quinta-feira, 28 de agosto de 2025

No Coração do Oeste com a Suzuki GSX-S1000 GX

Há rotas que são feitas de curvas. Outras são feitas de história. E há aquelas raras que unem as duas coisas, com o sal do Atlântico a temperar cada quilómetro. A bordo da Suzuki GSX-S1000 GX, essa turística de genes desportivos e alma inquieta, fiz-me à estrada desde a base em Alfragide. De olhos postos no Oeste, rumo ao coração da nossa costa mais brava. 


Antes de partir recordemos que a Suzuki GSX-S1000 GX pretende ser a fusão perfeita entre a agressividade de uma superbike e o conforto de uma sport tourer. Desassossego foi a palavra chave que encontrei quando a provei aqui (link) na primavera passada. Sempre que colocamos o motor da Suzuki GSX-S1000 GX a trabalhar, ela reclama a nossa atenção e transpira personalidade. Fazendo-nos sonhar com paisagens exóticas e asfalto retorcido. 

NACIONAL 115: A ESPINHA DORSAL DO OESTE 
A manhã nasceu quente, mas a GSX-S1000 GX estava pronta. A saída de Alfragide, engolindo o betão suburbano, serve como rampa de lançamento. Um pequeno sacrifício para alcançar as linhas mais livres. Bucelas apareceu como a primeira recompensa — uma vila de vinhos robustos e encostas suaves, onde a paisagem começa a mudar de tom e a estrada começa a sussurrar segredos ao ouvido. 


Apanhamos a N115 com sede de aventura. Esta estrada nacional é uma daquelas vias esquecidas pelas pressas modernas, mas que os motociclistas de alma sabem venerar. Tensa e solta, a 115 desenha-se entre vales e colinas, com o piso a variar entre o aceitável e o desafiante. Aqui, a GSX-S1000 GX mostra o equilíbrio entre conforto e garra: a suspensão electrónica da Showa lê o asfalto como quem lê braille — e interpreta tudo sem erros. 

Relembrem que o SAES (Suzuki Advanced Electronic Suspension) assume-se como um sistema electrónico de controlo ativo de suspensão dos mais avançados do mercado, tentando definir um novo padrão. O sistema está assente nas suspensões Hitachi Astemo’s SHOWA EERA, versão electrónica da forquilha dianteira invertida SFF-CA e do mono amortecedor traseiro BFRC-lite. 

SOBRAL DE MONTE AGRAÇO: NO RASTO DAS LINHAS DE TORRES 
Chegamos ao Sobral com o motor quente e a mente a viajar no tempo. Estamos em território sagrado. Foi aqui, nesta região, que se ergueu uma das mais engenhosas linhas defensivas da história europeia: as Linhas de Torres. Concebidas por Wellington para travar Napoleão, as suas 152 fortificações salvaram Lisboa da destruição. As colinas guardam ainda os ecos de tiros de mosquete e passos mercenários e de soldados britânicos, portugueses e espanhóis. É impossível não sentir o peso épico desta paisagem. 


Daqui, seguimos para a Aldeia Galega da Merceana. A estrada serpenteia, e cada curva parece moldada à mão para motociclistas. A Merceana é pequena, todavia rica em carácter, com casario branco, hortas, varandas floridas e um tempo que corre mais devagar. O tipo de lugar onde se ouve mais o som dos teus próprios pensamentos… ou do escape da Suzuki. 

SERRA DE MONTEJUNTO: ALTITUDE E ATITUDE 
Desvio-me da 115 para subir à Serra de Montejunto — o pulmão elevado do Oeste. A estrada torna-se estreita, o piso mais rude, mas a vista recompensa. De lá de cima, a paisagem abre-se num pano de fundo esmagador: vinhas, serranias, o Atlântico ao longe. A GSX-S1000 GX, com a sua eletrónica afinadíssima, mantém a compostura mesmo nas picadas menos simpáticas. É aqui que a moto prova que é mais do que um canhão de autoestrada: é uma devoradora de horizontes. 


Descemos com cautela e ligo-me de novo à 115. Cruzamos o Cadaval — terra de maçãs e de gentes de fibra — e seguimos para o Bombarral, já com a maresia a insinuar-se nas nossas narinas. Um curto troço de autoestrada serve de transição, mas não desilude: a GSX voa estável, protegida pela carenagem frontal que agora domestica brisas atlânticas. Saído da A8 em Tornada, somos brindados com a N8, essa estrada paralela ao mar, de curvas largas, paisagens de postal ilustrado e ritmo hipnótico. A GX entra em modo de cruzeiro, e eu deixo-me embalar. É um prelúdio perfeito para o clímax desta viagem. 

***Recorda aqui (link) a Prova à Suzuki GSX-S1000 GX uma moto que te faz sentir vivo.*** 

SECRET SPOT: O SEGREDO ENTRE A SERRA E O MAR 
Chegamos, finalmente, ao nosso destino junto ao mar. Não direi onde fica — quem sabe, saberá encontrá-lo — mas posso dizer o que senti. Este secret spot não é para todos. É para quem respeita o silêncio, para quem se move devagar, para quem entende que a beleza mais pura não grita — sussurra. E aqueles que o encontram, raramente o esquecem. 

Escondida entre as dobras dramáticas da costa atlântica, existe uma praia onde o tempo parece abrandar e a natureza domina com uma força bruta e serena. Este secret spot é um tesouro intocado, uma faixa de areia larga e selvagem que se estende até perder de vista, ladeada por dunas douradas e arribas que guardam segredos antigos. 

Aqui, o oceano revela-se em toda a sua magnitude. As ondas chegam longas e vigorosas, numa cadência hipnótica que atrai tanto quem procura meditação no som do mar como aqueles que o enfrentam com uma prancha nos pés. Não há espreguiçadeiras nem bares à vista — apenas o cheiro da maresia, o cantar do vento e o bater persistente do mar contra a areia. 

A natureza impera. Os acessos são discretos, quase silenciosos, como se a própria paisagem pedisse discrição a quem a visita. É o tipo de lugar onde os pés nus se tornam bússolas, e cada passo é uma descoberta — de conchas, pegadas de gaivotas ou apenas do prazer de estar longe de tudo. 

REGRESSO COM OURO NAS MÃOS 

É um lugar onde o tempo estanca. Um areal imenso, selvagem, de ondas bravas e silêncio puro. O tipo de lugar que parece guardado por Poseidon em pessoa. A GSX fica estacionada com vista privilegiada, a descansar enquanto os olhos descansam também. A carenagem azul brilha sob o sol de quase Agosto. A vida tem destes momentos em que tudo parece encaixar. 

A tarde cai. É hora de voltar. Fazemos o mesmo caminho até ao Bombarral, onde seguimos de novo a Nacional 8 — agora no seu troço mais célebre entre Bombarral e Torres Vedras. Esta secção é ouro líquido para quem anda de moto: curvas progressivas, bom piso, inclinações suaves, paisagens que rasgam o fôlego. A GSX-S1000 GX dança, desliza, sorri. É pura harmonia entre homem, máquina e estrada. 

O OESTE É UM MAPA EMOCIONAL 
Já em Torres, com o sol a despedir-se em tons alaranjados, não há tempo para cerimónias. Sigo pela autoestrada até casa. O motor ronrona sem esforço, como quem diz: “Se quiseres, vamos outra vez.”. Este passeio foi mais do que um percurso — foi uma ode à beleza crua e à história rica da Região Oeste. Foi também uma prova da versatilidade e do prazer que a Suzuki GSX-S1000 GX oferece.


Não é apenas uma sport-tourer. É uma extensão do desejo de descobrir, de escapar, de sentir. E quando o sol se põe, ainda com o som das ondas a misturar-se com a memória do escape mais rouco…, percebes que o Oeste não se atravessa. Vive-se.

terça-feira, 26 de agosto de 2025

Miguel Oliveira 2026 entre o sonho e a encruzilhada

O nome de Miguel Oliveira voltou a ocupar as páginas da imprensa especializada e generalista em Portugal e lá fora. O único piloto português a competir no Mundial de MotoGP vive, mais uma vez, um daqueles momentos em que o talento não basta: o tabuleiro das equipas, das escolhas técnicas e dos lugares disponíveis dita a regra de um jogo feroz, onde cada movimento pode significar um novo recomeço ou o princípio de uma despedida. 


O QUE ESTÁ CONFIRMADO 
Em setembro de 2024, Miguel assinou com a Prima Pramac Yamaha, num acordo 1+1 que garantia 2025 e uma opção para 2026. No entanto, o que parecia estável depressa se tornou frágil. A Yamaha anunciou que Toprak Razgatlioglu será piloto da Pramac em 2026 — uma notícia que fez estremecer as certezas do português. 


A isto soma-se o momento histórico da marca japonesa: a Yamaha prepara-se para abandonar o seu tradicional motor em linha e estrear, já em setembro, em Misano, o muito aguardado V4. Um salto técnico que, por si só, exige perfis de piloto com experiência nesse tipo de arquitetura e a capacidade de guiar o desenvolvimento de um projeto de raiz. 

A TEIA DAS ESPECULAÇÕES 
Com Toprak já confirmado, sobra apenas uma vaga na Pramac para 2026. Tudo indica que essa disputa será entre Jack Miller e Miguel Oliveira. O problema? Os números. Em 2025, Miller soma mais pontos e tem mostrado consistência, enquanto Miguel aparece mais atrás na classificação. A imprensa internacional fala até de uma cláusula de performance no contrato do português, permitindo à equipa quebrar a opção caso os resultados fiquem aquém. 


Em paralelo, corre a ideia de que Miguel poderá abraçar um papel de piloto de testes em 2026, com wildcards, sendo a Aprilia o nome mais forte neste cenário. O lugar teria menos glamour, mas permitiria ao português manter-se dentro do MotoGP, acumulando quilómetros num pacote competitivo, e preparando-se para o novo regulamento que entra em vigor em 2027. 

E se não for MotoGP? As portas das Superbikes estão entreabertas. A Ducati já tem a casa arrumada (Bulega e Lecuona confirmados para 2026), mas a BMW oficial surge como uma possibilidade, sobretudo porque um dos seus lugares continua em aberto após a entrada de Petrucci. 

CENÁRIOS PARA 2026
Baseando-nos em dados, confirmações oficiais e tendências de mercado, eis o que parece mais plausível para o futuro de Miguel Oliveira:
• Piloto de testes (Aprilia): cenário mais forte. A probabilidade ronda os 40%. É a via mais segura para manter-se ligado ao MotoGP, com a hipótese de regressar a tempo inteiro em 2027.
• Pramac Yamaha ao lado de Toprak: 25% de hipóteses. Possível, mas condicionado pelo desempenho atual, pela preferência que Miller parece gozar e pelo arranque do projeto V4.
• WorldSBK com a BMW: 20% de hipóteses. Uma alternativa concreta, se a prioridade for continuar a correr a tempo inteiro. 
• Outros avanços em MotoGP: apenas 15%. As vagas na grelha estão escassas e seria necessário um dominó tardio. 

ENDURANCE: UM PALCO ALTERNATIVO DE GLÓRIA
Embora nenhum rumor aponte nesse sentido, não se pode ignorar o Mundial de Endurance (EWC) como uma possibilidade inspiradora para Miguel Oliveira. Trata-se de um campeonato do mundo de motociclismo de resistência, de calendário curto, mas de enorme prestígio — com provas lendárias como as 24 Horas de Le Mans (França) ou a Suzuka 8 Hours (Japão). São corridas que, mais do que a glória desportiva, carregam um peso comercial e simbólico muito forte para as marcas envolvidas, que continuam a investir pesado nesta vitrine de fiabilidade e de resistência mecânica. 

Com a sua experiência acumulada no MotoGP, a sua capacidade técnica e maturidade competitiva, Miguel poderia ser uma extraordinária mais-valia para qualquer equipa de fábrica do EWC. A resistência exige não apenas rapidez pura, mas também inteligência estratégica, capacidade de poupar pneus, gerir combustível e adaptar-se a condições adversas durante horas seguidas. Virtudes que Miguel tem demonstrado ao longo da carreira. 


Há ainda um detalhe curioso: Miguel já provou a sua apetência pela disciplina de endurance, ainda que nos automóveis — experiência que reforça a sua polivalência e abre uma janela de imaginação sobre o que poderia fazer em duas rodas num campeonato tão peculiar quanto apaixonante. 

ENTRE A PAIXÃO E O CÁLCULO
Miguel Oliveira encontra-se numa encruzilhada. A paixão portuguesa gostava de o ver a lutar por vitórias em MotoGP, a acelerar na frente do pelotão. Mas o cálculo frio da estatística e do mercado diz-nos que 2026 poderá ser o ano em que ele troca o papel de gladiador pelo de estratega — um ano para pensar a longo prazo, para preparar um regresso no momento em que as cartas se baralham de novo em 2027. 


É a eterna história do motociclismo: um desporto onde o talento brilha, mas em que as peças fora da pista, os motores que mudam e os lugares que se fecham, pesam tanto quanto a coragem de abrir o punho no limite. 

Para já, Miguel continua a ser o nosso piloto no MotoGP. E enquanto isso acontecer, cada corrida terá o sabor único de apoiar quem, contra todas as probabilidades, colocou Portugal no mapa do motociclismo mundial.

quinta-feira, 14 de agosto de 2025

O que aconteceu a Miguel Oliveira?

Para 2025, Miguel Oliveira assinou por duas temporadas com a Prima Pramac Yamaha, equipa satélite da Yamaha Factory, com motas idênticas às da equipa oficial – dizem alguns com as mesmas especificações técnicas da M1 de Quartararo e Rins. Tal mudança sucede após dois anos na Aprilia Trackhouse Racing, onde Miguel não conseguiu extrair desempenho consistente da RS-GP. A expectativa era obvia: o ambiente mais estruturado da Yamaha Pramac e o apoio direto da marca iam colocar novamente Oliveira num alto nível


Na Sprint do GP da Argentina (15 de março de 2025), Miguel Oliveira foi abalroado por Fermín Aldeguer (Gresini Ducati), sofrendo uma luxação da articulação esterno clavicular com rotura de ligamentos, além de um hematoma nas costelas. Não houve fraturas, mas a lesão impediu a sua participação em várias etapas todas obviamente importantes. 

Fruto dessa lesão, Oliveira ficou fora dos Grandes Prémios das Américas (Austin), do Qatar e de Espanha (Jerez), sendo substituído em todas elas pelo piloto de testes da Yamaha, Augusto Fernández. A recuperação exigiu semanas de imobilização e reabilitação gradual: “When you start thinking about the luck, you will lose control” – afirmou Oliveira, que evitou voltar prematuramente à competição. 


No GP de França (Le Mans), em início de maio, regressou à pista após cerca de dois meses parado e apenas tinha somado pontos na primeira prova da temporada (Tailândia), com 2 pontos. Assim, até ao momento da lesão, Oliveira apenas participara no GP da Tailândia, conseguindo pontuar com um 12.º lugar (2 pontos). Depois do regresso, ainda não alcançou nenhum pódio, vitória, ou mesmo um top 10 consistente. Na classificação provisória está longe do topo (25º, com somente 6 grandes prémios realizados). 

FÃS E CRITICAS ON LINE 
Há uma frustração crescente nas redes sociais: muitos adeptos consideram que a performance atual está longe do que esperam, lamentando a falta de ritmo e algumas decisões de corrida. Um comentário típico diz que ele “está sem ritmo e é sempre último”. Outros adeptos focam nas dificuldades técnicas: dizem que o piloto não se adaptou bem à Aprilia GP24 (na temporada anterior) e que a equipa (Trackhouse) não dispôs dos dados ou estrutura adequados para tirar o melhor dele – embora agora esteja na Pramac Yamaha, com esperança de melhorias. Lá fora há quem sublinhe a sua falta de sorte crónica: “He literally can’t catch a break… unluckiest rider” – especialmente após múltiplos acidentes em que foi apanhado por outros pilotos. 


Como único piloto português na classe rainha e com histórico de 5 vitórias e 7 pódios em MotoGP (na KTM), muitos esperam que Miguel Oliveira mantenha esse nível de performance (link). Os fãs portugueses são apaixonados e exigentes — querem ver o piloto lutar por pódios e vitórias, especialmente agora que está numa estrutura Yamaha, que teoricamente lhe ofereceria mais competitividade. 

POR QUE RAIO OS ADEPTOS EXIGEM TANTO?!?
Quando se sente que há contrato novo (como o com a Pramac Yamaha para 2025 26) e se esperam resultados, qualquer mau momento ou lesão torna-se foco de crítica. A ausência prolongada e resultados fracos reforçam o sentimento de desalento: muitos fãs protestam e expressam indignação nas redes sociais — exigem explicações, vitórias, ou ao menos uma evolução clara. 


Depois há a cultura de competição moderna. No MotoGP actual, os fãs querem ver ação rápida, vitórias, pódios — e desejam que até mesmo os pilotos medianos pressionem o seu equipamento e performance ao máximo. Hoje há pouca tolerância para fases de reconstrução, especialmente para pilotos com histórico de sucesso. Ser “suplente” ou ter resultados discretos durante tempo excessivo gera impaciência. 

ALTAS EXPETATIVAS E PAIXÃO NACIONAL 
Miguel Oliveira chegou a 2025 com um contrato sólido, novas motas e motivação renovada. Era a resposta ao adeus de Aprilia, a esperança de recuperação e afirmação. Mas a realidade foi dura: uma lesão grave no início da temporada estragou o ritmo, atrasou o desenvolvimento e tornou o regresso mais difícil do que a promessa que veio somar.

Se os primeiros Grandes Prémios foram apagados pela ausência, os seguintes têm sido marcados pela pressão de pontuar, de provar que ainda merece estar na linha da frente. A pressão vai muito além da corrida — passa pela sua integridade no campeonato, pela visão de futuro na box, pelo tal encaixe no projeto Yamaha que se esperava fosse imediato. 


A questão não é falta de talento. É falta de circunstâncias que o permitam florescer. A M1 é potencialmente competitiva, mas é preciso tempo, ritmo, dados e confiança — tudo coisas que o tempo fora das pistas fragilizou. Agora, resta-lhe recuperar cada ponto até ao verão e mostrar que está vivo, tecnicamente perspicaz e merecedor da continuidade. 

Miguel Oliveira tem vivido uma temporada marcada por azar, lesões e expectativas frustradas. A gravidade da lesão e a necessidade de repouso impediram a participação em três Grandes Prémios. Ao regressar, ainda não voltou a mostrar ritmo suficiente para estar entre os pilotos da frente. As críticas nas redes sociais refletem o descontentamento dos adeptos — que esperavam mais de um piloto nacional com currículo em MotoGP. 


Todavia é importante lembrar: a sua recuperação foi cautelosa e baseada em critérios médicos e de segurança; a exigência dos fãs, ainda que compreensível, desconsidera o lado humano: reabilitar uma lesão séria não é linear; a esperança, na verdade, fundamentou-se na transição para a estrutura Pramac Yamaha. Em suma: com mais estabilidade, melhor moto e experiência acumulada, mantemos a esperança que poderá haver reviravolta na segunda parte da temporada.

domingo, 10 de agosto de 2025

Sardenha e Alpes - HONDA NT1100 DCT ES em viagem (II)

Há dias que ficam gravados na memória como tatuagens na pele. Este foi um deles. Acordámos em Sant’Antiocco com o cheiro salgado do mar ainda colado ao capacete do dia anterior. Era cedo, mas o calor já prometia apertar. Estava na hora de rasgar a espinha dorsal da Sardenha. O destino: Santa Teresa di Gallura. A rota? A icónica Estrada 125 e o imperdível Passo Ghenna Silana. 


Saímos de Sant’Antiocco com os depósitos atestados e os corações cheios de expectativa. A NT1100 DCT ES estava com fome de asfalto, e nós estávamos prontos para a alimentar com curvas, vistas e emoções. A 125, conhecida pelos locais como Orientale Sarda, é mais do que uma estrada — é um poema em asfalto que serpenteia por montanhas, penhascos e florestas, sempre com o mar como pano de fundo, mesmo quando desaparece por momentos. 

**Recorda aqui (link) a primeira metade desta inesquecível viagem!**

A ALMA SARDA PELA ICONICA SS125 
Os primeiros quilómetros foram suaves, um aquecimento para o que aí vinha. O trânsito dissipou-se assim que deixámos para trás a sempre aborrecida Cagliari e começámos a subir para as zonas mais altas da ilha. A estrada começou a dançar entre as montanhas, os rails surgiram como avisos sussurrados, e cada curva parecia ter sido desenhada por um engenheiro com alma de piloto. 

E então, como quem sobe ao palco no momento certo, apareceu o Passo Ghenna Silana. Aproximámo-nos com respeito. Esta não é uma daquelas passagens alpinas com neve e postais, mas tem uma presença crua, quase tribal. A natureza ali impõe-se: rochas despidas, vegetação agreste e aquele silêncio cortado apenas pelo eco dos escapes. Parámos no miradouro. Respirámos fundo. Silêncio. Montanhas até onde a vista alcança e uma sensação estranha de que ali, naquele ponto, a Sardenha mostra a sua verdadeira alma. Selvagem. Indomada. Linda. 

De regresso à estrada, voltámos a atacar as curvas com prazer. A 125 continuava a entregar tudo à NT: curvas longas, cotovelos apertados, zonas de visibilidade ampla e outras que nos obrigavam a guiar com instinto. É uma estrada que exige, mas retribui em dobro. Uma estrada que nos liga à moto como poucas. Uma estrada que não se faz para chegar, mas para viver. 

Santa Teresa di Gallura - a nossa segunda e última base na Sardenha - surgiu ao fundo no final da tarde, banhada pela luz dourada do sol poente. Estávamos cansados, suados, e absolutamente felizes. Não foi só mais um dia de viagem — foi um daqueles capítulos especiais que fazem de uma ilha como a Sardenha um destino de sonho para quem ama motos, curvas e horizontes largos. 

ONDE A ESTRADA SE MISTURA COM O MAR 
Viver o Nordeste sardo, para além da descoberta dos inúmeros segredos da poética Santa Teresa di Gallura implica a visita as vizinhas ilhas de La Maddalena e Caprera: onde a estrada se mistura com o mar. Na verdade O arquipélago Maddalena é constituído por sete ilhas principais (Maddalena, Caprera, Santo Stefano, Spargi, Budelli, Santa Maria e Razzoli) e outras ilhotas menores. 


Há viagens que não se contam apenas com palavras. Vivem-se na pele, no cheiro do sal, no sopro quente do vento que passa por entre a viseira entreaberta. Assim foi o dia em que deixámos Santa Teresa di Gallura para embarcar rumo ao arquipélago de La Maddalena. A travessia de ferry já nos dá o primeiro aperitivo: o mar de um azul translúcido, impossível de definir com uma só cor, separa a Sardenha continental deste pequeno paraíso recortado. Quando a roda da moto toca o asfalto da ilha, algo muda. O tempo abranda, os sentidos aguçam-se. A estrada serpenteia suavemente pelas colinas e baías, sempre com o mar como pano de fundo. Cada curva oferece um postal novo — enseadas escondidas de águas calmas, rochedos esculpidos pelo vento, vegetação rasteira perfumada de maresia e sol. 

La Maddalena acolhe-nos com ruas estreitas e uma simplicidade encantadora, mas é Caprera que nos tira o fôlego. Ligadas por uma ponte estreita, as duas ilhas convidam literalmente a perder o rumo e seguir apenas o instinto e o brilho da luz no horizonte. Em Caprera, o silêncio impera. Quase não há trânsito, apenas o som do motor ao ralenti e o chilrear das aves. É um local com alma, onde a natureza parece falar connosco. As praias? Inacreditáveis. A liliputiana Cala Coticcio, por exemplo, faz-nos duvidar se ainda estamos no Mediterrâneo. Areia branca como farinha, água que vai da esmeralda ao azul puro — um convite impossível de recusar. 

Mas o que mais marca é a leveza de andar ali de moto. Não há pressa. Não há multidões. Apenas nós, a estrada, e a beleza crua daquelas ilhas. Cada paragem para contemplar a paisagem torna-se um momento de gratidão. E cada metro percorrido reforça a certeza de que estar sobre duas rodas é a melhor forma de sentir o mundo. Ali, no coração do arquipélago, compreendemos que viajar não é apenas chegar a destinos. É encontrar lugares que tocam dentro. E La Maddalena e Caprera… tocam fundo. 


O capitulo Santa Teresa di Gallura acabou por encerar esta visita de dez dias a terras Sardas. A viagem já vai longa ainda assim nem a meio vai. O regresso ao continente europeu foi feito novamente coma GNV para Génova. Daqui seguiu-se a maior etapa desta viagem com cerca de 600 quilómetros de auto estrada até não muito longe de Montpellier já na Occitânia. 

OCCITÂNIA: ONDE O MAR FALA COM A AREIA DOURADA 
A pouco conhecida, entre nós, costa da Occitânia, estende-se como um poema que o mar escreve todos os dias. Aqui, entre enseadas serenas e extensas praias de areia clara, o tempo abranda e o espírito respira fundo. É um sul de França menos apressado, onde a luz quente do Mediterrâneo beija dunas suaves e o vento transporta o perfume do sal e dos pinhais. 

Estas praias encantadoras — como a de Palavas-les-Flots, a longa faixa dourada de La Grande-Motte ou os cenários quase tropicais de Leucate e Argèles-sur-Mer — são o coração pulsante de um verão que respira e sabe a liberdade. O azul do mar funde-se com o céu num horizonte que convida a contemplar ou simplesmente deixar-se ir, enquanto os pés se enterram na areia fina, morna e quase branca. Este ano com o “plus” de uma agua do Mediterrâneo de temperatura absolutamente tropical em pleno mês de junho. 

Mais do que um destino de férias, a costa da Occitânia é uma experiência sensorial: o som ritmado das ondas, o brilho dourado das tardes sem pressa, os pores-do-sol que parecem incendiar o céu, e o toque leve da brisa que percorre os cabelos como um afago antigo. Cada praia é um convite ao hedonismo simples, ao prazer puro de estar — de verdade — presente. 

RUMO AOS ALPES E À CATEDRAL DA CONDUÇÃO 
O tempo, horas e minutos, assumem uma estranha dimensão quando nos estamos a divertir. Ganha uma espécie de natureza inversamente proporcional. Quando mais te divertes mais depressa o tempo parece passar. Esta viagem caminhava depressa demais para o seu capitulo final. Se havia que regressar a Milão para voltar a entregar a moto aos cuidados do Nuno Almeida, então que tal fosse feito em grande estilo: Alpes, pois então. 


Ah, os Alpes… Nenhum motociclista regressa igual depois de os ter percorrido. Aqui, a natureza ergue-se em muralhas colossais, desafiando-nos com altitudes que tocam o céu e curvas que esculpem a estrada com precisão quase religiosa. As cada vez mais frequentadas passagens alpinas são verdadeiros santuários do asfalto, onde a comunhão entre homem, máquina e montanha atinge o seu auge. O rugido contido do escape, a resposta milimétrica da suspensão ativa, a estabilidade nos ganchos — tudo faz sentido neste cenário sublime. Os Alpes não são só um destino, são uma experiência espiritual, sobretudo ao guiador de uma moto que, como a Honda NT 1100 2025, sabe respeitar a grandiosidade do momento. 

A MAGIA DA ROUTE DES GRANDES ALPES 
Antes de um Sonho em Altitude, a estada levou-nos até Briançon - cidade mais alta de França e segunda mais alta da Europa – pela N94 francesa que ficou credora de outra atenção. 


Há estradas que nos levam a destinos, e há outras que nos transportam para dentro de nós. A Route des Grandes Alpes pertence, sem dúvida, à segunda categoria. Não é apenas um percurso; é um ritual de passagem para quem vive sobre duas rodas. Acordamos com o ar fresco da montanha a anunciar que algo especial nos esperava. Mal arrancamos com a Honda NT 1100 2025, entendemos que o dia prometia mais do que curvas — prometia emoção, paisagens irreais e aquele arrepio que só a comunhão entre máquina e montanha pode provocar. E uma incomodativa dor na cervical que chegou a colocar este final de viagem em causa. Até na dor a HONDA NT1100 DCT ES ajudou. Com uma moto menos confortável provavelmente não teria havido final feliz

Os Alpes franceses são uma ópera visual em crescendo. A cada quilómetro, o cenário muda como num filme: vales verdejantes que parecem pintados à mão, precipícios dramáticos que testam os sentidos, lagos alpinos de um azul impossível e, lá no topo, os colossos de pedra e gelo a vigiar tudo, eternos e silenciosos. Passar pelo Col du Galibier, a 2.645 metros, foi quase místico. O motor da NT 1100 ronronava com segurança e elegância, mesmo quando o oxigénio rareava. Era como se a moto também respirasse melhor ali em cima, como se compreendesse a grandeza do que estávamos a viver juntos. Olhamos em volta e, por instantes, não havia mais nada. Só nós, a estrada e o infinito. 


Há curvas nesta rota que se desenham diretamente no coração. E há miradouros onde a alma se detém para absorver cada nuance de luz, de vento e de altura. Mesmo nos troços mais exigentes, a NT mostrou-se incansável – confortável, estável e pronta a responder a cada provocação da montanha. A Route des Grandes Alpes não é apenas um dos percursos mais belos do mundo – é uma viagem iniciática, uma carta de amor às estradas, à liberdade, e à alma de quem nunca desiste de procurar horizontes. Despedimos-mos de terras gaulesas em Saint-Jean-d'Aulps já no Departamento da Alta-Saboia. Era tempo de rumar à Suiça tendo o Furkapass como grande protagonista de uma autentica sinfonia alpina. 

ONDE AS ESTRADAS TOCAM O CÉU
Passar junto a Interlaken e não dar “um salto” ao vale de Lauterbrunnen é com ir a Roma e não ver o papa. Cumprimos a tradição, obviamente. Cruzar a Suíça Central é como atravessar um postal vivo, onde cada curva parece desenhada à mão por um artista obcecado com a perfeição. Mas há um momento onde tudo se intensifica, onde o coração bate mais forte e a respiração se prende só para absorver a grandeza à nossa volta: o Furkapass. A Honda NT 1100 2025 estava pronta, como sempre, silenciosamente cúmplice. E à medida que os vales se transformavam em muralhas e as rectas davam lugar a serpentinas dramáticas, a emoção crescia. 

O Furkapass não é apenas uma estrada — é um desafio aos sentidos, um abraço entre o homem e a montanha. A cada curva apertada, o olhar é sugado por precipícios vertiginosos e glaciares que parecem suspensos no tempo. É impossível não parar. Não respirar fundo. Não sentir um arrepio ao olhar para trás e ver o caminho esculpido no granito alpino, como uma assinatura divina. 

Aqui, o silêncio tem som. O som do vento que corta as encostas. O som do motor que sobe, firme e confiante. A NT 1100 mostrou-se sublime – equilibrada, com uma ciclística que inspira confiança mesmo quando a estrada parece desaparecer no céu. A proteção aerodinâmica fez-se sentir, assim como o conforto inabalável que a moto oferece, quilómetro após quilómetro. 

E depois há aquele momento – aquele miradouro famoso, eternizado em filmes como Goldfinger, onde James Bond e o seu Aston Martin também se renderam à magnitude do Furka. Ficamos ali. Só nós, a moto e o silêncio de um mundo que parece suspenso a milhares de metros de altitude. 

No entanto o Furkapass é só parte do encanto. Antes e (ou) depois dele, há Grimselpass, Sustenpass, Nufenenpasse e Oberalpass, estradas onde o tempo não tem pressa. Onde se come devagar, onde se escuta o sino das vacas e se admira o recorte das montanhas com um respeito quase religioso. A Suíça Central não é apenas uma rota — é um hino. Uma celebração da condução, da natureza e da liberdade. E neste palco de emoções e abismos, a NT 1100 foi muito mais que transporte. Foi parceira. Foi alma gémea. 


Por falar nisso. O que terá a Miss Yoshimura a dizer sobre tudo isto? Esta viagem foi, sinceramente, das experiências mais suaves e seguras que já vivi numa moto. Entre Sardenha, o sul de França e os Alpes, senti-me sempre bem acompanhada — não só pelo piloto, mas pela própria moto. Mesmo nas estradas mais irregulares, nunca houve aquele impacto seco ou aquele desconforto típico de longas horas como passageira. Parecia que a moto se ajustava a tudo, como se soubesse exatamente o que o nosso corpo precisava. E isso, para quem vai atrás a ver o mundo a passar, faz toda a diferença. 

Durante a viagem, fui também a responsável pelos registos — fotos, vídeos, momentos que quero guardar para sempre. E o facto de me sentir segura, sem abanar desnecessariamente, sem esforço extra para me equilibrar, deu-me liberdade para captar tudo com calma. Foi como se a moto me deixasse espaço para viver a viagem com os olhos abertos e o coração tranquilo. E quando isso acontece… tudo flui. Foi bonito. Foi mesmo especial.

REGRESSO A MILÃO 
Regressar nunca é apenas voltar. É carregar tudo o que se viveu, é olhar para trás com um sorriso e para a frente com nostalgia antecipada. E quando o caminho de regresso passa pelo Passo de São Gottardo, a viagem transforma-se numa despedida em grande estilo – como um último acto de uma ópera épica. 

O São Gottardo, com os seus dois caminhos — o moderno túnel que engole o tempo e o velho traçado da Tremola, em empedrado, que resiste como uma relíquia viva — oferece duas almas muito distintas. Eu escolhi a alma antiga, claro. A Tremola é brutal, primitiva, desconcertante. Uma serpente de paralelos que dança encosta acima, onde cada curva é um teste à técnica e à paixão. Ali, a condução deixa de ser racional. É visceral. É puro prazer de comunhão com a estrada e com a história.

No topo, o vento sopra histórias de viajantes antigos. E ao nosso lado, a NT 1100 continuava impecável – mesmo neste troço mais rústico, a suspensão filtrava com elegância cada irregularidade, enquanto o conforto do assento e a eletrónica discreta ajudavam a manter a fluidez da condução. Uma tourer moderna que chega até a revelar alma de exploradora

A descida trouxe uma mudança radical de cenário. À medida que me aproximava da Itália, o verde intenso das montanhas foi dando lugar a colinas suaves e, finalmente, ao brilho líquido do Lago Maggiore. O lago parecia respirar em paz. 


Contornar as margens do Maggiore foi como um bálsamo depois da dureza dos Alpes. Casas senhoriais escondidas entre ciprestes, vilas encantadoras como Stresa ou Cannobio, cafés à beira da água e aquela brisa quente a dizer: “chegaste”. Ali, entre reflexos de montanha na superfície calma do lago, percebi que a viagem tinha mudado algo em mim. A Honda NT 1100 2025 levou-nos por quilómetros de descoberta e paisagens que marcaram a pele e a alma. E agora, no regresso a Milão, levavamos mais do que memórias — levavamos uma nova sede de estrada.

Recorda aqui (link) a primeira metade desta inesquecível viagem!

terça-feira, 5 de agosto de 2025

A liberdade urbana com a Piaggio MP3 310 HPE

A nova Piaggio MP3 310 HPE surge como a mais recente evolução da icónica gama de scooters de três rodas da marca italiana, e deseja posicionar-se como uma alternativa prática, segura e eficiente para a mobilidade urbana, especialmente pensada para quem procura estabilidade e versatilidade sem abrir mão do estilo. 


No coração da MP3 está um motor monocilíndrico de 310 cc, a 4 tempos, com refrigeração líquida, Euro 5+, a debitar cerca de 26,4 cv às 7.500 rpm e 27,3 Nm de binário às 6.000 rpm. Esta unidade motriz assegura uma entrega de potência suave e progressiva, ideal para os ambientes citadinos, com respostas ágeis ao arranque e facilidade em recuperações, mesmo com dois ocupantes. 


Após um longo interregno, hoje voltamos a passar os comandos deste blogue à Miss Yoshimura que começa logo por confessar: “nunca tinha conduzido uma scooter. Muito menos uma com duas rodas à frente; a Piaggio MP3 foi a minha estreia absoluta neste tipo de condução… e deixou marca”. Sejamos honestos. Aqui vão sobretudo encontrar uma inusitada experiência de alguém que é muito mais automobilista do que motociclista. 

EQUILÍBRIO QUE SE SENTE (MESMO NO CAOS URBANO) 
Se achas que três rodas é sinónimo de limitação ou de algum tipo de ajuda para iniciantes, pensa outra vez. A experiência foi exatamente o oposto: liberdade, confiança, conforto. Uma condução surpreendentemente divertida, que me fez questionar porque é que nunca me tinha cruzado com esta possibilidade mais cedo. 


Lisboa tem dias em que parece uma selva. Asfalto irregular, trânsito imprevisível, mudanças de direção repentinas. Mas a Piaggio MP3 respondeu a tudo com elevada serenidade. O sistema de suspensão, aliado às duas rodas dianteiras, garante uma estabilidade absurda — mesmo em pisos mais castigados. Curvar, parar, arranques em subidas… tudo flui com naturalidade. É um tipo de equilíbrio que se sente no corpo e que nos faz querer explorar mais. 

DISPONIBILIDADE PRATICA SEM ESFORÇO 
Há detalhes que fazem a diferença, especialmente no uso urbano. Não precisar de tirar a chave do bolso para ligar a moto é um deles. Foi a primeira keyless que conduzi, e agora percebo o vício


Outro ponto muito bem conseguido é o espaço sob o banco. Cabe o essencial do dia a dia: capacete, mala pequena, até o casaco — com organização, claro. Isto transforma cada deslocação num processo mais simples. E mais estiloso, já agora. 

UMA CONDUÇÃO QUE TREINA A TUA CONFIANÇA 
Ao longo da semana com a Piaggio, percebi que não estava só a deslocar-me. Estava a treinar. Treinei o meu olhar nas curvas. Treinei o uso do corpo para comandar a moto com mais fluidez. Treinei a confiança para entrar e sair da garagem sem stress. A Piaggio MP3 oferece essa margem para crescer, mesmo para quem — como eu — ainda está em fase de construção de hábitos sobre rodas. 


Nem tudo é perfeito, e há um detalhe que merece melhoria: o botão dos quatro piscas. Está num local pouco intuitivo, especialmente para quem quer acioná-los rapidamente numa situação inesperada. Não compromete a experiência, mas merece ser dito. 

UMA RECOMENDAÇÃO HONESTA
Não escrevo este texto como entusiasta de dados técnicos. Escrevo como alguém que viveu uma semana de deslocações reais, com desafios urbanos reais. E o que posso dizer, com total convicção, é que a Piaggio MP3 é uma excelente opção para quem quer: mais liberdade na cidade; mais segurança no dia a dia; e uma transição suave entre o mundo dos carros e o das motos. Eu fiz a viagem. E recomendo vivamente que a faças também. 


Na minha opinião a Miss Yoshimura sentiu na plenitude a natureza da Piaggio MP3 310 HPE. O ponto diferenciador da MP3 310 HPE está no seu sistema de suspensão dianteira que confere um nível de estabilidade e confiança superior, sobretudo em pisos irregulares, pavimento molhado ou em travagens de emergência. A adoção do ABS de três canais - com sistema de travagem combinada no pedal - e controlo de tração (ASR), agora mais refinado, reforça o compromisso da Piaggio com a segurança ativa. A travagem está a cargo de um sistema de discos em ambas as rodas dianteiras (258 mm) e um disco traseiro de 240 mm, oferecendo uma travagem potente, previsível e equilibrada, com repartição bem conseguida entre os eixos. 


O assento largo e bem acolchoado, em conjunto com o para-brisas de média altura, garante uma boa proteção aerodinâmica. A posição de condução é natural e confortável, com espaço suficiente para as pernas e para o passageiro. Há ainda um compartimento debaixo do assento com capacidade para um capacete integral – nem todos os modelos lá cabem - bem como uma tomada USB e um prático gancho porta-sacos no escudo frontal. Contem ainda na MP3 310 com um painel digital LCD de cinco polegadas de fácil leitura, com informação completa.


A nova Piaggio MP3 310 HPE é conduzível com carta B apresentou-se fácil de manobrar em baixa velocidade. O seu eixo dianteiro oferece também uma maior estabilidade em paragens ou arranques frequentes, graças ao sistema de bloqueio da suspensão dianteira. Contem com elevada capacidade para enfrentar empedrados, carris ou alcatrão em mau estado. E um maior nível de confiança do que uma scooter convencional. Obviamente que aqui vão encontrar menor impacto ambiental e custo de utilização reduzido, face a um automóvel nos centros urbanos. A MP3 310 HPE teve por estes dia um consumo médio de três litros e meio por cada cem quilometros de cidade devorada, solicitando a marca 8.199€ por uma igual a esta.

domingo, 3 de agosto de 2025

Aprilia Tuareg 660 Rally à prova

Há motos que se fazem notar. Há motos que se fazem sentir. E depois há aquelas raras motos que, mal se cruzam com o motociclista, acendem uma fogueira interior neste – um chamamento primitivo, selvagem, quase espiritual. A nova Aprilia Tuareg 660 Rally é precisamente isso: não é só uma moto. É uma bússola apontada ao desconhecido.


Desde que a Aprilia anunciou esta versão Rally da Tuareg, o panorama do adventure off-road ficou em alerta. A versão base já era uma lufada de ar fresco nas médias cilindradas trail. Escrevemos aqui (link) quando a provei: de linhas desafiantes – pessoalmente gosto muito - a nova Tuareg parte da unidade motriz que equipa as nossas conhecidas RS 660 e Tuono 660. Este motor revisto mecânica e eletronicamente (80 cv, 70 Nm) e que soa de forma maravilhosa quando rodamos o punho de forma decidida, é montado num quadro tubular de aço. As suspensões Kayba e a travagem Brembo compõem o kit que se agarra ao solo com uns surpreendentes e eficazes pneus mistos Pirelli Scorpion Rally STR (60% asfalto, 40% off road). O conjunto alto (860mm do banco ao solo) mas de centro de gravidade baixo, pesa pouco mais de duzentos quilos em ordem de marcha. Todavia esta, a 660 Rally, veio sem cerimónias para mandar o barulho das desculpas para trás do escape. Mais robusta. Mais capaz. Mais radical. Mais Tuareg. 


A linha da Tuareg 660 Rally grita “Dakar”. Os gráficos inspirados nas grandes maratonas africanas, o novo esquema de cores agressivo, os protetores de motor reforçados criam uma silhueta que promete poeira e glória. O banco é plano e mais alto, com 913 mm, excelente para a transição rápida em pé/sentado em condução off-road. E o depósito de 18 litros continua lá – bem desenhado, estreito na zona das pernas, incrível para manobras de precisão entre pedras ou ribeiros. 

CORAÇÃO QUE BATE FORTE 
No coração desta máquina continua o já conhecido bloco bicilíndrico paralelo de 659 cc, mas com afinação específica para aventura. Neste caso, estamos a falar de 80 cv às 9.250 rpm e 70 Nm às 6.500 rpm — números que, num mundo de especificações secas, dizem pouco, todavia na prática, entregam uma resposta enérgica, linear e previsível, com binário de sobra para levantar a frente ou facilmente atravessar a traseira. A resposta do acelerador é suave, mas cheia de alma, e o som do escape é rouco e sincero – como gostamos aqui no Escape. Notem que esta Rally vem equipada com um SC Project em titânio com uma saída bem desportiva de 60 mm de diâmetro


Todavia a Aprilia não se limitou a mudar decorações. Instalou uma nova suspensão Kayaba (KYB) de longo curso, com 240 mm de curso à frente e atrás, tornando-a imediatamente numa das motos mais capazes da categoria em trilhos técnicos. Notem que foram montadas molas com constante elástica linear ao invés das mais tradicionais progressivas. Esta suspensão “rally ready” transforma a moto – é agora ainda mais apta para enfrentar trilhos técnicos, com mais absorção e mais controlo em alta velocidade sobre piso irregular.


Por sua vez o quadro tubular em aço mantém-se praticamente inalterado, mas com reforços adicionais nesta versão Rally. O subquadro continua soldado, garantindo rigidez e resistência em condições extremas. Em conjunto com o braço oscilante em alumínio, temos aqui uma base sólida para longas jornadas fora de estrada. 

TRACÇÃO ELETRÓNICA COM ALMA ITALIANA 
A Aprilia não esqueceu a eletrónica, claro. O sistema APRC (Aprilia Performance Ride Control) inclui controlo de tração com várias intensidades e possibilidade de desligar, ABS com modo off-road (atuando apenas à frente, ou completamente desligável), modos de condução personalizáveis, cruise control, quickshifter bidirecional (de série nesta versão Rally) e um Ecrã TFT de 5 polegadas, com excelente visibilidade mesmo com sol direto. Aqui, a tecnologia está ao serviço da aventura, sem nunca se sobrepor à essência da condução pura. 


As rodas são de 21” à frente e 18” atrás, raiadas. Vêm calçadas de origem com pneus Pirelli Scorpion Rally STR, que equilibram estrada e off-road com competência. Os travões são fornecidos pela Brembo: dois discos de 300 mm com pinças de dois pistões à frente e um disco de 260 mm atrás. A travagem é progressiva, mas potente, ideal para travagens em piso solto sem entrar em pânico. Contem ainda com uma proteção de cárter em alumínio robusto, estribos de rally largos com borrachas removíveis e um novo banco Rally, mais plano e aderente, no entanto também mais duro. Honestamente? Cada detalhe foi pensado para performance real no terreno, não apenas para o catálogo. 

NOMADA COM VONTADE DE PÓ 
A Aprilia Tuareg 660 Rally não é para todos. Não procura agradar aos turistas de fim de semana nem aos que têm medo de arranhões nos plásticos. Esta moto é para quem ouve o chamamento do mato, para quem gosta de sentir a roda traseira a fugir de lado numa saída de curva em terra batida. 


Esta moto é para quem sente que a aventura só começa onde o asfalto termina. E sim, continua a ser uma boa moto para tiradas em asfalto, com relativo conforto e proteção aerodinâmica suficientes para cruzar montanhas e vales. Todavia o habitat natural desta Tuareg é outro. É o trilho, a serra, a lama, o pó e o desconhecido


A Aprilia fez uma coisa rara: pegou numa trail média e elevou-a para níveis que poucos ousam tocar. E no meio do silêncio da serra, quando o motor ronca e a poeira sobe, percebes que esta não é só mais uma moto. É uma extensão da tua vontade de sair da tua zona de conforto. A Casa de Noale pede uma transferência a bancária de 12.299€ para que levem esta Rally por esse mundo fora. Moto que sorveu uns muito simpáticos quatro litros e meio de sumo de dinossauro por cada cem quilómetros de aventura trilhados.

Raterómetro ******** (8/10)
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