quarta-feira, 30 de junho de 2021

Honda NC750X 2021 à prova

No início de Maio passado, este ESCAPE esteve aqui (link) na apresentação nacional da versão 2021 da popular Honda NC750X. Num dia glorioso que já anunciava o verão, tive oportunidade de conhecer uma moto revista e atualizada para continuar a liderar e onde as palavras-chave são uma economia e eficácia que sublinham ainda mais a natureza versátil desta utilitária com ansiedade de liberdade. Agora foi a vez da Susana Pereira (She’s 2 Wheeled)  - fotografada pelo Gonçalo Fabião - se pôr ao fresco durante alguns dias com uma “encarnadinha” equipada para viajar, tendo descoberto no fim da prova que afinal os quilómetros mesmo quando aparentemente muitos, acabam por saber a pouco. 


Liberdade. Estado ou particularidade de quem é livre. Há muito que não se falava tanto de liberdade e do direito à liberdade como nos dias que correm, em que nos vemos obrigados a sucessivos confinamentos e restrições que nos são impostos, condicionando a forma como queremos viver e que nos fazem valorizar ainda mais esse direito que tínhamos como adquirido mas que se calhar muitas vezes não o temos presente como o bem precioso que é e não desfrutamos dele como deveríamos. Tantas vezes no decurso da nossa vida nos apercebemos que apenas damos valor a determinadas coisas quando deixamos de as ter! 

Sempre dei muito apreço à minha liberdade e sempre lutei por ela e pela minha independência! A liberdade sempre me deu a oportunidade de construir novos sonhos e de apontar novos caminhos. A liberdade dá-nos autonomia e permite-nos viver pelos nossos termos sem nunca esquecermos de respeitar a liberdade dos outros! Não nascemos para estar presos ou confinados, tanto que uma das formas mais comuns de castigo é precisamente a privação da liberdade. 

URBANA ATREVIDA OU ENVERGONHADA AVENTUREIRA? 
Desde miúda que sempre olhei para as motos como uma expressão e forma de liberdade e sempre desejei sentir esse sentimento de espírito livre e até selvagem que nos proporciona o viajar de moto. Gosto imenso de viajar, de saber que cada dia me trará novos horizontes, novas sensações, novas experiências e momentos para guardar na minha caixinha das memórias, cada dia um novo desafio, cada dia um novo começo! E que melhor forma de o fazer do que de moto, em que estamos tão expostos a tudo o que nos rodeia, podendo assim absorver ao máximo tudo o que nos é oferecido. 


A nova Honda NC750X DCT pode muito bem enquadrar-se nesse espírito de liberdade, pois é uma moto multifuncional e utilitária, adaptando-se tanto ao estilo mais citadino como ao mais aventureiro. Não admira que seja um dos modelos mais vendidos na Europa, tal é a sua versatilidade, aliada ao seu inovador motor bicilíndrico, bastante económico e à sua posição de condução confortável e descontraída. Para tirar partido dela em pleno, nada melhor do que um fim-de-semana a acampar na natureza, longe de tudo e de todos, como convém, sobretudo nesta realidade que vivemos, e com a oportunidade de a testar em estrada e também um pouco fora dela, desfrutando do seu lado mais aventureiro. 

O DCT QUE AFINAL É CLICHÉ 
Tinha bastante curiosidade em experimentar este modelo da Honda, isto porque na altura em que adquiri a minha moto, este foi um dos modelos que estava na calha. Foi a primeira vez que experimentei uma moto com a tecnologia DCT (Dual Clutch Transmission) que, na minha opinião, se mostra ser extremamente prática sobretudo na cidade e se calhar para condutores menos experientes, pois com esta tecnologia nunca corremos o risco de a moto ir abaixo num semáforo ou de fazermos figurinhas ao sair da esplanada da moda com a plateia a observar-nos. É também de realçar que com esta tecnologia poupamos bastante em calçado, uma vez que deixa de haver o desgaste da utilização do pedal de mudanças. Foi por isso muito estranho para mim quando me sentei na moto e não vi nem manete de embraiagem, nem pedal de mudanças, elementos aos quais tentei recorrer muitas vezes, tal não é a força do hábito. Cheguei mesmo a questionar-me se seria capaz de me habituar e de conduzir a moto. Mas como se costuma dizer, primeiro estranha-se, depois entranha-se! 


A tecnologia DCT é pioneira e inovadora no que respeita a motos, sendo uma transmissão com dupla embraiagem, uma para a 1ª, 3ª, 5ª velocidades e START e outra para a 2ª, 4ª e 6ª velocidades. Ao contrário do que muitos pensam, não se trata de um sistema de mudanças automáticas, mas sim de um sistema com uma estrutura de transmissão manual em que as operações de embraiagem e de mudança de velocidades são automatizadas, permitindo ao condutor que se concentre apenas na aceleração e travagem da moto, muito embora possa fazê-lo também manualmente, bastando para isso accionar as patilhas existentes para o efeito no punho esquerdo. 

O EQUILÍBRIO DAS COISAS SIMPLES 
Para 2021 a NC750X apresenta carenagens dianteiras mais aerodinâmicas e com um look mais agressivo e um espaço de armazenamento ampliado (23L) onde facilmente cabe um capacete integral com “pala”, tendo a opção de vir munido de uma prática entrada USB. Este aspecto do espaço de armazenamento foi algo que sempre me fascinou nesta moto, pois dá tanto jeito no dia-a-dia! O motor também foi alvo de melhorias na sua performance com uma injecção extra de binário e um impulso acrescido de potência, em concordância com a norma Euro 5, contribuindo assim para um futuro mais limpo. 


Uma das coisas que me surpreendeu pela positiva foi que apesar do seu peso em ordem de marcha, na versão DCT, ser de 224kg (ainda assim, menos 6kg que a versão anterior), a sensação que tive ao conduzi-la foi de que era bem mais leve, o que mostra que o peso está muito bem distribuído, tendo um centro de gravidade baixo, graças também às melhorias no motor e na parte ciclística, dando uma sensação extra de segurança aos condutores menos experientes, graças à sua estabilidade, aliada ao facto de que mesmo condutores mais baixos chegam com facilidade com os pés ao chão, tendo a altura do banco sido reduzida em 30 mm (145mm de altura ao solo). 

Apresenta também um estilo mais minimalista e moderno, com destaque para o painel de instrumentos num ecrã LCD bastante intuitivo, os novos faróis em LEDs, farolim e piscas traseiros, bem como um novo pára-brisas que oferece mais proteção. O novo modelo de 2021 trouxe também a inclusão de ABS padrão e um sistema de aceleração TBW que agora permite vários modos de condução, dependendo das condições da estrada - RAIN, STANDARD e SPORT - para além de um modo USER personalizável. Para além disso, vem também equipada com o sistema HSTC de controlo de tração seleccionável da Honda, muito mais suave e refinado graças ao sistema TBW. 

QUANDO OS QUILÓMETROS SÃO SEMPRE POUCOS… 
A NC750X que tive oportunidade de experimentar, vinha equipada com três malas, bastante espaçosas, muito embora não tenha usado a maior parte do espaço, uma vez que a viagem não foi longa e foi em modo minimalista. Pessoalmente não sou muito adepta de malas de plástico e no caso destas, achei que por vezes tinha que dar um jeito extra para elas encaixarem na perfeição e as conseguir fechar. 


Um episódio caricato foi eu ir à bomba de gasolina para abastecer e não encontrar o tanque de abastecimento. Que totó me senti!! Como não quis fazer figurinhas, segui o meu caminho e fui verificar no livro de instruções. O tanque de combustível encontra-se debaixo do banco e pela minha experiência a forma como abre e fecha não é a mais prática, por vezes empancava, mas também pode ser devido à minha falta de jeito. Outro aspecto interessante que esta moto traz é uma espécie de travão de mão, que podemos accionar por exemplo quando estacionamos numa subida mais íngreme, não correndo o risco de a moto decidir fugir pela calçada abaixo. 

Esta moto proporcionou-me sem dúvida uma escapadela para recarregar as baterias, de que tantas vezes necessitamos, mostrando-se efectivamente uma moto muito funcional e versátil, de condução fácil e suave, bastante confortável e muito económica, tendo capacidade no depósito para 14 litros de combustível que me permitiu fazer um consumo de 3,5L por cem quilómetros. Só tenho pena de não ter andado com ela mais dias! 


Sem dúvida que a NC750X é uma moto bastante atractiva não só em termos de estética mas também no que respeita à sua performance e versatilidade. Não é pois de todo de estranhar que tenha tanto sucesso, sobretudo porque o preço é bastante simpático: versão caixa DCT a partir de 9200 Euros, versão caixa manual desde 8300 Euros.

segunda-feira, 21 de junho de 2021

Um dia épico pelas estradas do Alto Douro Vinhateiro

"O Doiro sublimado. O prodígio de uma paisagem que deixa de o ser à força de se desmedir. Não é um panorama que os olhos contemplam: é um excesso da natureza. Socalcos que são passadas de homens titânicos a subir as encostas, volumes, cores e modulações que nenhum escultor, pintor ou músico podem traduzir, horizontes dilatados para além dos limiares plausíveis da visão. Um universo virginal, como se tivesse acabado de nascer, e já eterno pela harmonia, pela serenidade, pelo silêncio que nem o rio se atreve a quebrar, ora a sumir-se furtivo por detrás dos montes, ora pasmado lá no fundo a reflectir o seu próprio assombro. Um poema geológico. A beleza absoluta". 

Este é Miguel Torga, que aprendemos a ler e respeitar no nosso chamado ensino secundário. Miguel Torga no seu "Diário XII". O Douro, essa paixão inspiradora. Solo sagrado. Estradas de sonho. Dias épicos! Não consta que Miguel Torga tenha sido motociclista. Se Miguel Torga vivesse hoje ficaria espantado com a quantidade de vinha por este país trabalhada. Mas o Douro…, oh senhores, o Douro: sem margem de dúvida a maior obra portuguesa de todos os tempos! 

Na mais recente viagem realizada por este ESCAPE por este Portugal fora, contámos com a soberba Kawasaki Versys 1000 Special Edition, velha conhecida do blogue (link) e agora em versão Grande Turismo, ou seja, cheiinha de espaço para tralhas e bagagem, equipada com faróis auxiliares e protecções de motor para o caso daquelas sempre aborrecidas quedas para o lado com a moto em modo viagem. Acontece a todos… 

Todavia, em bom rigor, o que tenho para vos oferecer hoje é um texto diferente, género de prosa que muito gosto de fazer e pouca oportunidade existe para escrever. Um texto sobre um dia épico pelas estradas do Alto Douro Vinhateiro, nascido no seio de uma viagem por Portugal – mais uma – e que quase se tornou, por força da geografia e das estradas, numa das melhores jornadas de motociclismo de todo o sempre. Devo partilhar. Venham comigo… 

Provesende é uma antiga freguesia portuguesa do concelho de Sabrosa. Foi vila e sede de concelho. Situada na região do Alto Douro Vinhateiro, na margem norte do rio, entre as vinhas, os solares e as casas em pedra, Provesende oferece hoje uma absoluta viagem no tempo e a comunhão entre o passado e o presente. 

Gosto tanto de Provesende que nas últimas três viagens por este nosso Portugal por lá passei sempre. E é de Provesende que parte este pequeno roteiro mágico. Daqui é descer ao Pinhão pela Estrada Nacional (N) 323 e tomar um belo pequeno-almoço na Princesa do Douro, bom café e gente simpática. 

Atravessada a velha ponte, rapidamente abandonamos a N323 para subir até ao seu ponto final a (agora) mundialmente reconhecida N222. No inicio da subida acompanhamos o Rio Torto e, quando deixamos de ver este é tempo para uma primeira paragem na arrebatadora Quinta do Ventozelo

Situada na margem esquerda do Douro, ao chegar a Ervedosa, a Quinta de Ventozelo é das mais bonitas e apaixonantes da região. Num vasto anfiteatro sobre o rio encontramos aquilo que alguns chamam de “portas do silêncio do Douro”, onde o tempo parece correr mais devagar. A tranquilidade e a ligação plena à Natureza são o valor intangível principal desta Quinta. Imperdível! 

A viagem segue então, finalmente, desfrutando das deliciosas curvas da N222 que acompanha, como muitas das estradas nacionais, o relevo do terreno. Já depois de atravessado o Rio Coa, chegados a Almendra há que fazer opções. E a minha foi pela da aventura. Descer a velha Nacional (N332) rumo à estação e três quilómetros antes desta – a estrada apesar de velha está bem marcada – cortar à direita para um fora de estrada fácil e ainda assim desafiante que nos leva ao encontro da N221 e do Alto da Sapinha. Este fora de estrada foi realizado com sucesso, em modo viagem, por uma Kawasaki Versys 1000 que apesar da sua jante 17 e pneus de turismo abriu o xisto rumo ao asfalto. Magnifico! 

Já em terrenos de Parque Natural do Douro Internacional, o Alto da Sapinha domina a paisagem em direção a Barca de Alva onde o ESCAPE recomenda uma refeição rápida e ligeira junto ao Douro, com vista para o Reino de Espanha. Em Barca de Alva encontramos um dos mais esquecidos e ao mesmo tempo mais colossais troços de Estrada Nacional em Portugal. Dali a N221 ruma a norte junto ao Douro e a Kawa faiscou a cada curva negociada. Desta vez esqueci a vista apaixonante do Penedo Durão ou a frescura eterna da aldeia de Mazouco e foi sempre a queimar Mitas Touring Force até ao cruzamento com a N220 e respectiva descida para Torre de Moncorvo com paragem na famosa Taberna do Carró e compra de um dos seus licores caseiros que já em casa faz prolongar esta viagem pela eternidade (da dimensão da garrafa). 

Estando em Moncorvo não é possível deixar de rumar a Norte e vislumbrar lá do alto do miradouro de São Gregório a foz do deslumbrante Rio Sabor. Dali é tempo de pensar no regresso e no fim da aventura do dia. Ainda há mais faíscas para espalhar no asfalto da N215 já rumo ao oeste, e após um pouco de IC5 descer à foz do rio Tua pela não menos apaixonante N214. 

O dia estava de facto a ser épico. E assim continuará até fim nestes cerca de trezentos quilómetros que se arriscam a concorrer ao prémio “os melhores trezentos quilómetros de Portugal”.

Da foz do Tua é então necessário subir a impecavelmente bem asfaltada N212 até Alijo, dali rumar à perigosa mas deslumbrante descida do Vale de Mendiz pela N323-3 e enfim, regressar ao Pinhão terminando o dia de volta à casa de partida em Provesende. 

Tomar um banho e rumar à casa da Dona Graça que nos espera com a sua receita de Pernil em Vinho do Porto com vista para o pelourinho histórico de Provesende. Não sei. Não sei se este terá sido o meu melhor dia de motociclismo por este nosso Portugal. Mas durante a viagem senti o chamamento de o cristalizar, aqui, no ESCAPE. Na esperança que se eternize e inspire outros motociclistas como eu. Como tu. 

De facto, o Alto Douro Vinhateiro é uma zona particularmente representativa da paisagem que caracteriza a vasta Região Demarcada do Douro, a mais antiga região vitícola regulamentada do mundo. Marcado por estradas sumptuosas, a paisagem cultural do Alto Douro combina a natureza monumental do vale do rio Douro, feito de encostas íngremes e solos pobres e acidentados, com a acção ancestral e contínua do Homem, adaptando o espaço às necessidades agrícolas de tipo mediterrâneo que a região suporta. 

Esta relação íntima entre a actividade humana e a natureza permitiu criar um ecossistema de riqueza única, onde as características do terreno são aproveitadas de forma exemplar, com a modelação da paisagem em socalcos, preservando-a da erosão e permitindo o cultivo da vinha. A região produz, entre outros, o famoso vinho do Porto, representando o principal vector de dinamização da tecnologia, da cultura, das tradições e da economia locais. O grande investimento humano - onde incluímos as Estradas Nacionais - nesta paisagem de singular beleza tornou possível a fixação das populações desde a longínqua ocupação romana, e dele resultou uma realidade viva e em evolução, ao mesmo tempo testemunho do passado e motor do futuro. 

Mapa do tesouro...

Numa palavra, um poema geológico, beleza absoluta. Foi assim um dia épico pelas estradas do Alto Douro Vinhateiro. Obrigado Miguel Torga. Obrigado Portugal.

quarta-feira, 16 de junho de 2021

Cinco razões para falar de Miguel Oliveira

Em semana de regresso às pistas, desta vez no Sachsenring em Hohenstein- Ernstthal, para o Liqui Moly Motorrad Grand Prix Deutschland, nada como olhar de forma mais pausada para o que anda afinal Miguel Oliveira a fazer e já agora sonhar um pouco com o que poderá vir a fazer num futuro muito próximo.


No rescaldo da vitória na Catalunha o ESCAPE reagiu a quente na sua página de facebook e não se enganou. Foi uma “corrida absolutamente perfeita”, escrevi. E foi mesmo. As palavras são intensas e em bom rigor até pecam por escassas. Para além da perfeição aquela foi inequivocamente a melhor corrida de sempre de Oliveira. 

E não sou apenas eu que o digo. Num texto muito comentado na Rede, o jornalista Nacho Gonzáles da insuspeita MOTOCICLISMO Espanha explica as cinco razões pelas quais devemos falar em Miguel Oliveira. Não apenas aqui em Portugal. E sim por esse mundo fora. 

Primeira. E óbvia. O Miguel venceu uma corrida de MotoGp deixado todo o demais pelotão para trás. Nunca esquecer. Ganhar em motociclismo é isso mesmo: deixar toda a gente para traz. E o Miguel voltou a faze-lo. 

Segunda. Na verdade isto da vitória de Oliveira começa de facto a ser um hábito ou costume. Foi a terceira vez nas últimas dezassete corridas. Apenas Quartararo venceu mais, quatro em dezassete. 

Terceira. Oliveira somou uns impressionantes 45 pontos nas suas últimas duas corridas. Mais do que um resultado estamos claramente perante uma tendência. E como se diz em mercados financeiros: the trend is your friend. 

Quarta. Nas mãos de Miguel Oliveira a KTM rompeu aquela que aparentava ser uma divisão do poder e das vitórias entre os nipónicos da Yamaha e os italianos da Ducati. 

Quinta. E possivelmente a mais importante. Há que sublinhar uma vez mais a perfeição da vitória de Oliveira na Catalunha. Espaçadamente existiram pilotos mais rápidos é verdade. Mas ninguém conseguiu bater Miguel Oliveira. 

Aqui chegados só podemos estar super mega híper ansiosos pela próxima entrada em pista de Miguel Oliveira. É absolutamente histórico. Nunca tantos, cá e lá foram, estiveram de olho num motociclista português. Ah…, e já agora fica a partilha: vale a pena ler todo o texto do Nacho aqui (link).

terça-feira, 15 de junho de 2021

Voge 500DS à prova

Como bem sabem os “clientes habituais” deste ESCAPE, a página de Facebook que suporta este blogue (link) é amiúde alimentada com um vídeo em directo cujo tema é a moto que se prova. Não tive grandes dúvidas ou questões, quando decidi chamar ao directo relacionado com a Voge 500DS de “motociclismo contra o preconceito”. E hoje, neste texto que pretende relatar a primeira experiência com uma moto da marca Voge, marca satélite do gigante industrial chinês Loncin, tenho de voltar ao tema. 

Preconceito é a opinião desfavorável que não se funda em dados objectivos e sim baseada unicamente num sentimento hostil motivado por hábitos de julgamento ou generalizações precipitadas. A palavra também pode significar uma ideia ou conceito formado antecipadamente e sem fundamento sério ou imparcial. Autores definem ainda preconceito como um sentimento não baseado na verdadeira experiência. 

Foto: Gonçalo Fabião

Não deixa de ser extremamente curioso que a denominada sociedade aberta encerre em si os seus mais ferozes detractores, mesmo inimigos. É um paradoxo. E é precisamente por ser aberta, essa sociedade, que tolera e permite o seu antagonismo. Mais curioso é ainda que sendo o motociclismo um espaço de liberdade exista tanto motociclista obtuso, esdrúxulo, preconceituoso mesmo. 

Foto: Gonçalo Fabião

Deixem-me enumerar ainda dois exemplos comuns de preconceito no motociclismo para tentar ilustrar a minha afirmação: primeiro, o sentimento hostil para com os utilizadores e amantes de scooters, segundo, sentimento idêntico para com os fãs do sistema DCT da Honda. Não deixa ainda de ser curioso que os ignorantes detractores do sistema DCT da Honda digam que os motociclistas que conduzem motos equipadas com aquele inovador e eficaz sistema de dupla embraiagem são, precisamente, apelidados de condutores de scooters. A estes preconceitos com alguns anos, tem-se somado recentemente o sentimento hostil contra a moto chinesa ou fabricada na china, seja qual for a sua marca, geometria ou cilindrada. Se é chinês não presta, dizem os “entendidos”. 

DIGNIDADE, QUALIDADE, RESPEITO 
O preconceito é assim uma tábua rasa: vai tudo a eito. É a arma dos ignorantes. E contra ela temos uma arma bem mais eficaz que deve ser praticada: curiosidade natural, liberdade de pensamento, espírito critico, informação e conhecimento. Numa palavra: cultura!

Foto: Gonçalo Fabião

A Voge 500DS é o veículo ideal para levar para o campo de batalha do conhecimento e fazer frente de forma feroz ao preconceito. Nobre e distinta trail urbana, desenhada com o cuidado suficiente para transpirar personalidade sem, contudo, se fazer notar de forma demasiado exuberante, é neste momento a bandeira e farol da jovem Voge. 

Foto: Gonçalo Fabião

A 500DS monta num quadro tubular elementos de qualidade. O motor é um espartano bicilindrico em linha (Euro 5) com 471cc (47cv, 41Nm) podendo assim ser conduzida por cristão novos que chegam agora à “fé” do motociclismo. As suspensões são Kayaba (forquilha invertida na dianteira) e a travagem Nissin, sendo esta assistida por ABS Bosch. Ambas as jantes de 17’. 

O PRAZER DAS COISAS SIMPLES E EFICAZES 
A posição de condução é vertical, neutra e muito correta. Depressa nos familiarizamos com a moto. Apreciamos a elevada proteção aerodinâmica, podendo o ecrã ser regulado em altura de forma manual. Não apreciamos algum excesso de vibrações ao nível das peseiras – em especial quando rodamos em cidade com calçado mais leve -, o acabamento dos comandos e o painel de instrumentos que sendo completo é de difícil leitura nestes dias mais luminosos. 

Foto: Gonçalo Fabião

Todavia, estes aspectos a melhorar em versões futuras, são apenas detalhes que acabamos por esquecer face ao surpreendente prazer que a Voge nos oferece. O motor é vivo e disponível – podendo definitivamente a caixa ser mais longa nas suas primeiras relações – e a ciclística aprimorada. Facilidade de utilização, simplicidade e dinâmica são características que rapidamente qualquer motociclista, mesmo os menos experimentes, vão reconhecer na 500DS. A forquilha dianteira surpreende pelo conforto e assertividade; a travagem cumpre sem reparo a sua função e isso é muito bom. 

Foto: Gonçalo Fabião

Qualquer motociclista despido do negrume do preconceito vai encontrar aqui eficácia e mesmo prazer na condução. Já o motociclista preconceituoso vai ter de “despir o seu fato” para não ficar mal na fotografia, pois vai encontrar aqui uma moto objectiva que cumpre com muita eficácia as funções que lhe foram confiadas. 

BOA TAMBÉM NA CARTEIRA 
Para este ESCAPE, a Voge 500DS que agora chega até nós a um dos segmentos de mercado mais pujantes do momento, foi uma excelente surpresa. Leve – pouco mais de 200 Kg com um depósito de dezassete litros – e económica, ofereceu-me dinamismo urbano e prazer nas deslocações aos arredores da cidade. E não se “escondeu” quando foi chamada a momentos de condução mais apimentados, também porque vem bem calçada - Pirelli Angel ST. 

Foto: Gonçalo Fabião

A moto que pretende conquistar o segmento carta A2 tem um último argumento fortíssimo. Sorveu apenas quatro litros do preciso liquido feito a partir do sumo do dinossauro por cem quilómetros de boa disposição oferecida, solicitando a marca uma transferência de 6.395€ para levarem uma unidade para a vossa garagem. Notem que este preço pode ainda baixar para 5.945 em caso de promoção e para 5.295€ se optaram por uma das últimas unidades de 2020 – consultem a informação oficial da marca.
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