecido (link) bicilindrico paralelo da CFMoto que já equipa as SR e NK. Para esta moto foi arredondado - 43CV às 8500 rpm face aos 46CV às 10.000 rpm da NK. O binário é agora ligeiramente superior: 42Nm às 6500 rpm, face aos 39,3 Nm às 7750 rpm. Estes elementos concorrem para uma das faces mais interessantes desta moto: a diversão em estrada nacional em modo curva contracurva. O motor é absolutamente glorioso a pedir rotação e a devolver energia. E transforma este num dos terrenos onde a CFMOTO 450MT mais diverte, ao ponto de nos levar a pensar que estamos aos comandos de uma verdadeira Fun Bike. 

Todavia nem tudo é risonho. A caixa de velocidades desta unidade revelou uma natureza absolutamente esquizofrénica. Tão depressa se apresentou suave e acessível como se mostrava rija, seca, aborrecida e difícil de negociar. Sublinho, pode ser aspeto desta unidade e dos maus tratos sofridos noutras “unhas” mais rudes. O que também lamentamos é o, digamos, excesso de rotação do motor que de certa forma limita a velocidade media em auto estrada. E este aspeto é mesmo uma nota menos positiva pois a moto apresenta um conforto elevado em modo “ligação” podendo mesmo ser encarada com uma leve turística. Alguns dizem que é necessário alterar a relação da transmissão final. Sendo assim, este aspeto é desde logo um aspeto menos positivo e que deve ser revisto pela fabrica. 

A verdade é que já tínhamos uma urbana com aspeto Rally e agora ganhamos uma Fun Bike atrevida o suficiente para poder viajar. Confesso-vos ainda que fiz muito menos fora de estrada do que devia com esta moto. Ainda assim a ideia com que fiquei foi que a facilidade de utilização que encontrei nas diferentes tipologias de asfalto com que me cruzei, encontrei também no off-road. Será então a CFMOTO 450MT também uma enduro? Honestamente, aqui ficaram duvidas. Ainda assim podemos afirmar com segurança que o fora de estrada nesta CF não se limita ao habitual estradão. Esta é uma moto fácil de usar e divertida num fora de estrada turístico mais atrevido e desafiante 

SERÁ ESTA A MOTO IDEAL PARA TI? 
De há algum tempo a esta parte passamos a ter o atrevimento de quantificar –ainda que de forma sucinta e divertida – as motos que provamos. É simbólico. Todavia determinante. Ninguém o faz para além de nós. Eles têm medo de se expor, na verdade. E o medo é um catalisador incrível. Aqui no ESCAPE temos respeito. E confesso o grande dilema desta prova: seria a CFMOTO 450MT a primeira a recolher 9 (nove) rateres - a classificação que reservei para as referencias (dez rateres apenas serão oferecidos a obras primas e duvido que algum dia tenha a oportunidade de conduzir uma). 


Na verdade, a CFMOTO 450MT é de certa forma credora de nota 9 por dois motivos. Objetivamente é de facto o ovo de colombo, ou seja, solução obvia e simples para um problema complexo, uma moto que de certa forma faz tudo, ou pelo menos faz muita, muita coisa e faz bem. Objetivamente, repito, veio disrupcionar – esta palavra em bom rigor não existe – o mercado. Ou seja, veio dinamitar o status quo, o que estava instituído. 

Sucede que como também ficou escrito, temos de olhar para esta CFMOTO 450MT como ponto de partida e não como trabalho acabado. E há que dizer isto de forma assertiva ainda que possamos simpatizar muito com marca e modelo. Numa palavra há aspetos a melhorar nesta moto. 


Sólida e plena de elementos de qualidade, a CFMOTO 450MT solicitou quatro litros daquele oiro liquido inflamável que tanto precisamos por cada cem quilómetros de puro divertimento. O preço é outro dos pontos fortíssimos desta moto, reclamando a marca uma transferência bancaria de apenas 5.990€ por uma moto que pode claramente viajar por esse mundo fora. 

Raterómetro ******** (8/10)

quarta-feira, 2 de outubro de 2024

12 coisas que mudam na Honda NT1100 em 2025

A NT foi introduzida pela Honda no mercado em 2022. E foi anunciada pela marca nipónica como o nascer de uma nova era do Touring. Pelos motociclistas foi recebida com algum cepticismo. Eu inclui-me nos cépticos e escrevi quando conheci a moto (link): ”não estou convencido que esta nova NT 1100 seja a tal referência Touring que a marca proclama”. E também escrevi: “pelo sim pelo não encomendei uma NT 1100 DCT à Honda Portugal cá para casa…, não vá eu estar profundamente enganado e a marca ter mesmo razão quando afirma “só tem de pensar numa coisa. Para onde, e até onde, quer ir?”. 


Muito mais do que a minha experiência feliz com a NT DCT importa destacar o seguinte. A Honda NT ainda não fez três anos de comercialização. Todavia é hoje a moto de turismo mais vendida da Europa. Será então possível melhorar o que já é bom? Claro que sim. Estes são os doze aspetos fundamentais que mudam no modelo 2025. 

Motor. Alterações de detalhe introduzidas no motor de dois cilindros paralelos de 1084 cm³ - revisões na admissão, combustão e escape - oferecem mais 7% de binário a baixa e média rotação, mantendo a potência máxima. Na prática teremos certamente um motor ainda mais redondo e fácil em baixos e médios regimes. Segundo a marca a eficiência do motor oferece agora uma autonomia de 400 km do depósito de combustível de 20 litros. 


IMU. A utilização e funcionamento das ajudas eletrónicas ao condutor foi um aspecto muito melhorado na NT para 2025 que agora conta com a inclusão da famosa unidade IMU de seis vias. Tal oferece um controlo mais preciso ao sistema HSTC de tração variável de três níveis, ao controlo anti levantamento da roda dianteira também com três níveis, e também do importante ABS com função de auxílio em curva bem como do controlo de anti elevação da roda traseira. Os modos de condução também estão sujeitos à influência da unidade IMU e há aqui três predefinições: "Urban", "Rain" e "Tour". O modo "User" permite personalizar individualmente todos os parâmetros. 


Suspensões. Como opção existe agora a nova suspensão eletrónica Showa (Showa-EERA™) que promete melhorar ainda mais a experiência de condução. Disponível em conjunto com a versão NT1100 DCT, a suspensão Showa-EERA™ permite optimizar em tempo real o amortecimento em todas as condições de condução, para além de deixar afinar a pré-carga da mola traseira em movimento. 

DCT. A melhoria do conforto passa também pela revisão à comprovada Transmissão Honda de Dupla Embraiagem (DCT) de seis velocidades; esta transmissão foi redesenhada para melhorar as sensações a baixa velocidade e está agora ligada à IMU para fazer as mudanças de forma intuitiva em estradas de montanha. 

Iluminação. Para 2025, o estilo da NT1100 foi actualizado e melhorado, com uma silhueta mais afilada e desempenho aerodinâmico mais eficiente, em torno de uma posição de condução que continua a ser adaptada ao turismo. As mudanças na estética são lideradas por faróis duplos que já incluem novas luzes DRL exclusivas e piscas integrados para uma assinatura de iluminação extremamente sofisticada – e com visibilidade melhorada no sentido de aumentar a segurança. 

Aerodinâmica. Os deflectores aerodinâmicos em cima e em baixo, com novos perfis, trabalham em conjunto para melhor protecção contra os elementos; o guarda-lamas dianteiro revisto e mais comprido contribui também para o mesmo objectivo. 

Para-brisas. O para-brisas é ajustável e pode agora ser operado com uma só mão pelo condutor, estando este sentado. 


Desenho. Carenagens redesenhadas e reformuladas e silhueta melhorada para o modelo de 2025. 

Conforto. O banco redesenhado e de maiores dimensões oferece ainda maior conforto e apoio para longas tiradas. 

Malas laterais. As malas laterais de instalação normal também foram redesenhadas e têm maior volume, cabendo agora um capacete integral em cada uma delas. 


Cores. Cinzento Metalizado Mate Ash Warm; Preto Metalizado Gunmetal; Azul Pérola Hawkseye. 

Preço. A Honda NT 1100 DCT com suspensão eletrónica Showa (Showa-EERA™) deve situar-se na casa dos 17.000€. Sem extras. 

Duas questões se impõem. Quem tem o modelo actual deve mudar? A Honda NT 1100 DCT 2025 dá o salto tecnológico que se impunha. O que a marca anuncia não surpreende. O preço confirmar-se é bastante equilibrado. A moto já é excelente apesar de espartana. Agora fica mais contemporânea, mais tecnológica e mais segura. O modelo já conta com uma legião de fãs absolutamente surpreendente. Cada qual saberá da sua bolsa. Certo é que a relação preço qualidade sai ainda mais reforçada com estas actualizações fazendo desta uma brutal candidata a “best buy 2025”


E tu Pedro, vai trocar? Honestamente, não sei. Estou feliz com a minha “Orca”. Todavia há aqui o salto tecnológico que se pedia. A moto está certamente muito melhor. Reforço que compro motos a quem as quer vender. Veremos se a MOTODIANA me quer vender uma Honda NT 1100 DCT Showa-EERA 2025.

terça-feira, 13 de agosto de 2024

Um olhar pelo Mercado

Já há muito, muito tempo que não fazemos aqui uma analise, ainda que sucinta, ao que se passa no mercado de motos novas em Portugal. Tenho-o feito a titulo pessoal, todavia, hoje sinto que devo partilhar convosco aquilo que os números indicam. É importante que todos estejamos atentos ao que se vende ou deixa de vender. Informação é poder. 

Foto Gonçalo Fabião

Vamos olhar apenas para as matriculas de motociclos novos acima dos 125cc. Ou seja, e sublinho, estes números oficiais excluem as denominadas scooters urbanas e afins. Para que fique ainda mais claro: os motociclos de até 125cc estão fora desta analise. 

A grande, enorme mesmo, nota de destaque vai para o crescimento absolutamente explosivo das marcas da vaga chinesa. Surpresa? Não para nós e para os mais atentos. Estes já antecipavam que boa fatia do mercado iria rapidamente tocar à industria do gigante asiático. Assim, CFMOTO, Benelli, Voge e QJ Motor já dividem entre si perto de 1/5 do mercado. Provavelmente, isto será apenas o inicio... 

No entanto olhando em primeiro lugar para numero globais, vemos um crescimento de quase de dez por cento nas matriculas de motociclos novos acima dos 125cc nos primeiros sete meses deste ano, de janeiro até ao fim de julho. A Honda mantém a sua liderança histórica, todavia não está, este ano, a acompanhar este crescimento e diminui em cerca de 10% as sua vendas. Ainda assim Honda arrebata só ela mais de ¼ do mercado. Yamaha mantem o segundo posto e BMW o terceiro, ambas com crescimento ligeiramente abaixo do mercado no geral. 


De parabéns está a CFMOTO. Já ocupa o quarto posto à geral e aos dias de hoje já matriculou seguramente mais de mil motos este ano. Explode mais de 140%, este ano e ultrapassa mesmo a Benelli que ainda assim cresce uns incríveis 70%. 

Em P6 temos a histórica Kawasaki, também ela com crescimento assinalável de quase 25% face a 2023. As marcas Multimoto brilham alto, sem duvida. Logo a seguir segue outra chinesa, a Voge do gigante Loncin, outra das campeãs do crescimento a vender mais 130% do que em 2023. 

O oitavo posto vai para a KTM que desaponta e não acompanha o crescimento – surpresa zero. A histórica Suzuki também surpreende pela positiva ao vender quase mais 30% que no ano anterior. A fechar o top dez outra histórica, a Triumph cresce bem e isso é noticia

Decidimos ainda fazer mais algumas referências. A campeã do crescimento é mesmo a QJ Motor, ocupa P11 e quase triplica as matriculas novas face a 2023. A Ducati fecha o nosso Top e está em linha com o ano anterior. 

Nota final para duas históricas. Harley Davidson em queda e apenas com um misero ponto de penetração de mercado. Resultado ainda mais deprimente para a Moto Guzzi, também ela em queda e a representar uma migalha de 0,5% do mercado nacional. 

As conclusões são mais que obvias e reforçam a tendência dos últimos anos. A ideia de moto paixão está em profunda crise. Apenas a BMW resiste com a Triumph – surpresa? – a dar um “gás de sua graça”. 

O Senhor Mercado procura hoje soluções de mobilidade. Honda e Yamaha são as que melhor se adaptaram ao novo paradigma. E as marcas chinesas vieram mesmo para se impor. Já dividem vinte por cento do mercado. A duvida é: até onde os chineses vão conseguir chegar?

segunda-feira, 12 de agosto de 2024

Voge 900DSX à prova

“O Doiro sublimado. O prodígio de uma paisagem que deixa de o ser à força de se desmedir. Não é um panorama que os olhos contemplam: é um excesso da natureza. Socalcos que são passadas de homens titânicos a subir as encostas, volumes, cores e modulações que nenhum escultor, pintor ou músico podem traduzir, horizontes dilatados para além dos limiares plausíveis da visão. Um universo virginal, como se tivesse acabado de nascer, e já eterno pela harmonia, pela serenidade, pelo silêncio que nem o rio se atreve a quebrar, ora a sumir-se furtivo por detrás dos montes, ora pasmado lá no fundo a reflectir o seu próprio assombro. Um poema geológico. A beleza absoluta".


A 900DSX da Voge é novidade. Já Torga e Douro, Douro e Torga, são clássicos. Juntamos a novidade a um dos clássicos: o Douro. E convidamos, uma vez mais, Miguel Torga “a escrever o prefácio” desta absoluta prova de verão. 

Com “os trocos” foram quase mil e quatrocentos os quilómetros de estrada acima e estrada abaixo, variada como os épicos socalcos do vale paraíso, que esta Voge foi convidada a fazer. E sublinho, para que fique claro, o que já disse noutro local: as motos são como as Bimby, aquele famoso robô de cozinha fabricado pela companhia alemã Vorwerk, na cidade de Wuppertal. As motos, para que sejam bem entendidas, terão de ser mostradas no seu ambiente natural, por pessoas apaixonadas e capazes, a fazer aquilo para que foram programadas. 

UMA LANÇA NA EUROPA DO MOTOCICLISMO 
A Voge 900DSX é uma trail de aventura de inspiração alemã superiormente equipada. O motor é Loncin - bicilíndrico em linha de 895 cc (95CV, 95Nm) com cambota a 270°, refrigeração líquida, cabeças DOHC de 4 válvulas por cilindro e embraiagem deslizante - com intervalos de manutenção de 10.000 km


No equipamento destacamos para além dos modos de condução a assistência à mudança de faixa avisando da proximidade de outros veículos. Contem também com cruise control, monitorização da pressão dos pneus TMPS em tempo real, quickshifter up&down, acelerador electrónico (ride by wire), e punhos e assento aquecidos. A travagem é Brembo, o amortecimento Kayaba e as borrachas são os inquestionáveis pneus Pirelli Scorpion Trail II - jantes de 21″ e 17″ de raios para pneus tubeless. Há ainda um muito eficaz amortecedor de direção. 

A viagem de prova à Voge 900DSX começou com um “troço de ligação” por autoestrada até à pequena povoação de Manobra, junto a Tomar, onde nasce o que vai resistindo da soberba Estrada Nacional (N) 238. A festa começava aqui e os desafios também.


Uma nota à margem. A Voge 900DSX foi a segunda moto denominada de Parque de Imprensa seguida, que veio parar às minhas mãos com as suspensões totalmente desajustadas. Não há coincidências. E por aqui me fico para que não se zanguem (ainda mais) comigo. Faça o leitor o juízo de valor. Assim, lá fomos afinando o amortecedor traseiro pois a moto a dois e com carga teimava em bater com o descanso central no chão, acessório este que devia - em definitivo - ter ficado em casa. 


Graças ao guiador baixo, a Voge 900DSX apresenta uma posição de condução algo atípica no panorama actual das trails de aventura. O encaixe na moto é correto e a protecção aerodinâmica que pode ser ajustada em dois níveis é suficiente sem ser uma referência. 

ESTRADAS NACIONAIS PAIXÃO PURA 
A Nacional 238 “rasga” o país no Centro como se de uma diagonal fulgurante se tratasse. O banquete de curvas e contracurvas revelou desde logo uma moto equilibrada e até divertida. Rapidamente nos esquecemos que temos uma jante 21 na dianteira e a ciclística auxiliada pelos excelentes Pirelli abraça o asfalto com suavidade e carinho. Só nos apeteceu amiúde pegar nas ferramentas e “deitar fora” o descanso central. Este primeiro banquete terminou já perto do Fundão. Seguiu-se mais um “troço de ligação” pela A23 até perto da Guarda e ai sim, foi rumo ao Douro por Penedondo (N229) e Trevões, com descida alucinante por Valença do Douro, evitando assim a N222 que seria percorrida no dia seguinte. 

Voltei a escolher como ”quartel-general” desta “campanha duriense” a apaixonante Provesende, correndo o risco de me repetir é meu dever escrever que Provesende é uma antiga freguesia portuguesa do concelho de Sabrosa. Foi vila e sede de concelho. Situada na região do Alto Douro Vinhateiro, na margem norte do rio, entre as vinhas, os solares e as casas em pedra, Provesende oferece hoje uma absoluta viagem no tempo e a comunhão entre o passado e o presente. 

Gosto tanto de Provesende que nas últimas viagens por este nosso Portugal por lá passei sempre. E é de Provesende que partiu o pequeno roteiro mágico que fez o segundo dia desta viagem. Dali é descer ao Pinhão pela recuperada Nacional 323. Atravessada a velha ponte, rapidamente abandonamos a N323 para subir até ao ponto final da (agora) mundialmente reconhecida N222. No início da subida acompanhamos o Rio Torto e, quando deixamos de ver este é tempo para uma primeira paragem na arrebatadora Quinta do Ventozelo. 

SÓ TE AMO DOURO
Situada na margem esquerda do Douro, ao chegar a Ervedosa, a Quinta de Ventozelo é das mais bonitas e apaixonantes da região. Num vasto anfiteatro sobre o rio encontramos aquilo que alguns chamam de “portas do silêncio do Douro”, onde o tempo parece correr mais devagar. A tranquilidade e a ligação plena à Natureza são o valor intangível principal desta Quinta. Imperdível! 

A viagem segue então, finalmente, desfrutando das deliciosas curvas da N222 que acompanha, como muitas das estradas nacionais, o relevo do terreno. Já depois de atravessado o Rio Coa, chegados a Almendra há que fazer opções. E a minha foi novamente pela da aventura. Descer a velha Nacional (N332) rumo à estação e três quilómetros antes desta – a estrada apesar de velha está bem marcada – cortar à direita para um fora de estrada fácil e ainda assim desafiante que nos leva ao encontro da N221 e do Alto da Sapinha. 

O estradão em causa é cada vez mais utilizado e está em excelente estado. Foi um fora de estrada realizado com sucesso, em modo viagem, por uma Voge 900DSX com passageiro e malas algo carregadas. Aqui a moto esteve perfeitamente adaptada ao terreno. Eficaz e confortável. Nada a apontar. 

OS MELHORES TREZENTOS DE PORTUGAL? 
Em terrenos de Parque Natural do Douro Internacional, o Alto da Sapinha domina a paisagem em direção a Barca de Alva onde o ESCAPE recomenda uma refeição rápida e ligeira junto ao Douro, com vista para o Reino de Espanha. 


Em Barca de Alva encontramos um dos mais esquecidos e ao mesmo tempo mais colossais troços de Estrada Nacional em Portugal. Dali a N221 ruma a norte junto ao Douro e a Voge voltou a faiscar a cada curva negociada. Em Freixo de Espada à Cinta esqueci a fresca vista apaixonante do Penedo Durão e a opção foi vir por um caminho quase secreto ainda que asfaltado, junto ao Douro e rumo à intrigante aldeia de Mazouco. 


Já em Torre de Moncorvo e com o clássico calor abrasador desta época do ano, não é possível deixar de rumar a Norte e vislumbrar lá do alto do miradouro de São Gregório a foz do deslumbrante Rio Sabor. Dali é tempo de pensar no regresso e no fim da aventura do dia. Ainda há mais faíscas para espalhar no asfalto da N215 já rumo ao oeste, e após um pouco de IC5 descer à foz do rio Tua pela não menos apaixonante N214. O dia estava de facto a ser épico. E assim continuará até fim nestes cerca de trezentos quilómetros que se arriscam a concorrer ao prémio “os melhores trezentos quilómetros de Portugal”. 

Da foz do Tua é então necessário subir a impecavelmente bem asfaltada N212 até Alijo, dali rumar à perigosa mas deslumbrante descida do Vale de Mendiz pela N323-3 e enfim, regressar ao Pinhão terminando o dia de volta à casa de partida em Provesende. Tomar um banho e rumar à casa da Dona Graça que nos espera com a sua receita de Pernil em Vinho do Porto com vista para o Pelourinho histórico de Provesende. 

De facto, o Alto Douro Vinhateiro é uma zona particularmente representativa da paisagem que caracteriza a vasta Região Demarcada do Douro, a mais antiga região vitícola regulamentada do mundo. Marcado por estradas sumptuosas, a paisagem cultural do Alto Douro combina a natureza monumental do vale do rio Douro, feito de encostas íngremes e solos pobres e acidentados, com a acção ancestral e contínua do Homem, adaptando o espaço às necessidades agrícolas de tipo mediterrâneo que a região suporta. 

CAMINHOS INTENSOS 
Esta relação íntima entre a actividade humana e a natureza permitiu criar um ecossistema de riqueza única, onde as características do terreno são aproveitadas de forma exemplar, com a modelação da paisagem em socalcos, preservando-a da erosão e permitindo o cultivo da vinha. A região produz, entre outros, o famoso vinho do Porto, representando o principal vector de dinamização da tecnologia, da cultura, das tradições e da economia locais. O grande investimento humano - onde incluímos as Estradas Nacionais - nesta paisagem de singular beleza tornou possível a fixação das populações desde a longínqua ocupação romana, e dele resultou uma realidade viva e em evolução, ao mesmo tempo testemunho do passado e motor do futuro. 


Ao terceiro dia de viagem já foi tempo de regresso. Regresso por uma espécie de caminho mais longo. E o dia começou com novo troço da apaixonante N222 agora até Cinfães onde a mais uma soberba Estada Nacional nos desafia. Agora é a Nacional 321 que nos convida a escalar a Serra de Montemuro. Montemuro é a oitava maior elevação de Portugal Continental - 1382 metros de altitude. Situa-se nos concelhos de Arouca (distrito de Aveiro), Cinfães, Resende e Castro Daire e Lamego (distrito de Viseu) e entre as regiões do Douro Litoral e da Beira Alta. Está compreendida entre o rio Douro, a Norte e o rio Paiva, a sul. O ponto mais alto da serra é denominado por Talegre ou Talefe, a 1.381 metros de altitude. Toda a serra tem bastante relevo e é íngreme praticamente de todos os lados.


Em Castro Daire optamos por novo “troço de ligação” escapando a Viseu e às suas armadilhas em forma de rotunda infinita. Voltamos a abandonar as vias rápidas apena sem Penacova para abraçar a Nacional 2 – velha conhecida deste blogue (link) – que nos deixou em Abrantes e a nova “ligação” até casa. 

SERÁ A MOTO CERTA PARA SI? 
Muito jovem na quilometragem esta Voge 900DSX foi melhorando com a viagem e surpreendeu pelo desempenho e conforto. Há detalhes que a marca tem de melhorar nesta moto. Já dissemos que a protecção aerodinâmica pode ser incrementada e o descanso central é inútil e até perturbador. Tudo fácil de resolver. O “shifter” de passagem de caixa também pode melhorar, todavia é tão bom ou tão mau como muito outros que vamos conhecendo. Há ainda alguma baralhação electrónica na injecção da moto a baixa rotação quando aceleramos com convicção, o que pode até ser desta unidade em especifico. Tem de ser revisto. 

Coisas que só este ESCAPE oferece? Uma sucinta analise de passageiro. A Miss Yoshimura decidiu escrever “uma carta” à 900DSX. Querida Voge. Dizem que não devemos criar expectativas, pois são elas que levam a que hajam possíveis desilusões. Confesso que, por momentos, foi o que pensei. Pensei estar desiludida, assim que saímos da A1, rumo ao Douro, pois tinha as expectativas bem em alta. O som do descanso central a tocar no alcatrão é absolutamente arrepiante, não pelos melhores motivos. Causaste-me desconforto, ainda que se esteja muito bem no assento de trás. Causaste-me uma errada sensação de insegurança, algo que já não sentia, há muito! 

Como sou persistente e gosto de dar segundas oportunidades, fui-me adaptando melhor a ti. O ajuste da suspensão traseira ajudou a que não houvesse tanto “ruído ensurdecedor” do ferro no alcatrão e, o facto de as malas irem pouco cheias no segundo dia de viagem também ajudou muito. Afinal de contas, és uma trail, e não podes entregar-nos tudo. Ao terceiro dia já ia bem mais confiante, a desfrutar do maravilhoso passeio pelo nosso Portugal, e certa de que, se tivesse mais um ou dois dias contigo, ia acabar por gostar mais de ti! Excelente fim de semana que vivemos! São paisagens incríveis, que combinam bem contigo!


Esta Lime Green equipada como se de uma topo de gama se tratasse, reclamou nesta Prova incrível pouco menos de cinco litros de sumo de dinossauro por cada cem quilómetros de belas paisagens portuguesas abraçadas. A marca solicita uma transferência bancária de uns ridículos 8.888€ por esta moto toda, a que podem juntar o conjunto de três excelentes malas de alumínio originais “by Loboo” por 898€, sendo esta uma promoção valida até ao fim do actual mês de Agosto. 

Raterómetro ******* (7/10)

segunda-feira, 15 de julho de 2024

Royal Enfield Himalayan 450 à prova

A minha geração cresceu num mudo bem diferente do actual. Nunca como hoje tanta informação e conhecimento estiveram ao alcance de tantos. Em miúdos líamos livros para saber e conhecer. A história da denominada conquista do monte Evereste era um dos episódios que mais nos fazia sonhar. Distante, exótico, vertiginoso, mais que épico: bíblico. E ao mesmo tempo tinha acontecido nesse século, o XX, em que nascemos e crescemos. 

De facto, o monte Evereste é a montanha de maior altitude do nosso planeta. O seu topo está a 8 848,86 metros acima do nível do mar, estando localizado na subcordilheira Mahalangur Himal dos Himalaias. O maciço do Evereste inclui diversos outros picos situados acima da denominada zona da morte, incluindo os picos do Lhotse (8 516 m), Nuptse (7 855 m) e Changtse (7 580 m), entre outros. Desde 1921 foram múltiplas as tentativas de escalada feitas rumo à conquista. Em 8 de Junho de 1924, George Mallory e Andrew Irvine, ambos britânicos, fizeram uma tentativa de ascensão da qual jamais retornaram. Todavia, não se sabe se atingiram o pico e morreram na descida, ou se não chegaram até ele, tendo em conta que o corpo de Mallory, encontrado em 1999, se encontrava com objectos pessoais, mas sem a foto da esposa, que ele terá prometido deixar no topo. 

A primeira ascensão até o topo que se conhece, foi levada a cabo pela expedição anglo-neozelandesa em 1953, dirigida por John Hunt. O pico foi alcançado em 29 de maio desse ano por Edmund Hillary e Tenzing Norgay. Edmund Percival Hillary era um alpinista e explorador neozelandês. Todavia, a personalidade que sempre me fascinou nesta história, foi o guia Sherpa Tenzing Norgay. Crescemos num mundo de heróis ocidentais. O exótico Tenzing e o povo Sherpa terão sido a única excepção. Assim, os Sherpas ficaram para sempre no nosso imaginário. 

Os Sherpas são uma etnia da região mais montanhosa do Nepal, no alto dos Himalaias. Segundo os linguistas, são considerados como membros do povo tibetano. Os Sherpas foram de um valor incrível para os alpinistas das primeiras explorações da região do Himalaia, servindo de guias e carregadores nas altitudes extremas dos picos e passos da região. 

Hoje, o termo foi estendido para se aplicar a praticamente qualquer guia ou carregador empregado pelas expedições que se aventuram pelos Himalaias. No entanto, no Nepal, os Sherpas insistem frequentemente em fazer uma distinção entre eles mesmos e os carregadores normais, já que eles têm também um papel de guias e reclamam salários mais elevados e maior respeito da comunidade. 

SÓLIDA E ROBUSTA

Todo este longo e tortuoso caminho para sublinhar que Sherpa 450 (40 CV, 40Nm) é o nome oferecido pela marca indiana ao motor que equipa a nova Hiamalayan. É obviamente um motor que nasceu para ser robusto. E é o primeiro de refrigeração líquida fabricado pela Royal Enfield em toda sua história. Segundo a marca 90 % do binário máximo encontra-se disponível às 3.000 rpm

Juntamente com o motor temos mais dois elementos na Royal Enfield Himalayan 450 absolutamente determinantes e que merecem desde já o nosso destaque. Desde logo o quadro. Estranhamente, poucos falam deste aspecto determinante em qualquer moto. Esquecimento ou pura ignorância? Desenvolvido pela Harris Performance no Reino Unido, o quadro da Himalayan 450 é uma estrutura complexa e simples ao mesmo tempo – perimetral? Formato diamante? Escolha você mesmo – fazendo o motor Sherpa 450 parte estrutural do conjunto. E, adiantamos já, a solidez desejada pela marca sente-se muito bem no desempenho do conjunto. 

Terceiro elemento determinante: o novo conjunto de suspensões Showa. Na dianteira forquilha invertida SFF-BP com 43 mm de diâmetro e monoamortecedor no eixo traseiro. O único acerto que todo o sistema oferece é na pré-carga da mola do amortecedor traseiro. 

SEM FRONTEIRAS 

Stop! Vamos recuar um pouco. Pergunta: alguém sabe quando foi lançada a Himalayan original? Na verdade, a Himalayan que agora é substituída foi lançada pela Royal Enfield em 2016 com o objectivo de oferecer uma moto ao mercado interno que fosse literalmente a todo o lado em quaisquer condições de estrada e mesmo sem estrada. Uma moto sem fronteiras e limites. Sucede que a Himalayan original atravessou mesmo as fronteiras menos óbvias e granjeou pelas suas linhas, honestidade e desempenho uma gigante simpatia no ocidente que terá surpreendido o responsável mais optimistas na empresa. Ora, por exemplo, se uma holandesa loura de olhos azuis – Noraly, por todos conhecida como Iytchy Boots – que nunca tinha viajado de moto, podia pegar numa Himalayan e atravessar meio planeta rumo a casa numa jornada absolutamente épica, qualquer um de nós estava apto a dar a volta ao mundo naquela moto. Fácil! 

Assim, o desafio de renovar a simpática Royal Enfield seria nunca menos gigante, tão gigante como os próprios Himalaias. E…, as nossas expectativas enquanto motociclistas apaixonados - os que o são - quanto ao resultado final acompanhavam o desafio da marca indiana. 

Como tal o primeiro contacto com a Royal Enfield Himalayan 450 seria sempre desafiante. E foi. O primeiro toque impacta. A moto parece pesada parada – 196 Kg em ordem de marcha. Parece haver ferro a mais por todo o lado. O descanso lateral inclina demasiado a moto e obriga a esforço para ser retirado. Nada é fofinho, como agora todos querem. É sim honesto. É áspero. As irritações continuam com o motor já a trabalhar. Os espelhos têm de melhorar. O motor não é redondo abaixo das 3000 rpm. Pensamento positivo: temos moto e temos moto com personalidade. Vamos entende-la? 

Optei propositadamente por provar a moto com o banco na posição mais baixa. Assim baixei ainda mais o centro de gravidade do conjunto. Os pés assentavam totalmente no chão. Podia abusar em quelhos e afins. Quis provar se esta nova Himalayan ia mesmo a todo o lado tal como a original. Com o banco naquela posição, senti as pernas algo encolhidas. Mas fiquei confortável. O guiador está bem posicionado e ainda na cidade começo a descobrir a incrível agilidade desta nova Himalayan 450. A brecagem é soberba e facilitadora. Ajuda muito na simplificação da vida diária. 

VERSATILIDADE HONESTA 

A moto na cidade revela toda a sua honestidade - jantes de 21" na roda dianteira e de 17" na roda traseira. Todavia é fora dela que a Royal Enfield Himalayan 450 se expressa em plenitude. Talvez o momento mais revelador desta prova se tenha dado quando foi possível “carregar” a moto para sentir o seu verdadeiro desempenho – são destas coisas que nunca vão ler no “pressrelismo especializado”, nem ver no “tal canal”. 

E como podia eu “carregar” a Himalayan 450? Não foi difícil convencer a Miss Yoshimura a subir para cima da indiana, leva-la para fora da cidade e depois para o meio dos montes. Ah, e tal, que não se faz fora de estada a dois! Por que raio? Quem disse? Está escrito onde? 

A Miss Yoshimura sempre muito entusiasta, ainda está naquela fase que julga que as motos são seres vivos providos de razão e decidiu dedicar à Himalayan 450 algumas palavras: “Himmi”, foi assim que te batizei, mesmo sem saber se vais ser minha! Tendo em conta que estou a escolher o tipo de moto que quero para mim, uma das fortes opções que está “no lugar de garagem” és tu! E és tu, porquê? Primeiro, és linda à brava, tens personalidade, és ágil, és versátil e, mesmo sendo uma trail, és elegante (aspecto muito valorizado por uma mulher como eu)! Mesmo sem ter tido a oportunidade de colocar as minhas mãos no guiador, senti que era eu que te estava a emprestar ao ESCAPE, para que ele pudesse comprovar o que digo sobre ti. 

Deixei-o divertir-se em estrada e “num fora dela” bem simpático. Sentada na parte de trás, ia bem confortável e equilibrada, ao ponto de estar a filmar a fotografar os nossos percursos. “Himmi”, perdoa-me caso não sejas, ainda, a escolhida, pois fizeste bem o teu papel, apaixonaste-me! 

O épico disto tudo é que a Royal Enfield Himalayan 450 parece ter melhor desempenho mais pesada. Parece? Ou melhorou mesmo? Isso vai ao encontro daquilo que a marca continua a desejar: uma moto que responda as necessidades do mercado interno, que vá a todo o lado e se for o caso funcione como o veiculo de família estilo “pau para toda a obra”.

O quadro que já tinha revelado certeza assume firmeza. O motor responde afirmativamente com uma caixa sempre tão suave e simples. Há resposta mesmo quando precisamos de mais um pouco para aquela ultrapassagem. Neste aspecto, motorização, não há comparação possível com a Himalayan original. Todavia o que brilha mais alto é o soberbo conjunto de suspensões. Há sempre acerto, há sempre conforto, há sempre eficácia. Mesmo quando há exigência. No asfalto e nos maus caminhos. Tudo isto com uma desconcertante facilidade de utilização. E muita coolness

Se este ESCAPE desse notas, oferecia sete sólidos rateres para pontuar esta simpática Hanle Black que reclamou um consumo absolutamente patético de pouco mais de três litros de liquido inflamável doirado por cada cem litros boa energia oferecida. A marca solicita uma transferência bancária no valor de 5.887€ para que esta nova Himalayan enriqueça com sonhos de grandes espaços a vossa pequena garagem. 

Raterómetro ******* (7/10)

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