segunda-feira, 22 de fevereiro de 2021

Aprilia RS 660 à prova

Nicho. Cavidade aberta em parede. Divisão de estante. Área restrita para ser apropriada por determinada coisa. Parcela de mercado composta por um público com necessidades específicas que, regra geral, ainda são pouco exploradas ou mesmo inexistentes. Foi aqui que a Aprilia quis chegar com esta deslumbrante RS 660. Ocupar um espaço. Mais do que isso: criar um espaço novo. 

Foto: Gonçalo Fabião

Se olharmos para um mercado de motociclos desenvolvido como o é o mercado francês - referência europeia e mundial - observamos que a moto mais vendida no passado ano de 2020 foi a popular 1250 GS-GSA da BMW que somou exactamente 5596 unidades vendidas. Por outro lado, olhando para o nicho das desportivas de média cilindrada (excluímos portanto as Hypersport de mil – plus - centímetros cúbicos) vemos que o top-3 das motos mais vendidas foram a Kawasaki Ninja 650 (757 unidades), Honda CBR 650 R (643) e Honda CBR 500 R (419). Mesmo num mercado como o francês o top-5 deste nicho vendeu cerca de 2500 unidades. É neste espaço que a Aprilia julga ter encontrado uma oportunidade. 

DON´T BELIEVE THE HYPE? 
Assim que a RS 660 começou a ser provada por essa Europa fora, um hype em torno da moto começou a agigantar-se: compacta, ágil, ergonómica, eletrónica de topo, uma absoluta referência, dizia-se. Seria mesmo assim? E fará sentido procurar afirmação num espaço que até em mercados evoluídos encontra dificuldade nos tempos que correm? Terá ido a Aprilia longe demais? 

Foto: Gonçalo Fabião

A Aprilia RS 660 começa a fascinar ainda quieta e sossegada. Trabalho, geometria, beleza e até sensualidade é o que encontramos quando a nossa vista cruza a pequena italiana pela primeira vez. Depois da visão e do tacto nos remeterem imediatamente para a luxuria da pista, ouvindo e cheirando o resultado do bicilindrico (100cv, 67Nm) a trabalhar - ampliado pelo Akrapovic Racing Line Carbon que equipava enquanto extra esta unidade de prova -, os sentidos inebriam-nos e remetem-nos de imediato para um cenário de ambiente controlado como só uma pista nos pode oferecer. 

DIMENSÃO HUMANA
Sabendo não ser possível provar a RS em pista, há que ter bom senso para procurar critérios de urbanidade na condução desta moto: abandonar a cidade, procurar espaços vazios onde a estrada nos convide à condução com prazer e consequência. Os primeiros quilómetros ainda em cidade rapidamente revelam a realidade. Uma moto compacta, muito ergonómica, fácil e divertida. A posição de condução é um dos segredos mal escondidos desta Aprilia. A geometria e sensualidade das linhas da moto escondem um conforto próprio de uma sport turismo. 

Foto: Gonçalo Fabião

Avanços ligeiramente elevados, posição das pernas aceitável, protecção aerodinâmica satisfatória e banco “fofinho”, concorrem para fazer desta uma moto com dimensão humana que rapidamente injecta confiança até a indivíduos como eu que apesar da paixão pelo motociclismo nunca foram adeptos do admirável mundo das desportivas. E cuja cervical já não permite aquela posição de condução “torcidinha” de outros tempos. 

ENGENHARIA OU RELOJOARIA? 
Dinamicamente tudo é glorioso. A leve dupla trave em alumínio utiliza o motor como elemento da sua estrutura sendo o braço oscilante assimétrico acoplado directamente a este - 183kg em ordem de marcha. 

Foto: Gonçalo Fabião

A ciclística é tão mais sólida quanto mais provocada é. Sentirmos unidade e harmonia em todo o conjunto em especial em curva e quando se abusa da inclinação. O motor revela vida desde cedo e gosta de ser empurrado para regimes elevados onde nos oferece toda a sua barbara natureza. 

Foto: Gonçalo Fabião

O conjunto é temperado pela unidade de medição de inércia interpretada pela Aprilia com o pacote aPRC que inclui miminhos tais como três modos de condução para estrada (um personalizável) e mais dois para pista (também com um personalizável), um quickshift delicioso, travagem (poderosa e eficaz) com função de auxílio em curva e um providencial sistema anti levantamento da roda dianteira que até a mim me espantou pela sua utilidade. 

Foto: Gonçalo Fabião

Não é fácil encontrar aspectos a melhorar. O satélite de comandos junto ao punho esquerdo deve ser revisto para, por exemplo, não andarmos sempre a ligar os máximos indevidamente. A navegação nos menus também pode ser mais intuitiva. 

DIAS DE SONHO 
A Aprilia RS 660 ofereceu-me dias de sorriso aberto e momentos absolutamente adrenalizantes. Fez-me sonhar com intensos dias de pista. Mas esta moto é muito mais do que uma mera desportiva. E cria mesmo um espaço novo no motociclismo. 

Foto: Gonçalo Fabião

Tentando responder às questões que vos deixei no início deste texto, julgo que a Aprilia acertou em cheio na busca de uma moto afiada e de consequência. Versátil, no sentido em que se afirmando enquanto desportiva pelo seu desempenho se aproxima de uma sport turismo, podendo ser utilizada no dia-a-dia e também num passeio de fim-de-semana mais atrevido com os rapazes e raparigas. 

Foto: Gonçalo Fabião

Por tudo isto - uma moto que pode ir pelos seus próprios meios para o sempre intenso ambiente de autódromo e no final do dia regressar em conforto a casa com a alma cheia de prazer - a Aprilia solicita por esta Apex Black um cheque de 11.650€, tendo a RS 660 reclamado pouco mais de quatro litros e meio do tal líquido inflamável que nos é tão querido, por cem quilómetros de deslumbre.

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