domingo, 3 de janeiro de 2021

Vespa Elettrica L3 (versão equiparável a 125cc) à prova

Em criança, muito miúdo, era costume passear com os meus pais pelas ruas de Lisboa. Nos anos 70 do século XX, a vida nas cidades era substancialmente diferente do que é hoje. Mesmo numa cidade como Lisboa, a vida era claramente mais lenta e andar a pé seria as mais das vezes uma excelente opção. Nesse tempo nem havia veículos automóveis lá por casa. Naqueles passeios, muitas vezes dados pela mão do meu pai, eu puto, muito puto mesmo, estancava o passo à porta das velhas oficinas. Aqueles locais fascinavam-me os sentidos. As máquinas abertas ao olhar, os sons de motores e ferramentas, e sobretudo, os cheiros. Sim…, aquele odor intenso, uma mescla de gasolina com óleos vários, faziam-me parar e inalar fundo…, eu adorava “aquele cheirinho”. Entendo zero de oficina, confesso. Nem sou daqueles que gosta sequer de meter a mão na massa. Mas aquele odor inebriante era e ainda é para mim o mais poderoso dos elixires. 

Foto: Gonçalo Fabião

Esta orgia para os sentidos está em dramático processo de extinção. A contemporaneidade parece odiar o mundo em que nascemos e crescemos, e um admirável mundo novo, silencioso e supostamente mais limpo, está aqui e agora. Negar este advento é apenas parvo. Não há muito que possamos fazer a não ser conservar o que nos deixarem do que resta do nosso velho mundo e adaptarmo-nos às novas realidades. Uma delas tem por nome electricidade. As motos eléctricas estão a chegar e vieram para ficar. Até podemos não simpatizar. Mas não vale a pena meter a cabeça na areia e fingir que o mundo vai parar porque o nosso egoísmo assim o reclama. 

A experiência em electrões deste ESCAPE é quase nula, com excepção desta aqui (link) relatada. Na verdade, sou cada vez mais fã do serviço que a eColltra oferece e, reafirmo, para mim quando dele necessito, bate qualquer transporte público, uber e afins. Ao ser convidado a conhecer a Vespa Elettrica, confesso que esbocei um aborrecido “interessante”. Mas a experiência foi bem engraçada. E sobretudo silenciosa. 

Foto: Gonçalo Fabião

FÁCIL DE ENTENDER FÁCIL DE UTILIZAR 
A Vespa Elettrica é desde logo uma peça de design - trabalho premiado que nos rouba sorrisos espontâneos - inspirada num icon absoluto: o primeiro modelo Primavera de 1968. 

O motor da Elettrica de 4000 Watts (4KW) gera apenas pouco mais de 5 cv, mas gera também uns colossais 200 Nm. É alimentado por baterias desenvolvidas pela própria marca - de iões de lítio de 4.2 Kwh e 48 Volts - arrefecidas por um sistema de ventilação que opera automaticamente durante o carregamento de quatros horas para uma carga completa do zero aos cem por cento. Este motor disponibiliza dois modos de entrega de potência, “Power” e “ECO”, para além de um terceiro modo, “Reverse”, que pode ser muito útil em pequenas manobras de parqueamento nos espaços mais apertados das nossas cidades. 

Foto: Gonçalo Fabião

Para aqueles que como eu fazem umas valentes centenas de quilómetros de scooter por essa Lisboa fora, todos os meses, a adaptação a esta Vespa contemporânea é imediata. Não há aqui qualquer segredo escondido, a não ser uma vigorosa resposta do motor ao rodar do acelerador, fruto de binário de motor a combustão “gigante”. A travagem é suficiente, mas há que ter atenção à ausência de ABS – confesso qua aprendi por trauma com um bloqueio da roda traseira fruto de uma situação clássica do trânsito lisboeta, com uma “mercedola” arrogante novinha em folha a sair me ao caminho sem o obrigatório sinal de mudança de direção. As suspensões são algo secas o que a somar à “roda pequena” faz transmitir em parte as habituais deformações do asfalto para o condutor. 

CONFIANÇA E ADAPTAÇÃO 
Importante, fundamental mesmo num veículo eléctrico, é conhecer muito bem a sua autonomia, para que o dia-a-dia seja planeado sem uma surpreendente pausa para uma carga “de emergência”. E aqui, o que pude verificar, foi que de um modo geral podemos confiar na informação que a marca apresenta - e isso é bom, pois como todos sabemos confiança é a trave mestra de qualquer relação. 

Foto: Gonçalo Fabião

Em modo “Power” não vamos encontrar mais do que setenta quilómetros no depósito de electrões Já em modo “ECO” teremos cerca de cem quilómetros de autonomia, todavia neste modo não contem com mais de cinquenta quilómetros hora de velocidade máxima – setenta quilómetros hora de velocidade máxima em modo “Power”. Notem que a velocidade máxima de 50 Km/h é suficiente as mais das vezes para uma condução eficaz em centros históricos ou mesmo na malha cada vez mais apertada da circulação urbana. Notem ainda que a Elettrica conta com um sistema de recuperação de energia – uma espécie de KERS (Kinetic Energy Recovery System) que é activado em desaceleração, mas não se fiem muito nele para vos dar uns electrões extra. 

Foto: Gonçalo Fabião

Assim sendo, para uma utilização o mais eficaz possível da Vespa Elettrica desenvolvi uma espécie de modo “ESCAPE” que consistia no uso do modo “ECO” em “terreno urbano apertado” passando rapidamente, de forma muito simples, mesmo em andamento, para o modo “Power” sempre que entrava numa via rápida ou avenida ampla. 

ENJOY THE SILENCE 
Nesta prova o ESCAPE contou ainda com a agradável colaboração da Tânia Moreira Rato (link), conhecida motociclista e um dos elementos do destemido colectivo Dust Girls. Foi uma manhã gelada à beira Tejo, e com muitos sorrisos ao redor do charme silencioso da Elettrica. A Tânia divertiu-se e só sentiu falta de um descanso lateral que auxiliasse no momento de entrar/sair da Vespa.
 
Foto: Gonçalo Fabião

A marca solícita cerca de 7000€ para aproveitar o silêncio temperado com o mero som da brisa que a beleza e suavidade da Vespa Elettrica proporciona, garantindo que as baterias sobrevivem a mil ciclos de carregamento o que, bem planeado, nos oferece cinquenta a setenta mil quilómetros com carregamentos a 100%. Carregamentos que podem ser facilmente efectuados numa comum tomada eléctrica. Tal, adicionado ao facto de que a manutenção não inclui óleos e filtros típicos de motores a combustão, faz nos cogitar em contas e pensar que a mobilidade eléctrica está a crescer afirmando-se como opção, sem, contudo, perdermos o encanto muito próprio do prazer de um veículo de duas rodas.

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