domingo, 20 de novembro de 2022

Voge 300 Rally à prova

O Unicórnio é uma criatura mitológica, representada pela forma de um cavalo, normalmente alvo, puro e com um enorme chifre em espiral no centro da cabeça. Também conhecido por licórnio ou licorne, este ser fantástico é considerado um símbolo de pureza, castidade e força, aparecendo nas lendas medievais como um animal muito dócil e próximo das raparigas virgens. 


Impossível conhecer onde e quando a narrativa do unicórnio surgiu. Todavia certo é que a sua popularidade cresceu a partir do período medieval. A figura do unicórnio esteve também diretamente ligada à religião católica, por representar a virgindade da mãe de Jesus, além do milagre de encarnação de Deus através do ventre imaculado da Virgem Maria. 


O unicórnio alcançou também grande popularidade na China Antiga e na Europa, cavalgando o mito e estabelecendo-se como símbolo de boa sorte. De acordo com a mitologia, os unicórnios têm poderes mágicos e milagrosos, principalmente o seu chifre, considerado a parte mais importante de seu corpo. O putativo sangue de unicórnio também foi louvado. Ambos teriam dons curativos e regenerativos, capazes de prolongar a vida da pessoa por muitos anos, ou salvar alguém que esteja a beira do colapso. Esses animais fantásticos tinham o poder de purificar todas as coisas, trazendo vida e luz ao que era morte e trevas. Ainda de acordo com a lenda, os unicórnios alimentar-se-iam de nuvens e raios solares, principalmente os emitidos durante o nascer e pôr-do-sol. Isto porque essas seriam uma das poucas coisas verdadeiramente puras na natureza. 


Se, todavia, por acaso já terás ouvido dizer que os unicórnios existiram, tal pode mesmo ser verdade. De facto, julga-se que os "unicórnios" podem já ter existido, no entanto não da forma como as lendas e mitos fantásticos descrevem. Há aproximadamente 200 mil anos existia uma criatura chamada Elasmotherium sibiricum, também conhecida como unicórnio siberiano ou Elasmoterio. Este animal pré-histórico seria parente do rinoceronte e caracterizado por ter um enorme chifre na cabeça. O unicórnio siberiano foi extinto há milhares de anos, mas é muito provável que algumas criaturas da espécie tenham sobrevivido tempo suficiente para coexistir com seres humanos primitivos. Vamos sorrir? Consta que o animal pesaria cerca de quatro toneladas! 


Num determinado sector da comunidade motociclista portuguesa, ficou famosa nos últimos tempos a expressão unicórnio bem como a caça a esse putativo animal. Mas afinal que raio virá a ser um unicórnio quando estamos a falar de motos? O ESCAPE foi então falar com Tito da Costa, entre nós conhecido como Rad Raven, um dos culpados, provavelmente o maior culpado, disto tudo – como se costuma dizer. 

MILLION DOLAR QUESTION 
Não sei exactamente como, ou quando, comecei a adoptar o termo unicórnio. Todavia penso que terá sido por influências oriundas da terra dos cangurus, o que faz todo o sentido, pois os nossos amigos australianos têm, sem dúvida alguma, das melhores condições geográficas para tirar partido de tais criaturas mitológicas. Aliás, eles têm mesmo necessidade de ter um unicórnio, se não quiserem sofrer bastante pelo caminho. 


Um unicórnio na sua definição mais básica, é algo bastante simples. É uma moto que quando está fora de estrada quase nos faz lembrar uma enduro. Já quando temos que percorrer largas centenas de quilómetros de autoestrada de seguida, transporta-nos com um conforto minimamente aceitável. Um unicórnio tem também que ter intervalos de manutenção que não sejam medidos em horas e uma boa autonomia! 


As grandes marcas têm feito um esforço hercúleo para nos convencer que isso se chama Big Trail. Todavia só quem já se viu em apuros para lidar com uma mota com mais de 200kg fora de estrada (e não tem vergonha de o admitir) e quem já arrancou tacos dos pneus na autoestrada com o seu charuto de 200kg e mais de 100 CV, sabe que a história não é bem assim! 

Resta-me apenas acrescentar que todos os unicórnios são feitos à imagem dos caprichos dos seus donos por isso, são sempre únicos e normalmente têm um período de gestação prolongado, mas podem e devem ser utilizados durante esse período crucial da sua evolução! 


Após esta viagem absolutamente fantástica vamos então à pergunta do milhão de dólares: será a Voge 300 Rally o unicórnio que tantos procuram? 

LEVE TRAIL DE AVENTURA 
A pequena moto chinesa não apresenta segredos nenhuns. No quadro de duplo berço é montado o monocilíndrico Loncin cuja origem se encontra na saudosa Kawasaki KLX 300 (292cc, 29 CV, 25 Nm). Jantes 21”/18”, suspensões de longo curso e travagem espartana ajudam a caracterizar o conjunto. É uma moto analógica e a electrónica resume-se a um ABS de dois canais podendo ser este desligado na roda traseira de forma muito simples. Peso? Apenas 158 Kg em ordem de marcha com o generoso depósito de 11 litros atestado – cheguei a meter mais meio litro para além dos onze que a marca indica. 


A moto é delgada, algo alta sem ser perturbadora e com uma posição de condução correta. A protecção aerodinâmica surpreende pela positiva. Não gostamos de um painel de instrumentos onde falta alguma informação simples como o nível de combustível, relógio e temperatura de motor. 


O motor é vivo e sempre presente. Ainda na cidade a adesão a esta pequena Voge é imediata. Gostamos do acerto das suspensões e lamentamos uma travagem com pouco feeling e que exige habituação - aspecto claramente a melhorar. Ficamos com a certeza que esta moto é muito mais do que uma liliputiana aventureira. Sendo também uma solução de mobilidade urbana. A estrada leva ao campo e aqui percebemos que se as naturais vibrações em regimes médios são aceitáveis, as velocidades máximas são de evitar. A auto-estrada não é aqui a nossa praia. 

PASSEAR NO CAMPO 
Onde a Voge 300 Rally ama esticar as perninhas é no campo. Não atravessamos o país fora de estrada todavia foram muitos e bons os momentos em terra, lama e até areia. Na companhia de Rui Lucas Godinho passamos uma jornada no próximo Alentejo onde encontramos todo o tipo de terrenos numa viagem de quase trezentos quilómetros com partida e chegada a Lisboa – notem que cerca de dois terços deste percurso foi efectuado fora do asfalto. 


A posição de condução apeada não sendo perfeita é perfeitamente aceitável. Ali, por maus caminhos, a travagem parece ter o seu melhor acerto e a qualidade da ciclística ajuda a colocar a moto onde desejamos, mesmo quando o caminho é uma perfeita incógnita, como foi o caso. A diversão apenas não é maior porque os pneus Tsimun apenas cumprem. Melhores borrachas adquiridas devem ser. 

O DIVERTIMENTO COMO UNIDADE DE MEDIDA 
É pois tempo de tentar responder à pergunta do milhão de dólares. Foi encontrado o unicórnio tal como definido pelo nosso apaixonado amigo Rad Raven? A questão é que esta terá de ser uma análise subjectiva. Cada cabeça, sua sentença. Se querem a opinião deste ESCAPE, honestamente julgo que se não encontramos já o animal, estaremos muito perto de o fazer. Demos certamente passos decisivos. Contudo a caça não terminou aqui. Não pode terminar. Desde logo porque…, qual seria a piada se a festa terminasse já? 


Na verdade, a medida aqui não pode ser a eficácia e sim o divertimento. E neste aspecto a Voge 300 Rally é uma absoluta campeã. Uma moto humilde que tem a virtude de nos perdoar a ignorância e a sabedoria de nos ensinar o caminho. Tudo isto por uns inacreditáveis 4.795€, tendo a simpática Rally solicitado três litros e meio do conhecido líquido inflamável indispensável à nossa salubridade por cem quilómetros daquele sorriso que define as nossas paixões. 


AGRADECIMENTO. A prova à Voge 300 Rally e consequentemente o que leem e veem aqui, contou com a colaboração de um rol incrível de convidados especiais. Para além do espantoso Elasmotherium sibiricum e do não menos espantoso todavia residente Gonçalo Fabião nas imagens, tivemos o Rad Raven no texto, o Rui Lucas Godinho a iluminar o caminho e um agente secreto que assim que viu a moto agarrou a oportunidade de fazer a Voge voar, como podem ver nas imagens. A todos o ESCAPE agradece e deixa a sua vénia.

3 comentários:

  1. Já experimentei durante 15 minutos. Não podendo tirar grandes conclusões houve uma que foi decisiva. Acabando a voltinha foi uma motinha que me surpreendeu por ter vontade de andar mais bela......sintoma que alguma coisa correu bem. Um abraço Pedro

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  2. Obrigado por mais um excelente artigo. Tendo em conta a diferença de preço para a crf300l (5750€), se estivesses indeciso entre as 2, qual seria a tua opção? Será que a Honda justifica os +1000€?

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