“Então Pedro, gostaste do falcão peregrino?”.
Eh pah, oh Zé…, faz nos um favor. Cala-te lá com a lengalenga do “falcão peregrino” da “casa de Hamamatsu”. Para onde quer nos viremos, é sempre a mesma cantiga. Até parece que me estás a perguntar qual é o melhor local no Algarve para comer “frangos da Guia”. E se julgas, Zé, que a nova Hayabusa é uma moto perfeita só porque é a forma mais barata de chegar dos zero aos trezentos km/h, estás muito enganado…
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Foto: Gonçalo Fabião |
A LENDA VIVE
31 de Dezembro de 2018. Choque e espanto. A Suzuki GSX 1300R Hayabusa deixava de ser comercializada na Europa. Os ecotontos não poupam nada nem ninguém. E a entrada em vigor da norma Euro 4 em 2016 - havia uma espécie de moratória de dois anos para os modelos já em comercialização - obrigou a Suzuki a colocar um ponto final ao reinado da Hayabusa naquela data.
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Foto: Gonçalo Fabião |
Apesar de para alguns se apresentar mais feia do que um besugo com três dias de praça, a Suzuki GSX 1300 R Hayabusa tinha sido a primeira mota de produção na história a superar a lendária barreira dos 300 km/h. Na verdade, superar os 300 km/h exigiu não só um esforço para apresentar um motor potente e uma ciclística à prova de bala, mas também uma aerodinâmica absolutamente competente. A engenharia da Suzuki defendeu-se quanto ao aspecto de peixe fedorento: “é uma moto esculpida pelo vento”.
HYPER SPORT TOURER?
Certo é que
a Hayabusa recolheu uma enorme legião de fãs. Foram quase duas centenas de milhar de unidades fabricadas e vendidas por esse mundo fora desde 1999 – e não desde 1994 como erradamente referi no “live” que fiz na pagina de facebook deste blogue (
link). Há mesmo muitos fãs do modelo com duas na garagem. Uma da original classe de 99 e outra da classe de 2008 (redesenho e introdução de ABS). Agora podem adicionar-lhes a classe de 2021: uma terceira geração da Hayabusa que se equipa com as mais recentes inovações tecnológicas no sentido de oferecer uma moto contemporânea, com substanciais doses de controlo, conforto, segurança e confiança. A derradeira Hyper Sport, diz-se.
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Foto: Gonçalo Fabião |
Hyper quê? Pois…, aqui este vosso ESCAPE, partilha da opinião daqueles que colocam esta moto no enorme saco das sport-turismo e não no segmento das híper-mega-ulta-coiso-desportivas. E é a realidade que assim o exige. Há quem atravesse o continente europeu de Hayabusa. Não é que tal não seja possível de super-desportiva. Mas a forma como uma boa parte dos seus proprietários dá uso à GSX 1300R leva-nos a considerá-la uma verdadeira sport-tourer. Ainda que…, no limite da matriz, obviamente do lado das desportivas e não das turísticas.
REFINADA
A novíssima Suzuki GSX 1300R Hayabusa monta um renovado tetracilindrico de 1340cc capaz de fazer girar o centro da terra (150Nm, 190 cv), num novo quadro de dupla trave em alumínio. A electrónica é rainha e, entre outros mimos, contem com o sistema inteligente de condução Suzuki denominado Suzuki Intelligent Ride System (S.I.R.S.) que oferece o selector de modo de condução ALPHA (SDMS-α) com três modos de fábrica (A-Ativo B-Básico C-Conforto) e mais 3 modos totalmente parametrizáveis. Contem também com sistema de controlo de tração (10 modos mais o modo OFF), mapas de potência (3 modos), quick shift bidireccional (2 modos mais OFF), controlo de elevação da roda frontal (10 modos mais OFF) e ainda o sistema de controlo de travagem de motor (3 modos mais OFF). Uffffff….

O primeiro contacto com esta terceira geração da icónica “Busa” é revelador. A moto é encorpada, musculada, imponente, soberba e avassaladora. E se calhar mais coisas ainda que não me estou a recordar agora. Tocar, sentir, cheirar, sentar…, despertar os sentidos, colocar a trabalhar e soltar lentamente a embraiagem para sentir pela primeira vez esta lenda viva do motociclismo é daquelas sensações que nos ficam na memória…, “uma Hayabusa, mãe, é uma Hayabusa”…, estou a conduzir uma Hayabusa. É mesmo verdade!
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Foto: Gonçalo Fabião |
Só que…, rapidamente o tráfego urbano e suburbano conduz-nos ao pragmatismo da realidade. A moto é comprida e tem peso substancial, apesar de distribuído de forma perfeita (50/50) pela unidade. O excesso de latas nas vias rápidas da capital pede de imediato para refrearmos os desejos e optar pelo modo de condução C (conforto), onde a besta fica dócil e dominada; ou por outras palavras o míssil passa a contar com boas maneiras. Já a posição de condução, bem, enfim…, apesar de ter sido optimizada nesta nova geração em função do conforto, continua a exigir disponibilidade física por parte do condutor – nem podia ser de outra maneira…
A DERRADEIRA
A nova Suzuki GSX 1300R Hayabusa marca a paisagem. E no par de dias em que com ela rodei chamou a atenção de tudo e de todos, atraindo ainda alguns idiotas úteis sempre dispostos a um momento de putativa afirmação: a eles a Busa apenas deve responder com insolente desprezo, rumo à estrada o mais aberta possível.
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Foto: Gonçalo Fabião |
É pois ai, nos grandes espaços, que esta moto encontra o seu natural habitat e demonstra toda a sua qualidade de referência incontornável: motor sublime suportado por uma ciclística inatacável tudo sustentado por travagem e suspensões que só dignificam a obra de arte nipónica.
Sim! A GSX 1300R Hayabusa é para motocilistas experientes, corajosos e hedonistas. Jovens o suficiente e aptos fisicamente para suportarem o desafio de uma longa tirada por essas estradas fora lá até onde a conta bancária possa pagar o consumo de combustível, que se revelou nesta prova um pouco abaixo do anunciado pela fábrica - sorvendo apenas pouco mais de seis litros, daquele liquido inflamável composto em mais de dois terços por aquela inevitabilidade pornográfica a que chamam de impostos.
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Foto: Gonçalo Fabião |
A lenda está de facto de volta. Solicitando a marca uma transferência bancária de 19.800€ para que possam ter esta jóia Glass Sparkle Black/Candy Burnt Gold convosco. É de aproveitar seus “petrolheads” amamentes da velocidade. Pois esta - devido à loucura dos ecotontos que está, como um vírus mortal, a infectar a vida tal como a conhecemos - é muito provavelmente a derradeira Hayabusa. No verdadeiro sentido da palavra: de-rra-dei-ra!