quinta-feira, 27 de junho de 2019

Adoramos a perfeição porque não a podemos ter

Ponto prévio: a frase que dá título a este post não é minha. É atribuída a Fernando Pessoa e ao seu Livro do Desassossego. Terá Pessoa razão? 

Este ESCAPE, muy querido e estimado blogue, surgiu para textos assim. Escritos ao final de um dia, princípio de noite, de copo numa mão e teclado na outra. Textos que desejam revelar a loucura do dia-a-dia de um qualquer motociclista como eu. Vamos lá… 

A recente viagem à “Bella Italia” fez regressar a CRF1000L DCT carregada de cadáveres, pó e eternas recordações. As últimas guardam-se e estimam-se. Os demais elementos precisam de ser expurgados.

Fui à loja do costume e sai de lá aborrecido. Não tanto por já não efetuarem o serviço de lavagem premium – se fosse simples também eu a faria – mas pela atitude algo leviana do tipo “temos mais que fazer do que lavar motos, ora essa…”. Compreendo, cada qual deve especializar-se no que faz bem. Surgiu assim uma oportunidade de conhecer outras casas e outras pessoas.

Depois de muito indagar via WhatsApp e demais redes sociais - sim, o WhatsApp também é uma rede social - cheguei até à Motocare, casa onde passo à porta quase diariamente para ir ao ginásio mas na qual nem sequer tinha reparado. 

Na Motocare encontrei desde logo simpatia e sobretudo vontade de ser solução e não problema. Caprichei, propositadamente, a ver se tinham pachorra para me aturar. Tiveram. E, sobretudo, apresentaram um resultado final que contraria a frase de Pessoa que titula a este post. Moto lavada e apresentada como nova, corrente – ou que resta dela – afinada, um parafuso do apoio da mala recolocado bem como um conjunto de borrachas da mãe de todas as malas – aka top case – substituído. 

Pára tudo! Se pensam que estou a fazer um frete e me ofereceram alguma coisa para escrever este post estão muito enganados. Fiz questão de pagar tudo o que me foi pedido e a única coisa que em bom rigor me ofereceram foi dedicação e profissionalismo. 

Bom trabalho, Motocare. A vossa dedicação merece destaque e partilha!

quarta-feira, 26 de junho de 2019

Limalhas de História #77 – 27 de Junho de 1992

Assen. Muito mais que uma mera etapa do mundial de velocidade. Uma semana de adrenalina. O Dutch TT, Tourist Trophy holandês, é um evento que tradicionalmente se efectua no último fim-de-semana do mês de Junho no circuito da província de Drenthe, conhecido como "A Catedral". O Dutch TT é uma das etapas do Mundial de Velocidade e desde 2016 a corrida deixou de se efectuar, como tradicionalmente, ao sábado, passando como todas as outras a ser ao domingo. No passado todas as classes (50 cc, 125 cc, 250 cc, 350 cc, 500 cc e side-cars) fizeram parte do Dutch TT, que se realiza ininterruptamente há quase cem anos - apenas com excepção dos anos de 1940 a 1945 por força da Segunda Guerra Mundial. 


Como devem pois imaginar, esta é uma semana plena de recordações que podiam encher este ESCAPE de belas limalhas. Há que fazer escolhas. Por tudo o que é hoje o mundial de velocidade, o pequeno pedaço de história que escolhi e aqui vos trago parece-me absolutamente determinante. 

Fará amanhã exactamente vinte e sete anos. Mil novecentos e noventa e dois foi o meu primeiro ano pleno de motociclismo enquanto motociclista. E é fácil recordar os factos quando começo a avivar a memória. Wayne Rainey nem treina, devido às sequelas que traz da queda na etapa anterior na Alemanha. A caminho daquele que podia ter sido o seu primeiro título mundial, Michael Doohan, dominador insolente da temporada, cai violentamente nos treinos e deixa tudo em risco, vida inclusive. Kevin Schwantz, Eddie Lawson e Doug Chandler abandonam por queda. Sobra a luta titânica entre Àlex Crivillé, John Kocinski e o brasileiro Alexandre Barros. Crivillé é mais louco e mais forte, leva a Honda do Campsa Team ao lugar mais alto do pódio e, aquilo que hoje é o “combustível diário de todos os fins de semana de corrida” e que à época parecia impossível acontece: um espanhol vence, pela primeira vez, na Classe Rainha.

A corrida no seu todo pode ser vista ou revista aqui (link). Destaque para o minuto 17, momento do espectacular toque entre Schwantz e Lawson.

segunda-feira, 24 de junho de 2019

Royal Enfield Himalayan Adventure à prova


“Nunca voltes ao lugar onde já foste feliz”, dizem. Mas…, por que raio? Lá, nesse lugar, não voltarei a ser feliz? Serão só recordações e reclamações? Não poderei ser ainda mais feliz? Não compro a tese. Se assim fosse não voltaria a tanto lugar. E se substituirmos um lugar por uma moto? Nunca voltes a uma moto onde já foste feliz. Não faz sentido… 


É muito fácil escrever sobre a Royal Enfield Himalayan Adventure. “Easy like a sunday morning”. Uma moto com a qual já fui muito feliz, como podem conhecer ou recordar aqui (link) e (link). Mas aquele longínquo dia de Janeiro, cheio de motociclismo, passado com muito frio nos ossos mas com um gigante sorriso nos lábios, deixou-me com apetite de conhecer ainda melhor a pequena maravilha indiana, cuja fábrica não tem pejo em afirmar ser esta Himalayan “the only motorcycle you will ever need”. Será? 

UM CHARME MUITO SEU 
O visual espartano e clássico com que a Himalayan se apresenta tem a beleza e sedução das coisas simples. E pude comprovar isso mesmo logo no fim de tarde em que a fui buscar, naquilo a podemos apelidar de “teste do semáforo”. Duas pessoas, desconhecidas, um automobilista e outro motociclista como nós, sorriram e meteram conversa comigo apenas porque eu conduzia aquele charme. 

A pouca altura ao solo do banco, o baixo centro de gravidade e a posição correta do guiador, fazem qualquer motociclista sentir-se em casa logo nos primeiros metros de condução da Royal. E o que eu suspeitava quanto à condução citadina foi facilmente comprovável. A Himalayan conquista o caos do trânsito de Lisboa com mesma facilidade com um Sherpa conquista uma qualquer das mais altas montanhas do mundo.


Mas a “boa onda” que esta pequena indiana suscita, instiga a “nadar para fora de pé”. Estando nós junto ao solístico de verão, os dias “ficam mais compridos”. É este o momento do ano ideal para trocar o conforto do sofá pelo pó da estrada rumo a um qualquer por do sol. Dois amigos provocados e ai fomos nós para este pequeno luxo que é atravessar a ponte rumo ao sul próximo com o sol ainda alto, redescobrir caminhos que ali sempre estiveram mas aos quais teimamos em passar ao lado, arrumando enfim o dia na gaveta das boas memórias com uma Sagres fresquinha por companhia 

BOA NA ESTRADA MELHOR NA CARTEIRA
Com excepção de alguma falta de precisão da caixa, quando submetida a propositado stress, a tudo a Royal Enfield Himalayan Adventure respondeu afirmativamente, mesmo quando subtraída à sua zona de conforto. 

Na Índia os números de vendas da Royal Enfield são absolutamente “pornográficos”: 800 mil motos por ano! Tanto como o gigantesco mercado brasileiro inteiro. Para além de ser revelar boa por bons e maus caminhos a Himalayan Adventure revela-se melhor ainda na carteira, tendo reclamando uns “miseráveis” três litros e meio daquele líquido inflamável de que tanto precisamos para ajudar à nossa felicidade por cada cem quilómetros de boa disposição oferecida, sendo necessário efectuar uma transferência bancaria de 5.683€ se quisermos a moto já com malas e protecções de motor ou de 5.082€ sem tais acessórios.

[Imagens: Armando Polónia]

quinta-feira, 6 de junho de 2019

Federação de Motociclismo de Portugal promove curso de primeiros socorros

A Comissão Médica da Federação de Motociclismo de Portugal (FMP) anunciou a primeira edição do Curso de Primeiros Socorros para Motociclistas. A FMP pretende assim dar resposta a uma necessidade de formação, identificada no seio dos motociclistas que desejam uma prática mais segura e esclarecida. 

Sábado, dia 29 de Junho, a sede da FMP - Largo Vitorino Damásio, 3 C, Pavilhão 1 em Lisboa - vai acolher esta acção que terá a duração total de 8 horas didácticas, teóricas e práticas.

Para a certificação pedagógica o evento conta com a parceria da APIS – Associação Portuguesa de Instrutores de Socorrismo - que teve o cuidado de adaptar os conteúdos pedagógicos para este tipo de público-alvo, conferindo no final certificado de presença.

Os lugares são limitados a trinta vagas (capacidade do auditório da FMP) sendo as respostas atendidas por ordem de inscrição. O preço da inscrição é de 30 euros e inclui a entrega de manual e kit de primeiros socorros para motociclistas.

segunda-feira, 3 de junho de 2019

Honda Forza 300 à prova

Em Abril do ano passado, no “Vive la Moto” - o grande Salão da moto em Madrid - a Honda surpreendeu ao apresentar uma Forza 300 profundamente renovada e refinada. Fiquei imediatamente com vontade de a conhecer, desde logo porque o meu cavalo de batalha diário (Honda PCX 125 de 2013) não estando nem velho nem cansado começa a necessitar de algum sossego – em bom rigor não será bem assim, o “cavaleiro” é que gosta de ter opções…, ou como já dizia “O Magnânimo” D. João V: “nem sempre galinha nem sempre rainha”. Não sei se me faço entender… :) 

JOVEM E ELEGANTE
A “nova” Forza 300 apresenta-se com um aspecto polido e cosmopolita mas ao mesmo tempo jovem e elegante, numa tentativa clara de sedução a um público ecléctico que não dispensa a ágil mobilidade urbana e suburbana mas também não está para fazer concessões ao conforto. Do motociclista experiente que deseja ter uma opção rápida e económica nas deslocações diárias, ao novo motociclista que anseia fazer a sua natural evolução e considera chegado o momento de abandonar a sua “cento e vinte e cinco”, todos contam para a Forza 300. 

Os primeiros quilómetros revelam uma posição de condução que vai ao encontro da descontracção. E uma “habitabilidade” serena onde destaco três notas: a excelente protecção aerodinâmica potenciada por um ecrã operado electricamente que pode ser facilmente ajustado ao longo de um intervalo de 140 mm enquanto conduz; os instrumentos que fazem uma síntese quase perfeita entre a beleza do “analógico” e a eficácia do digital; um silêncio de todo o conjunto que chega a ser desconcertante – nota menos positiva para uns espelhos demasiado salientes de todo o conjunto e, pior ainda, pouco eficazes na sua função. 

NA LOUCURA DO DIA-A-DIA
Mas não vale pena estar a enganar- me a mim nem muito menos aos leitores deste texto. Ao conduzir a Forza 300 durante os dias que a tive ao meu dispor, na minha cabeça esteve sempre presente a questão: pode esta “trezentos” da Honda responder com a mesma eficácia que uma “cento e vinte e cinco” ao desafio diário da economia e da facilidade de utilização”? Vamos por partes… 

Na cidade, o que esta quase “terço de litro” perde para uma “oitavo de litro” em leveza e capacidade de perfuração do trafego ganha substancialmente em dinamismo graças à imediata resposta do motor às solicitações do punho direito. Notem que tal resposta concede-nos ainda doses surpreendentes de segurança para nos livrarmos daquelas situações típicas de cidade que nos podem deixar em maus lençóis. Aqui, potência é também segurança, aspecto fundamental em veículos desta natureza. Neste aspecto – desempenho da unidade motriz e todo o conjunto – o resultado que obtemos nas vias rápidas que limitam a cidade e na estrada é absolutamente incomparável com uma moto de 125cc. 

Superado, embora com argumentos diferentes, o desafio da facilidade de utilização, vamos ao desafio da economia - tendo aqui como padrão os quase setenta mil quilómetros da minha PCX 125 de 2013, que me solicita cerca de dois litros e meio daquele ouro liquido inflamável e visita a oficina a cada 8000 quilómetros percorridos. A Honda Forza 300 terá de efectuar tal visita apenas a cada 12000 quilómetros percorridos e gastou (consumo geral de uma prova que foi muito idêntica ao meu dia a dia de moto por Lisboa e arredores) três litros e meio de combustível. 

COMPETENTE E EFICAZ 
Para além do cheque de 5.800€ que a Honda solicita para retirar esta “Cresent Blue Metalic” de um dos seus concessionários oficiais, podemos então contar com mais (coisa menos coisa) um litro de combustível gasto por cada cem quilómetros de dinamismo - caso o confronto do leitor seja, tal como o meu, face a uma 125cc. 

Sem deslumbrar (possivelmente as minhas expectativas estavam muito altas e são credoras do devido reajuste) a Honda Forza 300 cumpre com elevada eficácia a tarefa para qual foi desenvolvida, assumindo-se como possível solução na cada vez mais árdua batalha diária da mobilidade urbana e suburbana
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