domingo, 25 de novembro de 2018

A estrada, a moto e o telefone esperto – Estrada Nacional 6

portugal estrada nacional 6 marginal cascais triumph bonneville speedmaster
Morre um panda bebé algures na Ásia sempre que alguém escreve algo do género; “Estrada Nacional 2, a estrada mítica”. Mítica, mítico, relativo ao mito. Mito é uma personagem, facto ou particularidade que não tendo sido real simboliza uma generalidade que se deve admitir. Isto é, coisa ou pessoa que não existe, mas que se supõe real, coisa só possível por hipótese. 

Como muito me tentei esforçar aqui (link) a Nacional 2 existe, é bem real, não é mito rigorosamente nenhum. O mesmo não podemos dizer da Estrada Nacional 6 (EN6). A Avenida Marginal ou apenas “A” Marginal. Esta sim, a verdadeira estrada mítica! 

Como todos sabemos a Marginal liga a cidade de Lisboa à vila de Cascais, atravessando toda a Costa do Estoril, ao lado do rio Tejo e do oceano Atlântico. O que poucos sabem é que a EN6 se iniciava em Moscavide, percorria toda a bacia do Tejo na margem direita, rodeando Lisboa. Era a estrada da Circunvalação de Lisboa, termo que hoje já caiu no esquecimento. Nunca foi a Primeira Circular pois essa são várias ruas e avenidas de Lisboa. Era a pré-circular, a Circunvalação nas palavras do Legislador de 1945 (link). 

Hoje a Nacional 6, ou o que imaginamos como tal, começa no Cais do Sodré, em Lisboa, quando a Avenida Ribeira das Naus encontra a Avenida 24 de Julho, tudo zonas de fortíssima animação noturna – noite, a grande geradora dos mitos! Dali a estrada dá a mão ao Tejo até à sua foz. Abraça o Atlântico e vai morrer não muito longe do mar ruidoso da Boca do Inferno, na rotunda próximo da Avenida da República em Cascais. 

O ESCAPE fez questão de percorrer a Marginal um par de vezes, em momentos diferentes das vinte e quatro horas que um dia possui e em ambos os sentidos, colocando a roda da frente da Triupmh e a sua borracha gordinha em todos os centímetros de alcatrão. 

Pelo caminho, ainda na secção alfacinha da estrada, pude recordar a incrível sucessão de edifícios históricos que nos acompanham, alguns deles Monumentos Nacionais. O Novo MATT e a velha Central Tejo; o moderno Museu dos Coches e o apaixonante Palácio de Belém. Mosteiro dos Jerónimos. Padrão dos Descobrimentos. Torre de Belém e o desafiante Centro Champalimaud. Nestes parcos quilómetros há muito mais História e inovação do que tempo para conhecer tudo. 

Chegado ao topo da colina do Alto da Boa Viagem, “outra” Marginal começa. Uma estrada costeira de classe verdadeiramente mundial, linda, que serpenteia e abraça o oceano. É tempo de inspirar bem fundo e deixar o intenso cheiro a maresia encher plenamente os pulmões. Gozar a suavidade da curva do Mónaco e da curva dos três pinheiros, saudar os vários Fortes que ainda hoje lutam diariamente com as ondas nem sempre dóceis, flirtar com as espumas de Carcavelos e percorrer a secção final da estrada para lá da Parede. Estrada esta que a cada quilómetro perdido de mediterrâneo ganha um outro quilómetro de atlântico. 

A nossa Marginal é singular. Haverá maiores e provavelmente algumas mais bonitas. Mas esta é única. E é única porque cada um de nós guarda para si a sua própria Marginal. As suas memórias, vivências, experiências e desejos. A “minha Marginal” é riquíssima, mas eu só posso contar aqui esta parte. O demais ficará lá, no mito…

 ____________________________________________ 

 Quem, o quê, onde, como, quando e porquê – não necessariamente por esta ordem… 


Concluída em 1937 (ou segundo outras fontes em Junho de 1942) a Estrada Nacional 6, também conhecida como “Estrada Marginal” tem actualmente o seu início no Cais do Sodré em Lisboa e o seu términus, cerca de trinta quilómetros depois, na Avenida da República em Cascais. Foi por este ESCAPE percorrida, centenas de vezes em ambos os sentidos. Para este texto em concreto foi percorrida duas vezes, dia e noite. Sob um vento norte cortante e gelado, no fim de Outubro de 2018, aos comandos de uma Triumph Bonneville Speedmaster que gastou uns ridiculamente parcos quatro litros de líquido inflamável do bom por cem quilómetros de histórias de navegantes e espiões recordadas. A N6 é credora do nosso respeito. Faz parte do imaginário de varias gerações, em especial aquelas que viveram parte das suas vidas ao sabor “da noite”. Hoje, dezenas de milhares de pessoas servem-se dela diariamente nos seus percursos, nomeadamente para se deslocarem de suas casas para o trabalho algures na capital, olvidando-se as mais das vezes do privilégio que possuem por estarem ali naquele momento a calcorrear uma das estradas mais belas de Portugal e do Mundo.

Sem comentários:

Enviar um comentário

Site Meter