domingo, 15 de novembro de 2020

Suzuki Katana à prova

A vida é limitada, já o nome e a honra podem durar para sempre. Eram estes os Valores supremos de um Samurai – aquele que serve com lealdade e empenho -, os célebres guerreiros da milenar aristocracia imperial japonesa. Para além da honra, a imagem pública e o nome dos seus antepassados, podiam valer mais do que a própria vida para aqueles fiéis soldados. Na defesa dos seus Valores e Princípios, os Samurais utilizavam um código de ética que impunha frugalidade, grande disciplina, lealdade, honra até à morte, coragem extrema diante de qualquer situação e habilidade no domínio da Katana, a sua espada. 

Foto: Gonçalo Fabião

A Katana, usada maioritariamente em campo aberto, era uma longa lamina curva com gume apenas de um lado forjada totalmente à mão com detalhes cuidadosos e um cabo longo para acomodar duas mãos. Muito mais do que uma arma para um Samurai - uma autêntica filosofia de vida segundo algumas fontes -, a Katana era a extensão do corpo e da mente do próprio soldado. Curiosamente a palavra Katana acaba por ser incorporada como catana pela língua portuguesa após a chegada dos portugueses ao Japão no século XVI. Em quase quinhentos anos a palavra foi perdendo a sua pronúncia japonesa e ganhou novos sentidos em português designando uma multiplicidade de objectos como espadas várias, sabres e até facas de generosas dimensões. 

ADN DE RESPEITO 
Nos gloriosos anos 80 do século passado, com o apoio do estúdio alemão Target Design, a Suzuki desenhou e produziu uma “mil e cem” que assim que chegou às ruas e estradas reclamou para si o titulo de moto mais rápida do mundo de larga produção. Arrojada, destemida e nobre tal com os guerreiros nipónicos de outros tempos, a Katana original rapidamente se afirmou como uma moto de culto. Todavia, a sua existência enquanto peça única e rara foi relativamente curta. A produção da moto original cessou ainda na década de 80, tendo contudo a Suzuki produzido a Katana em várias versões com diferentes motorizações. Foi no mercado norte americano que o lendário nome teve uma existência mais perene. 

Foto: Gonçalo Fabião

Após o falhanço da Stratosphere – espectacular e pouco conhecido protótipo de super naked, claramente inspirado na Katana, apresentado no Salão de Tóquio de 2005 que montava um motor seis cilindros em linha de 1100cc, e que nunca entrou em produção - a Suzuki mostra em Milão 2017 a Katana 3.0 Concept que viria a ver a luz do dia enquanto moto de produção em 2019.

Foto: Gonçalo Fabião

Ufffffff…, foram assim necessários percorrer mais de mil anos de história, desde o nascimento dos Samurais até aos dias de hoje, para que este vosso “servo” da cultura motociclistica pudesse empunhar a “lamina sagrada” dos tempos modernos. E chega muito a tempo, diga-se. Num ano em que a velha casa de teares mecânicos de Hamamatsu completa o seu primeiro centenário e num tempo em que após o domínio por vezes insolente do mundial de velocidade de 500cc ainda nos anos 70 do século passado e percorridos vinte anos sobre o último título mundial, a marca nipónica consegue resgatar para si o titulo mundial da classe rainha da Velocidade Mundial. Coincidências felizes… 

SAUDADES DO FUTURO
A Katana presente é uma aparente estranha mistura. Recupera a linha da classe de oitenta piscando o olho a um futuro qualquer, montando numa dupla trave de alumínio o celebre e galardoado motor K5 – o “mil” quatro em linha da geração 05-08 da GSX-R 1000 – com um braço oscilante de origem GSX-R 1000 de 2016, travagem Brembo e suspensões KYB

Foto: Gonçalo Fabião

Numa posição de condução acertada, que deixa o corpo disponível para uma condução viva e sem qualquer tipo de esforço desnecessário nas articulações, o primeiro toque na Katana revela uma moto descomplicada. Fácil de entender, fácil de conduzir, fácil de conduzir e de levar para onde desejamos. São 150 CV para 215 Kg.

Foto Gonçalo Fabião

Apesar de manter o capricho muito próprio dos “quatro em linha” – cada qual tem o seu – o motor é saboroso e a sonoridade que o escape produz desde cedo oferece-nos uma soberba envolvência na condução. A caixa é precisa e notamos a ausência de um shifter que apimente a nossa relação com a Katana. Aliás…, a Suzuki optou por nos oferecer nesta nova Katana um compêndio de soberba moto analógica. Sentimos a falta da mais recente electrónica – ausência de modos de condução, por exemplo – mas apreciamos a experiência espartana e eficaz de uma moto sem grandes ajudas à condução e ao conforto – é uma naked, ponto final. 

Foto: Gonçalo Fabião

UMA “ARMA” PARA A CONTEMPORANEIDADE 
Também nos comandos e no painel de instrumentos, a Suzuki optou por revisitar o final do século passado. Apesar de atuais estes elementos remetem-nos sempre para um passado que foi bom mas esta lá…, no passado. O Senhor Mercado irá responder à questão se este terá sido o melhor caminho a percorrer pela Suzuki quando decidiu recuperar um dos seus maiores ícones. 

Foto: Gonçalo Fabião

A experiência Katana, não chegando a ser adrenalizante, satisfaz bastante e até entusiasma. Pode bem ser a arma eficaz para que os samurais dos tempos modernos combatam o tédio, quando e se autorizados a sair de casa pelos senhores feudais da actualidade. Esta Glass Sparkle Black solicitou cinco litros e meio do tal liquido inflamável indispensável à batalha do dia a dia, pedindo a Moteo – importador Suzuki para Portugal – 13.999€ para levarem uma para a vossa garagem.

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