segunda-feira, 18 de dezembro de 2023

Benelli TRK 702 X à prova

Quarenta horas de motociclismo desafiador, intenso e apaixonado. Em síntese, foi assim no passado mês de Outubro aqui (link) na Benelli Adventure Experinece. Desses dias trouxemos memórias de uma moto divertida com linhas impactes. Gostamos mais da versão X que nos pareceu mais afinada e eficaz. Todavia faltava fazer uma prova mais ecléctica, com tempo e asfalto secos, onde fosse possível dar o salto para a terra. 

Foto: Gonçalo Fabião

Aqueles dias de temporal desfeito em Outubro passado, deixaram-me a sensação que esta moto valia muito mais do que foi possível provar no evento da marca, limitado por condições meteorológicas desafiantes – quando não foram verdadeiramente avassaladoras. A marca aceitou o desafio do ESCAPE. E agora podemos oferecer uma visão mais completa do que é e do que vale a Benelli TRK 702 X. Aliás, os leitores deste blogue não esperam menos do que rigor. E isso é muito bom. 

Foto: Gonçalo Fabião

Falar ou escrever sobre Benelli é sempre muito bom pois gera paixão. Amor e ódio andam de mãos dadas e quando o olhar descansa na TRK 702 X o barulho estala. Quem feio ama, bonito lhe parece, diz o ditado. Sim, as linhas da moto são desafiantes. Cada qual encontra aqui referências à marca que mais lhe convém. Normal. Querem saber a minha opinião? Eu gosto. Como lhe fica bem, TRK 702 X, esse dramatismo. 

FRANCAMENTE APTA 
Nestas linhas arrojadas a marca monta num quadro tipo treliça um motor bicilindrico paralelo (698cc, 70 CV, 70 Nm). O conjunto tem um deposito de cerca de 20 litros de combustível e não é propriamente um conjunto leve, pesando 235 Kg em ordem de marcha. Tal como o motor, suspensões e travagem são desenvolvidas pela marca. Na frente a opção foi por uma jante raiada de 19’. 

Foto: Gonçalo Fabião

A TRK 702 X revela de imediato uma posição de condução bastante correta. A habitabilidade é boa graças a uma protecção aerodinâmica decente e eficazes “handguard”. O painel de instrumentos é espartano, todavia legível em todas as circunstâncias. 

Foto: Gonçalo Fabião

A revelação começa logo na cidade onde encontramos uma moto perfeitamente adaptada ao ritmo diário, muito graças ao seu são equilíbrio. Optamos por rodar com malas laterais, todavia sem a inestética top case. 

Foto: Gonçalo Fabião

A presença daquela revela-se algo elevada face ao centro de gravidade da moto. E tal é suficiente para retirar algum equilíbrio ao conjunto. Apenas foi por nós utilizada quando verdadeiramente necessária. Nos espaços apertados a Benelli TRK 702 X surpreende pela forma como se adapta ao terreno urbano. A utilização é fácil e o comportamento ágil e facilitador. 

Foto: Gonçalo Fabião

Na estrada comprovamos a elasticidade da unidade motriz. Os regimes médios são a praia deste motor que é satisfatório para uso diário. Sentimos alguma vibração nos poisa pés sempre que elevávamos o ritmo em autoestrada para lá do que a lei estradal permite. No entanto, o que queríamos mesmo era ver o fim do asfalto. A intuição dizia-nos que esta moto seria uma bela surpresa por maus caminhos. 

Foto: Gonçalo Fabião

E a intuição estava…, certa. Aqui notamos uma enorme evolução face a TRK 502 X (recordar aqui). Não querendo estabelecer comparações muito menos comparativos, é, todavia, impossível deixar de sentir que as suspensões já admitem aqui uma boa dose de aventura off-road, ainda que o eixo dianteiro possa vir a ser melhorado ao nível da eficácia de amortecimento.

Foto: Gonçalo Fabião

O equilíbrio mantém-se. E a condução apenas não é mais viva e efectiva pois não é possível desligar o auxílio ABS na roda traseira. Uma mordacidade mais pronta na travagem seria igualmente apreciada. 

BEST BUY MOTORCYCLE 2023? 
E a Benelli TRK 702 X é isto. Uma moto polivalente. Agrada a todos os que a provam. Ao menino. À menina. Ao urbano. Ao modesto viajante. Aquele que gosta de passear no quintal poeirento. Ao sonhador com mundos de aventura. E agrada ainda ao motociclista experiente que deseja ter algo menos corpulento na sua garagem. 

Foto: Gonçalo Fabião

A 702X agrada ainda pela sua economia. Esta Brown Orange Really Nice -nome da cor por nós agora inventado :) – solicitou pouco mais de quatro litros e meio de sumo doirado de dinossauro por cada cem quilómetros de boa disposição oferecida, pedindo a marca uma transferência bancaria de 7.890€ para a levarem convosco.

Foto: Gonçalo Fabião

Notem ainda que a marca oferece, por estes dias, o conjunto de malas originais Benelli. A Campanha é reservada aos modelos TRK 702 X e TRK 702 matriculados até 31/12/2023, nos concessionários aderentes e limitado ao stock existente.

segunda-feira, 11 de dezembro de 2023

Suzuki V-STROM 1050DE à prova

Quem terá sido o primeiro português a sonhar com a África? E tu, quando foi a primeira vez que sonhaste com Africa? Nunca saberemos quem terá sido o primeiro português a sonhar com África. Todavia a história ensina que A Conquista de Ceuta - cidade islâmica no Norte de África - por tropas portuguesas sob o comando do Rei D. João I de Portugal, aconteceu em Agosto de 1415. Hoje sabemos ainda que os preparativos para tal, como a recolha de materiais e dinheiro, iniciaram-se com anos de antecedência e progrediram lentamente, com o objectivo final a ser sempre mantido em segredo. Não foram, por exemplo, aumentados os impostos, pois isto exigia uma reunião de Cortes e acarretava o risco de colocar em risco a expedição. 

Foto: Gonçalo Fabião

Eu cá lembro me bem de quando comecei a sonhar com Africa. Já era motociclista. E um dia, nas páginas da Motojornal, a semanal, a verdadeira, foram publicados um conjunto de textos do conhecido Ernesto Brochado, à época, julgo, presidente do Moto Clube do Porto. Naquele tempo sonhar com Africa significava sonhar com Marrocos, um pouco como os nossos antepassados de há mais de seis séculos todavia com objetivos diferentes. 

Foto: Gonçalo Fabião

Quando tive moto para me aventurar por Marrocos não descansei enquanto não vi, cheirei e saboreei o deserto. No entanto nunca ousei aventurar-me para sul do famoso Erg Chebi, ou de Sidi Ifni na costa atlântica. Há vinte e muitos anos, Tan-Tan já nos parecia demasiado longe e o outrora mítico Cabo Bojador absolutamente inacessível, pois encontrava-se em território controlado pela temível Frente Polisário. 

Foto: Gonçalo Fabião

A Frente Polisário, assumia-se como um colectivo político-revolucionário que lutava em prol da autonomia do território do Saara Ocidental e pela autodeterminação do povo saaraui, mediante a instituição da República Árabe Saaraui Democrática (RASD). Na verdade este movimento assumiu um cessar-fogo com Marrocos em 1988, contudo nunca se sabia bem o que poderia acontecer de um momento para o outro. 

Foto: Gonçalo Fabião

Por incrível que pareça foi (também) nisto tudo que pensei enquanto provava a Suzuki V-STROM 1050DE. Nisto e na quantidade incrível de motociclistas mais ou menos conhecidos que no passado mês de Novembro desciam e subiam África. Com a questão do Saara Ocidental resolvida ou pelo menos adormecida, os motociclistas deixaram de olhar para o sul de Marrocos e para Mauritânia como um problema e sim como uma solução. São mesmo muitos aqueles que se vão aventurando por África, pelo menos até ao Senegal, em busca do icónico Lago Rosa. Os mais afoitos não ficam por ai e “descem” até à Gambia, Guiné-Bissau e Guiné-Conakri. Há já mesmo muitos a sonhar com incursões mais dramáticas pela anteriormente denominada Africa Negra: Serra Leoa, Libéria, Costa do Marfim, Gana, Togo, Benim, Burkina Faso e Mali. E é precisamente aqui que o sonho encontra a realidade. A V-STROM 1050DE - DE de “Dual Express”? “Desert Explorer”? Tudo misturado? Ou apenas DE de Delicioso Escape? - pode muito bem ser a moto para esta aventura. 

DUAL EXPRESS 
A Suzuki V-STROM 1050DE é desde logo uma moto carregada de personalidade e até algum carisma. A estética irreverente remete imediatamente para o final dos anos oitenta, inicio dos noventa. DR Big e DR Z. Bico de pato. O Dakar africano que não volta mais. Tudo é aqui chamado à festa. Tal como os enormes monocilíndricos. Olhamos nos olhos desta 1050DE e vemos os grandes espaços. Há magia e túnel do tempo. Tudo sublinhado pela dupla trave em alumínio que serve de quadro. E ainda mais destacado pelo sonoro motor V2 a 90º - 1037cc, 107cv, 100Nm – aqui assistido pelo S.I.R.S (Suzuki Intelligent Ride System)

Foto: Gonçalo Fabião

Todavia nem tudo é imediatamente fácil. São 252 Kg em ordem de marcha. E temos um assento a uns “quilométricos” 880mm de distância ao solo. A Suzuki V-STROM 1050DE não é para todos. O meu metro e oitenta deixa-me apenas tocar com as pontas dos pés no chão. Não é moto que se deixe colocar num sítio qualquer. Exige atenção, perícia e alguma experiência. E aqui a excelente notícia é que a distribuição de massas é exemplar e o equilíbrio soberbo. As manobras com a moto parada – como comprovamos na sessão fotografia – são relativamente fáceis. E mesmo em condução urbana a moto surpreende pela facilidade de utilização ainda que requeira o cuidado idêntico ao do passeio de um elefante dos grandes. 

DESERT EXPLORER 
Do que a V-STROM 1050DE gosta é de espaço. Em estrada a suspensão revela imediatamente qualidade superior tal como já tinha revelado a irmã mais nova 800DE (link). Ficamos pois perante um solido conjunto de ciclística à prova de bala e motor a gritar por aventura. À medida que conhecemos a moto ficamos também com a certeza que a protecção aerodinâmica é muito razoável o que nos faz então sonhar e reclamar por outras paragens. Lembramo-nos dos nossos amigos lá longe na África subsariana e como provavelmente iam gostar de engolir fronteiras com esta Suzuki. 

Foto: Gonçalo Fabião

Quando o asfalto termina temos de ter noção que por muito grandes que sejam as suas orelhas os elefantes não voam. Continuamos a ter uma moto excelente para viajar – mesmo a dois e carregados - por maus caminhos. Todavia esqueçam por favor percursos mais sinuosos ou trialeiros. Para tal a marca terá outras opções mais versáteis 

DELICIOSO ESCAPE 
Quis o destino que esta prova à Suzuki V-STROM 1050DE de certa forma inaugure um novo capitulo neste vosso ESCAPE MAIS ROUCO. Aproveitamos a ocasião para vos apresentar a Miss Yoshimura

Foto: Gonçalo Fabião

Hideo "Pops" Yoshimura, hoje praticamente conhecido apenas pelos escapes que a fábrica, seu legado, produz, criou fama e fortuna pelo engenho de conseguir extrair verdadeiros milagres de motores antigos e pouco performantes. Este engenho transformou-se em verdadeira arte. E "Pops" Yoshimura fica na história do motociclismo como uma espécie de mago dos motores. 

Foto: Gonçalo Fabião

Hábil, comprometida, apaixonada, inventiva, resiliente e resistente. Os valores da Miss Yoshimura combinam na perfeição com os do mago “Pops”, sendo igualmente esta mais uma homenagem deste blogue - desta vez a um dos maiores criadores de cultura moto de todos os tempos. Notem que Miss Yoshimura escreve sobre pseudónimo, isto é , nome fictício usado por ela como alternativa ao seu nome real. Sublinhamos, aqui há identificação e não anonimato como as imagens comprovam. 

Foto: Gonçalo Fabião

Para a Miss Yoshimura a moto é de facto alta. Assim que subi para a Suzuki V-Strom 1050 DE senti que iria viver uma experiência absolutamente incrível! Sabendo da sua potência e conjugando este dado com a ausência da habitual Top Case que dá conforto ao passageiro em motos desta natureza, o primeiro desafio começou logo no momento em que tive de procurar a melhor forma de me equilibrar. A solução passou por saber conjugar todos os factores e desfrutar do conjunto. Rapidamente percebi que não haveria melhor forma de viajar senão, literalmente, com “uma mão à frente e outra atrás”. Conforto, força, som incrível, são sensações que se mantém na minha mente depois dos quilómetros rodados, e ainda foram bastantes. Foi fácil enquanto passageira acompanhar a condução por todos os locais onde passámos, mesmo no fora de estrada em estradão. Cada vez que o Pedro rodava o punho, era como se eu própria estivesse com as mãos no guiador, esboçando um sorriso de orgulho! Foi uma bela experiência! 

Foto: Gonçalo Fabião

Diria que para “início de conversa” a Miss Yoshimura captou muito bem a essência da Suzuki V-STROM 1050DE. Moto física e que se destaca das demais. Moto que pede viagem e aventura. Moto com identidade. Esta Champion Yellow No.2 / Metallic Mat Sword Silver solicitou pouco mais de cinco litros por cada cem quilómetros de personalidade solicitando a marca uma transferência bancária de 15.999€ para que a levem a passear.
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