domingo, 29 de novembro de 2020

Honda SH125i à prova

Elegância. Alguém terá dito um dia – na verdade a frase é atribuída a Paul Valery, filósofo, escritor e poeta francês (1871-1945) – que “elegância é a arte de se fazer notar, aliada ao cuidado subtil de se deixar distinguir”. O elegante possui sem dúvida uma certa harmonia que se caracteriza pela leveza e facilidade na forma e movimento. Ao elegante é ainda conferido o atributo de ser eficaz e mostrar simplicidade incomum. 

Foto: Gonçalo Fabião

Elegância. Dificilmente encontramos melhor expressão para definir a renovada SH oitavo de litro da Honda, que vem enriquecer ainda mais a gama scooter Honda, situando-se algures entre a irreverente e prática PCX e a requintada Forza. 

Vale a pena recordar que a família SH – SH de “small” Honda – nasceu em Barcelona nos anos oitenta do seculo XX. Equipada com motor de dois tempos de 50cc e apenas 3 subtis e ágeis cavalos, a SH conta hoje com bem mais de um milhão de unidades vendidas por essa Europa fora. 

Foto: Gonçalo Fabião

NOBREZA E AGILIDADE 
Com linhas sóbrias, nobres mesmo, esta SH125i seduz quem detém o seu olhar nela. Mas é preciso prová-la para lhe reconhecer as qualidades. E o primeiro sinal de eficácia que notamos é o redesenhado e renovado motor eSP+ de quatro válvulas que apresenta uma vivacidade incrementada desde os baixos regimes, surpreende nas recuperações, acrescenta velocidade de ponta e…, consegue ainda ser mais económico. Incrível o excelente trabalho da Honda - melhorando o que já era muito bom - no seu pequeno monocilíndrico, agora mais ecológico, respeitando as tremendas exigências da norma EURO5. 

Foto: Gonçalo Fabião

A posição de condução algo rígida, clássica numa denominada scooter de estrado, é agradável, muito graças às jantes de 16 polegadas que nos induzem uma sensação de pequena moto. A agilidade é também uma nota saliente. Esta SH precisa de apenas de escassos dois metros para inverter a marcha e isso torna-se extremamente útil no dia-a-dia da batalha urbana e das pequenas manobras nos espaços acanhados das cidades. Tudo isto é acompanhado por uma firmeza ao nível das suspensões (amortecedores traseiros duplos com ajuste de pré-carga em cinco posições) que surpreende e por uma travagem, disco nas duas rodas, a cumprir sem qualquer reparo. 

EASY LIKE A SUNDAY MORNING 
Como certamente já notaram pelas imagens que acompanham este texto, desta feita o ESCAPE decidiu convidar uma motociclista para dar ainda mais alegria e cor a este texto. A Susana, que podem conhecer aqui (link) no instagram, apesar de ser uma “cristã nova”, não o é de qualquer maneira. Recente motociclista, conduz e viaja numa trail de média cilindrada por esse país fora. Curiosamente nunca tinha tido contacto com uma scooter. Sim, esta foi a primeira vez da Susana. 

Foto: Gonçalo Fabião

E foi muito engraçado verificar como a adaptação imediata rapidamente deu lugar a um crush instantâneo. Honestamente não me surpreendeu, pois a facilidade de utilização da Honda SH125i é tanta que pode apaixonar ao primeiro contacto qualquer tipo de motociclista. Em breve a Susana irá aqui no ESCAPE contar o que sentiu nesta luminosa manhã de domingo

Foto: Gonçalo Fabião

TECNOLOGIA E QUALIDADE 
Quanto a mim só vos posso dizer que esta Pearl Splendor Red equipada com Smart Top box e Honda Smart Key – sistema sem chave que faz tudo funcionar, moto e top case na perfeição – me surpreendeu ao ponto de me fazer questionar se o meu cavalo de batalha diário (a “irmã” PCX) não merece ser repensado. 

Foto: Gonçalo Fabião

Rápida, 120 quilómetros de “top speed” no bonito painel de instrumentos digital, económica (apenas 2,3 litros de líquido inflamável por cem quilómetros de elegância espalhada pela cidade vias rápidas adjacentes) e muito, muito fácil de usar, a Honda SH125i apesar de uma autonomia limitada pelos sete litros do depósito de combustível sabiamente implementado para baixar o centro de gravidade do conjunto, merecia claramente outra atenção de todos aqueles que desejam uma moto espartana (mas que traz de origem o HSTC – Honda Selectable Torque Control) e de qualidade para os dias urbanos.

domingo, 15 de novembro de 2020

Suzuki Katana à prova

A vida é limitada, já o nome e a honra podem durar para sempre. Eram estes os Valores supremos de um Samurai – aquele que serve com lealdade e empenho -, os célebres guerreiros da milenar aristocracia imperial japonesa. Para além da honra, a imagem pública e o nome dos seus antepassados, podiam valer mais do que a própria vida para aqueles fiéis soldados. Na defesa dos seus Valores e Princípios, os Samurais utilizavam um código de ética que impunha frugalidade, grande disciplina, lealdade, honra até à morte, coragem extrema diante de qualquer situação e habilidade no domínio da Katana, a sua espada. 

Foto: Gonçalo Fabião

A Katana, usada maioritariamente em campo aberto, era uma longa lamina curva com gume apenas de um lado forjada totalmente à mão com detalhes cuidadosos e um cabo longo para acomodar duas mãos. Muito mais do que uma arma para um Samurai - uma autêntica filosofia de vida segundo algumas fontes -, a Katana era a extensão do corpo e da mente do próprio soldado. Curiosamente a palavra Katana acaba por ser incorporada como catana pela língua portuguesa após a chegada dos portugueses ao Japão no século XVI. Em quase quinhentos anos a palavra foi perdendo a sua pronúncia japonesa e ganhou novos sentidos em português designando uma multiplicidade de objectos como espadas várias, sabres e até facas de generosas dimensões. 

ADN DE RESPEITO 
Nos gloriosos anos 80 do século passado, com o apoio do estúdio alemão Target Design, a Suzuki desenhou e produziu uma “mil e cem” que assim que chegou às ruas e estradas reclamou para si o titulo de moto mais rápida do mundo de larga produção. Arrojada, destemida e nobre tal com os guerreiros nipónicos de outros tempos, a Katana original rapidamente se afirmou como uma moto de culto. Todavia, a sua existência enquanto peça única e rara foi relativamente curta. A produção da moto original cessou ainda na década de 80, tendo contudo a Suzuki produzido a Katana em várias versões com diferentes motorizações. Foi no mercado norte americano que o lendário nome teve uma existência mais perene. 

Foto: Gonçalo Fabião

Após o falhanço da Stratosphere – espectacular e pouco conhecido protótipo de super naked, claramente inspirado na Katana, apresentado no Salão de Tóquio de 2005 que montava um motor seis cilindros em linha de 1100cc, e que nunca entrou em produção - a Suzuki mostra em Milão 2017 a Katana 3.0 Concept que viria a ver a luz do dia enquanto moto de produção em 2019.

Foto: Gonçalo Fabião

Ufffffff…, foram assim necessários percorrer mais de mil anos de história, desde o nascimento dos Samurais até aos dias de hoje, para que este vosso “servo” da cultura motociclistica pudesse empunhar a “lamina sagrada” dos tempos modernos. E chega muito a tempo, diga-se. Num ano em que a velha casa de teares mecânicos de Hamamatsu completa o seu primeiro centenário e num tempo em que após o domínio por vezes insolente do mundial de velocidade de 500cc ainda nos anos 70 do século passado e percorridos vinte anos sobre o último título mundial, a marca nipónica consegue resgatar para si o titulo mundial da classe rainha da Velocidade Mundial. Coincidências felizes… 

SAUDADES DO FUTURO
A Katana presente é uma aparente estranha mistura. Recupera a linha da classe de oitenta piscando o olho a um futuro qualquer, montando numa dupla trave de alumínio o celebre e galardoado motor K5 – o “mil” quatro em linha da geração 05-08 da GSX-R 1000 – com um braço oscilante de origem GSX-R 1000 de 2016, travagem Brembo e suspensões KYB

Foto: Gonçalo Fabião

Numa posição de condução acertada, que deixa o corpo disponível para uma condução viva e sem qualquer tipo de esforço desnecessário nas articulações, o primeiro toque na Katana revela uma moto descomplicada. Fácil de entender, fácil de conduzir, fácil de conduzir e de levar para onde desejamos. São 150 CV para 215 Kg.

Foto Gonçalo Fabião

Apesar de manter o capricho muito próprio dos “quatro em linha” – cada qual tem o seu – o motor é saboroso e a sonoridade que o escape produz desde cedo oferece-nos uma soberba envolvência na condução. A caixa é precisa e notamos a ausência de um shifter que apimente a nossa relação com a Katana. Aliás…, a Suzuki optou por nos oferecer nesta nova Katana um compêndio de soberba moto analógica. Sentimos a falta da mais recente electrónica – ausência de modos de condução, por exemplo – mas apreciamos a experiência espartana e eficaz de uma moto sem grandes ajudas à condução e ao conforto – é uma naked, ponto final. 

Foto: Gonçalo Fabião

UMA “ARMA” PARA A CONTEMPORANEIDADE 
Também nos comandos e no painel de instrumentos, a Suzuki optou por revisitar o final do século passado. Apesar de atuais estes elementos remetem-nos sempre para um passado que foi bom mas esta lá…, no passado. O Senhor Mercado irá responder à questão se este terá sido o melhor caminho a percorrer pela Suzuki quando decidiu recuperar um dos seus maiores ícones. 

Foto: Gonçalo Fabião

A experiência Katana, não chegando a ser adrenalizante, satisfaz bastante e até entusiasma. Pode bem ser a arma eficaz para que os samurais dos tempos modernos combatam o tédio, quando e se autorizados a sair de casa pelos senhores feudais da actualidade. Esta Glass Sparkle Black solicitou cinco litros e meio do tal liquido inflamável indispensável à batalha do dia a dia, pedindo a Moteo – importador Suzuki para Portugal – 13.999€ para levarem uma para a vossa garagem.

domingo, 8 de novembro de 2020

Infoentretenimento – há uma nova expressão no léxico do motociclismo

Até pode não parecer para alguns, muitos mesmo, mas o mundo não para. E em 2021 os motociclistas preparam-se para conhecer uma nova palavra: infoentretenimento. 

Dizem os dicionários que infoentretenimento é, no espaço televisivo, o conteúdo mediático concebido para apresentar informação de forma recreativa, à semelhança de um programa de entretenimento. Já num veículo, infoentretenimento é o sistema multimédia destinado a disponibilizar opções de entretenimento para os ocupantes do mesmo, permitindo controlar aplicações informáticas nomeadamente ao auxílio da condução. É pois então este segundo sentido de infoentretenimento que nos interessa. 

ADMIRÁVEL MUNDO NOVO 
Para além do (para já) pouco consensual sistema de “cruise control” adaptativo baseado em radares, a Bosch desenvolveu nos últimos anos para a BMW, Ducati e Kawasaki um novo painel de instrumentos TFT com uma tecnologia inédita num motociclo. 

O painel de 10,25 polegadas denominado oficialmente “Integrated Connectivity Cluster” traz como enorme novidade a tecnologia denominada “splitscreen” já disponível nos “enlatados” de topo. Tal recurso permite dividir o ecrã em dois com o conteúdos que o motociclista deseja visualizar, minimizando assim o tempo de distracção na condução. 

Aquele painel da Bosch conta ainda com a tecnologia “MySpin” que permitirá ao motociclista transferir o conteúdo do seu telefone esperto. Assim, o que vemos hoje numa aplicação de um telefone esperto é ajustado automaticamente para que sejam exibidas as informações mais relevantes, tais como aquelas que solicitamos hoje a um sistema de navegação. 


O “MySpin” integra também diversas aplicações de parceiros específicos, prometendo oferecer uma ampla gama de serviços, que vão do planeamento de rotas à oferta hoteleira e de restauração, passando também pela comunicação social nomeadamente ao nível da radio digital. 

O FUTURO HOJE 
Segundo diversas fontes, uma pesquisa realizada pela Bosch junto de quase três mil motociclistas defende que uma esmagadora maioria de 80% dos utilizadores acolheriam muito bem estas novidades tecnológicas. 

Este novo painel já pode ser visto na versão 2021 da BMW R1250RT e na novíssima Ducati Multistrada V4 apresentada há dias. A Kawasaki também já afirmou desejar contar com esta tecnologia em 2021.

terça-feira, 3 de novembro de 2020

Triumph Rocket 3 GT à prova

Conhecer o passado para compreender o presente e idealizar o futuro. O pensamento é conhecido e a frase, glosada vezes sem conta, atribuída a Heródoto, o pai da Historia - quem terá sido a mãe?. Mas é bem certa. BSA Rocket 3, Triumph Rocket III e enfim, Triumph Rocket 3. Confusos? Vamos lá… 

Foto: Gonçalo Fabião

A actual Rocket 3 veio este ano substituir a decaída Triumph Rocket III que por sua vez recuperou o nome da BSA Rocket 3. Esta, tal como a irmã gémea Triumph Trident - que curiosamente será recuperada pela marca mas numa interpretação bem diversa – foi uma avançada roadster de alta desempenho produzida e comercializada pela Brimingham Small Arms Company (BSA) de 1968 a 1975. Uma sofisticada “street motorcylce” que segundo alguns marcou de certa forma o início de uma era que deu origem ao tempo das superbike. 

Em 2004, após longos seis anos de desenvolvimento, a marca britânica recupera o nome originalmente comercializado pela BSA para dar à luz a Rocket III, uma moto poderosa e imponente que piscava o olho ao importante mercado norte-americano e pretendia provocar os (quase) sempre ortodoxos “harlistas”. 

Foto: Gonçalo Fabião

Pesada, desatualizada e consequentemente desinteressante, a Triumph decide renovar profundamente aquela que é a moto com maior cilindrada em produção. Encolhi os ombros, confesso. Ingénuo… 

CHOQUE E ESPANTO 
Leitores, amigos, colegas de trabalho e o próprio Gonçalo que vos oferece estas imagens magníficas, desafiavam-me amiúde para “fazer o requerimento em papel azul de vinte e cinco linhas” a solicitar à marca “o foguete”. Já não fui a tempo de conhecer a lindíssima Korosi Red Rocket 3 R que difere da moto provada apenas na posição de condução – guiador “flat” e poisa pés recuados. Esta, a moto provada, é uma Silver Ice & Storm Grey Rocket 3 GT e conta ainda face à R com uma suave proteção aerodinâmica e um pequeno encosto para facilitar a vida ao eventual passageiro. 

Foto: Gonçalo Fabião

Start. E wooooooooooo…., que moto é esta de 167 CV e 221 (!!!!!!!) Nm que apaixona à primeira troca de caixa?!?!? Na verdade e contra todas as expectativas a Triumph Rocket 3 GT interpreta da melhor forma aquela ideia que diz…, não há uma segunda oportunidade de causar uma primeira boa impressão. 

MUSCULO SIM E BEM DEFINIDO 
Sujeita a uma intensiva cura de emagrecimento face à sua antecessora, esta 3 GT surge com menos quarenta quilos e muitos miminhos tais como novo quadro em alumínio, electrónica de topo – apesar de um controlo de tracção faseado e um shifter de auxílio à passagem de caixa poderem no futuro enriquecer mais o conjunto – travões Brembo e suspensões Showa dignos de desportiva ou sport tourer

Foto: Gonçalo Fabião

Eu sublinho. A Triumph Rocket 3 GT apaixona. E é provavelmente das motos mais incompreendidas do mercado. De “tijolo” nada tem. Movendo-se ainda parada com volúpia e sensatez, é suave e precisa a baixa velocidade. Ao ligeiro toque no acelerador electrónico explode em direção ao horizonte. Assertiva no diálogo com o asfalto não se nega a um bom “curvão”, não sendo contudo essa a sua natureza. E no momento de parar este Arnold Schwarzenegger do motociclismo – que horror de frase…, agora já está… - os poderosos Brembo que alguns “entendidos” dizem sobre dimensionados respondem com absoluta eficácia. 

Foto: Gonçalo Fabião

PRAZER E EXCLUSIVIDADE 
Em bom rigor a Rocket 3 GT oferece uma jornada de afirmação e prazer. Afirmação pois somos olhados com o respeito do sujeito que circula num objecto raro e distinto (“olha, é uma Triumph”, ouvi amiúde). Prazer porque é uma delícia sentir esse respeito na cidade e seus arredores, cruzar a nossa terra ou aquela estrada à beira mar que nos leva a uma pausa algures com as amigos. E ficamos a sonhar com outras paragens. Não sendo uma touring, esta crusier ama o asfalto e chama pela viagem por essa estrada fora rumo ao infinito… 

Foto: Gonçalo Fabião

Personalidade, qualidade e até exclusividade são características desta Triumph Rocket 3 GT Silver Ice & Storm Grey onde não podem, obviamente, esperar economia. Ainda assim os pouco mais de sete litros, do mágico elixir inflamável que nos inebria, que nos são solicitados pelos dois mil quinhentos centímetros cúbicos do tricilindrico britânico não chocam. Pelo contrário, satisfazem. E podem contar com apenas seis daqueles litros se o andamento for de cruzeiro e respeitar os limites de velocidades impostos pela autoridade. A marca solicita 22.800€ por esta delícia absolutamente rara que por onde passa não deixa ninguém indiferente.
Site Meter