domingo, 11 de agosto de 2019

Moto Guzzi V85 TT à prova

“Então?!? Estas aqui ao lado do santuário Guzzi e não vais visitar o museu?”, questionava-me o Hadrian com a sua “subtileza” germânica. Antes que pudesse esboçar resposta o Joseph assegurou: “é imperdível, Pedro!”. O bom das viagens é (também) isto: as memórias que perduram até que um dia a nossa massa cinzenta as deixe desvanecer. 

Aquele pedaço de vida completou há dias quatro anos. Passou-se em Abaddia Lariana, uma pequena mas encantadora povoação que mergulha os seus pés nas águas do arrebatador Lago Como na Lombardia italiana. Já não eram horas decentes para jantar. E fazia muito calor. À minha Diavola bem carregada de olio piccante al peperoncino, acompanhada pelo mezzo litro de jovem tinto local, tinha acabado de se juntar o Hadrian e o Joseph, velhos lobos da estrada da europa central, que assim me “recordavam” que estava paredes meias com a antiga e icónica maternidade de uma das mais lendárias marcas de motos europeias e mundiais: a Moto Guzzi. 

Durante a prova à Moto Guzzi V85 TT relembrei amiúde este episódio passado neste dia (link) da viagem alpina de 2015 – que pode ser toda recordada aqui (link) – e a consequente visita ao Museu Moto Guzzi, situado em Mandello del Lario. É impossível compreender o presente sem conhecer o passado. Logo…, é impossível compreender esta V85 TT sem conhecer, ainda que sucintamente, a historia da marca e mesmo do motociclismo. 

CLÁSSICA MODERNA 
Sejamos claros. Depois de conhecer a sua ficha técnica e após fitar a Guzzi nos olhos, este ESCAPE julga que estamos perante uma feliz interpretação de um novo conceito tão em voga. Se o olhar da Guzzi nos diz que estamos perante um raro objecto que evoca as gigantes trails dos gloriosos anos 80, os argumentos são claramente dos dias de hoje. Não vale a pena inventar novos segmentos só porque sim ou porque eventualmente parecemos mais inteligentes. A V85 TT é uma clássica moderna. Ponto. 

O guiador largo aliado a uma posição de condução eficaz que faz uma síntese curiosa entre o “sentado” e o “montado”, induz de imediato no primeiro contacto citadino, facilidade de utilização e prazer. Desenvolta e muito equilibrada na lide citadina, a Guzzi V85 TT pede estrada, com a sua jante 19’’ a enamorar em permanência o asfalto. Lá, em estrada, o novo motor “em fisga” da histórica marca italiana é suave e eficaz - um pouco mais de alma a baixas rotações seria desejável – e adiciona vida a todo uma ciclística que incute “boa vibração” – os entendidos vão entender :) e a piada está feita, mas deixem-me esclarecer que a suave vibração que sentimos parados ou a baixas velocidades é tão só a charmosa assinatura da classe de quem nasceu nas margens do lago Como… 

ESTILOSA E SEM MEDO DO PÓ 
Na Moto Guzzi V85 TT não há muito a lamentar. Objectivamente, a proteção aerodinâmica podia ser mais eficaz, na verdade. Subjetivamente, não me apaixonei pela “digitalidade TFT” dos instrumentos. O que tenho mesmo pena é de não ter levado a V85 TT para o Tuto Terreno que lhe dá nome. Os Metezeler Tourance Next – excelentes no asfalto (já os tive na minha CRF) - não me passam confiança fora dele. Assim, as incursões em estradão foram suaves mas assinalaram aquele equilíbrio e leveza que a maioria dos tímidos aventureiros – como eu – gosta. 

Esta estilosa Cinza Atacama (sim, a Amarelo Sahara e a Vermelho Kalahari são bem mais “luminosas”) revelou um simpático consumo de menos de cinco litros do raro líquido inflamável por cem quilómetros de condução descontraída mas encantadora, solicitando a marca 11.874€ pelos 853cc, 80 CV e 229 Kg deste conjunto pleno de personalidade.

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