domingo, 30 de dezembro de 2018

MV Agusta Turismo Veloce 800 Lusso à Prova

Há quem pense que as motos são só e apenas isso: motos. Não. E esta é daquelas que não nos dá margem de manobra. São horas de contemplação, até que a vista nos doa. É sempre a mesma cantiga quando o nosso olhar se cruza com as belas, detalhadas e muito próprias linhas de uma italiana deslumbrante. A Turismo Veloce 800 Lusso não é excepção, pelo contrário. 

teste ensaio review prova mv agusta turismo veloceJá depois de a abraçar, a primeira sensação é de surpreendente encaixe perfeito. Nem sempre assim é quando de uma Agusta se trata e aqui começa o sorriso depois do espanto. 

Os primeiros metros, ainda em solo citadino, revelam fluidez e desenvoltura. E algum excessivo calor vindo do motor provocado pela velocidade caracol imprimida pela patética azafama do trânsito natalício. 

A diária deslocação urbana ou mesmo suburbana não é o terreno para que foi pensada e construída esta Meccanica Verghera Agusta. Seria pois necessário leva-la “a sair para fora de pé”, para longe da azafama lisboeta. Assim, desafiei-me e desafiei a Turismo Veloce 800 Lusso para uma espécie de “Grande Boucle” audaciosa que incluía diversos tipos de “terreno”. Em traços gerais abandonei a Grande Lisboa pelas N374 e N8 rumo ao Oeste até à foz do mondego na Figueira; daqui N111 até aos arredores de Coimbra, IP3 até Penacova, Nacional 2 até ao cruzamento onde nasce aquela que vou baptizar humoradamente de Grossglockner tuga, a N112 , que me conduziu até Castelo Branco e daqui, enfim, de regresso a casa. 

Os 650 (seiscentos e cinquenta) quilómetros percorridos num ritmo de absoluto “sport turismo”, revelaram uma moto totalmente apta a estas valentes andanças. Fortíssimo destaque para o conforto superior, para o qual contribui uma posição de condução correta (tendencialmente perfeita), os punhos aquecidos (nunca usei tanto como nesta Prova este detalhe) e o “cruise control”. Apenas a protecção aerodinâmica oferecida pelo ecrã ajustável não tem nota excelente. 

Destaque ainda para o comportamento de todo o conjunto em especial da ciclística absolutamente irrepreensível e competente. O tricilindrico que debita 110 cv (monta uma cambota de tecnologia inspirada no Moto GP que roda no sentido contrário da rotação das rodas, o que faz com que a moto seja mais fácil de mergulhar em curva) é viciante, e passar de caixa com auxílio do “quickshift” - aqui denominado de SCS (Smart Clutch System) - é um perfeito gozo, ficando apenas a faltar umas notas mais graves ao sistema de escape. 

No fim deste intenso dia fiquei totalmente esclarecido. Sim, é possível! É possível fazer turismo, com charme e classe, numa moto com cabeça, tronco, membros…, alma e coração de desportiva.

A eficácia, o requinte e a exclusividade, como todos sabemos, custam dinheiro. Aqui não há excepção. E para fazer mototurismo em ritmo veloz será necessário desembolsar 19.500€ para tirar esta sedutora italiana do stand. Só o assim – o preço – se justifica que esta moto derreta tão poucos corações.

quarta-feira, 26 de dezembro de 2018

Limalhas de História #67 – 26 de Dezembro de 1978

Thierry Sabine, motociclista aventureiro, perdeu-se no deserto do Ténéré em 1977 durante o Rally Abidjan-Nice. Nesses dias terá “sonhado” com algo ainda maior e mais dramático. Algo que fosse “um desafio para os que partem, um sonho para os que ficam”. 


Faz hoje exactamente quarenta anos! Paris. França. Arrancava para a estrada a primeira edição daquela que para muitos é a mais dura prova do mundo.  O denominado “Oasis Rally”, à época,  arrancava rumo a Dakar com uma caravana de cento e oitenta e dois participantes, dos quais noventa motociclistas, que encontraram mais de 12.000km de pistas, deserto e risco, muito risco. 

Esta primeira edição da maratona viria ser vencida pelo “baixinho” Cyril Neveu, aos comandos de uma ágil Yamaha XT500, monocilíndrica, de apenas 32Cv e 140Kg de peso.

quinta-feira, 20 de dezembro de 2018

Tertúlia do Escape por trás da lente de Manuel Portugal

Temos as sete maravilhas do mundo, a sétima arte e os sete sábios da Grécia. São sete as propriedades da matéria, os pecados capitais e as virtudes divinas. A Branca de Neve tem sete anões e as botas, regra geral, servem para sete léguas. Podíamos navegar durante os dias que nos restam pelos sete mares, ou a subir e descer as sete colinas lisboetas. Certo é que mais vale estar fechado a sete chaves do que debaixo de sete palmos de terra.


Há ainda quem diga que o número sete (7) representa a totalidade, a perfeição, a consciência, a intuição, a espiritualidade e a vontade. O sete simboliza também conclusão cíclica e renovação.

A viajar? Eu estou com tanta brincadeira de palavras. Foi o que fizemos ontem na Tertúlia do Escape edição número sete. Com a presença do Manuel Portugal e de quase quatro dezenas de tertulianos - fortíssima presença feminina que enfrentou a noite fria e até chuvosa – perdemo-nos suavemente em palavras (de imagens está o inferno cheio), memórias, pequenas histórias e conhecimento. 


Foi muito bom encerrar um ano de magnificas tertúlias com todos vós por perto, desde o Zé, o primeiro motociclista que conheci, em 1991 – porra, já lá vão quase trinta anos?!? – até aqueles que vou vendo agora pela primeira vez. Muito obrigado a todos em especial ao Paulo e à sua cada vez mais acolhedora Rod’aventura e, naturalmente, ao Manuel Portugal que nos dá tanto há tantos anos com a sua lente magica.

Notem. A Tertúlia vai voltar já no início de Janeiro e vai viajar também ela para fora da sua zona de conforto. Fiquem atentos. Até lá: andemos de mota!

terça-feira, 18 de dezembro de 2018

A estrada, a moto e o telefone esperto – Estrada Nacional 8

portugal estrada nacional 8 honda crf1000l africa twin adventure Ponto prévio. Não, não se trata de engano. Não há aqui nenhum salto no vazio ao passar da 6 (link) para a 8. Sucede que a Estrada Nacional 7 há muito que deixou de existir. O Plano Rodoviário Nacional de 1945 (link) designava da seguinte forma a Nacional 7: “Lisboa – Estoril (auto-estrada)”. Ora, como sabemos, no presente, a autoestrada que liga Lisboa ao Estoril leva o nome de A5 e o Viaduto Duarte Pacheco acaba por ser o derradeiro vestígio da antiga Estrada Nacional 7 - viaduto de acesso a Lisboa que começa no final da Serra de Monsanto, atravessa o Vale de Alcântara, indo terminar em Campolide; O viaduto é um viaduto bonito, obra de arte clássica de Lisboa, mas não tem dignidade de um “a estrada, a moto e o telefone esperto” só para ele. Ainda assim fica a nota – que já vai longa, aliás. 

Depois da ligação profundamente afectiva que tenho pela Nacional 1 – que pode ser recordada aqui (link) -, a Estrada Nacional 8 (N8) ocupa claramente um honroso segundo lugar no meu coração. E como lá (link), aqui a culpa também é do meu Pai e do velho Carocha 1300 GA-39-96, amarelo – tinha-me esquecido de sublinhar que era amarelo – e das lentas e intermináveis “voltinhas saloias” nos fins-de-semana de inverno. Sim, era “por Loures” que se ia almoçar a uma tasca na Venda do Pinheiro ou na Malveira, seguida de lanche em Mafra, ou quem sabe um pôr-do-sol mágico numa velha Ericeira de ondas eternas mas despida de surfistas e turistas estrangeiros. 

Mais tarde, no início dos 90, já com a velha Virago 250, foi também pela N8 que eu e a geração a que pertenço muito aprendemos quanto à arte do motociclismo. A tal “voltinha saloia”, o passeio com aquela rara miúda que então gostava de andar de moto, as fugas nocturnas para a saudosa Green Hill na Foz do Arelho - mais do que uma discoteca uma absoluta instituição. 

Hoje a Nacional 8 é uma estrada em profunda crise de identidade e com graves sintomas de esquizofrenia. À saída de Lisboa a cidade invade, cada vez mais, o campo. Loures abre-nos a porta para uma espécie de nave espacial rural que vai ganhando dimensão à medida que a viagem se densifica. As suaves colinas e os belos vinhedos vão pautando o caminho. Até que chegamos a uma Torres Vedras cada vez mais parecida com uma qualquer Amadora ou Massamá (que me perdoem os Torrienses). A partir dali nova mudança de rumo, a secção até ao Bombarral foi alargada há alguns anos, a estrada perdeu classe mas ganhou “ares” de pista de velocidade, amada por muitos motociclistas da região de lisboa autodenominados “do aço”, seja lá isso o que for. 

Ultrapassadas as terras vinícolas surge a velhíssima Óbidos à esquerda. Óbidos terá sido tomada aos Mouros em 1148 e recebido a primeira carta de foral em 1195, sob o reinado de D. Sancho I. Fez parte do dote de inúmeras rainhas de Portugal, e foi lá que nasceu o concelho das Caldas da Rainha, anteriormente chamado de Caldas de Óbidos (a mudança do determinativo ficou a dever-se às temporadas que aí passou a rainha D. Leonor). Hoje mantem o charme mas está infestada de turismo alienado e apressado. 

“Conquistada” Óbidos, a N8 não mais se desliga do passado português. Caldas da Rainha – as termas e as artes plásticas, Aljubarrota - onde se afirmou Portugal -, Alcobaça e o seu Mosteiro - classificado como Património da Humanidade pela UNESCO e como Monumento Nacional desde 1910 – e já agora, porque não, o Mosteiro de Santa Maria da Vitória (mais conhecido como Mosteiro da Batalha) “um par” de quilómetros após o fim da Nacional 8. 

As estradas não se medem apenas aos quilómetros e, vista desta forma, tal como ela verdadeiramente é, esta 8 assume uma dimensão e uma riqueza singular no panorama das abandonadas e olvidadas Estradas Nacionais. 

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Quem, o quê, onde, como, quando e porquê – não necessariamente por esta ordem… 


A Estrada Nacional 8, também conhecida como “Estrada da Extremadura” está localizada nos distritos de Lisboa e Leiria e ligava originalmente Lisboa a Alcobaça. Apesar do seu troço entre Olival Basto e Frielas/Santo António dos Cavaleiros ter sido desclassificado, este ESCAPE considera que nos dias de hoje esta Estada Nacional tem o seu início no Padrão do Senhor Roubado, monumento situado em Odivelas localizado à saída da Calçada de Carriche, num pequeno largo junto à estrada que conduz ao centro da cidade de Odivelas (construído em 1744, após uma trágica história referente aos tempos da Inquisição) e o seu términus no Chão da Feira, a sul da Batalha, na rotunda que liga com a Nacional 1 (link). Foi por este ESCAPE percorrida de forma algo anárquica – para cima e para baixo, um par de vezes -, em meados de Novembro passado, aos comandos de uma Honda CRF1000L Africa Twin Adventure Sports que gastou pouco mais de cinco litros daquele líquido inflamável de que tanto o Estado gosta de carregar de impostos absurdos. A N8 é credora do nosso respeito. É um percurso absolutamente histórico que cruza uma paisagem natural e social riquíssima. Como outras estradas nacionais esta é também um bom exemplo de oportunidade perdida no que ao turismo diz respeito.

domingo, 16 de dezembro de 2018

Sétima Tertúlia do Escape

Tertúlia. É, na sua essência, uma reunião de amigos, familiares ou simplesmente frequentadores de um local, que se juntam de forma mais ou menos regular, para discutir vários temas e assuntos.

Nas Tertúlias do Escape pretende-se discutir motas, motociclismo e viagens. À maneira antiga. Longe dos teclados, cara a cara e com uma cafezada por companhia. 

Este ano a Tertúlia do Escape deu um o salto qualitativo e quantitativo em pleno inverno (link), quase meia centena de tetulianos deram-nos o prazer da sua visita e aproveitaram para conhecer a nova Triumph Tiger 1200. Noite que se repetiu com a Tiger 800 no passado Maio (link). No início do verão a Tertúlia recebeu os autores do Quilometro Infinito numa noite fantástica de casa cheia que deixou saudades (link). E, no final de Setembro passado recebemos o colectivo The Litas Lisbon, naquela que não tendo sido a Tertúlia mais concorrida foi definitivamente a tertúlia mais descontraída e até apaixonada (link). 

Apesar de estarmos em época natalícia, este ano de 2018 não podia terminar sem reunirmos, mais uma vez, os tertulianos. A sétima (quinta em 2018) Tertúlia do Escape vai acontecer já na próxima quarta-feira dia 19 de Dezembro, a partir das 20h30 no Espaço Rod’aventura, Avenida da Quinta Grande nº10-A, 2610-159 Alfragide - uma loja de acessórios de excelência e referência na Grande Lisboa, mas também um Espaço onde os motociclistas se podem reunir confortavelmente.

E voltará a haver novidades. Para além da hospitalidade da Rod’aventura, a Tertúlia do Escape terá o prazer e a honra de contar com a presença de Manuel Portugal. 

Motocilista, artista da guitarra, um dos dinamizadores do cada vez melhor Lisbon Motorcycle Film Fest mas, sobretudo, um caso à parte no que à fotografia de motos se faz por cá. Para além de tudo isto, que já não é nada pouco, Manuel Portugal é também o autor da YAW (link). A YAW é uma "não-revista" que, assumidamente, sai de vez em quando. A YAW deseja divulgar fotos, ilustrações, textos, que de outra forma ficariam na gaveta; trabalho de autor essencialmente ligado a uma noção de boa vida, alimentada a gasolina, junto à praia – nascida em Portugal mas como boa lusitana vai a qualquer lugar do mundo, sem fronteiras, sem amarras comerciais, limites de estilo, ou temas base. 

Estão todos convidados para esta que será, certamente a ultima Tertúlia do ano. Venham ouvir o Manel e conversar com ele. No dia 19 de Dezembro vamos encher o Espaço Rod’aventura. Todos são bem-vindos!
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