quinta-feira, 31 de março de 2022

Limalhas de História #84 – 31 de Março de 1996

1996. Mick Doohan estende o seu domínio na classe 500cc, com oito vitórias. Crivillé, o Espanhol companheiro na Repsol Honda bate-o duas vezes. Ano em que Capirossi vence a sua primeira corrida. Nas 250cc, Max Biaggi, Aprilia, reclama o seu terceiro título consecutivo. E em 125cc é o nipónico Haruchika Aoki que repete a coroa. Todavia a época ficará para sempre marcada por outro facto relevante. 



Saudades das “Limalhas de História”? Sim? Também eu! Faz hoje exactamente vinte e seis anos. Malásia, velho circuito de Shah Alam. Um jovem piloto italiano que tinha chamado a si a atenção nos campeonatos de iniciação por onde tinha passado, vai arrancar para a sua primeira prova no Mundial. Nascia uma lenda. Uma lenda viva. Uma lenda que apenas há meia dúzia de meses atrás abandonou as pistas do motociclismo mundial enquanto piloto. Grazie Mille, Valentino Rossi.

segunda-feira, 28 de março de 2022

Experiência Honda NT1100 Tour Ibérico – primeira parte

O que é um cético? É uma pessoa que não acredita, que duvida ou se apresenta como incrédulo e descrente; um indivíduo que questiona uma ideia ou teoria com base na sua popularidade ou na autoridade que anuncia ou impõe essa ideia. Numa palavra, o cético é aquele sujeito que costuma questionar as verdades absolutas ou popularmente aceites. Relativizar é um bom hábito, diria… 


A nova Honda NT1100 tem, de forma natural, sido um dos destaques dos últimos tempos. Uma moto que assumiu rapidamente uma posição dominante nas conversas entre motociclistas, desde logo porque a marca japonesa a anunciou como “uma nova referência para o segmento Touring”, aquela que é uma fatia de mercado bastante relevante (ao arrepio do que alguns dizem…). 

Num primeiro texto aqui no ESCAPE (link), este vosso cético escriba colocava alguns pontos de interrogação na novidade nipónica, ao mesmo tempo que afirmava que “a nova era do Touring não o é por si própria (…) ou então, provem-me apenas que estou errado. E deixem-me entender que esta moto com as cores dignas da tal perfeita monotonia eficaz, inaugura de facto um novo tempo para o turismo de moto”. 

Passados quatro meses tive enfim oportunidade de provar a NT1100 na sua versão DCT (link). Dessa prova “resultaram duas consequências: primeira, hoje, o conceito de mototurismo alterou o seu centro geodésico deixando cair alguns aspectos como o carácter de superação e a própria genuinidade. Segunda consequência: pelo sim pelo não encomendei uma NT 1100 DCT à Honda Portugal cá para casa…, não vá eu estar profundamente enganado e a marca ter mesmo razão quando afirma “só tem de pensar numa coisa. Para onde, e até onde, quer ir?”.”. 


Tudo certo. Nada errado. No ceticismo científico existe a necessidade de certificação de crenças a partir da submissão destas a diferentes métodos científicos que possam confirmá-las ou não. Agora em português cognoscível: digo e repito, a ideia que tinha naquele momento é que na Honda NT1100 “não há deslumbre, todavia há uma sensação de competência, dever cumprido, e acima de tudo de uma facilidade de utilização que chega a ser desconcertante”. 

Foi neste estranho enquadramento de moto que anuncia uma nova era das quais (moto e era) eu duvido…, de moto por mim encomendada…, de moto sucesso imediato…, de moto nova que nunca mais chega…, que surgiu o simpático convite por parte da marca para integrar, com outros elementos da comunicação especializada, um Tour que se assume como "iniciativa ímpar a nível ibérico que permita evidenciar todos os atributos da NT1100 (…) aproveitando ao máximo estradas e paisagens merecedoras de todos os encómios e distinções, como as escolhidas para este evento que nos levou do Porto a Madrid”. Meus caros: sejam pois muito bem-vindos à Honda NT1100 Iberia Tour Experience.

[O que vão ler a partir daqui é um texto por nós adaptado que parte de um comunicado de imprensa, boletim de imprensa ou press release, como lhe quiserem chamar. Isto é, uma comunicação feita por um indivíduo ou organização visando divulgar uma notícia ou um acontecimento] 

A REAL COMPANHIA DO DOURO 
No primeiro dia desta experiência fomos do coração do Porto até à belíssima aldeia de La Alberca, em viagem de 346 quilómetros plenos de motivos de interesse, bordeando o rio Douro. O mesmo que, em tempos idos, servia de autoestrada para o transporte do vinho desde o Alto Douro Vinhateiro até às caves do Vinho do Porto. Relicários de uma história de paladar realmente único que, provado na véspera, nos acompanhará ao longo do primeiro dia de viagem. 

Saídos do hotel Eurostars Porto Douro com tempo seco, um último olhar sobre a vista privilegiada para o Douro e para as caves de Vinho do Porto, aproveitando para uma última imagem tendo por pano de fundo um dos mais importantes símbolos do Porto, a Ponte Luiz I. Deixamos a cidade para trás, ganhamos tempo rumo a algumas das mais divertidas estradas nacionais através da autoestrada, rapidamente chegados a Amarante através da A4, via que demorou décadas a cumprir o prometido ponto final ao isolamento do interior. 


Saímos da A4 rumo ao verdadeiro início deste majestoso périplo, com cerca de 75 km rodados, descendo a deslumbrante Estrada Nacional 101 em direção a Mesão Frio, um dos pontos fulcrais na produção dos melhores e mais encorpados vinhos tintos e do Porto. A estrada que vai rasgando a encosta nascente da Serra da Aboboreira, sempre de olhos postos na Serra do Marão, leva-nos para o coração do Alto Douro Vinhateiro, através de troços bem conhecidos do ciclismo, com os famosos altos de Teixeira ou do Carneiro, como dos ralis e a não menos famosa “Especial” de Carvalho de Rei ou da Aboboreira, em tempos pontos decisivos do Rali de Portugal. 

Chegados a Peso da Régua (com tempo surpreendemente quente) já a 110 km do Porto, tempo para perceber que tudo aqui vive em redor da vinha e do vinho. Do vinho e do cada vez mais turístico Douro. Passemos pela marginal para apreciar um interminável rodopio de gentes dos quatro cantos do Mundo, transformando a outrora pacata localidade transmontana numa autêntica Babel. As origens perdem-se no tempo, é certo, mas o seu grande desenvolvimento está bem marcado na história, com crescimento acentuado após 1756, data da criação da Real Companhia Geral da Agricultura das Vinhas do Alto Douro. 

Obra do Marquês de Pombal que viria a instituir a primeira região demarcada de produção vitivinícola do Mundo, estendendo-se ao longo de mais 250 mil hectares que se prolongam até Freixo de Espada à Cinta e Barca d’Alva. 

Atravessemos o Douro beijando a Nacional 2 e, pela sua margem esquerda, vamos subir rumo ao Pinhão, onde já não navegam os tradicionais barcos rabelos que transportavam o vinho até às caves de Vila Nova de Gaia, substituídas pelos camiões-cisterna que podemos apanhar pelo caminho, criando procissões de grande lentidão. Nada como uma boa dose de paciência, aproveitando para apreciar o laborioso trabalho de homens e mulheres ao longo de centenas de anos, criando uma paisagem única onde os socalcos são degraus de uma escalada única rumo aos melhores vinhos. 


E, serpenteando de forma insinuante por uma das mais belas regiões do País, uma estrada que permitirá ver não uma, mas duas áreas que mereceram classificação como Património Imaterial pela Unesco: a região Vinhateira do Alto Douro e o Parque Arqueológico do Vale do Côa. 

PELA ESTRADA NACIONAL 222 
Entorno paisagístico que ajudou a Estrada Nacional 222 (N222) a conquistar, em 2015, o estatuto de World Best Driving Road à frente de estradas famosas como a Big Sur (na Califórnia, EUA), a Bad Urach (Hohenzollern, Alemanha) ou a A535 (centro de Inglaterra). Um estudo promovido pela Avis Rent-a-Car e que assenta numa fórmula matemática que determinou a N222 como a melhor estrada para conduzir, tendo em conta o comprimento das retas e os raios das curvas. Ou seja, uma junção do prazer de conduzir, com retas que permitem ao condutor deixar apreciar a bonita paisagem duriense em seu redor. Sobretudo neste troço, entre o Peso da Régua e o Pinhão, considerado perfeito para conduzir ao longo dos seus 27 quilómetros com um total de 93 curvas. 


Uma fórmula complexa, criada pelo engenheiro Herman Tilke, famoso pelas pistas de Fórmula 1 desenhadas nas duas últimas décadas; pelo criador de trajetos radicais e algumas das montanhas-russas mais excitantes do mundo, John Wardley; e pelo físico quântico, Mark Hadley, responsável do departamento de Física da Universidade de Warwick, uma das principais universidades do Reino Unido. E que diz, a fórmula, que a estrada ideal tem uma relação 10:1. Ou seja, dez segundos de reta para cada segundo utilizado a curvar. Ora a N222 tem um rácio de 11:1, ficando assim muito próximo da perfeição, enquanto a californiana Big Sur regista 8,5:1. 

Uma estrada que, segundo Wardley, que ajudou nos efeitos especiais de cinco dos filmes de James Bond, “transmite ao condutor uma confusão de sentimentos, que vai da emoção à intimidação, culminando depois na diversão e prazer”. Sensações e emoções que assentam na multiplicidade de variações na experiência que se pode sentir ao conduzir na N222, com “velocidades diferentes, uma mistura de curvas e retas e mudanças nos pontos de vista que são, afinal, comuns à condução e à experiência de uma montanha-russa”. 


Estrada que ora se aproxima ora se afasta do Douro, contornando os vales de alguns dos afluentes do rio por onde descia o precioso néctar até às caves do famoso Vinho do Porto. E cuja configuração teve nota de excelência na análise científica que combina a geometria da estrada, o tipo de condução, a aceleração média e aceleração lateral, o tempo de travagem e as distâncias. O resultado é materializado num Índice de Condução, cuja nota depende do equilíbrio entre as quatro fases, permitindo desfrutar de velocidade e aceleração, o teste à capacidade de condução ao longo das rectas e o usufruto da paisagem envolvente. Índice que permitiu perceber o equilíbrio ideal entre esses componentes para, cientificamente, comprovar qual a melhor estrada do mundo para conduzir. 

VIAJAR NO TEMPO 
Já se disse, mas nunca é demais repetir tudo o que a N222 tem para oferecer, incluindo o acesso à Grande Rota do Vale do Côa (GR45) que, ao longo de cerca de 200 quilómetros, permite acompanhar e entender o rio onde o homem ‘assentou arraiais’ há mais de 25 000 anos. A arte paleolítica existente no Parque Arqueológico do Vale do Côa é explicada no Museu do Côa, espectacular estrutura inaugurada em 2010, concebida pelos arquitectos portuenses Camilo Rebelo e Tiago Pimentel. 

Edifício perfeitamente integrado na paisagem – onde encontrámos almoço reconfortante - sobranceiro aos vales que unem o Côa e o Douro, e onde os mais de 300 mil visitantes registados desde a sua abertura, puderam ter uma visão da arte rupestre do Vale do Côa com ajuda das mais modernas tecnologias. 


Para lá da arqueologia, o Museu do Côa é, essencialmente, um museu de arte, abordando a expressão artística na compreensão das origens da civilização e da sua importância no ordenamento dos espaços vivenciais das sociedades pré e proto-históricas. E onde ressalta enorme rigor científico, como uma mostra explicativa dos ciclos de arte rupestre do Baixo Côa e Douro superior. Com obras dos caçadores-artistas do período Gravetense, quer dos últimos moleiros rupestres da Canada do Inferno, aqui estão patentes as mais diversas sensibilidades expressas na rudeza dos painéis de xisto que há milhões de anos moldam a geomorfologia regional, com mais de mil rochas trabalhadas pelo Homem dispersas por todo o vale. 

ALMENDRA, MUITO MAIS QUE UM PONTO FINAL 
Deixemos este belo espaço arquitectónico para trás, enquanto vamos aproximando da fronteira com Espanha. Estamos já em Almendra que sem títulos ou candidatura na UNESCO, não deixa, ainda assim, de exibir um riquíssimo património edificado, com casas, solares e monumentos que a tornam numa das mais bonitas vilas históricas de Portugal. Freguesia do município de Vila Nova de Foz Côa que, em 1849, tinha 2420 habitantes e que, segundo os Censos de 2021, conta apenas 386 residentes (sendo exactamente igual o número de homens e mulheres…) já foi sede de concelho entre 1298 e 1855. 

Vitalidade social e económica que sustentou assinalável importância histórica, geradora de casas como o Solar do Visconde de Almendra, também conhecido por Solar dos Viscondes do Banho, palácio barroco que albergou, por muitos anos, os viscondes de Almendra e, por casamento, os viscondes do Banho. Edifício palaciano de dois pisos, exemplar ditoso da arquitectura setecentista do interior português, conserva o seu austero estilo barroco que se revela nas janelas ‘rocaille’, com as típicas vieiras invertidas e a marcante varanda com balaústres. O brasão de armas da ilustre família, enquadrado por um frontão curvilíneo, permanece em cima da varanda. 


Curiosamente, o brasão nunca foi devidamente terminado de esculpir, sendo no entanto evidente o coronel (a coroa que encima o escudo) de Marquês. Marco histórico da localidade de Almendra, a par do Cruzeiro e da Capela de Nossa Senhora do Campo, que ficará registado na memória fotográfica deste evento, tela de excelência para uma moto que se presta à descoberta turística dos mais recônditos e surpreendentes locais. 

RUMO A ESPANHA
Com a fronteira luso-espanhola a ficar paulatinamente mais próxima à medida que a caravana se deslocava agora para sul, a passagem por Almeida revelou apenas uma pequena parte da imponência da fortaleza, que, com uma forma única de estrela de doze pontas, representa um dos mais espectaculares exemplares europeus dos sistemas defensivos abaluartados do século XVII. É, no entanto, muito mais antiga a História daquele que é actualmente o Concelho de Almeida, com vestígios de ocupação humana desde o Paleolítico, sendo conhecidos núcleos castrejos da Idade do Bronze e do Ferro. Existe, ainda, informação inequívoca da presença romana, embora seja no período medieval, sobretudo na época da formação da nacionalidade, que ganhou importância acrescida, pela localização no limite fronteiriço do território português e pela criação dos concelhos, como forma de garantir o povoamento da fronteira. 


A importância de Almeida foi reforçada com a assinatura do Tratado de Alcañices, em 1297, com a integração definitiva no Reino de Portugal dos territórios a este do Rio Côa, até então limite fronteiriço entre o Reino de Leão e o território português. Uma presença marcante na História que, por si só, obriga a um regresso atempado à praça-forte que é candidata à categoria de Património Mundial da UNESCO. Estatuto de referência universal que acompanhou esta viagem ao longo de toda a sua extensão em território português, do Centro Histórico do Porto, Ponte Luiz I e Mosteiro da Serra do Pilar, dos Sítios de Arte Rupestre no Vale do Côa ao passando pela Região Vinhateira do Alto Douro. E de Portugal nos despedimos através de Vilar Formoso, posto fronteiriço em funções desde 1859 e sempre muito movimentado ao longo de todo o ano. Ou não fosse, ainda e sempre, esta estrutura aduaneira inaugurada em 1961 pelo Presidente da República, Almirante Américo Tomaz, o ponto de passagem da maior parte do volume de importações e exportações nacionais realizadas por via terrestre. Além das mais de cinco milhões de pessoas que cruzam anualmente a linha entre a vila beirã e terras espanholas, seja por meios rodoviários ou através do comboio, pela Linha da Beira Alta, inaugurada em 1882. 

Local de forte carga histórica, por aqui passaram milhares de refugiados judeus com vistos de passaporte atribuídos por Aristides de Sousa Mendes, o Cônsul de Portugal em Bordéus, e também por aqui regressou a Rainha Dona Amélia para a primeira visita a Portugal, em 1945, depois do seu exílio em Inglaterra e França. 

PELA VIZINHA SERRA DE FRANCIA 
Já em solo espanhol e com o céu a escurecer e o termómetro a baixar, depois de 270 km em estradas portuguesas, o mapa da viagem conduziu-nos ao coração da salamanquina Sierra de Francia, e àquela que é, sem dúvida, uma das aldeias mais representativas da Espanha. La Alberca foi declarada local de interesse histórico e artístico em 1940, sendo a primeira localidade espanhola a conseguir esta menção. Tudo graças a uma malha urbana que que preserva como poucas os traços da idade média, como bem preservadas estão as suas tradições centenárias, transmitidas de geração em geração. Depois de uma viagem tão intensa de História e paisagens, nada como uma caminhada pelo intrincado labirinto de ruas e praças de La Alberca, com perspectivas surpreendentes em cada esquina. A arquitectura típica assenta, de forma natural, nos materiais mais abundantes na serra de Francia, juntando a solidez da pedra granítica e as trabalhadas madeiras de formas geométricas. Isto sem perder de vista os lintéis esculpidos com a data de fundação das casas, as diversas inscrições, sinais e anagramas religiosos, que se apresentam como uma bem visível profissão de fé. 


Com os andares superiores a salientarem-se em relação aos inferiores, os telhados dos dois lados da rua quase se tocam, criando um curioso jogo de sombra e luz ao longo de uma estrutura urbana intrincada, labiríntica, como que escondendo segredos centenários, que muitos assemelham a um bairro judeu. Destaque para a Plaza Mayor, ponto central de La Alberca, com as fachadas marcadas por duas fileiras de varandas, arcadas e colunas de granito, numa união secular das culturas cristã, islâmica e judaica. E foi aqui mesmo que nos deliciamos com os sabores e delícias gastronómicos do país vizinho. Era enfim hora de relaxar, jantar e conviver. 

[CONTINUA…]

segunda-feira, 21 de março de 2022

Honda ADV350 à prova

Ainda te lembras daquilo que verdadeiramente te fez começar a andar de moto? Eu lembro-me, e bem. E lembro-me sobretudo dos aspectos mais relevantes que me consolidaram no motociclismo. Num dado momento da minha vida eu desejei muito que os entediantes momentos nos transportes públicos entre casa e a escola, ou casa e o lazer, se transformassem de forma mágica em momentos de pura diversão. 

Foto: Gonçalo Fabião

Foi um misto de forte desejo de liberdade, mobilidade e prazer (o resultado da equação seria traduzível em sorrisos) que me fizeram levantar aqueles cinquenta contos (mais juros) que um dia com muito esforço a minha avó Glória me tinha oferecido. Deus a tenha, Querida Senhora, nunca mais provei nem irei provar uns pastelinhos de bacalhau como os dela. Fica a devida homenagem a quem, sem imaginar, tanto contribuiu para que um dia um motociclista nascesse e crescesse. 

Dificuldades tiveram também os meus amigos de liceu de me convenceram a ficar com a “mota do David”. Uma Confersil Cross Especial, mais ou menos destruída, que montava um motor Casal com caixa de cinco velocidades, forquilha dianteira Tabor, e um escape tipo megafone que à noite acordava meia Lisboa.

Foto: Gonçalo Fabião

Juro: foi um pesadelo aprender a andar de moto naquilo! Eu passava a vida no chão e a mota na oficina. Um dia encostei-a. Esteve nove meses parada, à chuva, vento e sol. Quase desisti. Graças à inflação da época e a alguma “esperteza saloia” vendi-a pelos mesmos cinquenta contos que a tinha comprado. E esse terá sido um dos dias mais felizes da minha vida. 

Foto: Gonçalo Fabião

Todavia a Confersil Casal Cross Especial, para além de me ensinar a andar de moto, ofereceu-me também a possibilidade de ter um veículo distinto e divertido – quando andava -, provido de personalidade e alma própria a que ninguém ficava indiferente (desde logo pelo cheiro nauseabundo e barulho ensurcedor que emanava).

SCOOTER PENSADA PARA EXPLORAR 
Revelada em Milão, no EICMA do ano passado e muito recentemente apresentada na Sicília, a novíssima ADV350 nasce do cruzamento de duas motos bem conhecidas do ESCAPE. Por um lado a X-ADV (link), por outro a Forza 350 (link). Isto é, tal como a velha Confersil mas agora no século XXI, aqui esperamos encontrar diferença, personalidade, divertimento no entanto com muito maioooooooooooor dose de facilidade de utilização – e sem manchas de óleo na roupa ou joelhos esfolados. 

Foto: Gonçalo Fabião

Da primeira (X-ADV) dissemos ser uma moto carismática que revela desde logo uma nota de mestiçagem, “uma mistura fina de estilos que vai do urbano ao roadster sem esquecer um belo passeio fora de estrada pelo campo ou quem sabe uma incursão turística até mais além”. Já a Forza 350 revelou-se uma scooter eficaz e económica, sobretudo porque a furtei à cidade e levei-a a passear até à cidade de Coimbra e “honestamente o balanço não podia ser mais positivo. Num tempo de gasolina caríssima faz todo o sentido encontrar um veículo eficaz e económico quando são necessárias deslocações mais longas do que o aborrecido casa-trabalho-casa”, escrevemos na altura. 

A ADV350 monta num quadro tubular em aço, uma forquilha invertida de 37 mm e dois amortecedores traseiros de “longo curso” com reservatório exterior. O motor de 330 cm³ debita uma potência de 30 cv e um binário de 31,5 Nm sendo a tracção gerida pelo sistema HSTC (dois níveis de utilização e também desligável). As jantes de baixo peso - 15 polegadas na dianteira e 14 polegadas atrás - têm pneus mistos nas medidas 120/70-15 e 140/70-14, respectivamente. Na travagem o disco dianteiro de 256 mm é complementado atrás por outro disco, este de 240 mm. 

Foto: Gonçalo Fabião

No que diz respeito ao conforto, o para-brisas pode ser regulado em altura (ajustável em cinco posições) e o espaço debaixo do banco tem capacidade para dois capacetes integrais, existindo também uma ficha USB C no porta-luvas. O painel de instrumentos em LCD integra o sistema HSVCs de controlo de voz para telefones ditos espertos e o sistema Smart Key oferece ainda maior natureza pratica na utilização diária. 

Foto: Gonçalo Fabião

Nesta prova marcada pelo regresso da chuva, a ADV350 revelou desde logo uma posição de condução firme, com o seu guiador algo largo a aumentar a dose de segurança de um veículo eminentemente urbano. Sentimos qualidade e confiança no eixo dianteiro e só lamentamos que aqui a protecção aerodinâmica ceda um pouco perante o estilo. Também no capítulo da travagem a Honda pode e sabe fazer melhor. 

A GRANDE CIDADE E UM POUCO MAIS ALÉM 
Vencida com facilidade a batalha urbana, onde o motor vivo SOHC eSP+ (enhanced Smart Power+) de quatro válvulas impõem a presença desta pequena aventureira e a suspensão absolutamente eficaz vence todas as barreiras, a grande curiosidade residia em saber o que vale esta moto num fora de estrada que ofereça conteúdo à bandeira que a marca levanta quando quer comunicar esta moto: “espírito de aventura, estilo urbano”. 

Foto: Gonçalo Fabião

A verdade é que a ADV350 surpreendeu e cumpriu muito bem aquele escape suave em vários dos nossos quintais fora de estrada. Não esperem uma moto de “cross” para andar aos pulos e aos saltos ou uma moto para uma maratona “off road”. Esperem sim uma moto divertida para vos levar àqueles caminhos sem asfalto perto de casa que andam há tanto tempo para conhecer e até explorar. 

Foto: Gonçalo Fabião

Podem ainda confiar nos mistos Metzeler Karoo Street que equipam a moto da Honda desde que evitem a lama, em especial aquela mais barrenta. Todavia o ESCAPE sublinha: abusar da leve ADV350 é muito fácil e os limites são fáceis de encontrar…, notem ainda que infelizmente não sendo possível desligar o sistema ABS da pequena roda traseira, a eficácia da condução fora do asfalto pode ficar algo comprometida. 

Foto: Gonçalo Fabião

Esta Spangle Silver Metallic (NH-A49) reclamou quatro litros redondos daquele líquido inflamável que está quase, quase, ao preço de Vodka da boa por cem quilómetros de confiança, prazer e até diversão. A Honda pede uma transferência bancária de 6.250€ por esta ADV350 - um valor que nos parece muito interessante por aquilo que aqui a marca oferece - estando ainda disponível toda uma gama completa de acessórios para, onde se inclui a Top Box de 50 litros das imagens que é compatível com o sistema Smart Key.

segunda-feira, 14 de março de 2022

Honda Dax está de regresso ao mercado europeu

A fantástica Dax regressa à gama de modelos da Honda na Europa após uma ausência de 41 anos. Evitando as "tentações" de design a nova Dax junta-se agora à Monkey e à MSX125 Grom na linha de minimotos da Honda. 


Um modelo autêntico, robusto e com prazer de condução simples, a Honda Dax - o visual faz lembrar um cão Dachshund, uma raça universalmente adorada, a esta raça também chamamos carinhosamente de "cão-salsicha - possui um quadro em T, simbólico e exclusivo, forquilha invertida (USD) de 31 mm, jantes de 12 polegadas, motor SOHC de duas válvulas arrefecido a ar e caixa de quatro velocidades com embraiagem centrífuga. A iluminação integral por LEDs, os instrumentos compactos de LCD negativo e a pega para o passageiro se agarrar completam a lista completa de especificações; no entanto a atração básica, e sem idade, do inconfundível estilo da Honda Dax é algo que nenhum grupo de especificações consegue dar. 

O grupo de minimotos da Honda apela tanto a condutores jovens como de mais idade. A renovada Honda Monkey 125 faz lembrar os anos dourados da década de 1970, uma forma de transporte urbano completamente moderna, compacta e divertida para os condutores de todas as idades. A MSX125 Grom oferece um estilo personalizável e informal para a denominada "Geração Y", mas é também uma forma de transporte perfeita nos paddocks das competições automóveis e de motos. 


Para 2023, há um novo modelo que se vem juntar à gama. A Honda Dax ST125 é um modelo novo, totalmente autêntico e genuíno do original de 1969, que oferece performances de um modelo do século 21, tanto em termos de ciclística, como de motor e ergonomia. A versão mais recente da Honda Dax foi produzida de 1995 a 2003 para o mercado japonês. O recente sucesso na Europa das suas irmãs pequenas deu um novo fôlego ao regresso deste modelo que com o seu charme irrequieto e a condução descontraída formam a base da Honda Dax ST125.

QUADRO EM T SIMBÓLICO E EXCLUSIVO
É claro que a nostalgia terá um papel fundamental no apelo da Honda Dax a pessoas, agora na meia-idade, que podem ter conduzido uma Honda Dax na juventude e que agora gostam muito de a ver regressar. Da mesma forma, ser "retro" é bastante importante para os mais jovens; falamos de um modelo retro real e não falso. Algumas motos têm, um estilo que as coloca numa liga à parte e a Honda Dax tem exatamente isso em abundância graças à forma simbólica do seu quadro em T. 

A Dax original de 1969 

Tal como deve ser, a Honda Dax é simples. O seu quadro em aço dá toda a resistência necessária e aloja o depósito de combustível; a forquilha invertida /USD) de 31 mm de diâmetro, os dois amortecedores atrás e as jantes de 12 polegadas, com pneus grossos, oferecem uma direção leve e excelentes suspensões. A travagem está a cargo de um sistema hidráulico por disco, à frente e atrás, controlados por ABS.

O estilo deste modelo é realmente o seu quadro; tudo está ligado a ele ou alojado dentro dele, dando à Honda Dax um visual inconfundível retro. Isto passa-se também com todos os outros componentes; o banco duplo e espesso – quando sentado, a altura ao chão é de apenas 775 mm – o guiador cromado, e alto, e o escape ascendente inspirado nas "dirt bikes" dos anos 70 com proteção térmica perfurada, ranhurada e cromada. A secção central do quadro tem uma faixa preta com o nome "Dax" escrito numa fonte específica e peculiar, logo ao lado do logótipo clássico da asa Honda que assinala a herança especial deste modelo. O toque final único é dado na forma de um cartoon de um cão-salsicha, o Dachshund. 


O guarda-lamas cromado assume uma posição de destaque, por baixo do farol circular evocativo. Como toque extra de charme do farol, são usados LEDs redondos exclusivos e os piscas/luzes de presença à frente estão colocados confortavelmente entre os feixes de médios e máximos. Os instrumentos compactos e redondos são de LCD negativo, o farolim e os piscas traseiros são inspirados no design do farol e, tal como à frente, também são de LEDs. 

A forquilha invertida (USD) de 31 mm de diâmetro oferece respostas flexíveis e é complementada pelo guiador largo, e inclinado para cima, que facilita a direção e a maneabilidade da Honda Dax. Dois amortecedores traseiros são muito suaves, mesmo com passageiro. As jantes escuras de 12 polegadas (oriundas da super-cool MSX125 Grom) usam pneus mistos e grossos; as medidas são de 120 mm à frente e 130 mm atrás. Esta combinação de jantes e pneus aumenta a tração e melhora a maneabilidade. A travagem é gerida por um sistema ABS de um canal. Os travões hidráulicos possuem discos de 220 e 190 mm, respetivamente, à frente e atrás. 

MOTOR EURO5 ARREFECIDO A AR DE 124CC
O motor SOHC de 124 cm³ e duas válvulas é robusto e comedido, com entrega linear de potência e binário suave. A embraiagem centrífuga gere as quatro mudanças da caixa, pelo que não há necessidade de montar uma manete de embraiagem no guiador. Basta simplesmente "rodar o punho e sair"; as mudanças de acionamento tradicional pelo pé esquerdo conferem a este modelo uma vantagem adicional. Oriundo do motor da nova Super Cub C125 – tão flexível, eficiente e durável – o motor arrefecido a ar de 124 cm³ da Honda Dax tem uma cabeça SOHC de duas válvulas, com curso relativamente longo e compressão elevada; o diâmetro é de 50 mm e o curso tem 63,1 mm, com relação de compressão de 10,0 : 1. O pico de potência é de 6,9 kW e chega às 7000 rpm, com o binário máximo de 10,8 N·m a aparecer às 5000 rpm. As fortes performances do motor permitem chegar aos 90 km/h, com acelerações fortes logo desde baixa velocidade - exatamente o que é preciso para ter uma condução divertida na cidade. 

No lado esquerdo da moto, a distinta caixa de ar oval, o filtro e o tubo de ligação garantem um fluxo de admissão de ar, suave e eficiente, permitindo obter acelerações vigorosas. O escape ascendente e a sua proteção térmica fazem lembrar a época dourada das motos, a década de 1970. Só precisamos aqui de um catalisador único; graças à programação precisa da ECU e à eficiência de combustão do motor, foi possível obter-se a conformidade com a norma EURO5. 


Mantendo toda uma sensação de descontração e facilidade de condução, a caixa é uma unidade de 4 velocidades (com ponto morto no fundo); esta caixa é operada por uma embraiagem centrífuga, sem a necessidade de ter uma manete de embraiagem. Com a Dax parada, basta ao condutor selecionar a mudança desejada no pedal acionado pelo pé esquerdo; depois, ao acelerar, a embraiagem engrena automaticamente, o que acontece também nas mudanças mais altas ou mais baixas. 

Foram usadas diversas tecnologias modernas de redução do atrito, por exemplo, um cilindro descentrado e balanceiros de rolete na cabeça do motor; tudo isto garante consumos impressionantes de 1,56 l/100 km (63,7 km/l) (em modo WMTC). A autonomia da Dax é cerca de 240 km por cada depósito de 3,8 l de combustível. 

Com peso em ordem de marcha é de apenas 107 kg, a Honda Dax de 2023 vai estar disponível em Vermelho Pérola Nebula e Cinzento Pérola Cadet com preço a anunciar num futuro próximo. 


Notem que neste ESCAPE se cultivam valores como a transparência e honestidade.O que acabam agora de ler não é propriamente um post e sim um comunicado de imprensa, boletim de imprensa ou press release, como lhe quiserem chamar. Isto é, uma comunicação feita por um indivíduo ou organização visando divulgar uma notícia ou um acontecimento (ao qual tomei a liberdade de fazer o corte e costura que achei mais conveniente).

segunda-feira, 7 de março de 2022

Escape como missão a missão do ESCAPE

O ESCAPE MAIS ROUCO nasceu no dia 13 de Abril de 2015. Tal significa que no próximo mês completará sete anos. Está um crescido. É conhecido o folclore popular em torno do número 7. É o algarismo que representa a espiritualidade. Um número fundamental na numerologia. O número da perfeição que integra o mundo. Sete são os dias da semana, sete são as cores do arco-íris. São sete as maravilhas do mundo antigo e sete são as maravilhas do mundo moderno. A Grécia teve sete sábios, são sete os pecados capitais e em sua oposição encontramos as sete virtudes divinas. Quem não quer estar certamente fechado a sete chaves ou muito menos debaixo de sete palmos de terra são os sete anões. Basta de cha7adas


O ESCAPE nasceu aqui (link) enquanto “blogue pessoal (e passional) em modo curva contracurva. Ou seja: registo de dados na Rede, subjectivo e com enorme afecto, elaborado em linhas que seguem num determinado sentido e outras noutro”. 

A natureza de blogue pessoal esbateu-se bastante a partir de Junho de 2020 com a colaboração na imagem do Gonçalo Fabião. Com o seu trabalho livre, criativo e honesto o Gonçalo ajuda a fazer crescer o blogue qualitativamente e quantitativamente. Acho que nunca lhe tinha agradecido aqui: muito obrigado Fabião. Pontualmente também temos tido a Susana a escrever algumas coisas. Temos de a voltar a chatear :) 

[Por falar em Junho de 2020 aproveitem para recordar os dois primeiros trabalhos do Gonçalo no ESCAPE.., aqui (link) a prova à Kawa Ninja 1000SX Tourer e aqui (link) a notável Estrada Nacional 115, a “Rainha do Oeste”] 

O vosso ESCAPE MAIS ROUCO lá vai fazendo o seu caminho. Na página Facebook que suporta este blogue (link) são já quase 20.000 motociclistas que nos seguem. No Instagram vamos mais devagarinho. Todavia ainda assim a caminho dos três mil seguidores (link). E este fim de semana o ESCAPE acaba de nascer no Twitter, é pois um passarinho recém nascido :) É ainda cada vez mais provável que outros caminhos surjam em breve. A seu tempo as novidades serão reveladas… 

Quase sete anos na estrada da blogosfera e das redes sociais que suportam o blogue, exigem ao ESCAPE uma boa dose de responsabilidade social. Mais do que isso: de missão. Entre outras coisas mais missão é um encargo, uma incumbência, o desempenho de um dever. E é tempo então de dotar este ESCAPE da sua devida Missão. Hoje O ESCAPE é um blogue em modo curva contracurva cuja missão é oferecer conhecimento a partir da minha experiência enquanto motociclista na promoção da cultura moto como estilo de vida saudável

Uma nota final para a imagem do Gonçalo que acompanha este post. Uma fotografia que, na nossa opinião, ilustra de forma brilhante a missão a que este blogue se propõe. Um momento de sorriso aberto com a Royal Einfield que pode muito bem ser síntese e metáfora já que a Himalayan é aquela “moto inclusiva que surge pronta para tudo e para todos (…), moto abrangente, procurada por um espectro tão alargado que vai da jovem motociclista feminina inexperiente e cheia de gana, ao maduro e experiente motociclista que procura um momento “back to basics”” (link). 

Muito obrigado a todos que nos seguem, acompanham e suportam. Isto é para vós!
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