segunda-feira, 24 de outubro de 2022

Voge 650 DSX à prova

A BMW F650St Strada foi introduzida na europa em 1993. Uma variante desta moto, conhecida por Funduro, é lançada no ano seguinte tendo chagado aos Estado Unidos em 1997. Os modelos da F650 da BMW foram desenhados em parceira pela marca alemã e pela Aprilia, tendo a marca italiana lançado o seu próprio modelo denominado Aprilia Pegaso 650. A Pegaso recorria a um monocilíndrico de 654cc e cinco válvulas. Já as versões da marca alemã, ainda que montadas em Itália pela Casa de Noale (Aprilia), eram propulsionadas por um monocilíndrico de 652cc e quatro válvulas de origem austríaca, fabricado pela Rotax. Como curiosidade, esta foi a primeira BMW de transmissão final por corrente desde os anos 60 do século XX. 

Foto: Gonçalo Fabião

No virar do milénio a BMW descontinuou estes modelos tendo os mesmos sido substituído pela notável F650GS que, todavia, recorreu ao mesmo motor construído pelos austríacos da Rotax. Já em 2007 e até 2016, a BMW produziu aquela que muitos consideram como a lendária G650GS. No entanto, esta não era mais do que uma F650GS com algumas alterações e motor fabricado pelos chineses da Loncin na fábrica de Chongqing. É pois desta forma que a Loncin, casa-mãe da Voge, se deu a conhecer ao mundo. Precisamente por receber a confiança da alemã BMW para produzir a mecânica monocilíndrica de 650cc anteriormente produzida pela austríaca Rotax

CORAÇÃO DOURADO 
Ao longo da vida do modelo, aquele monocilíndrico foi desenvolvendo uma aura de misticismo pela sua qualidade, durabilidade e desempenho. Na verdade, foi a base Rotax que esteve na origem da grande coroa de glória deste modelo, quando o malogrado Richard Saint alcança uma dupla vitoria do icónico Rally Paris-Dakar (1999 e 2000) montado numa versão RR da F650 da BMW. 

Há peças de engenharia que são absolutamente incríveis e incontornáveis. E este motor é uma delas. Um verdadeiro coração de ouro, dizem. Certo é que para a nova utilização que lhe é dada na Voge 650 DSX, a Loncin limitou a potência do mono a 47,5 CV – quatro válvulas accionadas por uma dupla árvore de cames à cabeça, refrigeração por líquido e injecção electrónica Bosch - no limite dos 35 kW permitidos aos utilizadores com carta A2, oferecendo ainda um generoso binário máximo de 60 Nm às 5500 rpm, obviamente cumprindo com a homologação anti-poluição Euro 5. 

HONESTIDADE CONTAGIANTE 
Ao redor desta peça rara que é hoje em dia (nestas cilindradas) um motor de cilindro só, encontramos uma moto de arquitectura trail despida de lantejoulas todavia com um desenho que anuncia uma honestidade contagiante. A caixa de velocidade é de cinco à maneira antiga e a electrónica reduzida ao mínimo. 

Foto: Gonçalo Fabião

Como a Voge nos tem habituado vamos aqui encontrar elementos de qualidade para compor o cenário. A suspensão é Kayaba, a travagem Nissin, e para agarrar ao solo contamos com os excelentes Pirelli Scorpion Rally STR, nas medidas 110/80 R19 e 150/70 R17 - frente e traseira. Peso? Cerca de 220Kg em ordem de macha. 

Foto: Gonçalo Fabião

Adaptando a celebre canção de António Carlos Jobim (samba de uma nota só), eis pois aqui esta moto feita de um cilindro só. A nós, o desenho agrada de imediato. O acesso à moto é fácil e rapidamente nos sentimos relativamente confortáveis na boa posição de condução. Provavelmente os generosos poisa pés podiam ser colocados numa posição ligeiramente inferior. 

Foto: Gonçalo Fabião

A protecção aerodinâmica é apenas suficiente (ecrã com regulação manual fora da moto) e um banco mais confortável também seria bem-vindo, detalhes seguramente a melhorar em futuras versões. Notem que um banco mais fofinho e que todavia eleva a altura ao solo para os 850mm está disponível como extra

MOBILIDADE E AVENTURA 
O som do monocilindro é inconfundível e remete-nos imediatamente para um passado glorioso, onde motos desta tipologia corriam o mundo. Tal como no samba de Jobim, “outras notas vão entrar, mas a base é uma só” e rapidamente nos apercebemos ainda na cidade que aqui estamos perante uma solução de mobilidade tal a agilidade com que a 650 DSX - mesmo com malas laterais – galga terreno e se deixa parquear.

Foto: Gonçalo Fabião

Fora da urbe rapidamente confirmamos os primeiros sinais positivos. A Voge 650 DSX adora as ondulantes estradas nacionais. A suspensão responde com conforto e eficácia às irregularidades do asfalto e a travagem é doseável e sem nota de reparo. Quando o asfalto termina os Scorpion Rally STR mantêm a sempre surpreendente eficácia e, outra boa surpresa, a suspensão não claudica aos abusos. Temos claramente moto. Uma verdadeira trail de condução fácil e divertida em outro piso que não o alcatrão e que nos pode levar nas asas da aventura até onde a nossa capacidade de pilotagem nos conseguir fazer chegar - boa posição de condução também apeado fora do asfalto 

MOTOCICLISMO AQUI RIMA COM SOLUÇÃO E ECONOMIA 
Ágil, fácil, segura, robusta e até, na nossa opinião, bonita mesmo. O equipamento de serie é interessante - iluminação integral em LED, painel de instrumentos em TFT a cores com sensor crepuscular - aprendi esta na televisão recentemente :) - ligação Bluetooth para emparelhamento de um telefone esperto, descanso central e porta-bagagens. 

Foto: Gonçalo Fabião

Como opção a marca oferece boas malas de alumínio e respectivos suportes, o que eleva a capacidade de transportar bagagem para uns incríveis 100 litros de tralha – o valor PVP é de 1.200 euros para o conjunto (malas e suportes) todavia ainda em fase de lançamento existe promoção e um preço muito interessante de 650 euros. 

Foto: Gonçalo Fabião

A verdade é que em bom rigor, enquanto mono, a Voge 650 DSX não encontra rival. A eficácia e capacidade de divertimento surpreendem. Há vibrações, obviamente. É um mono, sublinhamos. Todavia não chegam a ser incomodativas desde que não sejamos parvinhos a rodar a fundo numa qualquer autoestrada, viagem desprovida de valor e sentido.

Foto: Gonçalo Fabião

Eficácia também no consumo, com a 650 DSX a exigir menos de quatro litros de líquido inflamável doirado por cada cem quilómetros de regresso a um analógico passado, solicitando a marca uma transferência bancária de 7.345€ para que possam levar uma vermelhinha destas pelos caminhos da vossa vida.

4 comentários:

  1. Mais uma excelente análise Pedro. Só os kilitos a mais é que mancham um pouco a bela fotografia desta mota. Um abraço.
    Polluxrider

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  2. Agora, estou confuso! Depois deste brilhante depoimento, já não sei se vou ter paciência para esperar pela, 525 dsx. Afinal também pode ser conduzida com cata A2. Creio que a minha filha vai ficar feliz com a troca. Abraço

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