segunda-feira, 1 de outubro de 2018

A estrada, a moto e o telefone esperto – Estrada Nacional 2


portugal estrada nacional 2 honda crf1000l africatwin n2 lesalesA Estrada Nacional 2 (N2) não é uma estrada qualquer. Há mais de dois milénios que se conhecem escritos, ora grandiloquentes, ora insignificantes, referentes ao conjunto de caminhos hoje conhecido por N2. Quando o Império Romano se estabeleceu naquilo que hoje conhecemos por Portugal, foram abertas inúmeras vias que coincidem com aquilo que é hoje a N2. Após a “longa noite” da Idade Media, o sentido de viagem estradal só se recupera em meados do século XIX. Todavia, a atual N2 é o produto de um projeto político-económico do Estado Novo, plasmado no Plano Rodoviário Nacional de 1945. 

Apesar de ser a “dois” os números impressionam. Os seus cerca de 738 quilómetros cruzam onze distritos outros tantos rios, trinta e quatro municípios e…, zero pórticos de portagem. É a mais longa estrada portuguesa, rivalizando mesmo em comprimento com muitas e belas estradas por esse mundo fora. Mas é também a estrada da moda. 

Comecei a viajar de mota em 1992. E não me recordo, nesses tempos, que ligássemos qualquer tipo de importância especial à N2. Mais tarde, no virar do século e do milénio, aparece o Trofeu Nacional de Moto Ralis Turísticos. E também não me recordo que existisse um foco especial nessa estrada. Não consigo pois identificar o tempo em que nasceu a “febre N2”. 

Salvo honrosas exceções, que não são para aqui chamadas, sou avesso a “febres” e unanimismos. Assim, durante algum tempo, olhei com algum desprezo o folclore que se foi construído ao redor da N2 – um exemplo: apelidar a N2 de “Route 66 portuguesa” é não ter noção do que foi e representou a “Route 66” para o povo norte-americano, do zero absoluto que ela é hoje e, acima de tudo, do que é ser português. Seria pois mais inteligente apelidar a N2 de “Ruta 40 portuguesa”, mas para tal os “wannabe” que escrevem essas coisas teriam de saber onde é e o que significa a tal “Ruta nacional 40”. Adiante… 

Ao longo da vida já me cruzei inúmeras vezes com a N2, muitas delas sem saber que era dela que se tratava. Como sou um ser social e curioso, não sou imune a “febres” e “folclores”. Tinha de encontrar uma bela desculpa para calcorrear a “mítica Estrada”, como lhe chamam os “vendilhões do Templo”. Este (link) possível best-off de Portugal Continental, das suas estradas, montanhas, planícies e praias, pareceu-me o momento adequado. Estava encontrada a desculpa.

Hoje não é difícil encontrar roteiros mais ou menos pormenorizados sobre a N2. Há quem consiga escrever centenas de páginas sobre o tema, livros inteiros. E há até quem se disponibilize a fazer “visitas guiadas”, agências de viagem, imaginem. Sorrio…, infelizmente não tenho tempo para passar mais de dois dias a percorrer o interior do país. Ele há tanto caminho a percorrer por esse mundo fora. E o tempo, já sabemos, é o maior dos luxos. Uma coisa vos garanto: não é aqui, no ESCAPE, que vão encontrar a derradeira e imperdível história da “espantosa e espectacular” “épica”, “colossal”, “divinal” e “imperdível” N2-Route-66-portuguesa. 

Apesar de não ser de modas, fiz-me à estrada e encontrei na N2 uma absoluta experiência. Encontrei mais. Encontrei uma bela metáfora da vida, no sentido em que cada qual dela traz o que bem desejar. A N2 não é a “Route 66 portuguesa” nem a tal estrada “mítica” ou “mágica” de que tanto por ai se fala hoje. A N2 é o que é; e é bem real. Tem caracter e personalidade. Tem mesmo brilho próprio, valendo por si mesma. 

Mas a N2 é também neste momento uma oportunidade perdida. Desde logo uma oportunidade perdida no plano da exploração turística. Neste sentido tudo está por fazer, nomeadamente recuperá-la e embrulhá-la no papel de “Estrada Histórica” que é, como tão bem fazem os países anglo-saxónicos – sempre sem esquecer que está lá, em primeira linha, para servir as populações e o seu bom desenvolvimento económico e social. 

Apenas adorei fazer a N2, percorrendo de fio a pavio o interior de Portugal. Tão bom. Quero voltar. E quero já! 

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Quem, o quê, onde, como, quando e porquê – não necessariamente por esta ordem… 

A Estrada Nacional 2 (N2), também conhecida como “A Estrada Mais Longa”, apesar de alguns “génios” da nossa Administração a terem reclassificado, desclassificado e até retalhado nalguns sectores, “rasga” Portugal pelo interior, de Norte a Sul, de Chaves a Faro durante cerca de 738 quilómetros. Foi pelo ESCAPE percorrida no final de Julho de 2018, aos comandos de uma Honda CRF1000L DCT que gastou 5,5 litros de “ouro inflamável” por cada cem quilómetros de absoluta experiência. A N2 é credora do nosso respeito, especialmente do Estado, devido ao seu valor histórico – as suas mais antigas raízes datam de tempos imemoriais – mas também devido ao seu elevado potencial turístico que conduzirá ao desenvolvimento económico das populações de algumas regiões interiores do país, tradicionalmente olvidas pelo clássico e latente centralismo lisboeta.

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