terça-feira, 22 de dezembro de 2020

Brixton Crossfire 500 à prova

Wolfgang Amadeus Mozart, Franz Kafka, Sigmund Freud. Alpes, Großglockner-Hochalpenstraße e a bonita edelweiss. Kasekrainer, uma lager bem fresca e um wiener apfelstrudel à sobremesa. Como não amar a Áustria? Eu amo a Áustria. E agora, nós motociclistas, temos mais uma boa razão para a amar a Áustria, esse país ligeiramente mais pequeno que Portugal, com menos um milhão de habitantes que a nossa terra, todavia superiormente mais rico – mais do dobro do PIB nominal per capita, segundo os últimos dados conhecidos (FMI). 

Foto: Gonçalo Fabião

A Brixton Motorcycles, apesar da sonoridade too british do nome, nada tem a ver com terras de Sua Majestade. A Brixton Motorcycles faz parte do universo em expansão do denominado KSR Group que detém para além de marca própria, nomes sonantes e clássicos da indústria italiana como a Lambretta, Malaguti e Italjet, para além de interesses na chinesa CF Moto. A Brixton Motorcycles é então um emblema austríaco, pensado, desenvolvido e nascido no espaço do velho Império da Casa dos Habsburgos. 

DESCOMPLICADA E MUITOOOOOOOOO INSTAGRAMÁVEL 
Habituada a produzir motos de baixa cilindrada e inspiração mais ou menos clássica, a Brixton decidiu agora procurar outros mercados. A expansão faz-se com esta Crossfire 500, uma moto que parece ter sido desenvolvida para os dias que vivemos: descomplicada, divertida e que fica gira à brava nas imagens que publicamos nas nossas redes sociais

Foto: Gonçalo Fabião

O primeiro olhar revela um desenho clássico com toques de contemporaneidade. O belíssimo depósito de carburante que simula um X e termina naquele rebordo que brilha ao sol de inverno é onde tudo parece ter começado. Farol redondo, tal como os eficazes “manómetros” digitais. Banco cuidado e traseira recortada como agora se usa. Belas jantes raídas de 17 polegadas em que poucos parecem reparar. 

O guiador proeminente salta à vista. E conduz-nos num primeiro momento a questionar a posição de condução. Contudo rapidamente as dúvidas ficam desfeitas. Dos comandos às peseiras tudo se encontra no sítio e a posição de condução revela-se como tudo nesta moto: fácil de entender. 

Foto: Gonçalo Fabião

HIPSTER QUINHENTOS 
Dinamicamente a natureza descomplicada acentua-se. Motor bicilindrico paralelo de 48cv e 43 Nm - compatível com a carta de condução A2 - sempre vivo e agradável. Suspensões (KYB) algo secas mas eficazes e, enfim, um aspecto claramente negativo nesta moto: a travagem espanhola J.Juan não satisfaz de forma nenhuma, desiludindo quando chamada a esforço intenso ainda que sem comprometer a segurança de todo o conjunto graças ao Bosch ABS. 

Foto: Gonçalo Fabião

Em bom rigor esta Brixton Crossfire 500 satisfaz bastante e surpreendeu imenso. Não senti que seja uma moto apenas para “Cristãos Novos”, aqueles neófitos que só agora abraçam a “religião” do motociclismo. Pelo contrário é uma moto que pode satisfazer qualquer tipo de motociclista. Todo o conjunto está pensado para o divertimento em especial se o andamento for vivo sem contudo cair no exagero de passar toda a viagem em busca dos limites da moto. 

Foto: Gonçalo Fabião

BOA TAMBÉM NA CARTEIRA 
Por falar em viagem…, fiquei curioso para saber ao que saberá partir com esta média cilindrada simpática para uma pequena viagem de fim-de-semana. Os pontos cardiais no farol dianteiro apontam o rumo, indicando também que, como costumo defender, as novas gerações de motociclistas têm muita sorte em poder contar com motos assim que nos despertam os sentidos, desenhos e sonhos. 

Foto: Gonçalo Fabião

A Crossfire 500 ainda tem uma expressão exígua no mercado. A sua natureza e qualidades precisam de continuar a ser comunicadas e partilhadas. Uma dessas qualidades é também a economia. Esta Bullet Silver que parece ter sido desenhada para alimentar o nosso instagram reclamou apenas 3,8 litros do tal líquido inflamável que tanto gostamos por cada cem quilómetros de escape urbano, pedindo a marca 6.200€ para que levem uma giraça destas para a vossa garagem.

domingo, 20 de dezembro de 2020

Escape (com) Vida (VI) - a minha primeira vez numa scooter por Susana Pereira

She’s 2 Wheeled. Foi aqui (link) que conheci a Susana, no Instagram. Define-se como uma Motorcycle Traveler que partilha connosco as suas aventuras de novata numa trail. Sim, é naquela incontornável rede social que a Susana esconde muito mal a sua timidez enquanto motociclista. She’s 2 Wheeled é na verdade um continuo em imagem de criatividade, boa disposição e muito motociclismo. O que eu não sabia quando desassosseguei a Susana para isto (link) é que nunca ela tinha tido contacto com uma scooter. Leiam. Aqui vão encontrar um honesto e sorridente pequeno conto com final feliz. 

Foto: Gonçalo Fabião

Borboletas na barriga no primeiro encontro? Que atire a primeira pedra quem nunca sentiu um friozinho na barriga antes de encontrar o date pela primeira vez. A primeira vez cria sempre algum nervosismo e ansiedade e a minha primeira vez numa scooter não foi diferente. O meu date: a Honda SH125i

Foto: Gonçalo Fabião

Tantas vezes me questionei antes do nosso primeiro encontro e isso só aumentava a minha ansiedade e nervosismo. Apesar de já a ter visto numa fotografia, nunca sabemos como será na realidade, frente a frente, “Será que nos vamos dar bem?”, “Onde iremos?”, “Deverei cancelar o encontro?”. E a pior das questões “Será que vai haver química entre nós?”. 

CHERRY ON TOP 
Aos comandos da Cherry, foi assim que baptizei a Honda SH125i que O Escape Mais Rouco me desafiou a experimentar, não pude deixar de me sentir uma jovem adolescente com um mundo de possibilidades pela frente. A Honda SH125i proporciona uma posição de condução alta e confortável, que me permitiu ter uma boa visibilidade no trânsito. Scooter com um centro de gravidade baixo e uma direcção rápida que permite curvar muito facilmente, tanto que dei por mim a fazer as rotundas bem melhor do que faço na minha big trail

Foto: Gonçalo Fabião

Sempre achei as scooters uns “aspiradores” e conduzir a Honda SH125i foi sem dúvida uma bela surpresa! Agora percebo porque tanta gente opta por este tipo de moto, sobretudo para circular na cidade. Não há dúvida que é perfeita para o trânsito citadino, surpreendentemente ágil e leve, facilitando a colocação no descanso central, pequena e fácil de manobrar, muito prática e confortável, rápida a responder tanto nas acelerações como nas travagens e muito divertida de conduzir. 

Foto: Gonçalo Fabião

CENAS DE GAJAS :) 
Para além disso, vem equipada com top case bastante espaçosa, com controlo remoto para facilitar a nossa vida e que proporciona um excelente suporte lombar para o pendura, pois também tive oportunidade de experimentar e é igualmente divertida e confortável. Tem ainda bastante espaço de arrumação debaixo do banco, bem como um suporte para o telemóvel e uma entrada USB para carregar dispositivos. Já me estou a imaginar a ir para o trabalho com ela, carregada com o saco das marmitas, o saco para o ginásio e sei lá que mais parafernália que nós mulheres carregamos todos os dias. 

Foto: Gonçalo Fabião

Esta pequena mas divertida experiência com a Honda SH125i, mudou sem qualquer sombra de dúvida a imagem que eu tinha das scooters, tendo ficado realmente impressionada pela positiva tanto no que respeita à qualidade e facilidade da condução, como também relativamente ao conforto. O balanço final deste primeiro encontro foi bastante positivo.

domingo, 13 de dezembro de 2020

Benelli 752s à prova

A centenária marca italiana, agora na órbita da gigante chinesa Qianjiang, prepara-se para encerrar 2020 - pelo segundo ano consecutivo - no top five das motos mais vendidas em Portugal. E estará seguramente em posto idêntico no quociente de emoção que arrebata aos motociclistas portugueses. Por cada apaixonado seguidor, terá outros tantos detractores. É assim com a Benelli e é assim com as marcas mais vendidas em Portugal e no mundo. E isso é bom para o motociclismo em geral e sobretudo para a marca em particular. 

Foto: Gonçalo Fabião

Esta estradista despida não é excepção quanto às emoções que provoca. Basta determo-nos e olhar para ela com atenção para amarmos ou odiarmos a sua aprimorada silhueta de inspiração mediterrânica. Contemplando a mecânica, compreendemos que a marca tentou aqui uma espécie de síntese entre a tese italiana e a antítese nipónica – notem que a ordem dos factores é aqui absolutamente arbitrária, escolham vós a vossa tese e consequente antítese. A quadratura do círculo é sempre um exercício estimulante. Terá o velho emblema conseguido vencer a batalha? 

Foto: Gonçalo Fabião

ROADSTER ATREVIDA 
No desenho, a clara inspiração MV e ducatisti fica bem à 752s. Não sendo este ESCAPE o maior apreciador do traço das naked contemporâneas, é impossível ficar indiferente àquele quadro tubular onde assenta toda a moto. Sendo verdade que a apreciável linha de escape sobressai desta negra, verdade é que a objectiva do Gonçalo teria preferido os tons encarnados ou mesmo verdes de outras opções cromáticas do mesmo modelo. Ao nível do desenho apenas lamentamos um radiador algo sobredimensionado. 

Foto: Gonçalo Fabião

O primeiro contacto dinâmico com a moto não é soberbo. A posição de guiador é algo fechada e o pedal de travão traseiro exige adaptação para uma travagem eficaz. O desconforto inicial é apenas aparente e, sendo esta uma moto sem qualquer protecção aerodinâmica, é obviamente uma moto física que vamos aprendendo a saborear. Esta natureza física deve-se também a um peso algo desajustado tendo em conta o minimalismo do conjunto - bem como ao conhecimento do que vai fazendo a concorrência. 

Foto: Gonçalo Fabião

Ao rolar com esta Benelli, cedo notamos que o bicilindrico paralelo (76 cv e 67Nm) é a estrela do conjunto. Titubeante a baixos regimes vai ganhando alma com a subida de rotação, oferecendo “lá em cima” uma condução alegre e divertida potenciada pela sonoridade muito agradável daquela peculiar ponteira de escape. 

ALEGRE E DIVERTIDA 
As suspensões algo secas – ambas reguláveis – e a travagem eficaz, apesar da sensibilidade da manete do travão dianteiro não deslumbrar, contribuem para uma experiência honesta, a espaços divertida, apesar da manete de embraiagem se ter revelado algo dura, pedindo também ela alguma adaptação. 

Foto: Gonçalo Fabião

Esta Benelli 752s, roadster atrevida, é actualmente o topo de gama da marca. Longe de ser perfeita como alguns a querem fazer parecer, assume-se uma moto honesta e muito sedutora. Sim…, não nos parece carismática. Mas poderá transformar-se em tal no futuro, limadas que sejam algumas arestas relevantes. Solicitou pouco mais de cinco litros do tal líquido inflamável fundamental à nossa salubridade, pedindo a marca uma transferência bancaria de 7.480€ para quem a levem a passear por essa estrada fora.

sexta-feira, 4 de dezembro de 2020

Mercado mantém sinais positivos

Com o ano a terminar, ficando apenas em falta os números deste mês que corre, Dezembro, é tempo de fazer um novo “resumo da matéria dada” no que à venda de motociclos novos diz respeito. 

Apesar da situação sanitária por todos conhecida, estamos a ter um ano de sinais positivos e encorajantes. Os números que tivemos acesso, números que sublinhamos desde já são números oficiais ACAP, Associação Automóvel de Portugal, apontam para uma queda de apenas 5,3% no mercado global, ou seja, ciclomotores, motociclos, triciclos e quadriciclos, com o passado mês de Novembro a regista uma surpreendente evolução favorável de 19,6 por cento. 

Todavia, na opinião deste ESCAPE, os números a reter e discutir são os números que dizem respeito aos motociclos tal como nós os conhecemos, isto é, veículos acima dos 125cc. Aqui em Novembro o mercado subiu quase 14% face a igual período do ano anterior, 2019. Este sinal positivo ajuda a amenizar o resultado do catastrófico confinamento registado no segundo trimestre deste ano, onde marcas houve que durante semanas a fio não venderam um único motociclo. 



De Janeiro a Novembro o mercado de motociclos regista então uma queda de pouco mais de sete por cento. Ainda assim, sublinhamos, queda bem menos acentuada do que poderíamos esperar no primeiro semestre deste estranho 2020. 

Olhando para as marcas…, a Honda apesar de ter um ano de evolução negativa mantém uma liderança solida – fica com bem mais de um quarto do total das vendas – mas vê Yamaha e BMW acrescerem na quota de mercado com destaque para a marca germânica que está a ter um ano glorioso, a crescer quase 20%. 

Nos lugares secundários, as marcas de uma forma geral seguem a tendência geral de mercado. Com sinal positivo vale a pena destacar a chinesa Zontes, a manter um lugar no top ten, e o mês excelente da Triumph onde coloca quase o dobro dos veículos no mercado face a igual mês de Novembro de 2019. Sinal menos para Kawasaki e H-D com quebras anuais de cerca de um terço nas vendas. 

Uma das lições deste 2020 é a de que há espaço, muito espaço, para crescer. Seria importante encontrar estratégias e tácitas que potenciassem esse crescimento. Face ao esforço que se fez noutros países europeus pelo uso da moto, campanhas como aquela que a ACAP promoveu este ano denominada “Vai de Moto” dá dó e mesmo vergonha alheia, de tão paupérrima que é. Não nos podemos contentar com o “é melhor que nada” e o “poucachinho”. Sejamos ambiciosos. E apaixonados pelo que fazemos. Todos!

domingo, 29 de novembro de 2020

Honda SH125i à prova

Elegância. Alguém terá dito um dia – na verdade a frase é atribuída a Paul Valery, filósofo, escritor e poeta francês (1871-1945) – que “elegância é a arte de se fazer notar, aliada ao cuidado subtil de se deixar distinguir”. O elegante possui sem dúvida uma certa harmonia que se caracteriza pela leveza e facilidade na forma e movimento. Ao elegante é ainda conferido o atributo de ser eficaz e mostrar simplicidade incomum. 

Foto: Gonçalo Fabião

Elegância. Dificilmente encontramos melhor expressão para definir a renovada SH oitavo de litro da Honda, que vem enriquecer ainda mais a gama scooter Honda, situando-se algures entre a irreverente e prática PCX e a requintada Forza. 

Vale a pena recordar que a família SH – SH de “small” Honda – nasceu em Barcelona nos anos oitenta do seculo XX. Equipada com motor de dois tempos de 50cc e apenas 3 subtis e ágeis cavalos, a SH conta hoje com bem mais de um milhão de unidades vendidas por essa Europa fora. 

Foto: Gonçalo Fabião

NOBREZA E AGILIDADE 
Com linhas sóbrias, nobres mesmo, esta SH125i seduz quem detém o seu olhar nela. Mas é preciso prová-la para lhe reconhecer as qualidades. E o primeiro sinal de eficácia que notamos é o redesenhado e renovado motor eSP+ de quatro válvulas que apresenta uma vivacidade incrementada desde os baixos regimes, surpreende nas recuperações, acrescenta velocidade de ponta e…, consegue ainda ser mais económico. Incrível o excelente trabalho da Honda - melhorando o que já era muito bom - no seu pequeno monocilíndrico, agora mais ecológico, respeitando as tremendas exigências da norma EURO5. 

Foto: Gonçalo Fabião

A posição de condução algo rígida, clássica numa denominada scooter de estrado, é agradável, muito graças às jantes de 16 polegadas que nos induzem uma sensação de pequena moto. A agilidade é também uma nota saliente. Esta SH precisa de apenas de escassos dois metros para inverter a marcha e isso torna-se extremamente útil no dia-a-dia da batalha urbana e das pequenas manobras nos espaços acanhados das cidades. Tudo isto é acompanhado por uma firmeza ao nível das suspensões (amortecedores traseiros duplos com ajuste de pré-carga em cinco posições) que surpreende e por uma travagem, disco nas duas rodas, a cumprir sem qualquer reparo. 

EASY LIKE A SUNDAY MORNING 
Como certamente já notaram pelas imagens que acompanham este texto, desta feita o ESCAPE decidiu convidar uma motociclista para dar ainda mais alegria e cor a este texto. A Susana, que podem conhecer aqui (link) no instagram, apesar de ser uma “cristã nova”, não o é de qualquer maneira. Recente motociclista, conduz e viaja numa trail de média cilindrada por esse país fora. Curiosamente nunca tinha tido contacto com uma scooter. Sim, esta foi a primeira vez da Susana. 

Foto: Gonçalo Fabião

E foi muito engraçado verificar como a adaptação imediata rapidamente deu lugar a um crush instantâneo. Honestamente não me surpreendeu, pois a facilidade de utilização da Honda SH125i é tanta que pode apaixonar ao primeiro contacto qualquer tipo de motociclista. Em breve a Susana irá aqui no ESCAPE contar o que sentiu nesta luminosa manhã de domingo

Foto: Gonçalo Fabião

TECNOLOGIA E QUALIDADE 
Quanto a mim só vos posso dizer que esta Pearl Splendor Red equipada com Smart Top box e Honda Smart Key – sistema sem chave que faz tudo funcionar, moto e top case na perfeição – me surpreendeu ao ponto de me fazer questionar se o meu cavalo de batalha diário (a “irmã” PCX) não merece ser repensado. 

Foto: Gonçalo Fabião

Rápida, 120 quilómetros de “top speed” no bonito painel de instrumentos digital, económica (apenas 2,3 litros de líquido inflamável por cem quilómetros de elegância espalhada pela cidade vias rápidas adjacentes) e muito, muito fácil de usar, a Honda SH125i apesar de uma autonomia limitada pelos sete litros do depósito de combustível sabiamente implementado para baixar o centro de gravidade do conjunto, merecia claramente outra atenção de todos aqueles que desejam uma moto espartana (mas que traz de origem o HSTC – Honda Selectable Torque Control) e de qualidade para os dias urbanos.

domingo, 15 de novembro de 2020

Suzuki Katana à prova

A vida é limitada, já o nome e a honra podem durar para sempre. Eram estes os Valores supremos de um Samurai – aquele que serve com lealdade e empenho -, os célebres guerreiros da milenar aristocracia imperial japonesa. Para além da honra, a imagem pública e o nome dos seus antepassados, podiam valer mais do que a própria vida para aqueles fiéis soldados. Na defesa dos seus Valores e Princípios, os Samurais utilizavam um código de ética que impunha frugalidade, grande disciplina, lealdade, honra até à morte, coragem extrema diante de qualquer situação e habilidade no domínio da Katana, a sua espada. 

Foto: Gonçalo Fabião

A Katana, usada maioritariamente em campo aberto, era uma longa lamina curva com gume apenas de um lado forjada totalmente à mão com detalhes cuidadosos e um cabo longo para acomodar duas mãos. Muito mais do que uma arma para um Samurai - uma autêntica filosofia de vida segundo algumas fontes -, a Katana era a extensão do corpo e da mente do próprio soldado. Curiosamente a palavra Katana acaba por ser incorporada como catana pela língua portuguesa após a chegada dos portugueses ao Japão no século XVI. Em quase quinhentos anos a palavra foi perdendo a sua pronúncia japonesa e ganhou novos sentidos em português designando uma multiplicidade de objectos como espadas várias, sabres e até facas de generosas dimensões. 

ADN DE RESPEITO 
Nos gloriosos anos 80 do século passado, com o apoio do estúdio alemão Target Design, a Suzuki desenhou e produziu uma “mil e cem” que assim que chegou às ruas e estradas reclamou para si o titulo de moto mais rápida do mundo de larga produção. Arrojada, destemida e nobre tal com os guerreiros nipónicos de outros tempos, a Katana original rapidamente se afirmou como uma moto de culto. Todavia, a sua existência enquanto peça única e rara foi relativamente curta. A produção da moto original cessou ainda na década de 80, tendo contudo a Suzuki produzido a Katana em várias versões com diferentes motorizações. Foi no mercado norte americano que o lendário nome teve uma existência mais perene. 

Foto: Gonçalo Fabião

Após o falhanço da Stratosphere – espectacular e pouco conhecido protótipo de super naked, claramente inspirado na Katana, apresentado no Salão de Tóquio de 2005 que montava um motor seis cilindros em linha de 1100cc, e que nunca entrou em produção - a Suzuki mostra em Milão 2017 a Katana 3.0 Concept que viria a ver a luz do dia enquanto moto de produção em 2019.

Foto: Gonçalo Fabião

Ufffffff…, foram assim necessários percorrer mais de mil anos de história, desde o nascimento dos Samurais até aos dias de hoje, para que este vosso “servo” da cultura motociclistica pudesse empunhar a “lamina sagrada” dos tempos modernos. E chega muito a tempo, diga-se. Num ano em que a velha casa de teares mecânicos de Hamamatsu completa o seu primeiro centenário e num tempo em que após o domínio por vezes insolente do mundial de velocidade de 500cc ainda nos anos 70 do século passado e percorridos vinte anos sobre o último título mundial, a marca nipónica consegue resgatar para si o titulo mundial da classe rainha da Velocidade Mundial. Coincidências felizes… 

SAUDADES DO FUTURO
A Katana presente é uma aparente estranha mistura. Recupera a linha da classe de oitenta piscando o olho a um futuro qualquer, montando numa dupla trave de alumínio o celebre e galardoado motor K5 – o “mil” quatro em linha da geração 05-08 da GSX-R 1000 – com um braço oscilante de origem GSX-R 1000 de 2016, travagem Brembo e suspensões KYB

Foto: Gonçalo Fabião

Numa posição de condução acertada, que deixa o corpo disponível para uma condução viva e sem qualquer tipo de esforço desnecessário nas articulações, o primeiro toque na Katana revela uma moto descomplicada. Fácil de entender, fácil de conduzir, fácil de conduzir e de levar para onde desejamos. São 150 CV para 215 Kg.

Foto Gonçalo Fabião

Apesar de manter o capricho muito próprio dos “quatro em linha” – cada qual tem o seu – o motor é saboroso e a sonoridade que o escape produz desde cedo oferece-nos uma soberba envolvência na condução. A caixa é precisa e notamos a ausência de um shifter que apimente a nossa relação com a Katana. Aliás…, a Suzuki optou por nos oferecer nesta nova Katana um compêndio de soberba moto analógica. Sentimos a falta da mais recente electrónica – ausência de modos de condução, por exemplo – mas apreciamos a experiência espartana e eficaz de uma moto sem grandes ajudas à condução e ao conforto – é uma naked, ponto final. 

Foto: Gonçalo Fabião

UMA “ARMA” PARA A CONTEMPORANEIDADE 
Também nos comandos e no painel de instrumentos, a Suzuki optou por revisitar o final do século passado. Apesar de atuais estes elementos remetem-nos sempre para um passado que foi bom mas esta lá…, no passado. O Senhor Mercado irá responder à questão se este terá sido o melhor caminho a percorrer pela Suzuki quando decidiu recuperar um dos seus maiores ícones. 

Foto: Gonçalo Fabião

A experiência Katana, não chegando a ser adrenalizante, satisfaz bastante e até entusiasma. Pode bem ser a arma eficaz para que os samurais dos tempos modernos combatam o tédio, quando e se autorizados a sair de casa pelos senhores feudais da actualidade. Esta Glass Sparkle Black solicitou cinco litros e meio do tal liquido inflamável indispensável à batalha do dia a dia, pedindo a Moteo – importador Suzuki para Portugal – 13.999€ para levarem uma para a vossa garagem.

domingo, 8 de novembro de 2020

Infoentretenimento – há uma nova expressão no léxico do motociclismo

Até pode não parecer para alguns, muitos mesmo, mas o mundo não para. E em 2021 os motociclistas preparam-se para conhecer uma nova palavra: infoentretenimento. 

Dizem os dicionários que infoentretenimento é, no espaço televisivo, o conteúdo mediático concebido para apresentar informação de forma recreativa, à semelhança de um programa de entretenimento. Já num veículo, infoentretenimento é o sistema multimédia destinado a disponibilizar opções de entretenimento para os ocupantes do mesmo, permitindo controlar aplicações informáticas nomeadamente ao auxílio da condução. É pois então este segundo sentido de infoentretenimento que nos interessa. 

ADMIRÁVEL MUNDO NOVO 
Para além do (para já) pouco consensual sistema de “cruise control” adaptativo baseado em radares, a Bosch desenvolveu nos últimos anos para a BMW, Ducati e Kawasaki um novo painel de instrumentos TFT com uma tecnologia inédita num motociclo. 

O painel de 10,25 polegadas denominado oficialmente “Integrated Connectivity Cluster” traz como enorme novidade a tecnologia denominada “splitscreen” já disponível nos “enlatados” de topo. Tal recurso permite dividir o ecrã em dois com o conteúdos que o motociclista deseja visualizar, minimizando assim o tempo de distracção na condução. 

Aquele painel da Bosch conta ainda com a tecnologia “MySpin” que permitirá ao motociclista transferir o conteúdo do seu telefone esperto. Assim, o que vemos hoje numa aplicação de um telefone esperto é ajustado automaticamente para que sejam exibidas as informações mais relevantes, tais como aquelas que solicitamos hoje a um sistema de navegação. 


O “MySpin” integra também diversas aplicações de parceiros específicos, prometendo oferecer uma ampla gama de serviços, que vão do planeamento de rotas à oferta hoteleira e de restauração, passando também pela comunicação social nomeadamente ao nível da radio digital. 

O FUTURO HOJE 
Segundo diversas fontes, uma pesquisa realizada pela Bosch junto de quase três mil motociclistas defende que uma esmagadora maioria de 80% dos utilizadores acolheriam muito bem estas novidades tecnológicas. 

Este novo painel já pode ser visto na versão 2021 da BMW R1250RT e na novíssima Ducati Multistrada V4 apresentada há dias. A Kawasaki também já afirmou desejar contar com esta tecnologia em 2021.

terça-feira, 3 de novembro de 2020

Triumph Rocket 3 GT à prova

Conhecer o passado para compreender o presente e idealizar o futuro. O pensamento é conhecido e a frase, glosada vezes sem conta, atribuída a Heródoto, o pai da Historia - quem terá sido a mãe?. Mas é bem certa. BSA Rocket 3, Triumph Rocket III e enfim, Triumph Rocket 3. Confusos? Vamos lá… 

Foto: Gonçalo Fabião

A actual Rocket 3 veio este ano substituir a decaída Triumph Rocket III que por sua vez recuperou o nome da BSA Rocket 3. Esta, tal como a irmã gémea Triumph Trident - que curiosamente será recuperada pela marca mas numa interpretação bem diversa – foi uma avançada roadster de alta desempenho produzida e comercializada pela Brimingham Small Arms Company (BSA) de 1968 a 1975. Uma sofisticada “street motorcylce” que segundo alguns marcou de certa forma o início de uma era que deu origem ao tempo das superbike. 

Em 2004, após longos seis anos de desenvolvimento, a marca britânica recupera o nome originalmente comercializado pela BSA para dar à luz a Rocket III, uma moto poderosa e imponente que piscava o olho ao importante mercado norte-americano e pretendia provocar os (quase) sempre ortodoxos “harlistas”. 

Foto: Gonçalo Fabião

Pesada, desatualizada e consequentemente desinteressante, a Triumph decide renovar profundamente aquela que é a moto com maior cilindrada em produção. Encolhi os ombros, confesso. Ingénuo… 

CHOQUE E ESPANTO 
Leitores, amigos, colegas de trabalho e o próprio Gonçalo que vos oferece estas imagens magníficas, desafiavam-me amiúde para “fazer o requerimento em papel azul de vinte e cinco linhas” a solicitar à marca “o foguete”. Já não fui a tempo de conhecer a lindíssima Korosi Red Rocket 3 R que difere da moto provada apenas na posição de condução – guiador “flat” e poisa pés recuados. Esta, a moto provada, é uma Silver Ice & Storm Grey Rocket 3 GT e conta ainda face à R com uma suave proteção aerodinâmica e um pequeno encosto para facilitar a vida ao eventual passageiro. 

Foto: Gonçalo Fabião

Start. E wooooooooooo…., que moto é esta de 167 CV e 221 (!!!!!!!) Nm que apaixona à primeira troca de caixa?!?!? Na verdade e contra todas as expectativas a Triumph Rocket 3 GT interpreta da melhor forma aquela ideia que diz…, não há uma segunda oportunidade de causar uma primeira boa impressão. 

MUSCULO SIM E BEM DEFINIDO 
Sujeita a uma intensiva cura de emagrecimento face à sua antecessora, esta 3 GT surge com menos quarenta quilos e muitos miminhos tais como novo quadro em alumínio, electrónica de topo – apesar de um controlo de tracção faseado e um shifter de auxílio à passagem de caixa poderem no futuro enriquecer mais o conjunto – travões Brembo e suspensões Showa dignos de desportiva ou sport tourer

Foto: Gonçalo Fabião

Eu sublinho. A Triumph Rocket 3 GT apaixona. E é provavelmente das motos mais incompreendidas do mercado. De “tijolo” nada tem. Movendo-se ainda parada com volúpia e sensatez, é suave e precisa a baixa velocidade. Ao ligeiro toque no acelerador electrónico explode em direção ao horizonte. Assertiva no diálogo com o asfalto não se nega a um bom “curvão”, não sendo contudo essa a sua natureza. E no momento de parar este Arnold Schwarzenegger do motociclismo – que horror de frase…, agora já está… - os poderosos Brembo que alguns “entendidos” dizem sobre dimensionados respondem com absoluta eficácia. 

Foto: Gonçalo Fabião

PRAZER E EXCLUSIVIDADE 
Em bom rigor a Rocket 3 GT oferece uma jornada de afirmação e prazer. Afirmação pois somos olhados com o respeito do sujeito que circula num objecto raro e distinto (“olha, é uma Triumph”, ouvi amiúde). Prazer porque é uma delícia sentir esse respeito na cidade e seus arredores, cruzar a nossa terra ou aquela estrada à beira mar que nos leva a uma pausa algures com as amigos. E ficamos a sonhar com outras paragens. Não sendo uma touring, esta crusier ama o asfalto e chama pela viagem por essa estrada fora rumo ao infinito… 

Foto: Gonçalo Fabião

Personalidade, qualidade e até exclusividade são características desta Triumph Rocket 3 GT Silver Ice & Storm Grey onde não podem, obviamente, esperar economia. Ainda assim os pouco mais de sete litros, do mágico elixir inflamável que nos inebria, que nos são solicitados pelos dois mil quinhentos centímetros cúbicos do tricilindrico britânico não chocam. Pelo contrário, satisfazem. E podem contar com apenas seis daqueles litros se o andamento for de cruzeiro e respeitar os limites de velocidades impostos pela autoridade. A marca solicita 22.800€ por esta delícia absolutamente rara que por onde passa não deixa ninguém indiferente.

terça-feira, 20 de outubro de 2020

Colecção NEXX Helmets 2021

Vinte anos é muito tempo? Não sabemos. Sabemos sim que a NEXX se prepara para comemorar duas décadas de actividade. Não é tempo de baixar os braços, muito menos rendição. Pelo contrário. É tempo de interpretar o presente e apostar no futuro. Não é novidade para ninguém que a NEXX faz tudo isto muito bem. 

Hélder Loureiro, o incansável português CEO da NEXX sustenta que estamos convencidos de que a mobilidade individual está a entrar numa fase entusiasmante. A Colecção NEXX 2021 é totalmente focada no universo individual, no lifestyle de certos estilos de motociclista e na conexão natural dos nossos sentidos. No ano do nosso 20º aniversário, não estamos a olhar apenas para o passado, mas acima de tudo, para o futuro. A nova tecnologia X-PRO Carbon traz avanços significativos, abrindo novas e fantásticas possibilidades que nos permitirão oferecer aos nossos clientes, uma experiência de condução mais segura e emocional. O processo constante de procura de melhores soluções está no nosso ADN - e essa é a forma como pretendemos moldar os próximos 20 anos. 

X.VILIBY – A GRANDE NOVIDADE 


Desenvolvido a partir do inovador desenho do X.VILITUR, X.VILIBY é a nova versão jet, projectada para viagens urbanas, diárias, bem como para viagens mais longas. Uma das suas maiores características é o "SILENT CITY SEAL" - uma borracha especial em todo o contorno da viseira, desenvolvida para melhorar o isolamento acústico e reduzir as vibrações na viseira. X.VILIBY está disponível em 3 tamanhos de calota, para maior segurança e conforto, e traz consigo uma longa lista de características, incluindo o avançado sistema de intercomunicação Bluetooth X-COM 2. Todas as peças do forro, incluindo o cornicho são removíveis, laváveis e com a tecnologia X-Mart Dry – um tecido com tratamento especial que seca duas vezes mais rápido que o algodão normal.

APELO AOS SENTIDOS 

Na sua nova Colecção 2021, a NEXX deseja também relembrar que o contacto com a natureza nunca se tornou tão necessário. Dentro das novidades neste segmento, destaca-se a versão X.WED2 VAAL em fibra de carbono – sem dúvida, um passo em frente de um dos melhores e mais completos capacetes Dual Sport do mercado – ao qual a NEXX retira agora uma quantidade significativa de peso e acrescenta ainda mais funcionalidades.

Testado em condições climatéricas extremas, nos Pirenéus e Marrocos, o interior do VAAL é tão confortável quanto é prático. Todas as peças podem ser totalmente removidas e laváveis e em tecidos X-MART dry que proporcionam um toque suave e uma secagem duas vezes mais rápida que um tecido normal. O design aprimorado gera uma sensação de conforto de primeira classe, por muito longa que seja a viagem. Detalhes luxuosos, como as inserções sintéticas em acabamento texturado e o pesponto laranja - combinados com tecido reflector na cor preto - deliciam os sentidos. 

Na gama X.VILIJORD, o modular aventura, os destaques vão para a nova cor branco na versão LIGHT NOMAD em fibra de carbono bem como os novos modelos HI-VIZ (alta visibilidade) com o típico Amarelo Neon, projectados para tornar o motociclista, o mais visível possível durante o dia e que também estará disponível na gama X.VILITUR. 

LINHAS, COR E DESENHO AGRESSIVO 

Assim serão as novidades também no segmento SPORT, desde os novos X.WST2 Carbon Zero 2 e X.WST2 Rockcity, uma decoração mais jovem e arrojada. Nota ainda para a nova série especial X.R2 REDLINE que conta com uma distinta placa em metal, directamente perfurada na calota em carbono, com o número de série. 

Ainda no segmento SPORT, mas numa gama mais económica, temos o novo SX.100R cujo lançamento já havia sido antecipado pela marca logo após o desconfinamento e que surge agora com novas decorações e cores. 


LAST BUT NOT LEAST 


Com uma herança de prestígio, a NEXX Helmets renovou ainda por completo a sua linha de modelos clássicos originais X.GARAGE. Ao todo, são 14 novos modelos disponíveis em várias cores e grafismos e com elevada segurança, garantida pela experiência da NEXX com estratificações em fibra de carbono e fibras multi-compósitas. 



A nova colecção NEXX Helmets 2021 já está disponível nas lojas. E para 2021, ano em que a assinala os 20 anos, a marca promete não parar por aqui! 



Nota do ESCAPE: uma vez mais alerto e sublinho que neste blogue cultivam-se Valores como a honestidade e transparência. Não se assinam textos alheios. Assim, ditam as boas práticas aplaudir este texto que é da responsabilidade da NEXX, bem como das imagens que o acompanham. Aqui só se fizeram ligeiras adaptações.

segunda-feira, 19 de outubro de 2020

BMW K 1600 GT à prova (por Estradas Nacionais)

Paradoxo. Em plena sociedade da informação e comunicação, nem sempre é fácil encontrar a ontologia, o ser em si, das coisas. Da letra K, ou kappa, pouco se sabe, nomeadamente quanto à sua origem e verdadeiro significado. Sabemos que a letra provém do grego, adaptado por sua vez do kap ou kaf das línguas semitas, símbolo que representava uma mão aberta. Esta, por sua vez, com muita probabilidade teria sido adaptada pelos povos semitas que teriam vivido no Egipto, a partir do hieróglifo que representa “mão”. E, assim de repente, é tudo. 

Foto: Gonçalo Fabião

Uma mão cheia de inspiração, encontraram os engenheiros da BMW Josef Fritzenwenger e Stefan Pachernegg, no já longínquo ano de 1983. Quando muitos fabricantes ainda apostavam em motores em linha refrigerados a ar, os motores de quatro cilindros refrigerados a líquido representavam o derradeiro patamar tecnológico. Nos anos oitenta do século passado, Fritzenwenger e Pachernegg desenvolveram um, à época, novíssimo conceito técnico voltado para o futuro; e que posteriormente foi aprimorado até atingir uma qualidade de produção regular. Nascia assim a Série K da BMW Motorrad que se afirmou inovadora e polivalente em termos técnicos e não só. 

K RUMO A 40 ANOS DE HISTÓRIA 
A série K da BMW nasceu então em 1983 com um único modelo, a K 100 “despida”. Esta não tinha outras designações como 'RS' ou 'LT', que chegaram mais tarde. Aquela nova e radical BMW surgia com um espirito ultramoderno para o seu tempo, sendo impulsionada por um novo conceito de motor: uma linha longitudinal de 4 cilindros de 987cc, motor apoiado no lado esquerdo. 

Foto: Gonçalo Fabião

A actual BMW K 1600 GT não é propriamente uma moto nova. Anunciada em Julho de 2010 – sim, há mais de dez anos (?!?!) – é apresentada no Intemot de Colonia do mesmo ano e colocada no mercado em Março de 2011. Hoje, depois de mais de três mil quilómetros na 1600 GT que a J&M Motos, empresa do Grupo Jomotos, cedeu no passado mês de Setembro a este ESCAPE, “rezo” todos os dias aos Deuses do Motociclismo, para que o lamentável Euro5 não seja mais castrador e, pelo contrário, seja uma oportunidade para desenvolver e evoluir esta jóia da coroa bávara. 

PORTUGAL “UBER ALLES” 
A Prova de que agora vos quero falar envergonha os menos de cem quilómetros que fiz aqui (link) em 2016 de 1600 GT. Na verdade, em posse de um período de férias no passado Setembro, decido seguir um sonho antigo: uma verdadeira volta a Portugal pelas belas e únicas Estradas Nacionais. Uma viagem que parecendo difícil não é nada fácil. 

Exigia, no tempo disponível – pouco mais de uma semana – uma moto rápida, confortável e preferencialmente, muitooooooooooooooooo divertida. Assim, vesti o meu melhor fato de atrevimento e contactei a Jomotos na busca de uma mão cheia, uma kappa… Em vídeo e fotografia encontram essa viagem manifesta e honestamente documentada na página de facebook que suporta este blogue. Mas não posso deixar de acrescentar algo mais. 

6, O NUMERO DA UNIÃO, HARMONIA E PODER 
É absolutamente incrível como uma moto já com uma década de história ainda nos consegue surpreender. Só aqueles seis cilindros em linha já seriam o bastante para que qualquer motociclista preste a sua vénia a tamanho descaramento. Seis? Em linha? Quantas motos conhecem com esta motorização? E quantas tiveram o prazer de provar? 

Foto: Gonçalo Fabião

O motor - colosso de binário e potência, que tanto adorei explorar quer em rotação dita normal, quer lá em cima entre as sete e oito mil rpm onde a sonoridade é absolutamente celestial – surge montado num quadro solido e assistido por aquelas deliciosas suspensões electrónicas da Motorrad de que tão confesso fã sou. Com uma protecção aerodinâmica tendencialmente perfeita, a BMW K 1600 GT assume-se, ainda hoje sublinho, como a referência incontornável no adormecido – não por muito mais tempo – segmento sport tourer. Permitindo a elasticidade do conjunto abraçar suavemente “sempre em sexta” uma estrada curvilínea ou, explorando a agora suave transmissão auxiliada por um quickshift, atacar de forma agressiva terrenos idênticos levando a travagem para além do limite do razoável e curvando sem fim. 

DINAMISMO E CONFORTO 
Sendo verdade que senti naquela viagem a falta de uma top case que me facilitasse o dia a dia na estrada – pode ser adquirida como extra -, de um painel de instrumentos actualizado e até de uma pequena cura de emagrecimento (na moto) para que as pequenas manobras com a moto parada fossem mais acessíveis, verdade é que a BMW K 1600 GT da a J&M Motos me ofereceu uma viagem inesquecível por este nosso Portugal, onde pude alternar entre uma condução suave de puro turismo ou mais ou menos travessa consoante o meu capricho ou dinâmica das Nacionais que abraçam o nosso território como poucas estradas o fazem por esse mundo fora. 

Foto: Gonçalo Fabião

Dinamismo e conforto foi o que esta Preto “Storm” da afamada Casa Bávara me ofereceu. Equipada com, entre outras funcionalidades, DTC (controlo de tração dinâmico), ESA Dynamic, ABS Pro, sistema áudio com kit de preparação para sistema de GPS, rádio ECE (Software), marcha atrás, faróis adaptativos, Luzes diurnas, controlo de pressão dos pneus, condução sem chave, assistente à passagem de caixa Pro, fecho centralizado, luzes auxiliares em LED, sistema de alarme antirroubo, sistema de chamada de emergência, a BMW K 1600 GT pode custar 30.100€ já com todos os impostos e despesas incluídas, tendo os seis cilindros solicitado seis litros certos do tal líquido inflamável que tanto amamos, por cem quilómetros de condução hedonística e luxuosa.

segunda-feira, 12 de outubro de 2020

Honda X-ADV à prova (segundo volume)


Alguns dizem que a memória é a capacidade de adquirir, armazenar e recuperar informações disponíveis, seja internamente, no cérebro (a denominada memória biológica), seja externamente, em dispositivos artificiais (a memória artificial). Memória é ainda o armazenamento de informações e factos obtidos através de experiências ouvidas ou vividas. Foca em realidades específicas, requer grande quantidade de energia mental e deteriora-se com a idade. Hoje, como auxiliar da memória biológica dispomos de elevada quantidade de memória artificial. É também para isso que serve um blogue, este ESCAPE em particular. Uma quantidade infinita de memória artificial suporta e aviva a memória biológica. Querem ler? 

Foto: Gonçalo Fabião

Há pouco menos de três anos (link) tínhamos enfim a possibilidade de realizar a primeira prova à Honda X-ADV, uma moto que julgávamos, à época, inaugurar um novo segmento e que descrevemos a partir de duas palavras-chave: divertimento e versatilidade. A actual versão da agressiva proposta da Honda, para além do controlo de tracção, em pouco difere daquela que foi a primeira versão provada. Todavia, a demanda por uma segunda opinião pode ser muito útil no sentido de confirmar ou infirmar um primeiro olhar. E este ESCAPE quis ir mais longe. Fazer reportagem. Sair para a rua da contemporaneidade e questionar alguns dos utilizadores diários X-ADV: “a que vos sabe a vossa moto”, indaguei. 

PERSONALIDADE CARISMÁTICA 
De 2017 para hoje ficámos a saber que, em bom rigor, a Honda X-ADV não inaugurou qualquer novo segmento porque as demais marcas não correram atrás do exemplo da Honda e, assim, a X-ADV mantém-se como um produto único, muito próprio, cheio de personalidade e mesmo carisma. Notável! 

Foto: Gonçalo Fabião

É a própria marca que assume que esta moto se apresenta como um SUV e convida-nos a conhecerem esta “crossover”. Compreendo o piscar de olho a outras realidades que não o motociclismo na busca de “cristão novos” mas os termos não me agradam e até fico um pouco baralhado, confesso. Se ainda se compreende a opção da marca já quando faço uma pesquisa na grande memória virtual da Internet por “Honda X-ADV” e vou para aos sítios do costume com as pessoas do costume a papaguearem as banalidades do costume que a informação oficial da marca lhes indica…, capoto…, sejamos honestos: é apenas ridículo, para ser simpático. 

SONHAR É PRECISO 
Na verdade, se estivermos atentos e pensarmos pela nossa cabeça, notamos que a X-ADV transpira carisma. Na condução diária desperta os sentidos. O swing muito próprio com que se movimenta no bulício da cidade e das vias rápidas que a rodeiam, faz disparar os químicos certos no cérebro. No dia-a-dia esta moto faz-nos ainda sonhar com o lazer. Por um lado, ansiamos pelo fim-de-semana para aquela volta com os amigos pelo campo, fora de estrada. Por outro, faz nos sonhar mais além, porque esta Honda também foi feita para viajar, e os grandes espaços estão sempre no nosso horizonte

Foto: Gonçalo Fabião

Stop! Um dos objectivos deste segundo volume Honda X-ADV aqui no ESCAPE era uma prova mais agressiva no fora de estrada. Sejamos mais uma vez honestos. A moto mantém altos padrões de divertimento quando o alcatrão acaba e o pó começa. E tais incursões devem ser encaradas como um agradável passeio. Serão necessários outros pneumáticos e algumas pequenas alterações para que a condução de pé nos entregue mais segurança e eficácia. O divertimento e a versatilidade que em 2017 a X-ADV me ofereceu estavam assim confirmados. Mas, como vos disse acima, importava ir mais longe e ouvir quem com ela convive no diariamente. 

Foto: Gonçalo Fabião

VOX POPULI A PALAVRA AO UTILIZADOR 
O João Mestre é proprietário de uma X-ADV desde maio de 2017. “Uma das primeiras a ser entregue. Quarenta e cinco mil quilómetros em cerca de 3 anos. Como pontos fortes destaco a excelência para o dia-a-dia, não se nega a nada. Travões e suspensões de primeira, e um ecrã que não sendo TFT é bastante completo. Ponto menos positivo é a autonomia, um depósito de treze litros é curto, mesmo sendo a moto razoavelmente económica, para o dia-a-dia chega, mas em viagem não satisfaz. O pneu traseiro de 15” polegadas também limita muito a escolha na hora de trocar. Felizmente a Bridgestone já tem os Battlax AX41S, que mudam a moto para muito melhor”, disse. 

Foto: Gonçalo Fabião

Malheiro Almeida destaca a costela de viajante que encontramos na Honda X-ADV. “Estou muito satisfeito com ela. O ano passado, pela costa de Itália, nem dei pelos 5200 quilómetros da viagem. Se tivesse que alterar alguma coisa, era baixá-la. Mas não é defeito da moto eu com 1,77m chego ao chão com os dois pés mas apenas pela metade. Se fosse comprar outra vez era a mesma marca e modelo. A viagem a Itália ofereceu-me uma experiência que não consigo expressar por palavras…, as paisagens magníficas que nos enchem a vista. Em cima da mota temos excelentes sensações. Deixou saudade…, Pireneus, Passo do Stelvio, toda a costa azul. Itália para andar de moto é um gosto. Muita scooter e gente de todas as idades, mesmo de fato e gravata na sua 125cc. Viagem inesquecível”.

Foto: Gonçalo Fabião

Por outro lado, o João Lopes destacou o prazer de condução, mas pedia mais cavalos, o Laurentino Coelho destaca o conforto e a qualidade dos materiais, o Carlos Reis concorda sublinhando a segurança e já leva 62 mil quilómetros na sua. E um dos relatos mais interessantes que ouvi foi o do “jovem” Mário Ferraz que com os seus quase setenta aninhos, em dois anos já fez 37 mil quilómetros o que ainda se torna mais impressionante quando sabemos que a sua base é na ilha da madeira, viajando uma vez pela Andaluzia e outra por Marrocos onde segundo ele a “X-ADV ombreou com motos de cilindrada superior”. 

Foto: Gonçalo Fabião

Singular, temperamental, carismática. É assim esta Matte Moonstone Silver Metallic (NH-378) pela qual a Honda solicita uma transferência de 11.975€, tendo exigido ao bolso deste ESCAPE o correspondente em euros de 3,9 litros daquele liquido constituído por hidrocarbonetos e cujo consumo abusivo tanto nos satisfaz, por cem quilómetros de diversão.
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