Lisboa, terça feira, pouco depois das 16h. O dia limpo escurece rápido e o Boeing da Air Europa sobe da Portela para nordeste rumo a Barajas, Madrid, agora aeroporto Adolfo
Suarez. Espreito pela janela do Vitor, que viaja ao meu lado. E vejo o Tejo calmo, rumo à foz. Voltaremos Ao Tejo no dia seguinte, bem mais a montante, no entanto naquele momento vi apenas um curso de água junto ao mar.
Chegados a Madrid, rumamos a Guadalajara. Tapeamos com cañas numa bela noite de motociclismo falado com o responsável da MITT numa intensa troca de experiências e conhecimento. De facto, a MITT é uma marca e não uma fábrica. A MITT é uma label, uma etiqueta espanhola que busca oportunidades na China e coloca motos num mercado europeu ainda ávido por novidade a bom preço. Em Espanha, a marca vende tudo o que traz de oriente. Por cá, continuamos um pouco mais lentos e conservadores. Somos o que somos.
Manhã cedo rumamos a El Olivar, pequeno e pitoresco município da comunidade de Castilla-La Mancha para tomar contacto com parte da gama MITT com destaque para a turística (que se deseja budget) GT-K 800 – fixem este nome.
VAMOS VIAJAR EM PRIMEIRA CLASSE?
No briefing matinal ficamos a saber que a marca espanhola pertencente à Jets Marivent eleva a aposta para o campo das turísticas com este novo modelo muito bem equipado. De facto, a MITT GT-K incorpora o conceito de moto de turismo tentando ainda não abdicar de qualquer elemento que possa proporcionar o maior conforto.
A MITT GT-K chama a atenção pelo seu design, apresentando linhas sofisticadas e envolventes, com uma parte frontal que garante uma excelente protecção aos ocupantes e onde encontramos uma impressionante óptica tripla LED. Possui ainda um para-brisas panorâmico que pode ser ajustado electricamente em altura e inclinação.
O guiador elevado é outra característica importante que garante um bom controlo da moto e ao mesmo tempo uma postura confortável, aliado a um assento de grandes dimensões e muito acessível para condutores de qualquer estatura com apenas 780 mm. bem acima do solo. E o mesmo para quem está atrás, pois encontrará um espaço amplo e confortável, com fácil acesso para se segurar perfeitamente graças à sua estrutura traseira, na qual pode ser instalada uma bagageira. A MITT GT-K oferece ainda punhos aquecidos e banco dianteiro aquecido.
A tecnologia é aqui importante, um factor chave e ainda mais quando falamos de motos pensadas para um público muito exigente. É por isso que não falta um grande ecrã TFT repleto de informação e com a possibilidade de ligar o telemóvel através da tecnologia "espelhamento", que permite que a informação do ecrã do aparelho se reflicta no da própria moto. Para carregar qualquer acessório, possui três tomadas: USB, UBS-C e outra tomada de 12 volts.
Outro elemento aqui presente é a chave de proximidade, que acrescenta comodidade ao não ter de a tirar do bolso para ligar a moto, abrir a tampa do depósito de combustível, accionar o sistema de fecho antirroubo e até abrir ou fechar as malas laterais, que têm uma capacidade unitária de apenas 20 litros cada.
A marca optou por um motor de dois cilindros com 75 CV de potência entregue às 8.500 rpm, sendo anunciado um consumo de 4,6 l/100 km, o que garante uma excelente autonomia graças ao depósito de combustível de 24 litros.
A ciclística baseia-se num quadro de dupla trave e braço oscilante em alumínio, bem como suspensões e travões de nível: a dianteira é composta por um disco duplo de 298 mm com duas pinças Brembo montadas radialmente e uma bomba radial da mesma marca que garantem a travagem com um avançado anti bloqueio da Bosch.
A forquilha dianteira é invertida com barras de 41 mm e um curso de 80 mm ajustáveis em compressão e extensão. O amortecedor traseiro está localizado na posição horizontal, funciona através de um sistema de articulação progressiva e possui um reservatório de gás separada. O curso é de 80 mm e pode ser ajustado em pré-carga. Os pneus instalados são Pirelli Angel GT para sustentar o seu bom desempenho dinâmico.
DINÂMICA ATRAENTE
Já com o sol a brilhar, a GT-K emana um ar simpático e impactante. Moto encorpada e de linhas voluptuosas. Impactante no corpo e também no painel de instrumentos que induz modernidade e conforto. Ainda parados, notamos os punhos e bancos aquecidos e abertura elétrica de malas. São roupas e detalhes que acabam por esconder o bicilindrico paralelo de origem Jedi Motors. Jedi? Leram bem. A suspensão é de origem Showa e a travagem, sublinhamos, de origem Brembo. Será que estes elementos fazem jus à fama?
Já na estrada tínhamos um percurso circular para conhecer a moto e produzir imagens. As estradas da região surpreenderam pelo traçado envolvente cujo ponto alto beijou o Tejo, sim o nosso Tejo, no Embalse de Entrepeñas. A bonita barragem de águas limpas e azuis está a cerca de duzentos quilómetros (por estrada) da nascente do famoso rio que alegra Lisboa e deu berço dos novos mundos do mundo.
De um mundo distante, todavia cada vez mais presente na nossa vida motociclista vem pois a GT-K. Os primeiros quilómetros revelaram uma moto com uma posição de condução envolvente e tranquila. Para condutores de maior estatura pode haver pouco espaço para as pernas. Dinamicamente a moto revela facilmente a sua natureza. Motor enérgico e agradável em especial acima de médios regimes. A travagem é pouco mordaz e efectivamente lenta. A suspensão é suave e segura em piso liso. Após a primeira paragem para recolher imagens, quis o destino que trocasse de moto. Foi nesta segunda unidade que fiz mais quilómetros. Esta segunda moto pareceu me bastante mais equilibrada do que a primeira unidade onde rodei.
Entretanto o ritmo na estrada era elevado e revelou pouco de passeio. Tal permitiu questionar a ciclística desta pequena turística. O motor responde sempre de forma efectiva tendo em conta a sua natureza de média cilindrada. Caixa e embraiagem revelaram-se perfeitamente adequados ao conjunto é isso é muito bom. Ao longo da manhã intensa, continuamos a não apreciar a travagem - monótona e nada agressiva. Suspensões foram apenas suficientes para o ritmo imposto. Ficamos com a sensação que esta pode ser uma moto agradável e até boa para uma calma utilização de suave turismo.
Há ainda ferro a mais em questionáveis protecções de plásticos (250 kg a seco e um depósito de 24 litros de carburante) e falta claramente um cruise control que poderá a vir equipar esta moto muito brevemente.
Após os últimos “andamentos” para as imagens, regressamos rapidamente a El Olivar para um excelente almoço de “fim de festa”. Para casa trazemos na memória o Tejo suave em Entrepeñas e a felicidade de conhecer uma nova opção para um turismo efectuado em média cilindrada que revelou ainda um aspecto determinante em moto desta natureza: há aqui uma dinâmica que chega a ser atraente.
SERÁ ESTA MOTO A IDEAL PARA TI?
Temos de compreender que esta MITT GT-K 800 está para o motociclismo como o Tejo em Entrepeñas, isto é, apenas no início da sua longa viagem. Há aspectos a melhorar, no entanto também há uma moto honesta de belas prestações, com uma protecção aerodinâmica digna de Grande Turismo e alguns detalhes de topo de gama.
Vamos precisar de um teste mais prolongado para perceber aspectos importantes como conforto em longas tiradas e consumos em diversos cenários, na certeza, porém que esta MITT passa a ser uma opção válida para a utilização que lhe foi idealizada: o turismo suave.
O preço da MITT GT-K em Espanha é de 11.945 euros, sendo a única moto de grande turismo do mercado nesta gama económica. A Puretech, importador nacional, está a tentar colocar a moto no nosso mercado por um valor mais simpático para a bolsa portuguesa, fazendo desta uma aposta ainda mais forte para quem quer viajar em 2025.
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