Há histórias que se contam com rugidos de motores, outras com o sussurro das engrenagens entre o pó e o asfalto. Esta é das duas. É a saga de uma Índia que construiu impérios sobre duas rodas, e de Espanha que aprendeu a colocar essas máquinas nos corações e garagens do Velho Continente e da Península.
A história da Hero MotoCorp é uma epopeia sobre velocidade, coragem e visão. Nasceu em 1984, algures numa velha e suja garagem no coração pulsante de Nova Deli. Sob o nome Hero Honda e fruto de uma aliança improvável, no entanto perfeita: o gigante indiano Hero Group e a lendária Honda japonesa uniram forças para transformar a mobilidade na Índia. Numa nação onde a estrada se confunde com o destino de milhões, a Hero Honda rapidamente se tornou sinónimo de fiabilidade, simplicidade e sonho acessível. A Splendor e o Passion deixaram de ser apenas motociclos para se tornarem símbolos de liberdade e rotina reinventada.
O ano de 2010 marcou uma viragem decisiva. A parceria com a Honda chegou ao fim, e a Hero nunca perdeu o fôlego. Rebatizada como Hero MotoCorp, a marca assumiu a sua identidade própria e manteve-se no topo do mercado indiano, onde comanda cerca de 30% das vendas de duas rodas. Uma liderança construída sobre décadas de trabalho árduo, inovação e uma paixão quase obsessiva por cada detalhe mecânico e estético.
À CONQUISTA DA ASIA
Mas a Hero não se ficou pela Índia. Hoje, está presente em 49 países, espalhando o seu ADN de eficiência, resistência e espírito aventureiro desde o México até à Itália, passando por mercados em constante expansão como Sri Lanka e outros cantos da Ásia.
Cada modelo é um manifesto: A Splendor Plus, icónica e imortal, é a prova de que fiabilidade também pode ser poesia sobre duas rodas; a Xtreme 125R mistura estilo e performance num equilíbrio perfeito; a XPulse 200, com o seu ADN aventureiro, desafia os terrenos mais difíceis e convida o motocislista a perder-se na estrada e a reencontrar-se na alma; o Karizma XMR 250 exala desportivismo e design; e a Hunk 440 anuncia que a Hero não teme disputar um espaço mais especial, com o olhar firme no futuro.
DESAFIO DAKAR
E se a estrada é paixão, a competição é a adrenalina que corrói as veias. A Hero MotoCorp não se limita às ruas; ela tenta dominar os desertos e dunas do Rally Dakar através da Hero MotoSports Team Rally. Desde a estreia em 2017, a equipa tem deixado a sua marca nos terrenos mais brutais do planeta, provando que cada moto, cada piloto e cada peça de metal carrega consigo uma vontade de ferro.
E entre estes heróis da velocidade, pulsa o sangue português. Paulo Gonçalves, lenda que nos deixou cedo demais, fez história na equipa Hero. Joaquim Rodrigues Júnior ama desafiar limites e Sebastián Böhler representa a mescla perfeita entre técnica e paixão, reforçando o elo da Hero com o nosso país. Cada piloto, cada curva, cada quilómetro percorrido conta uma história de coragem, resiliência e amor pelo motociclismo. A Hero MotoCorp não é apenas uma marca; é uma história viva, uma sinfonia mecânica que ecoa pelo mundo, desde os becos de Nova Deli às dunas do Dakar.
A empresa terá produziu aproximadamente 6 milhões de unidades de motocicletas em 2024. Todavia há fontes que apontam para um número superior a sete milhões. É sem dúvida alguma um dos maiores fabricantes mundiais de motos em volume, se não mesmo o maior de todos.
MILÃO 2024
Faz agora um ano. O Salão EICMA de Milão, em 2024, pulsava com uma energia quase elétrica. Cada corredor parecia vibrar com o som de motores, o brilho metálico das carenagens e o murmúrio constante de jornalistas, agentes e curiosos que se cruzavam como enxames inquietos. No coração desse turbilhão, o stand da Hero impunha-se com uma presença quase silenciosa, mas impossível de ignorar. As motos alinhadas, robustas e fiéis à tradição indiana, brilhavam sob as luzes, mas o seu desenho suscitava olhares e comentários discretos: brutas, confiáveis, mas ainda longe daquilo que o europeu exige para chamar de “elegante sobre duas rodas”.
Entre os corredores, sussurros percorriam os espaços como correntes invisíveis. Alguns agentes europeus, habituados a negociar o gosto do continente, aproximavam-se, indagando discretamente os responsáveis da Hero: “Quando é que estas motos serão pensadas para o nosso dia-a-dia, para o commuting, sem perder fiabilidade?” A resposta nunca chegava, mas os olhares diziam tudo. O desejo do mercado era claro: motos de baixa e média cilindrada, com linhas limpas, detalhes técnicos refinados, suspensão ágil, qualidade que se sente ao toque, segurança que se respira. Tudo isto, porém, envolto numa condição quase sussurrada entre os corredores: que o preço permanecesse acessível, justo, capaz de atrair quem procura a perfeição sem rasgar a carteira.
E foi então que os rumores começaram a ganhar corpo, entre cafés, aperto de mãos e flashes das máquinas fotográficas. Falava-se de protótipos escondidos, de modelos ainda por revelar, com cores pensadas para os olhos europeus e soluções técnicas afinadas ao gosto do continente. O murmúrio crescia, quase como o rugir de um motor prestes a libertar toda a sua força. Naquele stand, entre luzes e sombras, ficou no ar a sensação de que algo estava a mudar: a Hero podia, finalmente, estar a ouvir o diz-que-diz do mercado europeu, preparando-se para se aproximar de nós sem abdicar da sua identidade — e mantendo, como exigem os europeus, o preço tão baixo quanto possível.
XPULSE 200 4V — A PEQUENA GRANDE AVENTUREIRA JÁ ESTÁ EM ITÁLIA
Algumas motos medem-se em cavalos; outras, em vontade. A Xpulse 200 4V pertence a esta segunda categoria. Com o seu monocilíndrico de 199,6 cc, refrigeração a óleo e quatro válvulas, entrega uns modestos 19 cavalos — mas cada cavalo vibra com intensidade. O quadro é leve, as suspensões longas, as rodas de 21” à frente e 18” atrás denunciam a vocação trail, pronta para terra, areia, pó e curvas que desafiam a gravidade.
O seu farol LED brilha como farol de esperança na neblina europeia. Painel digital, navegação integrada, ABS de dois canais — todos os detalhes essenciais, sem luxo supérfluo, sem engano. Lançada nos últimos dias em Itália, pela Pelpi International, a Xpulse 200 4V é um manifesto da simplicidade, da aventura pura, do prazer de colocar uma mão no guiador e sentir o mundo passar. Preço? Cerca de 3.000 euros — uma pechincha para a liberdade que oferece, metade do que pedem por rivais que se vestem de modernidade e esquecem a alma.
No entanto o que realmente impressiona não é o preço, nem a tecnologia, nem a robustez: é a promessa de sentir a estrada com o coração, de voltar a sorrir quando o pó se cola à jaqueta e a poeira entra nos olhos.
GRUPO ONEX — O BASTIDOR IBÉRICO DAS MARCAS QUE OUSAM ENTRAR
Se a Hero é a fábrica, o Onex é o palco. Um grupo espanhol discreto, sediado em Valência, que se tornou porta de entrada para várias marcas asiáticas no mercado ibérico.
Não é uma marca que brilhe nos depósitos das motos — é quem as põe lá.
O Grupo Onex é uma entidade empresarial espanhola com sede em Albuixech, na província de Valência, dedicada à importação e distribuição de motocicletas na Península Ibérica. Fundado em 1982, o grupo possui uma vasta experiência no setor, tendo representado marcas de prestígio como Ducati, Harley-Davidson e Triumph em Espanha. Atualmente, é reconhecido como o importador exclusivo de várias marcas asiáticas e europeias
O Grupo Onex é uma constelação de empresas, entre elas a Onetrón Motos, especializadas em importação, distribuição, pós-venda e homologações. No seu portefólio estão nomes que, há uns anos, poucos levavam a sério — e que hoje vendem milhares de unidades: Voge, Zontes, Royal Enfield, Hanway, SWM, Super Soco, entre outras. A Onex construiu uma reputação de operador sólido e discreto, que sabe navegar as complexidades da União Europeia e as diferenças culturais do mercado ibérico. Sabe o que é transformar uma marca sem história numa rede de concessionários, com publicidade, peças, serviço e confiança.
Em 12 de setembro de 2025, o Grupo Onex sofreu um grave incêndio nas suas instalações em Albuixech. O fogo afetou as áreas de escritório e parte do armazém de peças, mas não houve danos pessoais. A empresa assegurou que o centro logístico não foi danificado e que a distribuição de motocicletas continuaria sem interrupções.
Em Portugal, o Grupo Onex está presente através da importação e distribuição das marcas que representa, incluindo Royal Enfield e Voge. Estas marcas têm uma rede de concessionários e pontos de venda em várias regiões do país, oferecendo aos motociclistas portugueses acesso a modelos de diversas cilindradas e estilos.
HERO MOTOCORP ANUNCIA ENTRADA EM ESPANHA
Esta semana, a Hero MotoCorp, informou através de comunicado, datado do passado dia 15, que acaba de entrar no mercado espanhol. Esta expansão marca o 50.º país onde a marca está presente, reforçando a sua presença na Europa, depois de ter também chegado a Itália há poucos dias. A entrada em Espanha é feita em parceria com a Noria Motos, uma empresa do grupo ONEX. Juntas, vão lançar três modelos Euro 5+ adaptados ao mercado europeu: Xpulse 200 4V, Xpulse 200 4V Pro e Hunk 440.
A Noria Motos vai abrir mais de 30 pontos de venda e assistência nas principais cidades espanholas, com planos de expandir para mais de 50 até 2026 e alcançar uma cobertura total até 2028. A Hero MotoCorp já serve mais de 125 milhões de clientes em todo o mundo.
A DANÇA SILENCIOSA — HERO E ONEX, RUMO A PORTUGAL?
Em Itália, a Hero escolheu Pelpi. Na Península Ibérica, o grupo Onex é o parceiro ideal. Tudo encaixa: a Hero precisa de estrutura, experiência e rede; o Onex precisa de marcas fortes e aspiracionais. Para a Hero, será a entrada por uma porta de prestígio; para o Onex, será o peso industrial de uma gigante; e para nós, motociclistas, a promessa de um novo capítulo de liberdade e aventura.
Se a aliança acontecer, o mercado ibérico das duas rodas poderá tremer. Não pelos gigantes, mas pela alternativa honesta, pela simplicidade, pelo prazer de andar sem artifícios. A Hero democratiza a aventura. A Onex garante que ela chegue a nós. Juntas, podem escrever uma história em que a paixão supera a burocracia, em que o aço fala mais alto que o marketing, e em que cada estrada é uma promessa cumprida.
No fim, é disso que se trata: não apenas vender motos, mas fazer renascer a vontade de montar, sentir, viver.
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