domingo, 11 de novembro de 2018

A estrada, a moto e o telefone esperto – Estrada Nacional 4


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“O ministro do Planeamento e das Infraestruturas, Pedro Marques, inaugurou hoje a Estrada Nacional 4, entre a EN118, no Montijo, e a intersecção com a EN10, em Pegões (…)”, podemos ler aqui (link) numa noticia do DN do passado dia 16 de Julho.

Não! Não é gralha ou graçola. É mesmo verdade. Um qualquer ministro do actual governo decidiu inaugurar algo plasmado no Plano Rodoviário Nacional de 1945 (link) e que já foi inaugurado - e está em funcionamento - há mais de 70 (setenta!!) anos. De facto, é preciso ter uma lata, digamos, do caraças. Mas é assim que a presente classe política olha para velha Rede de Estradas Nacionais: demagogia feita à maneira com uma mão cheia de trocos. 

O projecto original da Estrada Nacional 4 (N4) incluía uma ponte sobre o Rio Tejo, de forma a ligar directa e rapidamente Lisboa ao Alentejo e à fronteira do Caia, perto de Badajoz. Essa ponte, presumivelmente entre o Beato e o Montijo, nunca foi construída e a estrada começa hoje algures na Rua Vasco da Gama no Montijo, curiosamente não muito longe de onde começa a estrada seguinte, a Nacional 5. 

Sem ponte na zona oriental de Lisboa, “ir a Badajoz” implicou durante muitos anos “dar a volta” por Vila Franca de Xira. Assim, a nossa Nacional 4 nunca chegou a cumprir a função para a qual foi construída. Todavia, desde 1998, com a abertura da Ponte Vasco da Gama, a N4 ganhou nova vida. Conforme “acordou”, rapidamente se degradou com os novos fluxos e o aumento exponencial de trafego. Vamos então viajar um pouco rumo a Espanha… 

O troço agora reparado (e não inaugurado, como a imbecilidade politica afirma) entre o Passil e Pegões é pitoresco, marcado pelo montado e pela vinha, mas vagamente interessente. Dali até Vendas Novas o registo é idêntico e outro mistério me assalta: como é que esta estrada “sempre a direito” pode ser afamada entre motociclistas que procuram uma simples bifana? Cenas nossas… 

Ao deixar Vendas Novas, a enorme vinha que encontramos do lado esquerdo anuncia outra paisagem. A troca dos solos arenosos por solos mediterrânicos e xistosos indicia espaços mais abertos. Depressa chegamos a Montemor-o-Novo e cumprimentamos a Nacional 2 (link). Depressa chegamos, depressa partimos, e os quilómetros passam sem grande história na N4 até Estremoz, esta sim, merecedora de outra atenção. 

No entanto a grande surpresa estava mesmo guardada para o fim. Já tinha passado dezenas de vezes em Elvas mas, estanha e incrivelmente nunca tinha visitado o seu encantador centro histórico.

Às portas de Espanha, Elvas foi a mais importante praça-forte da fronteira portuguesa, em tempos considerada a cidade mais fortificada da Europa, tendo sido por isso cognominada "Rainha da Fronteira". O que ainda poucos sabem é que esta cidade raiana alberga o maior conjunto de fortificações abaluartadas do mundo, as muralhas de Elvas, as quais, em conjunto com o centro histórico da cidade, são Património Mundial da Humanidade, título atribuído pela UNESCO a 30 de Junho de 2012. 

O sítio classificado, a denominada Cidade-Quartel Fronteiriça de Elvas, inclui grandes casernas e outras construções militares bem como igrejas e mosteiros. Enquanto Elvas conserva vestígios que remontam ao século X, as suas fortificações datam da época da restauração da independência de Portugal em 1640. Muitas das edificações, desenhadas pelo padre jesuíta neerlandês João Piscásio, representam o mais bem conservado exemplo de fortificações do mundo com origem na escola militar holandesa. 

Visitada Elvas é tempo de partir. Apesar de desclassificada entre Vila Boim e Caia, a N4 termina, em bom rigor, nesta última pequena localidade vizinha da espanhola Badajoz. Onde outrora se comprava caramelos agora enche-se o depósito de gasolina. E regressa-se… 

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Quem, o quê, onde, como, quando e porquê – não necessariamente por esta ordem… 


A Estrada Nacional 4 (N4), também conhecida por “Estrada do Alentejo Central”, tem o seu início algures no Montijo - apesar do primeiro vestígio da mesma só surgir com um marco novo ao quilómetro dezanove - e términus entre Elvas e a pequena localidade fronteiriça de Caia. A N4 foi por este ESCAPE percorrida no sentido poente-nascente, no feriado de 1 de Novembro, Dia de Todos os Santos, aos comandos de uma Honda GL 1800 Gold Wing 2018 Tour DCT, cujos seis cilindros gastaram uns simpáticos 5,8 litros de gasolina por cem quilómetros de paisagem outonal alentejana desbravada. A N4, é credora do nosso respeito, especialmente do Estado, mas dispensa que lhe rescrevam a história. Cruza vinhas premiadas e cidades plenas de património. Como noutros cassos (por exemplo este – link) o seu potencial turístico está absolutamente desbaratado.

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