A — Algoritmo
Hoje não manda o editor, nem o motociclista, nem o engenheiro. Manda o algoritmo. Decide que moto “existe”, que evento “importa” e que opinião “circula”. O motociclismo está a aprender — tarde — que visibilidade não é mérito.
B — Banalização
Não é pelos 300 cv — porque eles não existem, nem fazem falta. A banalização vem do excesso de promessa: motos cada vez mais competentes, rápidas e tecnicamente sofisticadas, mas com pouca identidade própria. Tudo anda bem e poucas coisas marcam realmente.
C — Chinês
Não é tendência passageira. É uma verdadeira “nouvelle vague” industrial e cultural que se instalou no motociclismo global. No último Salão de Milão ficou bem claro: não estamos a falar de clones baratos ou de aspirantes; estamos a falar de competidores globais com capacidade técnica, inovação e ambição de marca real. A pressão está a crescer de forma inexorável: designs competitivos, preços agressivos e vontade de se tornar relevantes em todos os segmentos. Ignorar isto é o mesmo que, em 1970, achar que os japoneses nunca iriam dominar o mercado europeu.
D — Desconexão
Entre quem anda de moto e quem decide políticas rodoviárias. Entre marcas e clientes reais. Entre discurso “verde” e práticas industriais. 2025 é o ano em que isto já não dá para fingir.
E — Electrificação
Não morreu, mas perdeu o hype. Continua inevitável… e continua a não resolver o problema central: autonomia real e preço percebido. O silêncio não é o problema; a falta de carácter é.
F — Fake Adventure
Motos vestidas de Dakar que nunca viram terra. O marketing venceu a coerência. O problema não é existirem — é venderem-se como algo que não são.
G — Geração Nova
Menos romantizada, mais pragmática. Querem mobilidade, custo controlado e menos liturgia. Não rejeitam a moto — rejeitam o discurso gasto.
H — Homologação
Euro 5+, Euro 6 no horizonte, e motores a morrer não por falhas técnicas, mas por asfixia regulamentar. A engenharia deixou de criar; passou a contornar.
I — Influencers
O universo dos influencers de moto em 2025 é uma terra de contrastes extremos. Por um lado, existem alguns criadores que conseguem inspirar, transmitir técnica, e até chamar atenção para experiências autênticas. Mas, por outro lado, a maioria perpetua uma linguagem pobre, desinformada e, em muitos casos, anti ética. O problema não é só o conteúdo fraco — é o efeito que isso tem sobre novos motociclistas, sobre a percepção do que é condução segura, e sobre o respeito pelo equipamento e pelo público. A falta de responsabilidade editorial cria um ciclo perigoso de desinformação, que em 2025 começa a deixar marcas visíveis no mercado e na cultura motociclista.
J — Japão
Seguro, competente… e conservador. Continua a fazer quase tudo bem, raramente faz algo que nos tire o chão. A fiabilidade substituiu o risco criativo.
K — KTMização
KTMização é o efeito de estética e mentalidade de competição permanente a infiltrar-se em quase todas as marcas e segmentos. Não se trata só de KTM, mas do espírito que ela representa: motos a parecer sempre prontas para a guerra, designs e cores que gritam performance, mesmo quando o utilizador médio nunca tira a moto da estrada asfaltada. É um efeito contagioso: qualquer marca sente pressão para “parecer extrema”, mesmo quando a experiência de condução não corresponde à agressividade que comunica. Resultado? Um mercado saturado de motos que parecem de corrida, e que vivem apenas uma rotina urbana.
L — Legado
Cada vez mais usado como muleta. Heritage sem conteúdo é cosplay caro. História não é decoração — é responsabilidade.
M — Márquez
Se há um nome que define o MotoGP em 2025, esse é Marc Márquez. Depois de anos de desafios, lesões e reconstruções, o espanhol voltou a mostrar porque é considerado um dos maiores pilotos de sempre. A sua temporada com a Ducati foi uma demonstração de inteligência, coragem e pura velocidade: cada curva, cada travagem parecia ensaiada num guião perfeito de adrenalina. Márquez não ganhou apenas corridas; ganhou a narrativa do regresso triunfante. Para quem vive o motociclismo, Márquez em 2025 é sinónimo de obsessão pelo detalhe, paixão pelo risco e reinvenção constante do que significa pilotar no mais alto nível.
N — Nostalgia
Não como saudosismo, mas como refúgio. Analógico, simples, imperfeito. A nostalgia tornou-se resposta ao excesso de estímulo.
O — Overpricing
Aqui o jogo virou: os preços reais estão a descer, sobretudo no médio e baixo segmento. O que subiu foi a percepção de valor confusa — mais equipamento, mais electrónica, mas nem sempre mais sentido para o utilizador. O mercado está a corrigir-se… e algumas marcas vão aprender isso da pior forma.
P — Polícia / Fiscalização
Mais tecnológica, mais distante, pouco pedagógica. Continua a tratar o motociclista como variável estatística, não como parte da solução.
Q — Qualidade
Globalmente muito alta. O problema já não é “se é bom”, mas “se vale a pena”.
R — Regulamentação
O maior designer de motos em 2025 não é engenheiro — é legislador europeu. E não anda de moto.
S — Salão (EICMA 2025)
O EICMA 2025 voltou a Milão como o epicentro mundial do motociclismo. Não é apenas um salão; é o espaço onde a história, a tecnologia e a cultura das motos se encontram. Mais de 730 expositores mostraram inovações que definem o futuro e conceitos que fazem sonhar qualquer entusiasta. Para quem gosta de motos, passar pelo EICMA é como entrar num museu vivo, onde cada stand conta uma história e cada máquina é uma promessa de aventura. Este salão não é apenas sobre vendas; é sobre inspiração, tendência e, acima de tudo, a celebração do espírito motociclístico que une o mundo todo.
T — Toprak Razgatlioglu
No Mundial de Superbike, 2025 ficou marcado pelo domínio de Toprak Razgatlioglu. Com a BMW, o piloto turco mostrou consistência, talento e uma precisão que deixa qualquer rival sem margem de manobra. Cada corrida foi um espectáculo de estratégia e velocidade pura, onde moto e piloto se tornaram uma só entidade. O seu desempenho demonstra não só a força da BMW como equipa, mas também a evolução do WSBK como campeonato: competitivo, imprevisível e apaixonante. Razgatlioglu em 2025 é sinónimo de excelência, e a sua temporada será lembrada como uma referência para todos os pilotos que sonham com o topo.
U — Utilidade
A moto voltou a ser ferramenta. Mobilidade, custo, sentido prático. Isto incomoda quem prefere fetiche à função.
V — Verdade
Faz falta. Em testes, em comunicação, em lançamentos. O leitor já detecta publicidade disfarçada ao primeiro parágrafo.
W — Weight (Peso)
Todos prometem leveza. Poucos entregam. A física continua invicta.
X — Xadrez
Plataformas partilhadas, alianças improváveis, fábricas comuns. O romantismo acabou; agora é estratégia de sobrevivência.
Y — YouTube
A plataforma já não é o que era. Em vez de ser criadora de tendências, tornou-se reprodutora do óbvio e saturada de publicidade. Conteúdo longo? Morto. Autenticidade? Escassa. Para quem quer informação de qualidade ou crítica construtiva, 2025 mostra que o YouTube é mais um repositório de ruído do que de conhecimento. Quem ainda acredita que “quem não está lá, não existe”, está atrasado. O centro real de influência deslocou-se até para comunidades de nicho com ligação dieta à estrada. YouTube morreu para o motociclismo sério — não fisicamente, mas cultural e tecnicamente.
Z — Zelo
Pelo acto de andar de moto. Pelo que isto ainda representa num mundo cada vez mais filtrado, mediado e esterilizado. 2025 separou definitivamente quem vive isto de quem apenas o monetiza.




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