segunda-feira, 6 de dezembro de 2021

Experiência Kawasaki Z650RS

As filhas do Mondego a morte escura 
Longo tempo chorando memoraram, 
E, por memória eterna, em fonte pura 
As lágrimas choradas transformaram; 
O nome lhe puseram, que inda dura, 
Dos amores de Inês que ali passaram. 
Vede que fresca fonte rega as flores, 
Que lágrimas são a água, e o nome amores. 

Os Lusíadas. Canto III, Estrofe 135 

Como todos sabemos, Os Lusíadas é uma obra de poesia épica de Luís Vaz de Camões, a primeira epopeia portuguesa publicada em versão impressa. Provavelmente iniciada em 1556 e concluída em 1571, foi publicada em Lisboa em 1572, três anos após o regresso do autor do Oriente. A obra é composta por dez Cantos, sendo que o tema e acção central é a descoberta do caminho marítimo para a Índia por Vasco da Gama, à volta da qual se vão ilustrando outros episódios da história de Portugal, sempre no sentido e valor de glorificar o povo português. 


Já no Canto III, após uma invocação do poeta a Calíope, Vasco da Gama começa por explicar a geografia da Europa e a situação de Portugal no continente europeu. Inicia então a narrativa da história de Portugal. De Luso a Viriato, passa para o rei D. Afonso VI de Leão e Castela, D. Teresa e o conde D. Henrique. Segue-se a luta de D. Afonso Henriques pela formação da nacionalidade. 

Como num contemporâneo e muito hollywoodesco filme de acção, a torrente de emoções continua, com o episódio lírico-trágico de Inês de Castro (estrofes 118 a 135) talvez o mais reconhecido d'Os Lusíadas. 


D. Inês e D. Pedro são os amantes trágicos por excelência. O seu amor é ilícito, proibido pelos diferentes poderes. O poeta que tinha escrito sonetos tão sombrios, de sofrimento amoroso, chama repetidamente este de “puro amor”, censurando fortemente o rei (Afonso IV), de quem tanto elogiara os feitos guerreiros, por esta triste mancha no seu reinado. A bem da estabilidade do Reino de Portugal, D. Afonso IV pretende casar o filho que, apaixonado por Inês, recusa. A solução é apenas uma: eliminá-la. 

A tragédia terá acontecido a 7 de Janeiro de 1355. O rei, aproveitando a ausência de D. Pedro, foi com diversos carrascos a Coimbra, ao Paço de Santa Clara – local onde o casal vivia depois de alguns anos no norte de Portugal - e executam Inês de Castro. 


Segundo a lenda, as lágrimas derramadas no rio Mondego pela morte de Inês teriam criado a Fonte das Lágrimas na Quinta das Lágrimas, onde algumas algas avermelhadas que ali crescem seriam o derramado sangue de Inês. Hoje, a Quinta das Lágrimas ocupa uma área de dezoito hectares, ao redor de um palácio do século XIX, requalificado como hotel de luxo. Nos seus jardins acumulam-se memórias desde o século XIV, tanto nos elementos construídos como nas árvores, nas lendas populares e na sua própria história. 


A Quinta, a Fonte dos Amores e a Fonte das Lágrimas são então célebres por terem sido cenário dos amores do príncipe D. Pedro (futuro Pedro I de Portugal) e da nobre galega, Rainha póstuma de Portugal, D. Inês de Castro, sendo ainda o documento mais antigo que refere a propriedade datado de 1326. 

ORGULHO KAWASAKI 
A Kawasaki Portugal, representada entre nós pelo Grupo Multimoto, não fez a coisa por menos. Foi este cenário de paixão ardente - a maior história de amor de Portugal - o escolhido (Hotel Quinta das Lágrimas) para a apresentação nacional de uma moto cujo primeiro contacto revelou uma natureza absolutamente romântica. Que maravilha… 


A novíssima Z650RS é uma clássica moderna que, por um lado, presta homenagem ao legado Z – nomeadamente à icónica Z1 dos anos 70 do século passado – por outro, visa ser uma moto com resposta positiva às necessidades das contemporâneas gerações de motociclistas. 

RETRO-EVOLUTION 
Este autêntico espírito retro-sport que inspirou a nova Z, surge plasmado num leve quadro em treliça que monta o conhecido bicilindrico (68 CV, 64 Nm) paralelo da marca japonesa. Facilidade de utilização foi uma ideia chave na construção desta moto. Assim, o peso total em ordem de marcha é reduzido (187 quilogramas) bem como a altura do banco ao solo (820mm). A herança Z é orgulhosamente sublinhada nas belíssimas jantes multi-raios (na versão especial de cor verde surgem pintadas num arrebatador tom dourado) e também em detalhes como o nome da marca no depósito em relevo e não em mero autocolante. Orgulhosamente Kawasaki! 


Foi tudo isto que podemos comprovar na apresentação estática do modelo após a nossa chegada ao Hotel Quinta das Lágrimas e de uma primeira bebida de boas vindas. O jantar foi servido ali mesmo com as motos por companhia e meus amigos…, o chambão de borrego marinado durante doze horas e levado ao forno em lentíssima cozedura por mais vinte e quatro horas (sim, 24, leram bem!) a apenas 66 graus, marcou o tempo e o espaço, ficando como uma absoluta referência desta apresentação nacional – romantismo até no prato… 

ROMANCE À CHUVA 
O dia seguinte amanheceu muito frio mas seco. Todavia rapidamente o nevoeiro desceu das serranias do centro de Portugal, e mais tarde a chuva instalou-se dificultando a tarefa na condução e captação de imagens. Ainda assim e muito bem a Kawasaki Portugal não cedeu à pressão e o programa foi cumprido. 


Nas ruas da cidade de Coimbra e no asfalto sempre molhado da Lousã, a Kawasaki Z650RS assumiu-se como uma moto para todos, muito fácil de manobrar ainda parada, de posição de condução algo elevada todavia ergonómica e confortável. No que foi possível explorar tendo em conta as condições húmidas o motor revelou bastante vida desde cedo. 


As condições do asfalto pediam cautela. Ainda assim tais condições aprestaram a virtude de revelar que esta é uma moto que admite, pela sua leveza e agilidade, a correcção fácil do erro - aspecto que pode ser muito útil a “cristão novos” e motociclistas menos experientes. Levar o motor para outros regimes e a toda a moto para outras inclinações teria pois de ficar para uma futura Prova mais exigente que o este vosso ESCAPE espera realizar assim que possível. 


Foram poucas as horas como poucos e difíceis foram os quilómetros que fizemos. No entanto a Kawasaki Portugal tudo fez até ao detalhe para tornar esta experiência Z650RS inesquecível. E conseguiu, sem dúvida. Notem que a nova Z já se encontra em comercialização, solicitando a marca uma transferência bancária de 8.495 € (versão especial) ou 8.390 € (versão base) para que os motociclistas adiram à “Retrovolution”.

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