segunda-feira, 27 de março de 2017

Ser motociclista

O texto não é meu. O texto é do Tó Manel. E sem a sua autorização reproduzo-o neste Escape. Com o Tó aprendi muita coisa, entre elas, a ser motociclista. O Tó Manel é responsável por muito do que é hoje o motociclismo em Portugal. Devia ser ouvido e lido com atenção. O Tó Manel é credor de mais respeito. Boas curvas Tó…, dessas e das outras… 

Antes de mais… é Motociclista quem anda de moto. É que nem vale a pena, nós Motociclistas, estarmos a perder tempo a pôr-nos em bicos de pés, uns perante os outros, porque somos todos o mesmo, Motociclistas. Porque gostamos de motos, ou porque gostando “mais ou menos”, simplesmente nos são bastante úteis. Não há cilindradas, tipos, cores nem panos que consigam separar-nos…, até porque já estão separados aqueles que pensam o contrário. 

Fui durante muito tempo um “motociclista fundamentalista”. Não foi por andar por aí em grupo a intimidar e a meter medo a quem quer que fosse…, aliás, este triste dado é recente no nosso país. Fui “fundamentalista” por andar na estrada desde os 16 anos e só tirar carta de carro quando fiz 50; e a razão foi simples: sempre gostei mesmo foi e é de andar de moto; para além do jeito que deu durante 30 anos para ir todos os dias de casa para o trabalho, foi sempre o modo como me desloquei em lazer. 

Para além dessa faceta utilitária diária, fui a muito lado de moto, passei muitas fronteiras, fui a sítios onde nunca voltarei, porque agora com 60 quero continuar a descobrir novos caminhos, de moto claro. Porque o carro, sempre que me lembro que existe, tem de ficar a carregar a bateria…. 

Utilizando algumas palavras de um poeta português direi que ser Motociclista viajante é “não caber no berço onde se nasceu… ultrapassar fronteiras uma a uma… e morrer sem nenhuma…” Miguel Torga escreveu estas palavras num poema dedicado a Fernão de Magalhães. Aqueles que hoje partem por aí à descoberta seja de barco, comboio, carro ou moto, têm todos um pouco de descobridores no sangue. 

E nós portugueses temos muito, até por culpa da situação geográfica que nos dá aquele sentimento de termos de partir à descoberta do que está para lá do horizonte. A moto serve para muita coisa; para nos levar para o trabalho, para ir à horta buscar uma saca de batatas, para ir-mos buscar uma botija de gaz, para irmos ao supermercado, enfim, para tudo isto e muito mais que nos facilite a vida do dia-a-dia… e no fundo a sua génese está precisamente aí, facilitar-nos a vida. Foi por isso que tiveram as suas grandes missões na sociedade em épocas de grande crise a seguir às duas Grandes Guerras (1918 e 1945). 

Tempos houve em que no nosso país a profissão de Motociclista até teve o seu auge; foi quando me cheguei a considerar mais Motociclista… quando tive a profissão de “Mensageiro Motociclista” na década de 80, no tempo do “PonyExpress”. Ainda há por aí alguém que se lembre desta empresa de entrega de mensagens e encomendas? Na empresa “CTT/TLP”, passava 8, 10 e muitas vezes 12 horas por dia a distribuir telegramas; depois das horas na empresa chegava a fazer “biscates” para a televisão a ir buscar cassetes onde fosse necessário no país. 

E nas férias pegava na moto e ia para a Turquia, para a Grécia, para o Cabo Norte, para o Egipto, para Marrocos, etc… mas, era o acumular das horas de trabalho que me fazia sentir mais Motociclista. Ser motociclista hoje, ainda é e será sempre tudo isso que se faz de moto…, ir à horta, ir ao supermercado, ir para o trabalho, ir à praia, viajar à descoberta. 

Ser motociclista é tudo isso e engana-se quem pensa que é mais motociclista só porque dá um uso diferente à moto, portanto, que se distingue pela forma. Quanto muito, é mais motociclista aquele que mais uso dá à mota. Esta é a única diferença que pode distinguir dois motociclistas um do outro O resto…, são alter-egos.

2 comentários:

  1. Obrigado e um abraço, Pedro
    Tomanel

    ResponderEliminar
  2. Adorei este texto e o seu blogue. Vou passar a ser assíduo. De um motociclista, muito recente. %)

    ResponderEliminar

Site Meter