segunda-feira, 3 de agosto de 2020

Ducati Streetfighter V4 S à prova

Quão difícil será escrever sobre uma moto? Quão fácil será escrever sobre uma moto? Nunca saberemos, se não experimentarmos. Depois da primeira, segunda, terceira, será sempre fácil? Ou continuará difícil? Não sei, experimentem. Enquanto enrolava o punho direito da Streetfighter V4 S contra o vento, pensava nestas e noutras inquietudes. E recordava…, um dia em mil novecentos e noventa e três. Ou terá sido noventa e quatro? 

Foto: Gonçalo Fabião

Esse dia, algures numa manhã de domingo de Janeiro frio e cinzento como costumavam ser os domingos de Janeiro no passado, está gravado a ouro na minha memória. Gravado também nesse blogue. Aqui (link). 

Relembrando o essencial do que prevalece na minha memória, estava com um grupo de motociclistas do Moto Clube de Lisboa em Missão Pingüínos. Não me lembrando de todos os detalhes, todavia recordo-me bem de quando o Miguel me passou os comandos da luminosa Ducati 888 para as mãos, algures perto da espanhola Ciudad Rodrigo. De repente parecia que tinha novamente oito ou nove anos e era noite de Véspera de Natal, ou de Dia de Reis já que estávamos no país do lado. 

Foto: Gonçalo Fabião
De Ciudad Rodrigo arranquei num ápice até à fronteira portuguesa. À época terão sido os vinte ou trinta quilómetros mais felizes da minha curta vida de motociclista. A posição de condução estupidamente agressiva contrastava com a aborrecida quietude da minha Yamaha XV 250 Virago; o ronco poderosíssimo do V-twin desmodrómico esmagava o som palerma do meu “V2zinho” japonês. O violento mas preciso safanão daquela transmissão italiana ridicularizava a desafinação da corrente do meu “piano”. Não era um sonho de adolescente. Não, eu abria gás até onde podia e sabia num míssil italiano vestido de vermelho garrido. 

Foi assim a minha primeira vez. De Ducati. Inesquecível. Como tendencialmente são todos os momentos “ducatisti”. Sim! São poucas as fábricas de motos que nos arrebatam assim. 

DESPIDA PARA A LUXÚRIA 
Sejamos honestos. A Ducati Streetfighter V4 S é uma Panigale V4 despida para a luxúria. Despida e fofinha. Pois face à Panigale as peseiras estão recolocadas, os avanços trocados por um guiador no lugar certo e, enfim, encontramos um banco digno desse nome que surpreende pelo conforto. Estes três pequenos detalhes seduzem motociclistas como eu, mais habituados a outras posturas. São aconchegos que acabam por nos matar…, de paixão!

Foto: Gonçalo Fabião

Nesta gladiadora puro-sangue, o motor V4 de 1103cc oferece uns dramáticos 208 CV e outros tantos apaixonantes 123 Nm às 11.500 rpm. A unidade motriz está montada num minimal quadro de alumínio servindo (o motor, recordamos) de elemento estrurante de todo o conjunto. A travagem é tanto ou mais luxuosa que o propulsor: Brembo com pinças Stylema monobloco de montagem radial de quatro êmbolos. Sempre muito eficazes. 

QUANDO O DIGITAL NOS AMA 
Dotada de IMU de seis vias, a eletrónica tem obviamente forte presença e organiza, disciplina e oferece segurança a todo o conjunto, a saber: ABS Cornering EVO; Ducati Traction Control (DTC) EVO 2; Ducati Slide Control (DSC); Ducati Wheelie Control (DWC) EVO; Ducati Power Launch (DPL); Ducati Quick Shift para cima/para baixo (DQS) EVO 2; Engine Brake Control (EBC) EVO. 

Foto: Gonçalo Fabião

A Streetfighter V4 existe em duas versões. Esta versão S provada difere da versão base (três mil euros mais acessível) pois monta suspensões eletrónicas Öhlins – forquilha NIX30 e amortecedor TTX36 - com controlo do software Öhlins Smart EC 2.0 e ainda amortecedor de direção também ele eletrónico, para além de jantes Marchesini de suave alumínio luxoso . 

O PRAZER COMO BEM SUPREMO 
Tudo isto revelou uma moto sem apetite por estar imóvel e muito menos apetite por ténues andamentos. A Ducati Streetfighter V4 S clama por andamentos vigorosos em estradas de curvas largas, rápidas e desafiadoras ou, em alternativa, dias de pista à beira da paixão e do abismo, como a vida deve ser vivida. Um café, pela calada da noite com aqueles amigos de sempre, ou uma rápida viagem de fim-de-semana por exóticas montanhas ondulantes também estão no seu horizonte. Hedonismo. Hedonismo é o nome de código desta jóia de Borgo Panigale, inspiradíssima nos Grandes Prémios, como afirmam corajosamente as suas asas laterais. 

Foto: Gonçalo Fabião

Se notam embargo nos meus caracteres, notam bem. É difícil, muito difícil plasmar em palavras o que esta deslumbrante Ducati Streetfighter V4 S me ofereceu nos dias que me encantou, solicitando apenas cinco litros e meio do tal líquido inflamável que o nosso sangue pede para nas veias latejar. São necessários debitar à nossa conta bancária 23.545€ para nos fazermos notar como vos acabo de contar, de forma inolvidável.

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