Outras notas vão entrar, mas a base é uma só
Esta outra é consequência do que acabo de dizer
Como eu sou a consequência inevitável de você
Svartpilen. Que é como quem diz flecha negra. Flecha negra feita de uma nota só. Quem é como quem diz um único cilindro dos grandes com quase, quase os tais setecentos e um inscritos no deposito. Dizem, o maior monocilindro atualmente em produção.
Outras notas vão entrar, mas a base é uma só. E a base é a soberba KTM Duke 690 que oferece motor (74 CV), quadro e braço oscilante a um exercício de estilo tão polémico como atraente, ao qual se junta uma posição de condução que roça a perfeição. Consequência do que acabo de dizer: alguém com a minha estatura, cerca de metro e oitenta, funde-se em uníssono com a moto ao primeiro abraço. Como no sambinha, tornamo-nos imediatamente consequência inevitável da flecha negra.
Quanta gente existe por aí que fala tanto e não diz nada
Ou quase nada
Já me utilizei de toda a escala e no final não sobrou nada
Não deu em nada
Confesso! Apesar de até ter sido apresentada em Lisboa na primavera passada, liguei cerca de patavina a esta nova interpretação daquilo que é um instrumento de prazer feito pela casa sueca, agora sediada em Mattighofen - sede da austríaca KTM. Tal como reza a épica canção bossa nova (samba salpicado com muito jazz) pincelada por Tom Jobim com letra de Newton Mendonça, “utilizei de toda a escala e no final não sobrou nada, não deu em nada” perdido na discussão se estamos perante uma moto urbana, flat track, scrambler ou assim-assim.
Há uma estranha e incompreensível tendência da comunicação social especializada para rotular e meter num caixa estanque toda a moto diferente (esquisita?) que hoje apareça. Desta terraplanagem feita de banalidades não sobra nada. Não dá em nada.
Vou cantar em uma nota como eu gosto de você
E quem quer todas as notas: Ré, mi, fá, sol, lá, si, dó
Fica sempre sem nenhuma, fica numa nota só
De regresso à minha nota…, não foi comigo que a Husqvarna Svartpilen 701 conheceu a cidade. Levei-a arejar. Conhecer montes, encostas, vinhas e pomares. Ver o verde dos campos pontuados pelo fim do estio e pelo suave cheiro a uva fresca.
Cantando numa nota como dela gostei, escrevo-vos que conheci uma fun bike construída a partir de um motor que é uma absoluta referência e de um chassi rigoroso como poucos que nos oferece um comportamento irrepreensível e um superior prazer de condução.
No mais…, aquele único disco dianteiro não gera receio e é mais do que suficiente para parar todo o soberbo conjunto; os pneus mistos Pirelli MT 60 RS são uma bela supressa: excelentes no asfalto, cumpridores fora dele. No menos, espelhos (não eram de origem) e painel de instrumentos não cumprem; um controlo de tração faseado e a opção de desligar o ABS traseiro seria bem-vindo para maximar o prazer, tal como uma seleção de caixa mais precisa.
A Husqvarna Motorcycles Portugal solicita uma transferência bancaria de 11.500€ por este lindo samba de duas rodas e uma nota só, que solicitou cinco litros do tal liquido inflamável de que tanto dependemos por cem quilómetros de saudade que deixou.
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