quarta-feira, 21 de abril de 2021

Aprilia Tuono 660 à prova

Thunder! 6 de julho de 1996. Estádio do Restelo em Lisboa. Uma multidão - há quem fale em cinquenta mil pessoas - aclama os, já naquele tempo, velhos AC/DC. Foi naquela quente noite de verão dos gloriosos anos 90, o primeiro concerto da consagrada banda em Portugal. E, por incrível que possa parecer, seguramente um dos últimos concertos a que assisti. 

Foto: Gonçalo Fabião

Thunder! Eu adoro música ao vivo e confesso que a minha carreira de festivaleiro terminou antes de começar. Naquele tempo assistamos a um concerto como se de um cerimonial se tratasse, tão raro era o fenómeno. Depois a cena azeitou, digamos. E hoje as pessoas vão a um concerto por variadíssimas razões, sendo a música, em regra, a última delas. Foi tão inesquecível aquele primeiro concerto em Portugal da banda de Sydney, que até se tinha varrido da minha memória ter sido a primeira parte feita por um tal de Joe Satriani, o inconsequente mago nova-iorquino da guitarra eléctrica. 

Rode down the highway 
Broke the limit, we hit the town 
Went through to Texas, yeah, Texas 
And we had some fun 
We met some girls Some dancers who gave a good time
Broke all the rules, played all the fools 
Yeah, yeah, they, they, they blew our minds 

Thunder! Impossível esquecer a energia deste clássico do rock and roll assim que me apercebi que a Tuono é isso mesmo: um trovão. Sim, eu sei. É daquelas coisas parvas. Mas quanto da vida no geral e do motociclismo em particular não é feito de coisas parvas? 

Foto: Gonçalo Fabião

Thunder! A Tuono 660 da Aprilia não me levou ao Texas (“yeah, Texas”) nem me ofereceu “some dancers who gave a good time”, mas ainda teve tempo de me colocar a tremer – e não foi apenas os joelhos – nalguns momentos de condução mais afiada. Thunderstruck, diria? Lá iremos… 

DESPIDA MAS POUCO
A Aprilia Tuono 660 é uma espécie de irmã mais nova da Aprilia RS 660, recentemente provada aqui (link) por este ESCAPE - moto que me fez viver dias de sonho e me fez questionar se estava perante engenharia ou relojoaria. E, como qualquer irmã mais nova que se preze, apresenta-se com um traje diferente – neste caso de menores dimensões – e mais civilizada que a mana mais velha. E também, digamos, um nada mais easy going

Foto: Gonçalo Fabião

Este ESCAPE confessa a sua perplexidade quando vê que alguns teimam apelidar esta Tuono 660 de moto despida. Como compreender tal qualificação se estamos perante uma moto com alguma protecção aerodinâmica? E mesmo detentora de apêndices aerodinâmicos que manifestam a sua presença a certas velocidades, fazendo desta uma moto bem mais equilibrada e eficaz do que uma naked pura e dura.

Foto: Gonçalo Fabião

A Tuono 660 é estrutural e mecanicamente muito idêntica à sua mana, RS660. Quadro de dupla trave em alumínio onde o motor bibilindrico, aqui com 95 CV, se assume como elemento da estrutura, sendo o braço oscilante assimétrico. Tudo a pesar 183kg em ordem de marcha. E mantém boa parte da luxuosa electrónica Aprilia - aqui o aPRC oferece cinco modos de condução (incluindo dois modos para os dias de pista); dois dos quais totalmente personalizáveis, controlo de tracção ajustável em oito níveis, sistema anti levantamento da roda dianteira ajustável em três níveis, três modos de potência do motor, ajuste independente do efeito travão motor, e ainda "cruise control" para aqueles momentos de condução mais sossegada. 

Foto: Gonçalo Fabião

Notem, contudo, que a Tuono 660 não conta com a unidade de medição inercial, num esforço legítimo de suavizar o preço final, tendo ainda assim, como objectivo último oferecer um conjunto que se assuma como referência perante a feroz concorrência. 

DÓCIL E CONFORTÁVEL 
Estranho, muito estranho mesmo…, é o guiador que a Tuono 660 apresenta. Esteticamente desenquadrado do conjunto, acabamos rapidamente por claudicar nas dúvidas perante a posição de condução dócil e confortável que ajuda a oferecer. Estamos na verdade face àquele clássico: primeiro estranha-se e depois entranha-se. 

Foto: Gonçalo Fabião

Confesso. Foi, todavia, impossível esquecer a RS nesta prova a Tuono. Apesar da alma desportiva a dimensão humana mantém-se. Sentimo-nos seguros e capazes face ao conforto oferecido pela posição de condução e por toda a ciclística afinada. Desejamos mais motor a rotações mais baixas e vertemos uma lágrima pela ausência do quickshift que lança a RS no caminho da perfeição. Mas lá está. Será pueril ambicionar o melhor de dois mundos. E para ter uma moto a um preço mais simpático, devemo-nos satisfazer com o que a nossa carteira pode pagar. E que fique claro, a Aprilia Tuono 660 tem tudo para nos proporcionar momento de prazer intenso satisfazendo ainda aqueles que optam por uma posição de condução mais conservadora e que ainda assim nos pode conduzir a dias de pista emocionantes. 

ATORDOADO 
I was shakin' at the knees 
Could I come again, please? 
Yeah, the ladies were too kind 
You've been thunderstruck, thunderstruck 
Yeah, yeah, yeah, thunderstruck 

Foto: Gonçalo Fabião

Thunderstruck, disse. Numa tradução livre: atordoado, assombrado, estupefacto. Já tinha acontecido com a RS 660 e voltou a suceder com o pequeno trovão de Noale – caso ainda não tenham dado conta eu sublinho: Tuono é uma palavra italiana que quando traduzida para a nossa língua designa trovão. Um flash intenso e pouco guloso que pediu nesta prova quatro litros e meio do tal líquido inflamável do preço do ouro, carregadinho de impostos, por cem quilómetros de hedonismo. A Aprilia solicita 10.990€ para levarem este trovãozinho simpático para vossa casa.

domingo, 18 de abril de 2021

Honda PCX 125 2021 à prova

Susana Pereira é She’s 2 Wheeled. Foi apresentada aqui (link) neste ESCAPE. É agora tempo de assumir que este blogue de cultura motociclistica está cada vez menos pessoal e cada vez mais passional. À colaboração ímpar do Gonçalo na imagem, juntamos agora a colaboração da Susana na escrita. Apesar do seu sorriso bonito, a Susana não está cá por esse motivo, ou pelo menos apenas por esse motivo. Está cá porque adora motos, motociclismo e viagens e, acima de tudo, porque escreve bem e de forma comprometida com o motociclismo. 

Ora leiam lá a sua visão da novíssima versão de uma das motos mais marcantes da última década no mercado português. Chave no bolso e GOOOooo!!! Com fotos de Gonçalo Fabião. 


Curiosa, entusiasmada e expectante, assim fiquei quando recebi o desafio para ir experimentar a tão popular Honda PCX 125, isto porque ela está para as scooters como o Taj Mahal para a Índia. Desde o seu lançamento em 2010, a Honda vendeu mais de 140 000 exemplares deste modelo na Europa, um número que impressiona. Que privilégio! Não é todos os dias que temos a oportunidade de passear com uma celebridade. Queria saber quais as razões de tanto sucesso! Desafio aceite! Capacete, check! Luvas, check! Nervoso miudinho, check! Vamos a isso! 

FACILIDADE COMO PALAVRA-CHAVE 
É a minha segunda vez numa scooter e confesso que continuo a sentir a mesma estranheza assim que me sento e arranco. Estranheza na leveza, estranheza na fácil manobrabilidade, estranheza no baixo centro de gravidade, estranheza no facto de não ter que me preocupar com pontos de embraiagem ou mudanças, estranheza na facilidade com que se conduz. Mas como diz o slogan do poeta Fernando Pessoa, “Primeiro estranha-se, depois entranha-se!” E assim foi! Não tardei a andar de sorriso rasgado de tão deliciosa e fluída que é a condução da Honda PCX 125


Muita gente parece ter uma espécie de aversão às scooters, eu própria nunca me senti seduzida por elas, confesso. No entanto, dou o braço a torcer, e admito que este género de moto é sem dúvida ideal para a condução na cidade. Extremamente leve – 130kg - e fácil de manobrar à mão, mesmo para uma miúda como eu, e muito prática para se chegar a qualquer lado nas nossas rotinas do dia-a-dia citadino, conseguindo sempre um lugarzinho para a estacionar, tal é a facilidade de a enfiar literalmente em qualquer cantinho, mesmo para mim que sou muito esquisita nos lugares onde estaciono. 

UM JOGO DE ADAPTAÇÃO, AGILIDADE E DIVERSÃO 
A Honda PCX 125 é realmente um regalo de conduzir e facilmente a pessoa se adapta. Detentora de uma estética urbana e dinâmica, com linhas futuristas que se evidenciam no design dos seus faróis e piscas LED, os quais proporcionam uma boa iluminação nocturna, esta mota tem tanto de ágil como de divertida. Tem uma posição de condução bastante confortável e relaxada, possibilitando esticar as pernas, quase parecendo que nos estamos a sentar confortavelmente no sofá lá de casa para ver um filme, só que neste caso, nós estamos a viver o filme e somos os protagonistas. 


O facto de possuir pneus de medida superior também permite mais segurança e conforto na condução. Esta é uma mota em que facilmente se chega com os pés ao chão, dando confiança aos menos experientes e proporcionando uma condução agradável e segura.


São de realçar algumas características interessantes, nomeadamente o sistema Idling Stop, pioneiro desde 2010, e que permite uma redução simpática no consumo de combustível, respondendo depois muito bem ao toque do acelerador quando arrancamos, mesmo em subidas inclinadas

TECNOLOGIA ÚTIL 
Esta nova Honda PCX125 dispõe ainda de sistema contactless ‘Smart Key’, em que apenas necessitamos de andar com a chave no bolso e não temos que nos preocupar mais com ela, quer queiramos accionar a ignição como para aceder ao espaço de arrumação existente por baixo do banco, que é fabuloso - 30,4L - permitindo arrumar o meu capacete modular, sobrando ainda espaço para muito mais. No entanto, uma dica importante. Nunca colocar a chave na mala e de seguida colocar a mesma debaixo do banco, apesar de óbvio pode bem acontecer aos mais distraídos e será uma chatice.


Este modelo conta também com uma tomada USB, incorporada no porta-luvas, para permitir carregar dispositivos, o que nos dias de hoje dá sempre muito jeito. Dispõe também pela primeira vez neste modelo, do sistema HSTC (Honda Selectable Torque Control), ou seja o sistema de controlo de tracção seleccionável da Honda. Outro pormenor que achei bastante engraçado e muito prático, foi a existência de um pequeno suporte para a tampa do depósito de combustível, assim não corremos o risco de não sabermos muito bem onde o colocar, bem como o risco de o perder. 


Como aspectos menos positivos, tenho a apontar o facto de se sentir tanto os buracos como as lombas, sobretudo como é óbvio, se a velocidade for maior e também achei que poderia oferecer uma maior protecção contra o vento. 

UMA MOTO QUE DESEMPENHA UM PAPEL ACTIVO NA SOCIEDADE 
De facto, posso dizer que fiquei rendida à Honda PCX 125, tanto em termos da sua estética como da sua condução e praticabilidade. A sua fama de facto a precede! Permitam-me até que faça uma analogia acerca da popularidade deste modelo. O escritor, filósofo e dramaturgo francês Jean-Paul Sartre, maior expoente da filosofia existencialista, parte do princípio que a existência precede a essência. 


Com isso, quero dizer que primeiro a Honda PCX 125 existe no mundo e só depois se define e realiza pela sua performance no dia-a-dia e pelas respostas aos desafios que lhe são propostos, aos quais tão bem responde. Assim, posso afirmar que o balanço a este desafio de a experimentar é bastante positivo.

terça-feira, 6 de abril de 2021

A estrada, a moto e o telefone esperto – Estrada Nacional 116

Mafra, manhã do dia 5 de Outubro do ano de 1910. Uma revolução organizada pelo Partido Republicano Português, iniciada no dia 2 de Outubro e vitoriosa na madrugada desse mesmo dia 5, destituía a monarquia constitucional, implantando o regime republicano que hoje vigora em Portugal. 

Naquela manhã cinzenta, o Rei decaído procurava um modo de chegar ao Porto, acção complexa de levar a cabo por terra devido à paupérrima, mas ainda assim eficaz acção dos revolucionários. A solução aparece quando chega a notícia de que o iate real "Amélia" fundeara ali perto, na Ericeira. Tendo a confirmação da proclamação da República e o perigo próximo da sua prisão, D. Manuel II decide embarcar com o objectivo de se dirigir ao norte de Portugal. 

Foto: Gonçalo Fabião

A família real dirigiu-se então à Ericeira de onde, com recurso a dois barcos de pesca e perante os olhares de numerosos curiosos populares – como mostram as imagens da época -, embarcaram no iate real. Aí, D. Manuel II, terá sabido que também o Porto tinha aderido à causa republicana. O local de destino escolhido para esta atabalhoada missão de fuga acaba por ser Gibraltar. Nobre, D. Manuel ordenou que o navio, por ser propriedade do Estado português, voltasse a Lisboa. O Rei deposto, no entanto, viveria o resto dos seus dias no exílio. 

Foi assim, por aqueles caminhos, de Mafra à Ericeira, trajecto hoje parte integrante da Estrada Nacional 116 (N116), que desta maneira tremenda, quase trágica, terminaram setecentos e sessenta e sete (767) anos de Gloriosa História de Portugal. Parece impossível? Mas esta é uma página da História de Portugal. E quantas estradas assim encontramos na nossa vida? Pequenas, escondidas, empobrecidas e até abandonadas. Todavia inesquecíveis. 

NEBLINAS MATINAIS 
A Estrada Nacional 116 nasce pois na Ericeira. Naquela que é, provavelmente, a rotunda mais bonita de Portugal (se é que tal coisa pode existir), rotunda essa que mergulha cabeça tronco e membros na frescura do atlântico e intercepta a Nacional 247, uma das mais belas estradas costeiras aqui do rectângulo. Será caso para dizer que até para ser estrada há que ter sorte ao nascer?

Foto: Gonçalo Fabião

Dali, a N116 parte para o interior e logo atravessa a localidade do Sobreiro, muito popular entre os alfacinhas pela sua Aldeia Típica José Franco. Construída pelo oleiro com o mesmo nome, ali encontramos algumas construções que visam representar as ocupações típicas do Portugal de antanho em cenários de miniatura, com os respectivos instrumentos de trabalho. É um verdadeiro museu etnográfico e popular que vale a paragem e a visita para quem aprecia tais manifestações culturais. 

Até Mafra e ao cruzamento com a Estrada Nacional 9 (link) é um instante. A Vila e o seu monumental Palácio Nacional são conhecidos por todos e desta vez paramos só para a foto fácil. Abandonada Mafra a estrada mantém o seu perfil descaracterizado. Só um par de quilómetros mais adiante, já no troço que nos conduz à Malveira e ao encontro com a Estrada Nacional 8 (link), com a qual partilha algumas centenas de metros, recupera a alma de velha Estrada Nacional que suavemente acompanha o relevo do terreno. 

Foto: Gonçalo Fabião

QUANDO A ESTRADA ENSINA 
Chega enfim o melhor do que esta curta estrada tem para nos oferecer. Ultrapassada a disforme localidade de Venda do Pinheiro, entre Vale de São Gião e Bucelas, vamos encontrar cerca de uma dezena de quilómetros de asfalto de qualidade, pouco tráfego e sobretudo curvilíneas formas desenhadas no traçado que nos vão fazer sorrir e respirar fundo de prazer quando chegamos à auto-proclamada Capital do Arinto. 

Gostam de vinho? Este ESCAPE adora. Com moderação. Mas confessa que até este momento desconhecia que o Arinto é mesmo uma casta originária daqui, deste ponto da estrada onde estamos, Bucelas, concelho de Loures, distrito de Lisboa. 

Foto: Gonçalo Fabião

Também designada por Pedernã na região norte de Portugal, a casta arinto é uma uva de cor verde-amarelada, de bago pequeno/médio e arredondado e de sabor e aroma citrino. 

Sendo de maneira geral cultivada em todas as regiões de Portugal, é, todavia, em especial nas encostas de Bucelas - que formam um microclima com grandes variações diárias de temperatura, na época de maturação das bagas, e que lhes confere um especial sabor – que encontramos a sua “casa”. Ainda que mal, podemos comparar o arinto a um Riesling, Pinot Blanc ou mesmo ao seco Chenin Blanc. 

GRANDE FINAL 
É assim a vida…, uma estrada que nem aos cinquenta quilómetros chega, esquecida nas “traseiras” da capital, e com tanto para contar. Abandonamos Bucelas e o peculiar e estreito cruzamento com a “Rainha do Oeste” - a irmã Nacional 115 que podem conhecer aqui (link) – e continuamos a rumar a leste para mais uma pequena surpresa.

Passadas que sejam as encostas da Quinta da Romeira podemos encontrar uma acanhada estrada de terra, junto ao Morgado Lusitano, que nos convida a sair do asfalto. Sem temor devemos aceitar o convite. É um par de quilómetros que deve ser feito com a devida precaução em especial na sua zona final e inclinada. 

Foto: Gonçalo Fabião

O marco geodésico que vamos encontrar é a cereja no topo deste verdadeiro “petit gateau” que é a Estrada Nacional 116. Dali, temos uma vista soberba de toda a região, para norte os montes do Oeste, para sul o Tejo e a lezíria lá até onde a vista alcança. Aos nossos pés espalham-se as ruínas Forte da Portela Pequena, obra das Linhas de Torres - o maior e mais eficaz sistema defensivo da Europa. De formato em undecágono, integrava a denominada segunda linha de defesa das Linhas de Torres Vedras, tendo por objectivo bater a via que ligava São Tiago dos Velhos e o Casal da Portela, no sopé da Serra da Aguieira e Portela Pequena, bem como, alguns pontos da antiga Estrada de Alverca entre o referido Casal, a Romeira e a subida da Serra. Por incrível que no local nos pareça, este Forte do qual hoje só restam vestígios contava com 350 homens de Infantaria e 6 peças de Artilharia pesada.

Rica e intensa a Estrada Nacional 116 está a chegar ao fim. E a sugestão que este ESCAPE vos deixa é muito simples. Chegados que sejamos, em Alverca, à rotunda que encontra a Nacional 10 (link), voltemos para trás de regresso à frescura do atlântico na Ericeira. Acreditem que o caminho inverso vos vai parecer uma estrada substancialmente diversa daquela que agora acabaram de percorrer. 

Foto: Gonçalo Fabião
______________________________________________________________

Quem, o quê, onde, como, quando e porquê – não necessariamente por esta ordem 
A Estrada Nacional 116 - percorrida por este ESCAPE no verão passado aos comandos da Kawasaki Versys 1000 SE (link) e fotografada pela lente do Gonçalo Fabião - não é mas podia muito bem ser conhecida qualquer coisa como a “A Última Estrada do Reino de Portugal”.


A N116 encontra o seu início na deliciosa e atlântica velha vila da Ericeira, hoje primeira Reserva Mundial de Surf da Europa e segunda do Mundo. O episódio da fuga de D. Manuel II para o exílio, da Praia dos Pescadores, tornou-se num marco da história da vila que deve o seu nome à lenda que dita a sua origem enquanto "terra de ouriços", devido aos numerosos ouriços-do-mar que abundavam e ainda habitam algumas das suas praias. Sem glória, podemos encontrar o terminus desta icónica estrada numa rotunda em Alverca do Ribatejo que intercepta a Estrada Nacional 10 também ela já percorrida por este ESCAPE. 

Apesar de olvidada por quase todos, a N116 desempenha ainda hoje papel importante no desenvolvimento social e económico das populações que serve. Da fresca, sonora e intensa maresia do atlântico ao Tejo largo que se aproxima dramaticamente da sua foz, cruza os seculares montes do Oeste numa diagonal fulgurante que beija outras belas Estradas Nacionais da região entre elas a 247, 9 (link), 8 (link), 115 (link) e 10 (link). 

Se localizada noutras paragens deste nosso globo terrestre, teria por certo outro destino que não a ignorância e o esquecimento, tantos os episódios históricos que tem para contar.

domingo, 4 de abril de 2021

Piaggio Beverly 300 à prova

Tabu. Palavra de origem obscura, ou seja, origem pouco clara ou mesmo confusa. Entre outras coisas mais que não nos dizem respeito, tabu é um medo ou proibição de natureza que pode ser religiosa. Um assunto que não se pode ou não deve falar, interdito, proibido. Falar de scooters entre motociclistas é um verdadeiro tabu. É, não é? 

Foto: Gonçalo Fabião

Se por um lado há cada vez mais motociclistas experientes que escolhem a scooter como veiculo diário urbano e até extra-urbano, por outro, muitos ainda vilipendiam esta maravilha do motociclismo. Os primeiros, os sábios a quem a experiência oferece a scooter como solução, evitam falar da sua racional escolha. Os segundos, os ignorantes, são apenas isso, fanfarrões de conhecimento e formação insuficiente. Uma coisa tem em comum: evitar falar de scooters. 

Foto: Gonçalo Fabião

Este ESCAPE não gosta de scooters. Este ESCAPE adoraaaaaaaaaa scooters. Pela sua simpatia, pela sua ligeireza, pela sua facilidade de utilização, pela sua beleza, pela sua economia. Bolas. Quantos argumentos são precisos para amarmos estes doces veículos. 

SEDUTORA DE CLASSE 
Rinaldo Piaggio fundou a sua companhia de locomotivas e vagões – seja lá o que isso for – em 1884. Em 137 anos a Piaggio, de aviões a funiculares, já construiu um pouco de tudo. Curiosamente é a eterna Vespa o veículo mais conhecido da muito italiana Piaggio. A mesma Piaggio que nos oferece esta contemporânea Beverly, que vai ao novo mundo, arredores de Los Angels, buscar o seu nome.

Foto: Gonçalo Fabião

A Beverly não é propriamente uma novidade. Todavia, face à norma EURO 5, o gigante italiano decidiu atualizar profundamente uma scooter de enorme relevância no mercado europeu. Se na Europa das scooters Portugal é uma particularidade - por optar pelas scooters de 125cc e roda de menores dimensões - Portugal é também uma oportunidade, pois há muita margem de evolução para estes veículos em termos de mercado. Quebrar tabus é ou não é uma delícia? 

Foto: Gonçalo Fabião

A nova Piaggio Beverly 300 é sedutora. Linhas envolventes, a nascer de uma secção dianteira a flertar com a história da marca e que terminam numa traseira urbana e agressiva que remete para um quadro de futurismo. O primeiro olhar revela detalhes de pura classe como o banco luxuoso e bem acabado e os instrumentos, num painel LCD de cinco polegadas e meia objectivo e pragmático. 

POTÊNCIA E SEGURANÇA 
O motor é um monocilíndrico de quatro válvulas (300cc, 26cv e 26NM) da família HPE já conhecido deste ESCAPE da peculiar da MP3 (link). Toda a engenharia - notem a baixa disposição do depósito de combustível - pensou num conjunto com baixo centro de gravidade e ligeiro, cerca de 185Kg. Aspecto absolutamente determinante é a dimensão das suas rodas. Com jante de 16’ na dianteira e 14’ no eixo traseiro, temos assim um conjunto pronto a dominar a cidade e os seus múltiplos obstáculos.

Foto: Gonçalo Fabião

Sucede, que a Beverly 300 impõem-se pela sua natureza como um veículo bem mais ecléctico. Gosta de sair dos centros urbanos e apresenta uma condução deliciosa, eficaz, e acima de tudo prazerosa nas estradas que envolvem as colinas dos arredores da cidade. O motor é vivo e surpreende na subida de rotação, ao ponto de quando entramos naquela via rápida do dia-a-dia, a moto nos enviar para velocidades bem acima do limite legal. A travagem também surpreende pela sua suavidade e as suspensões Showa tornam o conjunto confortável. 

Foto: Gonçalo Fabião

Cereja no topo do bolo da segurança é o controlo de tracção que tem duas funções. A primeira é garantir que algum excesso em mau piso não resulta em prejuízo. A segunda função é a pura diversão. Ou seja, podendo esse controlo de tracção ser desligado, podem os mais atrevidos fazer umas brincadeiras com o belo binário que o motor HPE nos oferece. 

DESCOMPLICADA E INTENSA
Nota muito positiva para dois destaques. O espaço debaixo do assento é generoso, cabendo dois capacetes abertos ou uma daquelas mochilas cheias de tralha para um dia de trabalho, ginásio e afazeres vários. Já o sistema Keyless, permite fazer todas as operações necessárias sempre com a chave no bolso, facilitando muito os dias stressantes - onde temos de andar de um lado para o outro, parar a moto aqui e acolá - evitando assim que nos preocupemos um segundo com trancar malas ou direcção. Uma delícia absoluta. A prova a esta novíssima Piaggio Beverly foi extensa e intensa. 

Foto: Gonçalo Fabião

Há sempre a tentação de apontar defeitos apenas por apontar. Não havendo motos perfeitas, ao contrário do que alguns afirmam, tenho dificuldade em vislumbrar sequer aspectos menos bons nesta bela italiana. Talvez o consumo pudesse ser mais simpático. A Beverly reclamou quatro litros redondos do tal líquido inflamável que faz a nossa felicidade por cem quilómetros de sorriso nos lábios. A Piaggio solicita uma transferência bancaria de 6.300€ para quebrarem o vosso tabu. Com classe!

sexta-feira, 2 de abril de 2021

Limalhas de História #83 – 30 de Março de 1975

Cecotto! Quem? Johnny Ceccotto! Como assim? O piloto da Toleman, Formula 1, nos anos oitenta? Sim esse mesmo. O colega de equipa no Toleman-Hart de Ayrton Senna na mágica temporada de 1984? Tal e qual. Mas que raio tem Cecotto a ver com motos? Tudo! Querem ler?


Um dos venezuelanos mais reconhecidos do universo petrolhead, é Johnny Ceccotto. Se na Formula 1 passou a vida no fundo da grelha, tendo disputados apenas dezoito Grades Prémios e conquistado um magro ponto, a sua passagem no mundial de velocidade de motociclismo é bem mais gloriosa. 

Fez, há três dias, exatamente quarenta e seis (46) anos que no lendário circuito francês Paul Ricard em Le Castellet, Occitânica, Sudeste de França, Johnny Ceccotto fez uma das mais impressionantes estreias de que há memoria na história do mundial de velocidade. 

O piloto de Caracas, hoje com 65 anos, venceu naquele dia não uma mas sim duas corridas. A de 250cc e a de 350cc. Nesta extinta classe, a de 350cc, Ceccotto viria mesmo a ser campeão mundial no seu ano de debute nas “barbas” de um tal Giacomo Agostini. 

UM QUARTO DE SÉCULO DE ROSSI NO MUNDIAL
Por falar em 46 e já agora em Agostini, há apenas dois dias celebrámos uma data incrível. A 31 de março de 1996 (link), no velho circuito malaio de Shah Alam, um jovem piloto italiano que tinha chamado a si a atenção nos campeonatos de iniciação por onde tinha passado, arrancava para a sua primeira prova no Mundial. Nascia uma lenda. Uma lenda viva. Uma lenda que passados uns inacreditáveis vinte e cinco anos ainda luta por vitórias. É um quarto de século com Valentino Rossi no circuito mundial. Grazie Mille!



Site Meter