Thunder! 6 de julho de 1996. Estádio do Restelo em Lisboa. Uma multidão - há quem fale em cinquenta mil pessoas - aclama os, já naquele tempo, velhos AC/DC. Foi naquela quente noite de verão dos gloriosos anos 90, o primeiro concerto da consagrada banda em Portugal. E, por incrível que possa parecer, seguramente um dos últimos concertos a que assisti.
Foto: Gonçalo Fabião |
Thunder! Eu adoro música ao vivo e confesso que a minha carreira de festivaleiro terminou antes de começar. Naquele tempo assistamos a um concerto como se de um cerimonial se tratasse, tão raro era o fenómeno. Depois a cena azeitou, digamos. E hoje as pessoas vão a um concerto por variadíssimas razões, sendo a música, em regra, a última delas. Foi tão inesquecível aquele primeiro concerto em Portugal da banda de Sydney, que até se tinha varrido da minha memória ter sido a primeira parte feita por um tal de Joe Satriani, o inconsequente mago nova-iorquino da guitarra eléctrica.
Rode down the highway
Broke the limit, we hit the town
Went through to Texas, yeah, Texas
And we had some fun
We met some girls
Some dancers who gave a good time
Broke all the rules, played all the fools
Yeah, yeah, they, they, they blew our minds
Thunder! Impossível esquecer a energia deste clássico do rock and roll assim que me apercebi que a Tuono é isso mesmo: um trovão. Sim, eu sei. É daquelas coisas parvas. Mas quanto da vida no geral e do motociclismo em particular não é feito de coisas parvas?
Foto: Gonçalo Fabião |
Thunder! A Tuono 660 da Aprilia não me levou ao Texas (“yeah, Texas”) nem me ofereceu “some dancers who gave a good time”, mas ainda teve tempo de me colocar a tremer – e não foi apenas os joelhos – nalguns momentos de condução mais afiada. Thunderstruck, diria? Lá iremos…
DESPIDA MAS POUCO
A Aprilia Tuono 660 é uma espécie de irmã mais nova da Aprilia RS 660, recentemente provada aqui (link) por este ESCAPE - moto que me fez viver dias de sonho e me fez questionar se estava perante engenharia ou relojoaria. E, como qualquer irmã mais nova que se preze, apresenta-se com um traje diferente – neste caso de menores dimensões – e mais civilizada que a mana mais velha. E também, digamos, um nada mais easy going.
Foto: Gonçalo Fabião |
Este ESCAPE confessa a sua perplexidade quando vê que alguns teimam apelidar esta Tuono 660 de moto despida. Como compreender tal qualificação se estamos perante uma moto com alguma protecção aerodinâmica? E mesmo detentora de apêndices aerodinâmicos que manifestam a sua presença a certas velocidades, fazendo desta uma moto bem mais equilibrada e eficaz do que uma naked pura e dura.
Foto: Gonçalo Fabião |
A Tuono 660 é estrutural e mecanicamente muito idêntica à sua mana, RS660. Quadro de dupla trave em alumínio onde o motor bibilindrico, aqui com 95 CV, se assume como elemento da estrutura, sendo o braço oscilante assimétrico. Tudo a pesar 183kg em ordem de marcha. E mantém boa parte da luxuosa electrónica Aprilia - aqui o aPRC oferece cinco modos de condução (incluindo dois modos para os dias de pista); dois dos quais totalmente personalizáveis, controlo de tracção ajustável em oito níveis, sistema anti levantamento da roda dianteira ajustável em três níveis, três modos de potência do motor, ajuste independente do efeito travão motor, e ainda "cruise control" para aqueles momentos de condução mais sossegada.
Notem, contudo, que a Tuono 660 não conta com a unidade de medição inercial, num esforço legítimo de suavizar o preço final, tendo ainda assim, como objectivo último oferecer um conjunto que se assuma como referência perante a feroz concorrência.
DÓCIL E CONFORTÁVEL
Estranho, muito estranho mesmo…, é o guiador que a Tuono 660 apresenta. Esteticamente desenquadrado do conjunto, acabamos rapidamente por claudicar nas dúvidas perante a posição de condução dócil e confortável que ajuda a oferecer. Estamos na verdade face àquele clássico: primeiro estranha-se e depois entranha-se.
Confesso. Foi, todavia, impossível esquecer a RS nesta prova a Tuono. Apesar da alma desportiva a dimensão humana mantém-se. Sentimo-nos seguros e capazes face ao conforto oferecido pela posição de condução e por toda a ciclística afinada. Desejamos mais motor a rotações mais baixas e vertemos uma lágrima pela ausência do quickshift que lança a RS no caminho da perfeição. Mas lá está. Será pueril ambicionar o melhor de dois mundos. E para ter uma moto a um preço mais simpático, devemo-nos satisfazer com o que a nossa carteira pode pagar. E que fique claro, a Aprilia Tuono 660 tem tudo para nos proporcionar momento de prazer intenso satisfazendo ainda aqueles que optam por uma posição de condução mais conservadora e que ainda assim nos pode conduzir a dias de pista emocionantes.
ATORDOADO
I was shakin' at the knees
Could I come again, please?
Yeah, the ladies were too kind
You've been thunderstruck, thunderstruck
Yeah, yeah, yeah, thunderstruck
Thunderstruck, disse. Numa tradução livre: atordoado, assombrado, estupefacto. Já tinha acontecido com a RS 660 e voltou a suceder com o pequeno trovão de Noale – caso ainda não tenham dado conta eu sublinho: Tuono é uma palavra italiana que quando traduzida para a nossa língua designa trovão. Um flash intenso e pouco guloso que pediu nesta prova quatro litros e meio do tal líquido inflamável do preço do ouro, carregadinho de impostos, por cem quilómetros de hedonismo. A Aprilia solicita 10.990€ para levarem este trovãozinho simpático para vossa casa.
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