1992. Era uma quente tarde de fim de Abril, início de Maio, talvez. De capacete na mão saia mais cedo do trabalho. Em Lisboa apanhei o Metro. Já não me recordo de todos os detalhes. Recordo me sim da travessia do tejo, ali do Terreiro do Paço, da velha estação sul e sueste para o Montijo. Foi no Montijo, no decano stand Riquexó – concessionário Yamaha – que encontrei a minha moto, a minha primeira moto. Uma Yamaha XV Virago 250, cinzentinha. Nova. Linda.
Naquele tempo, e já lá vai algum, vivíamos a primeira era dourada do motociclismo em Portugal, cujo início tinha acontecido no final da década de oitenta. O desenvolvimento económico, os “dinheiros da CEE” e o aumento da oferta, faziam com que não fosse fácil encontrar a moto “dos sonhos”. Foi assim a atravessar o tejo, com cerca de setecentos e cinquenta contos no bolso, que nascia este vosso escriba.
HONESTIDADE ENQUANTO VALOR
Estes meus primeiros momentos como motociclista, surgiram amiúde na minha memória, enquanto deambulava com a novíssima Imperiale da secular casa italiana – agora chinesa, sim, eu sei. Não porque sejam motos idênticas e sim porque partilham valores comuns como é o caso da Honestidade. Naquele tempo, início dos anos noventa, a escolha era pouca e a oferta cara – atualizem lá os setecentos e cinquenta contos à inflação e vejam como era difícil conquistar uma “Virago Dois e Meio”. Hoje a vida é diferente…
A Benelli Imperiale 400 pretende ser uma clássica moderna. Clássica porque, por um lado, encontrou inspiração no legado italiano dos anos cinquenta para alcançar o seu nome e, por outro, encontrou inspiração na receita Royal Enfield Classic 350 para precisamente tentar bater a rival, uma das motos mais vendidas no mercado indiano, um dos mais importantes do mundo. Moderna porque…, bem, já lá vamos.
A BELEZA DAS COISAS SIMPLES
Todavia, felizmente, esta Imperiale 400 chega até nós na Europa. Num quadro simples em duplo berço monta um monocilindro refrigerado a ar de prestações modestas 21 Cv (15.5 kW) às 5500 rpm, 29 Nm (2.95 kgm) às 4500 rpm, num conjunto que pesa pouco mais de 205 Kg.
Na há uma segunda oportunidade para causar uma primeira boa impressão. E a Imperiale sabe disso. Assim, a moto ao vivo é bem mais bonita do que em imagem. Alguns detalhes destacam-se: jantes de raios muito inspiradas, linha de escape sedutora, um cubo de roda traseiro que simula um travão de tambor e as molas debaixo do banco, pontuam o conjunto.
Ao colocar o mono a trabalhar surge um outro aspeto positivo. A sonoridade é rouca e bonita. Quando engatamos a primeira e soltamos a embraiagem já um sorriso viaja connosco. Um sorriso que não se desvanece, pelo contrário, é incrementado nas curvas do caminho até porque notamos a ausência de vibrações ou ruídos parasitas. A Benelli Imperiale 400 não é uma moto de performance mas oferece o sabor das coisas simples – como a minha “viraguinho”, lembram-se. Induz descontração. A condução não é nervosa mas pode ser viva se assim desejarmos. E sentimo-nos num conjunto feliz.
BEM BOA NA ESTRADA EXCELENTE NA CARTEIRA
Para além do cumprimento das normas EURO 4, a modernidade da Imperiale 400 advém do simples prazer da descontração e do respeito pelas normas de segurança que hoje se colocam a todos os motociclos. Por falar em segurança, dois aspetos podem ser melhorados no futuro. Os pneus comprometem o desempenho e eficácia do belo conjunto, sendo mesmo “intragáveis” em piso molhado; já a travagem é lenta e demasiado progressiva, devendo o condutor ter sempre isso em conta.
Foi muito bom regressar assim às “Provas do Escape”. Com a uma marca nova para mim e neste blogue. Com uma moto novíssima no mercado e que me fez recuperar dias simples, honestos e até algo ingénuos como foram aqueles dias dos meus primeiros quilómetros enquanto motociclista. A Benelli solicita uma transferência bancaria de 3.970€ para retirar uma destas Imperiale 400 das suas instalações, moto que reclamou uns simpáticos três litros e meio daquele líquido inflamável indispensável à nossa sanidade mental.
belo trabalho. A imperial 400 é a concorrente directa da Royall Enfield 350, que vende aos milhares na India. Parece dar boa conta do recado!
ResponderEliminarObrigado pelas simpáticas palavras ;)
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