segunda-feira, 19 de novembro de 2018

A estrada, a moto e o telefone esperto – Estrada Nacional 5

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“We're on a road to nowhere, come on inside / We'll take that ride to nowhere, we'll take that ride / Feeling ok this morning, and you know / We're on a road to paradise, here we go, here we go”. 

Foi numa madrugada de final de Setembro, aquele Setembro quente e seco como um Setembro nunca tinha sido antes. Planeei a saída de casa de modo a assistir ao nascer do sol enquanto cruzava para sul a Ponte Vasco da Gama. Assim foi. O espetáculo estava garantido à partida num daqueles momentos que nos fazem sentir vivos. O destino do dia era uma estrada para lado nenhum. E o refrão cantado em 1985 pelo genial David Byrne, e tocado pelos seus Talking Heads, não me saía da cabeça…, “here we go, here we go”… 

A Estrada Nacional 5 (N5), não é uma estrada qualquer. Planeada para ligar o Montijo à Estrada Nacional 2 no Torrão (Alcácer do Sal), na realidade, a poucos quilómetros do Torrão, a estrada deriva para a Barragem de Vale do Gaio, também conhecida como barragem Trigo de Morais, aí terminando. A continuação da estrada entre a derivação para a barragem e o Torrão foi classificada como ramal EN 5-2. 

Abandonados os primeiros vestígios da nacional 5 na zona do Montijo, a estrada mergulha rapidamente numa sequência de rectas demasiado rápidas entre vinha e montado. Uma paisagem bucólica que nos faz esquecer que ainda há minutos abandonávamos o bulício lisboeta. 

Esta primeira secção da estrada termina em Águas de Moura. Aqui a N5 abraça a Nacional 10, outra estrada curiosa dos arredores e Lisboa para conhecer mais além. Depois deste breve cumprimento surge uma segunda secção descaracterizada e desinteressante, onde a N5 surge travestida de IC1, a antiga “estrada do (para o) algarve” para amigos e conhecidos. 

Chegados à velha Alcácer do Sal - uma das mais antigas cidades da Europa, fundada antes de 1000 a.C. pelos fenícios; invadida pelos árabes, tomou o nome de Qasr Abu Danis; durante o domínio árabe, foi capital da província de Al-Kassr; D. Afonso Henriques conquistou-a em 1158 – a estrada regressa ao seu perfil original e não mais perde de vista a água. Primeiro o Sado e enfim a Albufeira de Vale do Gaio alimentada pelo pequeno Rio Xarrama. 

Ali chegados a Estrada Nacional 5 termina despida de honra e glória num estradão que segundo os entendidos nesta matéria do fora de estrada liga mais a sul com a Nacional 2. 

Todavia, não se deixem enganar por este final abrupto. O asfalto dá lugar à terra mas a paisagem envolvente é digna de oásis; surpreendentemente tranquila, mesmo luxuriante. Afinal, tal como na apaixonante canção dos anciões Talking Heads, a estrada para lado nenhum é mesmo uma estrada para um pequeno paraíso. Já aqui ao lado… 

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Quem, o quê, onde, como, quando e porquê – não necessariamente por esta ordem… 


A Estrada Nacional 5 (N5), não é mas podia muito bem ser conhecida por “Estrada para Nenhures”. Em bom rigor esta estrada pura e simplesmente não existe, é neste momento absoluta “ficção científica”, pois nenhum dos seus troços se encontra integrado na Rede Rodoviária Nacional. Com boa vontade podemos encontrar, durante cerca de 90 quilómetros, vestígios do que foi no passado esta estrada, com início na Rua Vasco da Gama no Montijo, terminando a “aventura” da arqueologia estradal num estradão do lado sul da Barragem de Vale do Gaio. A N5 foi por este ESCAPE percorrida no sentido Norte-Sul, no fim do mês Setembro de 2018, aos comandos de uma BMW F850 GS que gastou 4,3 litros de gasolina por cem quilómetros de surpresa e descoberta. A N5, ou o que dela sobra, é credora do nosso respeito, especialmente do Estado, que em bom rigor nunca a terminou; o projecto inicial visava liga-la à famosa Nacional 2, permitindo assim um rápido acesso das populações do Alentejo profundo à zona a sul de Lisboa. Hoje a N5, conjugada com a N2 (link) e a N4 (link), oferece um surpreendente passeio pelo Alentejo próximo da Região de Lisboa.

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