domingo, 24 de outubro de 2021

O que é que a nova Honda NT1100 tem?

Bom dia! Bom dia? Sim, bom dia. É sábado e pouco passa das sete horas da manhã quando vos escrevo este texto. Já acordei há algum tempo, fiz a minha rotina matinal incluindo o meu galão escuro e lá fora ainda é noite cerrada. E está fresco. Mas avizinha-se um dia de sol. Hoje e amanhã (ou seja, hoje domingo, quando este texto for publicado). 


Deixei escapar este fim de semana para vocês. Espero que o tenham aproveitado bem. Já eu…, tenho muito que fazer e que escrever. Os últimos dias foram muito intensos e chegou enfim a hora de ficar em frente ao computador, escrever, editar, publicar, partilhar, divulgar, moderar…, que cá na casa deste ESCAPE não existe uma redação. 

Vamos ao que interessa. De facto, os últimos dias foram cheiinhos de motociclismo. Desde logo com a presença na Convenção Ibérica da CFMOTO e da MITT motorcycles, que juntou em Matosinhos e Baltar comunicação e concessionários da marca, para um evento muito especial. Em breve terá o seu devido destaque aqui no vosso blogue de cultura motociclista. 

Estávamos então em Baltar quando nas nossas caixas de correio eletrónico caiu a informação relativa ao press release a revelar a tão esperada “New Touring Era”, que a Honda pretende inaugurar com a NT1100.


O ESCAPE falharia assim a publicação da notícia que rapidamente se espalhava por esse mundo fora. A verdade - passadas que estão apenas algumas dezenas de horas desde a notícia - é que já todos sabem tudo sobre o que é a Honda NT1100. É um dos dramas dos tempos que correm. As novidades nunca viajaram tão depressa e nunca antes como hoje o que é novo passa de novíssimo a velhinho em tão pouco tempo. 

Sucede que apesar de já todos saberem tudo sobre o que é a Honda NT1100, muito poucos pararam para aferir o que não é a Honda NT1100. O que ninguém conhece também é ao que sabe a Honda NT1100. Quanto a este último tema o ESCAPE tem a noticia que a moto será apresentada em breve algures na Europa ao pessoal do costume que nos irá trazer a noticia do costume: “a nova Honda NT1100 é uma moto perfeita para:_________________”. [complete o leitor ao seu gosto]. 

CONHECER O PASSADO
Ora bem…, como os que me conhecem melhor sabem, eu sou uma triste e infeliz viúva da Honda ST1100 Pan-European, a melhor moto que tive (link) – foram dezassete anos de feliz matrimónio – e que provavelmente sempre terei. Assim, quando a Honda fala em nova era do touring…, quase que choro. Quando limpo as lágrimas vou ver melhor e…, é uma NT. E se pensam que NT significa” new tourer” estão muito bem enganados… 


O nome que damos a algo, pessoas e até coisas, é um momento importante. Ao denominar a sua nova moto de turismo de NT a Honda vai ao estranho encontro da Honda NTV 650 (link). Nascida no final dos anos oitenta a NTV 650 – também denominada consoante os mercados de Hawk GT, Bros, Revere - tinha desde logo o ainda mais estranho nome de código RC31. 

Desenhada por Toshiaki Kishi a NTV foi a segunda Honda equipada com suspensão "Pro-Arm" após a notável RC30. Suspensão que aqui se aliava a uma transmissão final por veio. E sabem…, vistas as coisas assim…, será que a NTV 650 de 1988 era mais ambiciosa tecnologicamente que a neófita Honda NT1100? Pergunta inconveniente, não é? 

Monótona, aborrecida, entediante, economia, super fiável e absolutamente eficaz. Tive uma Honda NTV 650, cor preta, de 1994 a 1998, que me ofereceu quase cem mil quilómetros de prazer e aventuras diárias, com destaque para uma viagem aos Picos de Europa e Galiza onde até fora de estrada fez - a dois, carregada com top case, tenda, colchões e um saco de depósito cheio de latas de atum e feijão que mal me deixava ver a estrada. Outros tempos… 


Ah…, quase me esquecia. Notem ainda que a muito apreciada em Portugal Honda Deauville nasceu em 1998 como NT650V e cresceu como NT700V, num total de três gerações que fizeram as delícias de muitos motociclistas portugueses até 2013.

COMPREENDER O PRESENTE 
Já agora vamos ouvir a marca. Diz Koji Kiyono, principal responsável do projeto NT1100: na Honda, temos uma já longa tradição de ouvir os proprietários dos nossos modelos e percebemos que estes queriam uma moto de turismo "tradicional". Os nossos modelos anteriores, as Pan-European e as Deauville tiveram sempre seguidores muito leais ao longo dos anos. Por isso, quando chegou a altura de conceber um novo modelo de turismo, quisemos produzir algo que tivesse impacto, com eco no passado - e que também tivesse una atracão bastante ampla - exactamente para os clientes de motos tradicionais de turismo. Mas também quisemos chamar a atenção e despertar o desejo dos condutores de todas as idades e gostos, que procuram uma moto divertida, genuinamente nova e versátil. Foi por isso que criámos a NT1100, com performances totalmente modernas, uma plataforma divertida e fácil de usar, um conjunto de tecnologias modernas e um estilo distinto e totalmente novo

Mais importante do que aqui vai dito por Koji Kiyono importa entender o que não vai dito. Repito, se pensavam que NT significa ”new tourer” estão muito bem enganados. A Honda não esconde ao que vem (só não vê quem não quer ver) procurando apenas a monotonia da eficácia na nova NT1100. E procura sobretudo - para enorme pena minha - afastar-se, provavelmente enterrar para sempre, a sigla ST e tudo o que ela significou (choro compulsivo). 


Em bom rigor, esta NT apesar de ser uma moto totalmente nova não partiu propriamente de uma folha em branco e isso, como bem sabemos nem sempre são boas notícias. Sucede que a base da NT é solida. São meia dúzia de anos a desenvolver e aperfeiçoar a CRF 1100L. A Africa Twin, moto de inegável capacidade e sucesso, está no ADN da nova NT. 

Surpreendentemente – e aqui os copiadores de press releases claudicaram deixando a ideia de não entenderem nada do que se passa à sua volta - o destaque da NT vai para as suas jantes 17. É um fortíssimo sinal de que a NT pretende ter sangue na guelra e ser divertida quando a estrada torce. Ao afastar a jante 19 na dianteira, a Honda tenta dar um pontapé na tal monotonia da eficácia. E isso é bom!

FALHAR O FUTURO
No entanto algo incomoda o viajante. Tive problemas com esse resquício do século XIX denominado transmissão final por corrente na última viagem grande que fiz com a minha CRF 1000. Saí de Lisboa com a corrente absolutamente perfeita, mas aquela foi dando sinais que afinal já estava em fim de vida, tendo de ser afinada pelo caminho, primeiro na Calábria depois na Sicília e mais tarde na Sardenha. Quando chegou a Lisboa, após esta apenas normal viagem pelo mediterrânico, a transmissão final estava absolutamente destruída. Transmissões finais por corrente numa moto que se pretende turística são uma aberração. Não há outra forma de dizer isto com mais urbanidade, vá… 


Sabem o que eu penso muito honestamente? Com esta NT1100 a Honda não está a vender uma moto mas sim uma ideia de moto. E nisto a marca tem sido eximia nos últimos anos. Por exemplo…, quantos dos proprietários da Africa Twin a colocaram realmente fora de estrada? E já agora, quantos não acabaram por comprar uma CRF 250 por ser uma moto onde todos podem verdadeiramente desfrutar do prazer de um belo passeio fora do asfalto? 

Duas notas finais. Primeiro para saudar a presença de origem de um sistema de anti levantamento da roda dianteira (anti-wheeling) com 3 níveis de controlo – algo que os mais atentos notaram me fez muita falta numa moto que vai directamente concorrer com esta, a Kawasaki Versys 1000 de que tanto gostei. 

Segunda e última nota final para sublinhar que existem três packs de acessórios disponíveis (onde todos os itens podem ser adquiridos em separado). A saber: URBAN com Top case de 50 litros com bolsa interior, encosto conforto para a top case e saco de depósito com 4,5 L; TOURING com bancos e poisa-pés conforto para condutor e passageiro e faróis de nevoeiro e enfim o VOYAGE que combina os dois anteriores.


A nova era do Touring não o é por si própria. A nova era do Touring não o é para todos certamente. O que fica para todos não será a viagem e sim o sonho da e com a mesma. Ou então…, provem-me apenas que estou errado. E deixem-me entender que esta moto com as cores dignas da tal perfeita monotonia eficaz, inaugura de facto um novo tempo para o turismo de moto.

6 comentários:

  1. Olá.
    Cada vez estou mais satisfeito com a minha 1100, ST claro...
    Abraço.

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  2. Tenho uma ST 1300 com 17 anos e 140.000 kms.
    Este verão levou-me e trouxe-me da Turquia. Zero problemas, apenas prazer, conforto e confiança.
    Ainda não me parece que a vá trocar.....

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  3. Também foi o meu pensamento imediato quando divulgaram as primeiras imagens "...Uma nova turística com corrente?!.."

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  4. "O grande destaque vai para a roda 17".....quando falta tudo o resto (assim o diz a concorrência)
    Mais uma Honda....com muita parra e pouca uva ��

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  5. Bom na verdade a transmissão por corrente trouxe-te ao fim da viagem. Acho que a unica vantagem do veio de transmissão é não ser necessário andar com lubrificante atrás e nao sujar a roda. Imagina a corrente partir, em qq oficina de vão de escada se pode reparar, e o veio de transmissão partido no cu de judas?. E já agora para quem diz que a NT não serve qual é a moto que oferece as mesmas características pelo mesmo preço. Abraço.

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    1. Caro Anónimo..., em lado algum escreveu o ESCAPE que a NT não serve. E ficamos satisfeitos que esta moto da Honda gere paixão e discussão. Bom sinal!!

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