segunda-feira, 29 de agosto de 2022

Royal Enfield Scram 411 à prova

Back to basics. Expressão que nas doutas palavras do Cambridge Dictionary - por mim livremente traduzidas - significa regresso às simples e mais importantes coisas. Quem é como quem diz: regresso a casa. 

Foto: Gonçalo Fabião

Este Escape passou uma boa parte do passado mês de junho na estrada. Foram quase três semanas longe de Lisboa, a base deste blogue. Já não viajava de moto na Europa durante tanto tempo desde o mesmo mês do ano da Graça de 2000, precisamente há vinte e dois anos. 

Naquele tempo de transição de século e até de milénio, de Honda ST 1100, subi pela primeira vez à Suíça Central, desci à Áustria, visitei Praga e estiquei as perninhas da gloriosa Pan-European para lá da cortina de ferro que então ia caindo. Bratislava ainda se encontrava linda e perfumada pelo estranho odor a mistura dois tempos dos velhos motores Trabant. 

Já no passado junho, enamorado pela auto-proclamada Nova Era do Touring, depois de uma breve e inesquecível pequena paragem em Paris, voltei a subir a eterna Suíça Central e descer novamente para a Áustria. Todavia o admirável clima dos tempos que correm encheu o país da edelweiss de neve às portas do verão, neve que me fechou as cancelas da mágica Grossglockner High Alpine Road

Foto: Gonçalo Fabião

Calma! Ficou mais tempo para aquele que passei a considerar ser o melhor cenário para motociclismo na Europa: os Dolomitas. Ainda houve tempo para dedicar quase uma semana aos eternos Alpes franceses e, enfim, regressar a casa, às simples e mais importantes coisas: back to basics

REALIDADE E PRAGMATISMO 
A Royal Enfield Scram 411 estava agendada para prova neste blogue antes da partida, tendo servido durante uma semana precisamente como uma bela ferramenta de regresso à realidade: a diária vida urbana, o poeirento escape no quintal, a fuga de mochila às costas, no fim de mais um entediante dia de trabalho no verão, para aquele mergulho na praia mais próxima, banho que reequilibra e coloca os planetas todos alinhadinhos no seu sitio, uma e outra vez mais. 

Foto: Gonçalo Fabião

Já disse isto noutro local, mas volto a dizer aqui para que fique bem claro: quando não sabes fazer mais nada e provavelmente nem motociclista és, mas queres fazer um review (como agora se diz) a esta moto, colocas uns drones a voar, uma música pseudo épica igual a qualquer música de elevador e debitas a ficha técnica da Scram 411 como se ela fosse uma moto qualquer. Tudo igual, tudo monótono, tudo banal. Tudo aquilo que a Royal Enfield Scram 411 na verdade não é. 

FACILITADORA E INCLUSIVA 
Tal como a nossa casa, a Scram 411 não tem mistérios nem segredos. Tendo por base a pequena aventureira Himalayan, partilha com esta a base, isto é, o reconhecido quadro tubular em aço bem como o singular monocilíndrico refrigerado por ar-óleo com 411 cc. - 24 cv de potência e binário máximo de 32 Nm. Apontem desde já o facto de sentirmos o motor da Scram 411 com mais disponibilidade e desempenho nos baixos e médios regimes face ao motor da Himalayan, o que facilita bastante o desempenho na diária condução urbana. 

Foto: Gonçalo Fabião

Todavia as diferenças para a “moto dos Sherpas” vão muito mais além do que uma simples afinação de motor e ciclística. Aqui, na Royal Enfield Scram 411, vão encontrar uma jante dianteira de 19 polegadas, suspensões com um curso ligeiramente menos abrangente, um guiador mais baixo e mais próximo do condutor. O assento da Scram é também diferente da Himalayan com o objectivo de tornar esta moto mais inclusiva

Foto: Gonçalo Fabião

Outros detalhes: a Scram 411 apresenta uma óptica ligada à direcção - como tal se movimentasse conforme o guiador -, pequenos painéis de carnagem e instrumentos menos clássicos que a sua base himalaia.

HONESTA E DIVERTIDA 
Sim, Pedro, e afinal ao que tudo isso sabe? Pois bem…, a Royal Enfield Scram 411 traz consigo a beleza, charme e até nobreza das coisas simples. O normal ato de colocar a trabalhar o honesto monocilindrico envolve-nos de imediato em coolness. A partir desse momento tudo é simplicidade e resta-nos fazer passear a Scram pela cidade e seus arredores tirando partido da muito agradável posição de condução e resposta do motor. 

Foto: Gonçalo Fabião

A arquitectura desta pequena scrambler convida ainda a uma incursão por maus caminhos. No entanto não se cogite em longas maratonas e sim num passeio mais atrevido ao nosso quintal de sempre. Aqui rapidamente o comportamento das suspensões vão sinalizar a sua limitação para o uso fora de asfalto; sendo que os pneus também vos vão explicar rapidamente, de forma muito honesta, que no futuro vão ter de fazer outra escolha de borrachas se desejam algo mais comprometido. 

Foto: Gonçalo Fabião

“Uma Crossover divertida e envolvente” proclama a centenária marca. Mesmo não sabendo muito bem o que vem a ser isso de crossover – o termo é empregue para scooters e também para motos de alta cilindrada (admirável mundo novo…) – sou a concordar com a Royal Einfield na forma que encontrou para adjectivar a sua mais recente proposta. 

Foto: Gonçalo Fabião

Esta janota Graphite Yellow solicitou pouco mais de três litros e meio de doirado sumo de dinossauro por cem quilómetros de boa disposição e facilidade de utilização, estando a marca a pedir uma transferência bancária de 5.449€ por uma moto que vos promete um doce sabor a endless summer.
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