segunda-feira, 8 de junho de 2020

Kawasaki Ninja 1000SX Tourer à prova


Nem dormi; confesso. Quer dizer..., dormir, dormi. Mas não foi aquele sono profundo, revigorante. Não dormi, mas senti ao acordar com um sorriso nos lábios e lembro-me de ter tido sonhos em tons esverdeados, indefinidos..., “a kawa..., uma kawa..., amanhã vou levantar a kawa...”. Tão bom fazer este ESCAPE. Sinto-me vivo. E adolescente, também. 

Foto: Gonçalo Fabião

Por falar em adolescência, Kawasaki para a minha geração sempre foi sinónimo de performance. E os 140 cv e mais de 110 Nm da “litro” japonesa de quatro cilindros em linha, apimentavam ainda mais a minha noite de desassossego apimentavam ainda muito mais o meu sonho. 

SPORT TOURING QUE TE QUERO BEM 
Sonhos fora, a realidade é que esta não é uma Kawasaki qualquer. É uma digníssima representante de um segmento que amo, o “meu” segmento, o segmento Sport Tourer que tão mal tratado tem sido pela generalidade das fábricas nos últimos anos. 

Sim, eu sei. E já conheço a lenga-lenga de cor e salteado. “Pedro, tens de perceber que a nossa marca abandonou a construção de motos turísticas com alma desportiva porque vocês motociclistas deixaram de as consumir, converteram se às maxi trails, motos mais versáteis, e tu és exemplo disso mesmo; verdade?” Não! Não, pelo menos na totalidade. 

Foto: Gonçalo Fabião

Se por um lado aquela tese dita vezes sem conta é tendencialmente verdadeira, verdade é que eu e muitos como eu fomos convertidos às grandes trails simplesmente porque não encontramos no mercado motos do segmento que amamos, o sport turismo; e quando encontramos…, a marca não só não a comunica eficazmente como quase a retira do catálogo e das vitrinas dos stands, chegando alguns ao ponto extremo de desaconselhar ou desincentivar a sua compra em detrimento de um outro qualquer modelo. Tudo isto não faz sentido. 

A INSUSTENTÁVEL LEVEZA DO SER 
Foi com todo este caldo cultural e de emoções à flor da pele que fui levantar a Kawa Ninja 1000SX Tourer. Não tendo sentido aquela sensação de déjà vu “mas esta moto sempre foi minha?!?” nos primeiros metros, senti uma leveza e até facilidade de utilização que me deixou estupefacto. 

As sport turismo do meu tempo - relembro que sou uma pobre viúva da ST1100, a verdadeira Pan European, tendo tido uma dezassete anos (link) - eram motos pesadas, algumas delas bonitas como um canhão das guerras napoleónicas, trabalhosas de manobrar e muito aborrecidas para uma circulação diária que envolvesse trajectos citadinos. Todavia, nada disto mora aqui na nova Ninja 1000SX. E esse é o primeiro momento de choque e espanto. Desenho agressivo mas inspirado, leveza ao primeiro toque, suavidade desde os primeiros metros e um motor de uma elasticidade tão grande que permite circular a velocidades de scooter 50cc e arrancar dali para o céu. 

Foto: Gonçalo Fabião

VAMOS ONDE DESEJAMOS 
Explorando os diferentes modos de condução – Sport, Road, Rain e Rider, este ajustável ao nosso capricho - na cidade a Kawasaki Ninja 1000SX Tourer à prova afirma-se surpreendentemente dócil e agradável de conduzir a baixa velocidade, característica que se alia uma facilidade nas típicas manobras diárias em curto espaço. Por falar nele, no espaço, quando apanha estrada aberta esta Kawa começa a revelar a sua alma desportiva: motor sempre vivo e linear, ciclística afinada, suspensões suaves e travagem bem doseada. Sonhamos: seria possível leva-la até a um dia de pista sem sair de lá envergonhados? 

É contudo em viagem em ritmo vivo que toda a natureza desta 1000SX Tourer pode ser saboreada. As malas laterais generosas permitem capacidade de carga considerável e a proteção aerodinâmica é eficaz – apesar de gostar de ver revisto o ecrã e a sua forma de manuseamento (bem como dos instrumentos e da forma como a informação nos é oferecida, já agora). Tudo isto concorre no sentido de ser possível retirar do conjunto irrepreensível o conforto necessário para nos levar longe. 

REDEFININDO O CONCEITO DE POLIVALÊNCIA 
Achamos enfim a palavra-chave nesta moto: polivalência. Se hoje, dia de semana, a Kawasaki Ninja 1000SX Tourer permite a tranquilidade de uma condução de fato e gravata para o dia-a-dia no escritório, amanhã, fim-de-semana, será possível com facilidade retirar as malas, trocar o sapato engraxado pelas botas de pistas e pelos indispensáveis deslizadores para um dia no Estoril ou de Portimão. E, chegadas as férias, na semana seguinte, podemos voltar com um simples toque de midas a montar as malas, partindo engalanado de Gore-Tex para aquela viagem de sonho ao asfalto do carrossel pirenaico ou alpino. 

Foto: Gonçalo Fabião

Para o final desta prova estava guardado um belo segredo, como se de um pote de ouro no final do arco-íris se tratasse. Quando me disseram que para recolher de um dos concessionários Kawasaki uma pérola destas seria necessário um cheque de apenas, sim, sublinho, apenas, 16.390€ - a versão base custa ainda menos, 15.190€ - eu não quis acreditar. Repito: 16.390€ por cento e quarenta cavalos confortavelmente suaves e eficazes que tão depressa nos levam para o trabalho, para “um dia nas corridas” ou ainda a correr a Europa a reequacionando o conceito de versatilidade muito associado a outro tipo de motos. 

Nota final. O ESCAPE pede a vossa compreensão. Desta feita não tenho um consumo objectivo para vos oferecer mas apenas uma estimativa. O tetracilindro japonês varia bastante o seu apetite consoante o andamento. E este, o andamento, pode ser muito diferente devido à “arquitectura” desta Ninja. Ainda assim diria que o consumo médio desta prova se cifrou entre os cinco e meio e os seis litros daquele líquido inflamável indispensável à nossa boa disposição, por cem quilómetros de momentos de sonho realizado.

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