segunda-feira, 15 de dezembro de 2025

O conservadorismo no motociclismo é uma estrada sem saída

Há algo de curioso, quase trágico, no mundo das motos: o conservadorismo que ainda assombra a mente de muitos motociclistas. Um espírito preso ao passado, desconfiado da inovação, resistente à mudança. O chamado “motoconservador” olha para qualquer avanço com suspeita, pronto a descartar o que não conhece ou não compreende. E será que esta resistência faz sentido, hoje, num universo onde a tecnologia evolui de forma imparável? Vamos percorrer quatro vetores que provam que o motociclismo, por vezes, se encontra encurralado por este conservadorismo.  

O DCT E A ILUSÃO DA “SCOOTERIZAÇÃO” 
O Dual Clutch Transmission da Honda, desenvolvido há mais de 15 anos, é um exemplo paradigmático. Quando surgiu, muitos motociclistas torceram o nariz: “isto é uma scooter!”, ouviam-se comentários em fóruns e redes sociais. 


Mas os anos passaram e os números não mentem: atualmente, nos modelos em que a Honda disponibiliza o DCT, a maioria das vendas recai precisamente sobre esta tecnologia, superando a caixa manual tradicional. O DCT evoluiu, tornou-se mais suave, preciso e consensual. E, ironicamente, hoje muitos questionam por que raio outras marcas não investiram num sistema equivalente. A resistência inicial do motoconservador revelou-se, portanto, uma visão curta e desatualizada. 

ELETRIFICAÇÃO: DIVERSÃO À FRENTE DA SUSPEITA 
Quando as primeiras motos elétricas surgiram, a reação conservadora foi imediata e dramática. Expressões fortes, vernáculo de tasca e alarmismo moral dominaram a conversa: “o fim do motociclismo”, “uma torradeira”. 


A verdade é que, quando se experimenta, uma moto elétrica diverte imenso. Têm limitações, é certo, e a sua implementação enfrenta desafios externos e empresariais, mas ignorar esta tecnologia é fechar os olhos a uma nova dimensão de prazer sobre duas rodas. Empresas como a Honda, com o seu programa de eletrificação, mostram que há caminho a seguir. O motoconservador, porém, ainda insiste em apontar defeitos sem nunca se sentar na moto. 

MARCAS CHINESAS: DA IMITAÇÃO À INOVAÇÃO
Outro campo de batalha: a chegada de marcas chinesas. Para muitos, o rótulo é imediato: “imitação, fraca qualidade”. E a realidade é diferente. Na última EICMA, ficou claro que a China não veio copiar; veio inovar. 


Soluções inteligentes, design competitivo, tecnologias próprias — tudo isso está a emergir. O motoconservador resiste, insiste em olhar para o produto com preconceito. Mas o mundo moto já começou a perceber: a China chegou para ficar e até dominar certos segmentos. Aqui, a estrada do conservadorismo é estreita e tortuosa. 

EMBRAIAGEM ELETRÓNICA: O E-CLUTCH E A EVOLUÇÃO NATURAL 
Finalmente, temos o recente sistema E-Clutch da Honda. Novamente, antes de experimentar, muitos perguntam: “para quê isto?”. Sem testar, sem analisar, a reação é de desdém. 


Todavia o E-Clutch é a evolução natural de uma tecnologia que torna a condução mais eficiente e acessível. Outras marcas estão a desenvolver soluções idênticas. A caixa manual do século XX não vai desaparecer de imediato, mas está em profunda crise.

O MOTOCONSERVADOR PRECISA DE ABRIR A MENTE 
O que estes quatro vetores demonstram é simples: o motociclismo está em movimento, em constante evolução. Resistir a esta mudança é permanecer numa estrada sem saída, limitada pelo medo do novo. 
O motoconservador precisa de atualizar-se, de experimentar, de aceitar que inovação e tradição podem coexistir. Quem o fizer descobrirá que a moto não é apenas uma máquina; é um convite à liberdade, à descoberta e, sobretudo, à felicidade sobre duas rodas.

3 comentários:

  1. Tudo dito. Só queria destacar que na vanguarda de novas tecnologias surge quase sempre a Honda. Também dizer que se ainda não aderi a alguns destes avanços é porque viajando muito, é melhor usar pouca eletrónica e mecânica que seja fácil de resolver em qualquer lado. Abraço

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  2. A paixão pelas motas é talvez o elemento comum entre os motociclistas. Mas há os que só gostam de desportivas, a moda das big-trails, os unicórnios, os ferros, os tupperware's, etc. Há quem adore clássicas e motas antigas e quem prefira o último grito da tecnologia. Os que andam todos os dias, fazem grandes viagens ou apenas vão beber o café à praia. Perante tanta diversidade, os gostos e sensibilidades pessoais vão ditar um maior ou menor conservadorismo. Eu posiciono-me na égide da tecnologia. Quanto mais tecnológica for a mota, à partida mais interessante será. Como gosto de pensar pela minha cabeça, há tecnologias que demoram a convencer, outras que convencem à primeira. Exemplos: ABS => convenceu à primeira. Quickshift => Idem. Cruise control=> Idem. Controlo de tração=>Idem. Punhos Aquecidos=>Idem. Mas algumas não me convenceram à primeira: caixas automáticas, moda das trails, digitalização. Cada cabeça sua sentença! Abraço

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  3. Concordo, genericamente, com tudo. Mas um pequeno apontamento na tal "inovação" das marcas chinesas - muitas das soluções que agora apresentam como "inovadoras" estão mortas há algum tempo por via das regras capitalistas de mercado (a que os fabricantes chineses, como é bem sabido, não estão sujeitos a 100%).

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