terça-feira, 21 de março de 2023

Moto Morini X-Cape 650 à prova

Fénix. Pássaro da mitologia grega que ao morrer entrava em auto-combustão. Todavia, aquele animal mitológico, passado algum tempo, ressurgia das próprias cinzas. Outra característica da fénix seria a sua força, que a capacitava com a faculdade de carregar cargas muito pesadas enquanto voava. A fénix teria penas brilhantes, douradas, e vermelho-arroxeadas e seria de tamanho igual ou maior do que uma águia. 

Foto: Gonçalo Fabião

Segundo alguns escritores gregos, a fénix viveria exactamente quinhentos anos. Outros autores acreditavam que o seu ciclo de vida seria de quase mil anos. No final de cada ciclo de vida a fénix imolava-se numa pira funerária. A longa vida da fénix e o seu absurdo renascimento das próprias cinzas transformaram-na em símbolo da imortalidade e do renascimento espiritual. STOP: já repararam no símbolo da Moto Morini? 

A aventura da Moto Morini inicia-se em 1937 em Bolonha. Antes, porém, Morini, fundara em 1924, juntamente com os empresários Massi, Mattei e Mazzetti a "Fabricca di Motobiciclette Brevetti MM di A. Mattei & Co.", MM abreviado. No início produziam 125cc e 175cc a dois tempos. Em 1930 começaram a produzir motos a quatro tempos. Após quase 15 anos de colaboração com Mazzetti, em Setembro de 1937 o senhor Morini abandona a empresa para iniciar o seu próprio negócio: a Moto Morini. 

Foto: Gonçalo Fabião

A história da Moto Morini é longa e distinta, plena de glória e drama – podendo ser conhecida em detalhe aqui (link). A título de exemplo, vale a pena sublinhar que nos anos oitenta do século passado a marca chega mesmo a pertencer à Cagiva que nesse tempo foi também dona da Ducati. Como em muitos outros momentos da vida da marca, também aí as coisas correram menos bem. 

Foto: Gonçalo Fabião

Contudo, qual fénix, a Morini teima em renascer das próprias cinzas. Actualmente, e desde Outubro de 2018, a empresa é uma subsidiária do Zhongneng Vehicle Gropu, normalmente conhecido como grupo ZNEN, que comprou a Moto Morini, segundo algumas fontes, por valor próximo aos dez milhões de euros. 

IMAGEM VINCADA 
Originalmente revelada em forma de protótipo no EICMA de 2019, a X-Cape 650 surge no mercado chinês no verão de 2021. Foi porém apresentada ao mundo no EICMA de 2021, local onde alguns a apelidaram de baby Africa Twin devido à escolha cromática da moto que aqui provamos. 

Foto: Gonçalo Fabião

O aspecto da Moto Morini X-Cape 650 é de facto impactante, sendo que a sua linha vai claramente beber influência a diversas motos do segmento e até das maxi-trails. O seu ar atrevido e até agressivo chama a atenção de todos cujo coração se deixa tocar pelo motociclismo. A moto foi desenhada em Trivolzio, Pavia, Itália, nas instalações da Moto Morini. É parcialmente fabricada na china e enfim montada em solo italiano, lugar do mundo onde se faz ainda o seu controlo de qualidade. 

Foto: Gonçalo Fabião

A X-Cape 650 monta num quadro tubular em aço, uma espécie de treliça, um motor de origem CF Moto, bicilíndrico paralelo com 649 cc (60 cv às 8250 rpm e 54 Nm às 7000 rpm), cuja fonte inicial é o robusto e inquestionável bicilíndrico da Kawasaki ER-6. Nas suspensões contem com uma Forquilha invertida Marzochi totalmente ajustável e mono amortecedor KYB ajustável na pré-carga e extensão, no eixo traseiro. 

Foto: Gonçalo Fabião

Para parar o conjunto sirvam-se do material Brembo - disco duplo semiflutuante de 298 mm de diâmetro com pinças de dois pistões à frente e um disco simples de 255 mm atrás, equipado com ABS Bosch. As borrachas são as excelentes Pirelli Rally STR - 110/80 R19 na frente e 150/70 R17 na roda traseira. 

DEVORADORA DE ASFALTO 
Não existe uma segunda oportunidade de causar uma boa primeira impressão. A Moto Morini levou esta ideia a sério. Na verdade o primeiro contacto visual com a X-Cape 650 impressiona ao ponto de a desejarmos e questionarmos se estaremos perante uma moto de outro segmento. Sucede que o primeiro contacto físico não acompanha o primeiro contacto visual. 

O banco é anormalmente cavado para uma moto de estrada. Juntamente com um guiador proeminente e bastante largo, faz com que a moto nos ofereça uma posição de condução que requer habituação. Este desconforto inicial é sublinhado pelos primeiros quilómetros urbanos – e no nosso caso feitos à chuva e com piso muito encharcado. O conjunto pesa cerca de 230 Kg de depósitos cheios. Esse lastro juntamente com a peculiar posição de condução fazem com que a vida na cidade não se apresente como o terreno de eleição da Morini, o que nos surpreende. 

Foto: Gonçalo Fabião

O que também nos surpreende, todavia pela positiva, é a natureza estradista e até potencialmente turística da Moto Morini X-Cape 650. Fora da urbe a moto respira asfalto e devora-o com apetite. O motor, desinteressante a baixa rotação, ganha nova alma e bom desempenho algures depois da 4000 rpm. A partir daí tudo se transforma com a ciclística a apresentar solidez e as suspensões a oferecem um belo swing entre curva e contracurva. A travagem é inquestionável tal como a aderência oferecida pelo Rally STR. Usar o pára-brisas manualmente regulável apenas com uma mão é relativamente fácil. 

AVENTURA E TURISMO, NOTEM 
Quando o asfalto termina esta Morini não muda a sua natureza. Algo pesada e aborrecida a baixa velocidade e em pisos mais duros, acaba por encontrar um desempenho aceitável e equilibrado no fora de estrada suave. Sejamos claros: esta moto não foi feita para andar aos pulos e aos saltos. E pode faze-lo? Claro que sim. Só não foi feita para isso. O Adventouring proclamado nas tampas laterias deve ser corretamente interpretado: aventura e turismo

Foto: Gonçalo Fabião

Tal e qual. A X-Cape Red Passion – bonito nome - reclamou do bolso do ESCAPE o correspondente em euros a quatro litros e meio de sumo de dinossauro por cada cem quilómetros de estilo. A marca solícita uma transferência bancária de 7.699€ pela versão ensaiada de jantes de alumínio, estando disponível uma bonita versão de jantes de raios Gold Wheels Edition, cujo valor podem conhecer, por exemplo, na HM Motos, casa que foi inexcedível na paciência que teve para nos aturar no sentido de levar esta prova até vós.

1 comentário:

  1. Bom teste e informação sobre esta bonita mota. Ando a namorá-la, mas com a chegada da nova Transalp fiquei indeciso. Sei que são motas com potências e desempenhos diferentes, mas esteticamente esta Morini é mais bonita para mim. Obrigado e abc

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