segunda-feira, 10 de novembro de 2025

Moto Morini X-Cape 700 à prova

A Moto Morini X-Cape 700 - neste texto "apanhada" pela lente do Rad Raven - é daquelas motos que carregam um certo ar de revelação. Não porque traga números absolutamente deslumbrantes ou porque queira impor-se à força em segmentos já saturados, mas porque nasce de uma história peculiar e ousada. 


A Moto Morini, marca italiana de sangue quente e passado mítico, ressurgiu nos últimos anos com a ambição de se afirmar no competitivo mundo das trails médias. A X-Cape é a sua resposta a um desafio imenso: enfrentar gigantes instalados, como a Yamaha Ténéré 700, a Aprilia Tuareg ou a Honda Transalp, oferecendo algo diferente, de carácter próprio e personalidade distinta. 

AMBIÇÃO E ESTILO 
À primeira vista, é impossível não reparar na imponência da Moto Morini X-Cape 700. Esta é uma trail de linhas modernas, vagamente musculadas, sem receio de mostrar robustez. O farol dianteiro rasgado em LED, ladeado por um olhar afiado, dá-lhe uma expressão quase felina. A carenagem alta, trabalhada em ângulos definidos, transmite-lhe presença, enquanto a frente se ergue com roda de 19 polegadas. Há nela qualquer coisa de europeu, de refinado, mas com uma pitada de exotismo, como se dissesse: “não sou mais uma no meio do rebanho”. 


No coração da X-Cape pulsa um bicilíndrico paralelo de 698 cc, desenvolvido em colaboração com a CFMoto. É um motor que debita perto dos 70 cv de potência e 61 Nm de binário, números que podem parecer modestos se comparados com algumas rivais, mas que, na prática, prometem uma entrega linear, dócil e eficaz. Não é um motor para acelerar batimentos cardíacos com violência, mas sim para oferecer confiança, previsibilidade e um equilíbrio notável entre cidade, estrada e caminhos mais aventurosos. Uma moto que não assusta, mas que sabe acompanhar. 

NOMES GRANDES 
A ciclística foi pensada para oferecer estabilidade e conforto. O quadro dá-lhe rigidez, enquanto a forquilha invertida Marzocchi ajustável na pré-carga da mola, regulação do amortecimento no ressalto e na compressão e o monoamortecedor Kayaba ajustável na pré-carga da mola (sistema de controlo remoto) e regulação do amortecimento em extensão, asseguram um trabalho competente em diversos terrenos. A travagem, por sua vez, está a cargo de um sistema Brembo com duplo disco dianteiro de 298 mm, que confere potência e confiança à mão direita. A estes nomes junta-se outra peça-chave: os pneus Pirelli Scorpion STR, mistos, escolhidos precisamente para reforçar a identidade versátil da Moto Morini X-Cape 700. São pneus que se adaptam muito bem tanto ao alcatrão como a caminhos de terra, traduzindo na prática o espírito polivalente desta moto. 


O assento, amplo e a uma altura de cerca de 820 mm, reforça a vocação de trail viajante. É uma moto que convida a passar quilómetros com naturalidade, oferecendo boa proteção aerodinâmica através do pára-brisas ajustável, e uma posição de condução que parece equilibrada entre o controlo e o conforto. O depósito de 18 litros dá-lhe autonomia suficiente para longas tiradas sem ansiedade de paragem. 


E depois há os detalhes que mostram modernidade: painel TFT a cores de 7 polegadas, iluminação LED completa. Tudo embrulhado num preço competitivo, que lhe permite entrar no jogo com uma relação qualidade/preço muito interessante. 


A Moto Morini X-Cape 700 não pretende ser a mais radical nem a mais extrema do segmento. Mas talvez seja essa a sua força: é uma moto racional, acessível, bem equipada e com um charme italiano que a distingue da concorrência. Uma espécie de carta de boas-vindas da Morini ao motociclista moderno que procura uma máquina versátil, de visual marcante e capaz de encarar tanto a rotina diária como os horizontes mais longínquos. 

FEITA ATÉ PARA VIAJAR, COM CONFORTO E AUTONOMIA À ALTURA. 
A Moto Morini X-Cape 700 revelou-se uma companheira surpreendentemente polivalente. Desde o primeiro quilómetro no caos urbano até às estradas abertas. Na cidade, é simpática, ágil, intuitiva, a moto que se alinha com o pensamento do motociclista médio: não exige, entende-nos. Mas quando a estrada se abre, é aí que a verdadeira magia acontece. A ciclística da X-Cape 700 brilha, com uma precisão que nos permite dançar entre curvas com confiança, explorando cada metro de asfalto sem hesitações.


Claro que nada é perfeito. Entre as 2.500 e as 3.000 rotações, há uma pequena zona de indecisão, uma espécie de poço de potência que nos lembra que a eletrónica, por vezes, tem o seu humor próprio. É algo aleatório, que surge ora aqui, ora ali, dependendo até do modo em que estamos a conduzir. Mas, na realidade, esta “baralhação” torna-se uma oportunidade: obriga-nos a explorar a faixa alta do motor, a encontrar o ponto onde os 70 cv se libertam de forma mais plena e emocionante. Dominar este detalhe é compreender a moto na totalidade e perceber que, acima de tudo, a Moto Morini X-Cape 700 recompensa quem a conhece


O consumo, como é natural para um motor tão guloso de prazer, ronda os 4,5 litros de sumo doirado de dinossauro por cada 100 km em condução normal, no entanto pode facilmente subir se nos deixarmos levar pelo entusiasmo. A proteção aerodinâmica é eficaz, transmitindo apenas algumas vibrações no ponto máximo, e o comportamento fora de estrada leve é sólido, mostrando que a moto não se limita a um único terreno — ainda que não se transforme numa enduro pura. No fim, a Moto Morini X-Cape 700 é isso mesmo: uma moto versátil, generosa, que desafia, diverte e cativa. Uma moto que, acima de tudo, nos faz querer sair, acelerar e sentir o mundo a passar por baixo de nós. 

ESTA MOTO É A IDEAL PARA TI? 
E afinal, a quem pode interessar esta moto? A Moto Morini X-Cape 700 é, no fundo, uma moto feita para quem procura equilíbrio e carácter. Não é uma máquina destinada a quem vive de extremos, nem para aqueles que medem o prazer apenas pelo número de cavalos ou pela crueza das prestações. É uma proposta que fala diretamente a um público que valoriza a versatilidade, o estilo e a diferença. Para o motociclista que quer uma trail média capaz de enfrentar a cidade com naturalidade, devorar quilómetros de estrada em viagens de fim de semana e, ao mesmo tempo, abrir a porta a incursões fora do alcatrão sem dramas, a X-Cape 700 pode ser uma companheira ideal. 


Serve particularmente bem quem deseja entrar no mundo das trails de média cilindrada, mas não quer cair no lugar-comum de escolher “o que todos têm”. É uma moto para aquele que aprecia um certo exotismo, que gosta de conduzir algo que levanta perguntas nas áreas de serviço e nos cafés de estrada: “Mas afinal, o que é isso? É bonita, é diferente…”. Ao mesmo tempo, é um produto que não assusta os menos experientes. A entrega dócil do motor, a ergonomia convidativa e a tecnologia acessível fazem dela uma moto que não exige currículo longo para ser desfrutada. 


Por outro lado, também pode atrair o viajante que procura uma segunda moto para o dia-a-dia, sem abdicar da capacidade de levantar voo em férias ou em pequenas aventuras. É uma opção para quem se preocupa com o preço, mas não quer prescindir de componentes de qualidade — Brembo, Marzocchi, Kayaba, Pirelli, TFT moderno — e prefere a confiança de uma máquina que transmite equilíbrio em vez de radicalidade. 


A Moto Morini X-Cape 700 não é uma trail para os puristas do off-road duro nem para os caçadores de cronómetro em estradas de montanha. É, antes, uma moto para o motociclista realista, que gosta de ter uma moto bonita, diferente e competente em quase tudo, sem necessidade de andar sempre a provar que tem mais do que os outros. A X-Cape 700 interessa, sobretudo, a quem valoriza a autenticidade e a diferença — a quem sabe que uma viagem pode ser tão rica pela moto que o leva como pelo destino a que chega. 


Com um preço a rondar os 7.600 €, a Moto Morini X-Cape 700 afirma-se como uma proposta quase irresistível dentro do segmento. O consumo, que por vezes chegou a rondar os 5,5 l/100 km, podia ser mais contido, todavia é um detalhe que se perdoa quando a equação é feita de emoção, carácter e eficácia. 


Esta foi uma das provas mais completas do Escape Mais Rouco, e a X-Cape saiu dela com estatuto reforçado: não é apenas uma evolução da 650, é uma moto com personalidade própria, que surpreende, conquista e sabe transformar cada viagem numa história.

Raterómetro ******** (8/10)

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