quarta-feira, 21 de outubro de 2015

Alpes 2015 (I)

Se os surfistas percorrem milhares de quilómetros em intermináveis viagens de avião na busca de alguns dias de ondas perfeitas em locais paradisíacos, será assim tão estranho para nós, motociclistas, perder quatro dias (dois para cada lado) nas entediantes autoestradas ibéricas e francesas para gozar, durante cerca de duas semanas, dos prazeres de condução de um motociclo no derradeiro santuário do asfalto? 

Não poupemos nas palavras, tal como os Alpes não poupam na grandiosidade.

São cerca de 190 959 km2 de superfície dividida (por ordem decrescente) entre Áustria, Itália, França, Suíça, Alemanha, Eslovénia e Liechtenstein. Intermináveis quilómetros de estradas perfeitas; bem asfaltadas e sinalizadas. Cenários que variam entre o adorável e o épico. O sonho de qualquer motociclista que gosta da descoberta e da viagem. Um sonho por mim alimentado desde a minha primeira passagem alpina há mais de década e meia. Um sonho enfim tornado realidade: uma viagem pela seleção possível de algumas das melhores estradas da Europa e do Mundo, olvidando praticamente outro tipo de turismo que não fosse andar de moto! Andar de moto.

É mesmo isso que não paramos de fazer até conseguir chegar à terra prometida das curvas e contracurvas. Mas não é este andar-de-moto-sempre-a-direito que satisfaz o motociclista. Todavia, para alcançar o que nunca tivemos, teremos de estar dispostos a fazer o que nunca fizemos. E se queremos passar o maior número de horas possíveis nas melhores estradas do mundo, teremos de estar preparados para enfrentar o caminho mais rápido até lá chegar. 

Excetuando o troço de autoestrada entre Nice e as cercanias de Génova – se na europa fossemos australianos ou norte-americanos teríamos batizado esta maravilha binária túnel-viaduto-túnel-viaduto como a “grande strada mediterrânea” - não haverá história para contar nas centenas de quilómetros que separam Lisboa, o ponto de partida, de Abbadia Lariana nas margens do Lago Como na Lombardia Italiana. 

Abbadia Lariana tem a particularidade de ser vizinha de Mandello del Lario, berço durante décadas de uma das mais icónicas marcas de motas do Velho Continente: Moto Guzzi. E após um merecido dia de refrescante descanso (passado entre Bellagio – o verdadeiro, não o de Las Vegas – a visita ao museu Guzzi e em mergulhos no Como) para cambiar do modo mental “quase sempre a direito” para o bem mais apetecível “curva contracurva” foi, enfim, tempo de iniciar o festim de sobe e desce alpino. 

(continua…)

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