Multistrada. Que é como quem diz em português, multi estrada. Multi vem do velho latim e exprime a noção de pluralidade, o maior número possível. Uma multidão, até. Estrada também deriva da velha língua morta e como bem sabemos é um caminho que atravessa determinada extensão territorial, ligando dois ou mais pontos, percursos através dos quais os veículos transitam.
Foto: Gonçalo Fabião |
Em 2003, faz agora precisamente dezoito anos, nasceu uma moto pensada, desenhada e construída com o objectivo de ligar o maior número de percursos possíveis. A infância até pode nem ter sido fácil, pois a “criança” apesar do apelido não terá nascido em berço de ouro. Já a educação foi de filigrana e a adolescência naturalmente irreverente.
É verdade, o tempo passou e a Ducati Multistrada chega assim à maioridade, entrando na idade adulta, sendo esta a fase mais activa e produtiva da vida - pelo menos para nós seres humanos. Curiosamente, a nova Multistrada está consensualmente mais madura, sensual e até inteligente. Uma verdadeira Deusa: sedutora, enérgica, hedonista.
HARDWARE E SOFTWARE DE REFERÊNCIA
Este ESCAPE não vai perder muito tempo com a forma e sim investir no conteúdo. A Multistrada da idade adulta é construída a partir de uma ideia de motor, o denominado V4 Granturismo - 170 cv e 125 Nm para cerca de 243 Kg com depósitos cheios. A electrónica tem um papel determinante e muitas soluções são inspiradas na competição de alto nível. Contem com modos de condução e com uma unidade de medição de inércia que auxilia na travagem em curva, controla o excessivo natural levantar inusitado da roda dianteira e ainda segura a moto em situações perversas activando o Vehicle Hold Control (VHC), oferecendo assim arranques mais fáceis, sobretudo em planos inclinados.
Foto: Gonçalo Fabião |
Até aqui nada de muito épico. Mas a Multistrada 2021 inscreve o seu nome a ouro na história do motociclismo ao se atrever a estrear, em motos de produção, o sistema de duplo radar (frontal e traseiro) que permite ao condutor desfrutar de ajudas fundamentais à condução como são os casos do cruise control adaptativo e da deteção do denominado “ângulo morto”. Confesso: fiquei rendido de forma instantânea a todo este admirável mundo novo. Princípios de segurança são sempre muito bem-vindos ao motociclismo. E neste caso serão – já estão, aliás – seguidos por outras marcas. Vamos pois ao que verdadeiramente importa, respondendo à questão, mas afinal ao que tudo isto sabe, oh ESCAPE?
CIRCULATURA DO QUADRADO
A Ducati Multistrada V4 S apresenta desde o primeiro momento uma leveza surpreendente. Parada, move-se com ligeireza e isso induz confiança imediata. A posição de condução é neutra, o que amamos. Na cidade em modo “urban” a moto flui surpreendentemente como se de uma média cilindrada se tratasse. Na estrada o modo “Touring” – aquele que mais usamos – revela afirmação e personalidade para as longas tiradas. Quando a estrada torce accionamos o apimentado modo “Sport” e aqui tudo acontece: a Multistrada revela toda a sua natureza de apaixonante super desportiva de referência apesar da sua arquitectura ser de Maxi Trail. E quando o asfalto termina? A tal pluralidade de caminhos de que vos falamos no início deste texto, e que está patente na nomenclatura desta Ducati, revela todo o seu esplendor. Ou seja, a tal super desportiva de aspectos trialeiro também se afirma em modo "Enduro" numa eficaz moto de qualidades “camperas”.
Foto: Gonçalo Fabião |
Obviamente motor e respectiva electrónica não vivem sós. Tudo aquilo é suportado por um sólido mas leve quadro em alumínio, suspensões semi-ativas Marzocchi orientadas pelo sistema Ducati Skyhook Suspension (DSS), travagem Brembo Stylema - com o disco traseiro a funcionar com uma eficácia soberba o que muito agradou este vosso “patudo” ESCAPE.
SONHO ALPINO
O terreno desta Ducati Multistrada V4 S é sem dúvida a aventura, em sentido lato. Uma aventura ecléctica e global. Nesta prova ficámos a sonhar levar esta moto por essa europa fora até encontrar uma entrada alpina. E aí ficar dias a fio a subir, descer e subir e descer uma e outra vez cols, passos e afins. É essa, a alta montanha em modo sport turismo, a derradeira fronteira desta avassaladora italiana.
Foto: Gonçalo Fabião |
Mas notem que o prazer tem um preço. Objectivamente não conseguimos aqui encontrar aspectos menos positivos e mesmo a jante dianteira 19’, não sendo consensual é, para nós, muitíssimo satisfatória.
Já quanto ao consumo não podemos dizer o mesmo sendo mesmo communis opinio doctorum – já há muito tempo que não vos oferecia uma latinada – pela comunicação social europeia que os sete litros do combustível - feitos a partir do sumo do dinossauro - gastos são uma factura a ter em conta.
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Há quem defenda que esta Ducati Multistrada V4 S é a melhor moto de estrada de sempre, sendo, neste momento, a derradeira moto sport-turismo. Não sabemos. Não conhecemos todas. Sabemos sim que estamos perante mais do que uma alternativa absolutamente credível quando o foco do motociclista é a viagem e o prazer.
A nova Multistrada vem para desafiar e até bater os pontos cardeais do mercado, pedindo a marca italiana uma transferência de 22.195€ para que levem uma versão destas por esse mundo fora.
Foto: Gonçalo Fabião |
NOTA DO ESCAPE
Como todos sabem, faleceu recentemente o nosso querido amigo Paulo Moniz, conhecido por ser a vida do Espaço Rod’aventura. Tive o privilégio de viver cerca de trinta anos com o Paulo sempre por perto. A tristeza é profunda. Se queremos honrar o Paulo só temos de viver o tempo que nos resta como ele sempre o fez: honestidade, paixão e motociclismo. Nesta prova envergo de forma orgulhosa o Scott Prority GTX em GORE-TEX laminado, equipamento pessoal do meu querido Paulo Moniz, que tanto teria adorado conhecer esta moto. Ride in Peace, Meu Querido…
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