Num panorama moto onde cada vez mais os modelos se especializam — “naked pura”, “GT pura”, “adventure”, “crossover” — é refrescante ver a Honda apostar numa fórmula híbrida: potência, versatilidade, conforto e carácter. A CB1000GT assume-se como uma moto que quer “dar ao condutor tudo” — aceleração, curvas, estrada, largas viagens — sem que tenha de abdicar da usabilidade diária.
Se em O Escape Mais Rouco valorizamos o prazer de conduzir, a emoção do binário, o som bruto, e também a aptidão para fazer muitos quilómetros com conforto, esta moto parece encaixar perfeitamente ca em casa. Será?
ONDE SE INSERE A HONDA CB1000GT
Este modelo ocupa desde já um lugar especial no catálogo Honda: trata-se de uma “sport-tourer de alta performance” ou, como a própria Honda define, “High Performance Tourer: Faster. More Distance. More Comfort.”. Ou seja, está entre a naked desportiva pura e a grande GT carenada.
Face a uma naked tipo a CB1000 Hornet, traz mais aptidão para viagem (malas, proteção, conforto). Face a uma GT de turismo puro, traz um coração mais vivo, uma dinâmica mais desportiva. Em Portugal e na Europa, num contexto de estradas secundárias com curvas, troços costeiros, montanhas ou simplesmente estradas nacionais onde o condutor gosta de “desapertar” — a CB1000GT parece projetada para todos esses momentos. Será esta a moto para quem não quer escolher entre “diversão nas curvas” ou “viajar bem”? E deseja ambos os mundos.
O MOTOR — TETRACILÍNDRICO COM PEDIGREE
No núcleo da CB1000GT está um motor de 1.000 cm³, quatro cilindros em linha, DOHC, arrefecido a líquido. Alguns dados-chave:
• Diâmetro × curso: 76 mm × 55,1 mm.
• Taxa de compressão: 11,7:1.
• Potência máxima: 110,1 kW (≈150 CV) às 11.000 rpm.
• Binário máximo: 102 Nm às 8.750 rpm.
• Peso em ordem de marcha: 229 kg.
• Altura do assento: 825 mm.
O que isto nos transmite: potência de sobra para quem gosta de “dar gás” — com o som, com a subida de rpm, com o carácter do quatro-cilindros. E também, graças à engenharia mais “civilizada” do que uma superbike pura, uma entrega de binário amigável para uso turístico ou misto. Tal combinação permite-nos imaginar tanto uma manhã de curvas na Serra da Estrela como uma tarde de auto-estrada em direção ao Norte ou ao Algarve.
CICLÍSTICA, GEOMETRIA E DINÂMICA
O chassi base da CB1000GT deriva da Hornet (quadro tipo diamante em aço) mas com as seguintes e importantes alterações:
• Distância entre eixos: 1.465 mm.
• Ângulo de coluna: 25°.
• Trail: 106,3 mm.
• O braço oscilante alarga dos 619 mm (Hornet) para 635 mm neste modelo — maior estabilidade com carga ou em travessia de viagens.
• Suspensão electrónica front/rear: sistema Showa EERA™ de série.
Para o motociclista português isto significa algo importante: apesar do peso (229 kg é mais que uma naked leve), a posição e a geometria foram calibradas para manter agilidade, sobretudo nas estradas secundárias – e oferecer a firmeza necessária para viagens com passageiro ou malas. O facto Honda CB1000GT vir dotada de suspensões electrónicas permite ajustamentos rápidos: andar sozinho, andar com passageiro, estrada em mau piso — todos os cenários cobertos.
O QUE JÁ NÃO É “LUXO”, E SIM “ESSENCIAL”
Num mundo onde a eletrónica faz parte do ADN da moto, a CB1000GT parece vir muito bem equipada:
• Unidade IMU de seis eixos para ABS em curva, controlo de tração (HSTC), modos de condução (Standard, Sport, Rain, Tour, User) .
• Painel TFT de 5″ com conectividade (aplicação Honda RoadSync + USB-C).
• Quickshifter de série (subida/descida de mudanças).
• Mala laterais de série (37L à esquerda e 28L à direita) — raríssimo em motos deste calibre que venham com isso “ab initio”.
• Proteções (punhos aquecidos, manoplas, para-brisas ajustável em 5 posições).
Para o utilizador português isto traduziu-se em mais conforto nos dias frios, mais segurança em curvas húmidas ou molhadas (ABS em curva), mais versatilidade — não é só “rodar o punho” e sim “chegar lá e aproveitar”.
TURISMO E CONFORTO — ESCAPADAS E USO DIÁRIO
Porque uma moto “GT” não é só potência, é também natureza usável contem com um depósito de 21 L que permite - supomos - boas autonomias (dados divulgados: consumo cerca de 6 L/100km). E mais:
• Assento a 825 mm pode parecer “alto”, mas para muitos condutores com experiência não será impeditivo — e a posição é mais vertical do que uma superbike.
• Malas de série permitem levar bagagem, ideal para fins-de-semana, viagens nacionais ou até férias.
• Para-brisas ajustável manualmente e punhos aquecidos para maior conforto em diferentes climas.
• Centro de gravidade e ergonomia pensadas para dois – importante se tens companheira/o ou eventualmente um passageiro habitual.
Assim, a CB1000GT posiciona-se como uma moto para quem gosta de “dar ao condutor” mas também de “chegar ao destino fresco”.
PARA QUEM É ESTA MOTO?
Do ponto de vista de utilizador — tipo perfis que encaixam bem:
• Motociclistas experientes, que já passaram por modelos mais “radicais” ou “puros”, e querem agora uma máquina versátil: diversão nas curvas com mais capacidade de viagem.
• Casais ou parceiros de longo curso — alguém que gosta de levar passageiro e bagagem, faça escapadas ou passeios prolongados.
• Condutores (homens e mulheres) atentos às especificações: sabem que 150 CV e 229 kg não são para principiantes absolutos, mas para quem tem alguma bagagem e quer “a moto que faz tudo”.
• Quem usa a moto diariamente e não quer abdicar de longas estradas ao fim-de-semana ou de rotas secundárias excitantes — ou seja, uso misto.
Por outro lado: se estás a começar agora, ou se o objetivo é exclusivamente “cidade e trânsito pesado”, esta talvez não seja a escolha mais acertada. O seu carácter e dimensão pedem-lhe que se mova com fluidez de estrada.
“COMPARAÇÃO” IMPLÍCITA COM RIVAIS
Ainda que não seja uma comparação formal no blogue, convém referir que: em termos de relação preço/performance, a CB1000GT parece vir com vantagem — alguns meios apontam preço no Reino Unido a £11.999.
Face a rivais como a Suzuki GSX S1000GX ou a Yamaha Tracer 9 GT, a Honda oferece uma base muito competitiva: motor de quatro cilindros, electrónica topo de gama, malas de série. Todavia, talvez perca por pouco em termos de “peso ultra-leve” ou “altura de banco mais baixa” para algumas rivais, mas a vantagem - a esta distancia – parece estrar no equilíbrio global: desempenho, mais conforto, mais valor.
E AGORA?
Sejamos claro. A Honda CB1000GT 2026 parece uma carta de amor ao motociclista que não quer escolher entre “divertir” e “viajar”. É uma moto que convida a rodar — seja numa manhã de curvas com o guiador apertado, ou numa tarde de lazer com as malas cheias e destino ao litoral. Imagina-a: madrugada no interior, curva após curva, o som do quatro-cilindros a empurrar — e depois estrada reta, horizonte aberto, destino à vista — com conforto, com malas, com equipamento completo.
É esse tipo de experiência que o blogue “O Escape Mais Rouco” valoriza. Aqui importa o “escape” — o som, o pulsar da máquina — mas também o “rouco” — a alma, o sentimento, o prazer de conduzir. Esta moto promete isso, e mais: a capacidade de ser companheira de estrada, não só instrumento de adrenalina.
Claro, haverá perguntas a levantar (altura de assento para alguns condutores mais baixos, peso relativamente elevado, custo de manutenção/modificações, etc.). No entanto, no panorama português e europeu — estradas nacionais, distritais, serras e costa — vemos nesta Honda CB1000GT uma proposta muito forte.
Nota. após de escrito e editado, decidi acrescentar duas notas pessoais — quase intimistas — sobre esta moto.
A primeira tem que ver com o top case.
Tudo indica, pelas imagens e pelas informações técnicas, que a CB1000GT admite top case. E isto, para mim, é muito importante. É uma sport-tourer, pensada para viajar a dois — e a experiência ensina que o conforto e a segurança de quem viaja connosco são fundamentais. Não é apenas ter onde se agarrar: é sentir estabilidade, apoio e confiança para que ambos possamos desfrutar da viagem de forma plena.
A segunda nota é sobre o preço.
Depois de o texto estar terminado, falei com várias pessoas sobre isso, e tudo aponta para que o valor de lançamento venha a ser bastante simpático — pelo menos na versão base. E aqui há um ponto interessante: se esta moto chegar ao mercado com um preço acessível, a Honda mostra que está atenta ao contexto e às novas tendências. Antecipará, talvez, o caminho que as marcas emergentes parecem querer seguir — motos com natureza desportiva, mas também confortáveis, práticas e equilibradas.
No fundo, tudo o que se espera — e se deseja — de uma verdadeira sport-tourer.










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