segunda-feira, 10 de setembro de 2018

A week in a paradise called Portugal (VII)

O airbnb que desencantei na margem norte do Zêzere junto ao Castelo do Bode revelou-se tão delicioso qua optei por atrasar a partida para a segunda etapa de N2 (aqui). Pois…, confesso, também foi preciso dar descanso ao corpinho…

A primeira paragem do dia foi logo ali em Abrantes, desde logo para saudar a “Nacional que se segue”, a 3, depois para molhar as botas no Tejo – literalmente. Cruzado o rio na ponte rodoviária de Abrantes - inaugurada em 1870, foi construída por um consórcio francês e durante 75 anos explorada em regime de concessão, passando para o Estado em 1945 – dá-se a grande cissão ao nível do relevo. Até aqui a N2 apresenta um perfil que acompanha o sentido agudo do terreno, torcendo e contorcendo, subindo e descendo. De Abrantes em diante (até Almodôvar já às portas da algarvia serra do caldeirão) as rectas abundam e o terreno apesenta-se maioritariamente plano. Em Montargil, junto ao Sorraia, tempo de repetir o ritual, molhando as Sidi na albufeira, só porque sim. 

Deixado o Sorraia para trás, entramos naquele que é o (“diz que é uma espécie de”) Grande Sul Português. A navegação fica mais simples que nunca, a condução idem, mas a estrada e tudo o que a envolve não perde interesse. No filme da N2, entramos agora num longo “travelling” marcado pela clássica paisagem alentejana.

E se na Região Centro fiquei triste e até chocado com o abandono a que as zonas ardidas em 2017 foram votadas - replantadas pela própria natureza à custa da selvagem praga do eucalipto – aqui, em especial na zona de Ferreira do Alentejo, a surpresa é positiva, ao ver milhares de hectares de regadio cultivados por cereais e outros tantos com as árvores autóctones como as oliveiras. 

A cereja ano topo de mais um dia delicioso de motociclismo chega com uma das últimas seções da N2, a parte do percurso baptizada como “Rota Património”. A estrada torce com centenas de curvas lentas – cerca de trezentas e sessenta curvas, dizem - mas com aquela perfeição de quem acompanha o relevo do terreno.

Que me perdoem os farenses mas a N2 bem que podia terminar em São Brás de Alportel. Daqui até Faro vamos encontrar aquela que provavelmente é a secção mais incaracterística da estrada. Uma secção que nos transporta para uma espécie de "mixed feelings”. A alegria da magnífica experiência vivida e a tristeza da mesma estar a terminar. No final os muitos quilómetros acabam por saber a pouco sendo que a síntese disto tudo é muito fácil de encontrar: é sempre possível começar de novo, porque a Estrada Nacional 2 é viciante!

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