segunda-feira, 19 de julho de 2021

Suzuki GSX 1300R Hayabusa à prova

“Então Pedro, gostaste do falcão peregrino?”. 

Eh pah, oh Zé…, faz nos um favor. Cala-te lá com a lengalenga do “falcão peregrino” da “casa de Hamamatsu”. Para onde quer nos viremos, é sempre a mesma cantiga. Até parece que me estás a perguntar qual é o melhor local no Algarve para comer “frangos da Guia”. E se julgas, Zé, que a nova Hayabusa é uma moto perfeita só porque é a forma mais barata de chegar dos zero aos trezentos km/h, estás muito enganado…

Foto: Gonçalo Fabião

A LENDA VIVE 
31 de Dezembro de 2018. Choque e espanto. A Suzuki GSX 1300R Hayabusa deixava de ser comercializada na Europa. Os ecotontos não poupam nada nem ninguém. E a entrada em vigor da norma Euro 4 em 2016 - havia uma espécie de moratória de dois anos para os modelos já em comercialização - obrigou a Suzuki a colocar um ponto final ao reinado da Hayabusa naquela data. 

Foto: Gonçalo Fabião

Apesar de para alguns se apresentar mais feia do que um besugo com três dias de praça, a Suzuki GSX 1300 R Hayabusa tinha sido a primeira mota de produção na história a superar a lendária barreira dos 300 km/h. Na verdade, superar os 300 km/h exigiu não só um esforço para apresentar um motor potente e uma ciclística à prova de bala, mas também uma aerodinâmica absolutamente competente. A engenharia da Suzuki defendeu-se quanto ao aspecto de peixe fedorento: “é uma moto esculpida pelo vento”. 

HYPER SPORT TOURER? 
Certo é que a Hayabusa recolheu uma enorme legião de fãs. Foram quase duas centenas de milhar de unidades fabricadas e vendidas por esse mundo fora desde 1999 – e não desde 1994 como erradamente referi no “live” que fiz na pagina de facebook deste blogue (link). Há mesmo muitos fãs do modelo com duas na garagem. Uma da original classe de 99 e outra da classe de 2008 (redesenho e introdução de ABS). Agora podem adicionar-lhes a classe de 2021: uma terceira geração da Hayabusa que se equipa com as mais recentes inovações tecnológicas no sentido de oferecer uma moto contemporânea, com substanciais doses de controlo, conforto, segurança e confiança. A derradeira Hyper Sport, diz-se. 

Foto: Gonçalo Fabião

Hyper quê? Pois…, aqui este vosso ESCAPE, partilha da opinião daqueles que colocam esta moto no enorme saco das sport-turismo e não no segmento das híper-mega-ulta-coiso-desportivas. E é a realidade que assim o exige. Há quem atravesse o continente europeu de Hayabusa. Não é que tal não seja possível de super-desportiva. Mas a forma como uma boa parte dos seus proprietários dá uso à GSX 1300R leva-nos a considerá-la uma verdadeira sport-tourer. Ainda que…, no limite da matriz, obviamente do lado das desportivas e não das turísticas. 

REFINADA 
A novíssima Suzuki GSX 1300R Hayabusa monta um renovado tetracilindrico de 1340cc capaz de fazer girar o centro da terra (150Nm, 190 cv), num novo quadro de dupla trave em alumínio. A electrónica é rainha e, entre outros mimos, contem com o sistema inteligente de condução Suzuki denominado Suzuki Intelligent Ride System (S.I.R.S.) que oferece o selector de modo de condução ALPHA (SDMS-α) com três modos de fábrica (A-Ativo B-Básico C-Conforto) e mais 3 modos totalmente parametrizáveis. Contem também com sistema de controlo de tração (10 modos mais o modo OFF), mapas de potência (3 modos), quick shift bidireccional (2 modos mais OFF), controlo de elevação da roda frontal (10 modos mais OFF) e ainda o sistema de controlo de travagem de motor (3 modos mais OFF). Uffffff…. 


O primeiro contacto com esta terceira geração da icónica “Busa” é revelador. A moto é encorpada, musculada, imponente, soberba e avassaladora. E se calhar mais coisas ainda que não me estou a recordar agora. Tocar, sentir, cheirar, sentar…, despertar os sentidos, colocar a trabalhar e soltar lentamente a embraiagem para sentir pela primeira vez esta lenda viva do motociclismo é daquelas sensações que nos ficam na memória…, “uma Hayabusa, mãe, é uma Hayabusa”…, estou a conduzir uma Hayabusa. É mesmo verdade! 

Foto: Gonçalo Fabião

Só que…, rapidamente o tráfego urbano e suburbano conduz-nos ao pragmatismo da realidade. A moto é comprida e tem peso substancial, apesar de distribuído de forma perfeita (50/50) pela unidade. O excesso de latas nas vias rápidas da capital pede de imediato para refrearmos os desejos e optar pelo modo de condução C (conforto), onde a besta fica dócil e dominada; ou por outras palavras o míssil passa a contar com boas maneiras. Já a posição de condução, bem, enfim…, apesar de ter sido optimizada nesta nova geração em função do conforto, continua a exigir disponibilidade física por parte do condutor – nem podia ser de outra maneira… 

A DERRADEIRA
A nova Suzuki GSX 1300R Hayabusa marca a paisagem. E no par de dias em que com ela rodei chamou a atenção de tudo e de todos, atraindo ainda alguns idiotas úteis sempre dispostos a um momento de putativa afirmação: a eles a Busa apenas deve responder com insolente desprezo, rumo à estrada o mais aberta possível.

Foto: Gonçalo Fabião

É pois ai, nos grandes espaços, que esta moto encontra o seu natural habitat e demonstra toda a sua qualidade de referência incontornável: motor sublime suportado por uma ciclística inatacável tudo sustentado por travagem e suspensões que só dignificam a obra de arte nipónica. 

Sim! A GSX 1300R Hayabusa é para motocilistas experientes, corajosos e hedonistas. Jovens o suficiente e aptos fisicamente para suportarem o desafio de uma longa tirada por essas estradas fora lá até onde a conta bancária possa pagar o consumo de combustível, que se revelou nesta prova um pouco abaixo do anunciado pela fábrica - sorvendo apenas pouco mais de seis litros, daquele liquido inflamável composto em mais de dois terços por aquela inevitabilidade pornográfica a que chamam de impostos.

Foto: Gonçalo Fabião

A lenda está de facto de volta. Solicitando a marca uma transferência bancária de 19.800€ para que possam ter esta jóia Glass Sparkle Black/Candy Burnt Gold convosco. É de aproveitar seus “petrolheads” amamentes da velocidade. Pois esta - devido à loucura dos ecotontos que está, como um vírus mortal, a infectar a vida tal como a conhecemos - é muito provavelmente a derradeira Hayabusa. No verdadeiro sentido da palavra: de-rra-dei-ra!

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