segunda-feira, 22 de março de 2021

Suzuki V-Strom 650 XT à prova

Junho, não me recordo do dia, ano de 1997. Tínhamos saído de Lisboa de madrugada e quando paramos pela primeira vez, quase na Guarda, eu estava cheio de frio - ainda não havia Gore-Tex no meu pelo - e fome. Não eram dez da manhã e já comia o almoço que tinha levado num saco de depósito que, pesado e cheio de tralha, alterava o equilíbrio da frente da moto. 

Foto: Gonçalo Fabião

O destino era Puebla de Sanabria, já em Espanha, pouco a norte do nosso Parque Natural de Montesinho. Todavia, não sei bem por que raio, da Guarda rumei para Miranda do Douro e não para Bragança como devia. Já que ali estava, tive de me bater com uma bela e deliciosa posta à maneira antiga, com batata assada a murro, num restaurante recomendado por um “senhor” polícia – notem que à época não havia internet móvel.

Depois de almoço, num tempo glorioso onde não havia os aborrecidos e teimosos dispositivos electrónicos de navegação, cometi um dos maiores erros de leitura de mapas da minha vida. Por outras palavras, estava tão feliz com aquela primeira viagem ibérica que teria como destino os Picos de Europa e a Galiza que me deixei ir ao sabor da estrada e do vento. E apenas quando estava quase em Zamora é que me apercebi que o rumo Sanabria era só cento e oitenta graus ao lado, mais coisa menos coisa. 

Foto: Gonçalo Fabião

Viajar de moto é isto. Um festim para os sentidos. Uma orgia de emoções que deixa memória passados tantos anos. A minha companheira - desta que foi a primeira aventura de moto fora de portas durante qualquer coisa como dez dias ou mesmo duas semanas - foi uma Honda NTV 650 com a qual fiz perto de cem mil quilómetros entre 1994 e 1998. Muito recordei as histórias com ela vividas durante os dias em que tive esta Suzuki V-Strom 650 XT, carinhosamente baptizada de “Bumblebee” pelo sempre criativo Gonçalo Fabião - que mais uma vez vos oferece as imagens que acompanham estas letras.

JOVIAL, SIMPÁTICA E SOCIÁVEL 
Ao escrever este texto e ao me recordar do carinhoso nick name que o Gonçalo deu à Suzuki, de facto notei que Bumblebee - o célebre e jovial robô alienígena capaz de se transformar em veículo e arma, presente em várias versões dos Tansformers - é, fisicamente, um dos mais pequenos e mais fracos Autobots. Todavia a sua estrutura permite-lhe fazer desempenhos que seriam impossíveis para a maioria desses mesmos Autobots. Bumblebee é, por exemplo, o espião furtivo dos Autobots. Ele até poder ser pequenote, mas é bravo e corajoso. É certamente um dos Autobots mais queridos e fofinhos de todos, o que também o torna um dos mais respeitados. O tamanho e personalidade do Bumblebee colocam-no como o Autobot com mais facilidade para fazer amigos entre os seres humanos. 

Foto: Gonçalo Fabião

Tal como a NTV 650 que me fez sentir vivo já há muitos anos, esta V-Strom 650 XT é uma moto frugal construída a partir de um motor “em fisga” (645cc, 71 CV, 62 Nm) e de um quadro dupla trave, neste caso em alumínio. E tal como o simpático Bumblebee, esta Suzuki é querida e respeitada por muitos motociclistas.

SÓLIDA, SIMPLES E EFICAZ 
Antes do dinamismo, apreciamos a moto parada. A estética é discutível e isso é bom. O ESCAPE gosta de motos que marcam a paisagem. É o caso. A V-Strom 650 XT, com a sua frente trabalhada onde se destaca uma espécie de “bico de pato”, chama a atenção por onde passa. E existem detalhes esteticamente desagradáveis como são, por exemplo, os espelhos retrovisores. Apesar de muito eficazes parecem pertencer a um camião de generosas dimensões e não a uma moto fofinha. Bumblebee…, se calhar o Gonçalo tem razão… 

Foto: Gonçalo Fabião

As primeiras sensações com a Bumblebee são as melhores. Manobrar a moto parada é muito fácil e a acessibilidade ao posto de condução excelente. Devido à configuração do conjunto banco/depósito chegar com os pés totalmente ao chão é simples e induz confiança instantânea nos sempre complexos primeiros momentos com uma moto nova.

Foto: Gonçalo Fabião

O primeiro sentimento com que ficamos ao conduzir a V-Strom 650 XT é de solidez. Em especial do quadro. A dupla trave parece mesmo preparada para aventuras turísticas a dois e de moto carregada, tal a confiança que emana. O bicilíndrico em V é uma delícia. Suave, entrega potência e binário como só estes motores em V o sabem fazer…, com carinho, digamos. 

Travões e suspensões acompanham a frugalidade e eficácia do conjunto. As bonitas jantes raiadas em belíssimo tom dourado (19’ na dianteira, 17’ na traseira) convidam a uma pequena aventura fora de estrada. Que deve ser isso mesmo, pequena. Um estradão vai receber a Suzuki V-Strom 650 XT de braços abertos desde que a condução seja moderada. As suspensões não respondem afirmativamente se delas se abusar em mau piso fora do asfalto. 

Foto: Gonçalo Fabião

TURISMO E AVENTURA COM NOTA ELEVADA
Bem calçada com os Battlax A41 da Bridgestone, a Suzuki V-Strom 650 XT, ainda que praticamente desprovida de tecnologia, induz confiança e também algum prazer na condução, tentando responder a todo o momento ao seu apelido “Sport Adventure Tourer”. 

Foto: Gonçalo Fabião

Nota final para a economia do conjunto, aspecto que volta a ser muito apreciado com a recente subida em flecha do preço dos combustíveis. O consumo geral desta prova que soube tão bem cifrou-se nos quatro litros e meio daquele líquido inflamável que nos inebria os sentidos, solicitado a Moteo Portugal uma transferência de 9.600€ para que levem a passear por muitos e bons quilómetros uma Bumblebee (já Euro 5) que, em bom, rigor faz tudo aquilo para que foi concebida com elevada nota satisfatória.

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