segunda-feira, 11 de abril de 2022

Experiência Honda NT1100 Tour Ibérico – segunda parte

A convite da marca este vosso ESCAPE MAIS ROUCO esteve presente, juntamente com outros elementos da comunicação especializada, no Honda NT1100 Iberia Tour Experience, uma viagem que se apresentou como "iniciativa ímpar a nível ibérico que permita evidenciar todos os atributos da NT1100 (…) aproveitando ao máximo estradas e paisagens merecedoras de todos os encómios e distinções, como as escolhidas para este evento que nos levou do Porto a Madrid”. Aqui (link) podem ler ou reler a primeira etapa da jornada. Hoje oferecemo-vos a segunda e última parte deste delicioso passeio. 


[O que vão ler a partir daqui é um texto por nós adaptado que parte de um comunicado de imprensa, boletim de imprensa ou press release, como lhe quiserem chamar. Isto é, uma comunicação feita por um indivíduo ou organização visando divulgar uma notícia ou um acontecimento] 

A noite foi fria, de muita chuva, todavia bem descansada na curiosa unidade hoteleira escolhida. Ainda a recuperar das fortes emoções do primeiro dia desta rota ibérica, nada como começar a segunda etapa com a passagem perto de Béjar, o centro populacional mais importante do sudeste de Salamanca, considerada a capital da região da Serra de Béjar que surge 72 quilómetros depois de La Alberca. 


Região fortemente marcada pela indústria teve um desenvolvimento meteórico que foi, porém, afetado por crises cíclicas, motivadas pela dependência excessiva dos contratos estatais, como pela má situação geográfica e pela chegada tardia da ferrovia. E assim a indústria que beneficiara da Guerra Civil – Béjar estava localizada numa área rebelde, por oposição à Catalunha republicana – acabou por ver limitada a concorrência que poderia oferecer à indústria catalã de tecidos. 

Altos e baixos que se prolongaram até à década de 1990 com a grande crise que colocou ponto final em toda a tímida recuperação que se ia sentindo desde os anos ’60 e ’70. E que retirou algum do peso industrial e financeiro a uma cidade muito importante na História de Espanha e onde, durante séculos, conviveram harmoniosamente cristãos, muçulmanos e judeus. 


De raízes perdidas na história, também a cidade de Hervás foi palco de transformações religiosas, sendo bem patente o importante legado deixado pelos judeus. O Bairro Judaico é, aliás, o ponto de maior destaque do património histórico da cidade que fica na fronteira norte da província de Estremadura, com casas construídas de adobe e madeira de castanheiro, amontoadas em ruas estreitas e ingremes. História contada ainda por outros edifícios como o Palácio dos Dávila (Séc. XVIII), a Igreja Paroquial de Santa Maria (Séc. XIII) ou a Ermida de San Andrés (Séc. VIV) onde é actualmente guardado o Cristo da Saúde, padroeiro de Hervás. 

Mas nesta cidade, cujas origens remontam ao Séc. XII e com título desde 1816, construída numa área de característica únicas no Vale do Ambroz existe outro enorme motivo de interesse. Um museu cujo acervo vai muito além das motos e automóveis clássicos mesmo se a maior parte da coleção recuperada por Juan Gil Moreno assenta nos veículos motorizados. Com o título de primeiro Museu da Moto Clássica de Espanha, situa-se perto de Hervás, num edifício de arquitectura deslumbrante, e alberga muitos itens relacionados dom os meios de locomoção ao longo dos anos: além dos carros e motos, existem carruagens, triciclos, bicicletas, carrinhos de bonecas, etc… Espelho fiel da vida e costumes da sociedade desde o Séc. XIX e onde é possível recordar os carros dos loucos anos ‘20 do século passado, da Guerra Civil Espanhola, das duas Guerras Mundiais ou dos prósperos anos de 1960 e ’70. E onde é possível apreciar o fantástico entorno paisagístico num grande terraço no piso superior enquanto as crianças brincam num parque infantil de características únicas. A não perder numa próxima oportunidade… 

PELA SERRA DE GREDOS 
Sigamos para as montanhas. Ou melhor continuemos a rota, porque das estradas mais sinuosas nunca saímos. Aqui é o rio Jerte que define o relevo, criando o vale mais ocidental da Serra de Gredos, limitado pela Serra de Tormantos a sudeste (no maciço central da Serra de Gredos) e as montanhas de Traslasierra e Serra de Béjar a noroeste (no maciço ocidental de Gredos). Área que alberga a Reserva Natural da Garganta de Los Infiernos, integrada desde 1994 na Rede de Espaços Naturais Protegidos da Extremadura. 


Mas o desfiladeiro que dá nome ao parque natural não é o único motivo de interesse, destacando-se o Festival da Flor de Cerejeira que todos anos, na segunda quinzena de Março, é celebrado no Vale de Jerte. A alvura criada por mais de milhão e meio de cerejeiras oferece um espectáculo único que, a cada ano, é organizado por uma das cidades do vale. 

Com uma história entre a lenda – de um czar russo que queria oferecer à sua esposa recordações da neve branca da sua terra – e a realidade – terá sido trazida pelos árabes – a cereja de Jerte é uma espécie autóctone com uma história única. Uma cultura que ganhou outra dimensão e importância no Séc. XVIII quando substituiu o até então dominante castanheiro, na sequência de uma praga. 


A caminho de Ávila, o destaque da manhã vai claramente para a estreita mas apaixonante subida ao Puerto Honduras (1440 metros de altitude) pela sinuosa CC-102. Após café reconfortante foi tempo para cruzar Tornavacas, cujo nome singular começa na sua localização geográfica, fronteira histórica com o Reino de Castela. No Séc. X, Ramiro II era o Rei de Leão (e Viseu a capital de Portugal!) e teve uma ideia genial para levar de vencida os invasores árabes. Na Batalha da Veja del Escobar, o monarca mandou colocar tochas acesas nos cornos das vacas que, a coberto da noite, investiram contra o exército mouro, causando grande confusão e a derrota militar. O nome e o escudo de armas da cidade mais próxima da nascente do rio Jerte derivam desse episódio da Reconquista, quando o rei, ao ver os animais de regresso, exclamou em tom vitorioso ‘tornam las vacas’. 

Sempre pela espanhola (guapa!!!) Nacional 110 e depois de passar o miradouro do Puerto de Tornavacas, a 1275 metros de altitude na fronteira entre a Estremadura e Leão e Castela, e já com a Serra de Gredos no horizonte, segue-se Barco de Ávila, localidade a meio da etapa, com 180 km cumpridos, que tem duas curiosidades prominentes. 


Uma, o nome, que poderia derivar do barco utilizado para atravessar o rio Tormes ou, como vários autores apontam, de várias palavras de diferentes línguas: do hebraico ‘bar’ (casa); do celta ‘barco’; do basco ‘bartzea’ (encontro de aldeias); do ibérico ‘bar’ (cume); ou do árabe ‘barr’ (arrabalde). A outra, o mais famoso produto gastronómico da região, o feijão branco, detentores do segundo mais antigo Conselho de Denominação Específica de Espanha, à frente da famosa ‘fabada’ asturiana. E a sua importância é tal que foi erigido um monumento ao feijão branco numa das rotundas de acesso à cidade! 

ÁVILA, PATRIMÓNIO MUNDIAL DA HUMANIDADE 
Um acesso que é sempre feito a subir ou não fosse Ávila a capital provincial mais alta da Espanha, 1131 metros acima do nível do mar, e cujo centro histórico é Património Mundial de Humanidade desde 1985. Localizada junto ao rio Adaja em local com ocupação que remonta à pré-história, foi disputada por vetões, romanos, visigodos e muçulmanos, sendo definitivamente reconquistada pelos cristãos no século XI. Época em que foi construído (1090 a 1099) o mais conhecido símbolo de Ávila. A muralha medieval tem 2516 metros de perímetros, rodeando uma área de 31 hectares, tem 88 torres, 2500 ameias e paredes de 3 metros de espessura com altura média de 12 metros. Possui nove portas de acesso à cidade e é o maior monumento totalmente iluminado do Mundo. Considerada cidade de cantos e de santos, apresenta monumentos importantes como a Catedral de El Salvador de Ávila (construída entre os Séc. XII e XV), a Basílica de São Vicente (Séc. XII a XIV), a Igreja de S. Pedro (Séc. XII) ou o Mosteiro Real de S. Tomás (Séc. XV). 


Sigamos pela N110, subindo e descendo por algumas das mais recurvadas estradas que são ponto de encontro dos motociclistas madrilenos. Que se encontram no Puerto Cruz Verde, ponto icónico situado a 1256 metros de altitude, tendo, a poucas centenas de metros de distância, na estrada M5905, um monumento dedicado à memória de Angel Nieto, assinalando os seus ‘12+1’ títulos num ‘mirador’ de vistas esplêndidas. 

Ainda e sempre na mesma estrada, em direcção a Madrid, encontramos pouco depois a Cadeira de Felipe II, local que a tradição aponta como o poiso do monarca quando vigiava as obras do Mosteiro de El Escorial. Diz a lenda que as várias plataformas existentes bem como os quatro lugares (cadeiras) foram esculpidos no granito a mando do Rei para tornar mais cómoda a sua presença e dos seus acompanhantes. No entanto, outros estudos da Universidad Autónoma de Madrid aventam a possibilidade de aqui poder ter existido um altar anterior à ocupação romana, possivelmente dedicado a Marte, e no qual teriam sido feitos sacrifícios rituais, geralmente de animais. Teoria reforçada em 2015, após ser encontrada uma figura antropomórfica e outros altares menores nas proximidades. Além de que, deste ponto e a cerca de 3 km de distância, dificilmente seria perceptível a evolução das obras… 

UMA ROTA DE REIS E RAINHAS, HERÓIS E DITADORES 
Uma coisa é certa, independentemente da lenda que rodeia a Silla Felipe II. O Mosteiro Real de San Lorenzo de El Escorial, ou simplesmente Mosteiro del Escorial foi construído no século XVI, entre 1563 e 1584, incluindo um palácio real, uma basílica, um panteão, uma biblioteca, uma escola e um mosteiro. Actualmente ocupado por frades da Ordem de Santo Agostinho, com uma área total de 33.327 m2 em plena Serra de Guadarrama, o complexo serviu de residência à família real espanhola enquanto a basílica é o local de enterro dos Reis de Espanha. 

As dimensões, o valor simbólico e a complexidade funcional valeram-lhe epíteto de ‘8.ª Maravilha do Mundo’, acolhendo no seu interior pinturas, esculturas, hinários, pergaminhos, ornamentos litúrgicos e outros objectos religiosos que fazem do Mosteiro de El Escorial um importante museu, declarado pela UNESCO, em 1984, como Património Da Humanidade, estando a pouco mais de 80 km de Madrid. 


Monumentalidade é a impressão que volta a assolar-nos no Vale dos Caídos, memorial mandado erigir pelo ditador espanhol Francisco Franco, em memória dos nacionalistas motos na Guerra Civil Espanhola. É formado por uma basílica escavada na rocha e inteiramente construída debaixo da terra, pela Abadia de Santa Cruz do Vale dos Caídos e por uma cruz de 150 metros de altura (a mais alta do mundo) implantada no cume de uma falésia que domina todo o vale de Cuelgamuros. 

Construído entre 1940 e 1958 na madrilena Serra de Guadarrama esteve envolta em polémica pelo fato de Franco, apesar de não ser vítima da Guerra Civil, ter estado enterrado no Vale juntamente com outros 33.872 combatentes, situação apenas ultrapassada pela especial legislação criada pelo parlamento em 2018. 

Foi muito bom. E acabou muito depressa. Com alguma chuva e frio por companhia os últimos quilómetros da jornada fizeram-se rumo ao concessionário Honda, Ikono Motor, em Getafe, mesmo às portas de Madrid e sempre por via rápida. 


Foram dias intensos em que todos os presentes se sentiram vivos, por motivos diversos. A Honda NT1100 confirmou que não é uma clássica moto de sonho e sim uma moto verdadeira, honesta, real e sobretudo pragmática. E repito para que fique claro: aqui até pode não haver deslumbre, todavia há uma sensação de competência, dever cumprido, e acima de tudo, de facilidade de utilização que chega a ser desconcertante.

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