sexta-feira, 17 de março de 2023

Um olhar diferente ao teste de Portimão

O Jan Jan Pais esteve, um fim-de-semana inteiro, de sol a sol, a fazer aquilo que todos aqueles que amam o motociclismo deviam de fazer pelo menos uma vez na vida: estar presente para que uma corrida, neste caso uma sessão de testes, se possa efectuar na máxima segurança. Não é fácil. Já o fiz há muito anos. E o sentimento no fim do dia é este que o Jan Jan nos conta. Ora leiam… 


Testes, dois dias de um regresso ansiado 
Até que enfim, roupa laranja para dentro da mala de viagem, cadeira portátil, protector solar, luvas, chapéu e outra parafernália. 
É dia, senhores, é dia, eles vêm aí! 
Sexta-feira à noite chego ao destino que me acolhe nesta volta às lides, base de apoio de dois outros comissários, pai e filho, Nuno Ricardo e Diogo, eles que nos dão boleia e oferecem guarida, gente boa e solidária é o que é este mundo laranja. 
Vale da Parra, a casa onde pernoitamos é ali resvés à Rotunda do Burro. 
Assim sendo promete, tem burros que trazem bom agouro. 
Sábado pela fresca já estou no AIA, posto T4D, junto com o André Cruz, chefe de posto, bom dia, apresento-me, homem precavido, de tácticas de intervenção e de café, a conversa sai escorreita e boa, vamos desbravando a emoção do retorno. 
É dos Olivais, diz-me! 

Não vos falei que o burro trazia sortes? Trouxe um gajo da Cidade de Bolama a juntar ao da Bafatá, dois conterrâneos de um dos bairros mais bonitos que algum dia a natureza concebeu, juro-vos que assim será, perguntem ao burro da rotunda acaso tenham dúvidas. 
Passado um tempinho, curto diga-se, junta-se-nos o Rui, mototáxi, traz vontade para o café e dois dedos de conversa, é do Bairro Pontal, gente de durezas e atrevimentos, bem-vindo sejas, junto com estes dois tornaremos a vida de quem nos quer mal num inferno, essa é que é essa, venham agora as motas e uma maré de pressões, de emoções, de atenções e outras que tais, nada tememos, é gente de bairro, e os bairros são a terra de quem é das cidades! 
Rui quê, perguntei? ... Rui dos Reis, carrega de pendura os ídolos que se esbardalham, acode aos laranjas em seus postos, corre e não pára em sua scooter, homem duro, mas cuidai de não vos preocupardes, vem do Bairro. 
Do Bairro Pontal. 
Vi logo. 
E vieram então as horas a fio, fato laranja e olho vivo, namorando a RNF com o número 88, atentando em todos os que aceleravam desabridos, vindos da curva três e atacando a esquerda cega que é a quatro, ele é preciso uma boa dose de ciência e loucura, mais um par de chiolas, eu diria, e eles que sim, que as têm. 
Ambas as duas, como diria o outro. 


Primeiro dia, ali desde as oito, quase nove, até às quatro, quase cinco da tarde, nada a registar por aquelas bandas, a não ser o sol que abrasava e a fome que apertava, andávamos amorfos na acção e eis senão quando Eneas, em seu alazão cor de sangue dispara deslizando pela gravilha adentro, chove-nos a adrenalina, extintor na mão de um, barra e cinta na do outro, piloto sai pelo seu pé, foi hora então de tratar de tirar aquela centena e meia de quilos de potência e tecnologia dali para fora, naquele momento tudo faz sentido no mundo laranja, sabemos que temos a torre, os pilotos, os outros laranjas, tudo à espera do ‘OK’ para a pista, ó diacho, é como estar em palco, de cronómetro a marcar, se te demoras o público vai patear, desta feita não pateou! 
I love this game, dizem na NBA, nós, laranjas, dizemos o mesmo. 

Chegou o dia dois, em boa verdade a curva quatro esteve anormalmente sossegada, por outros lados caíam e levantavam-se, este é o fim-de-semana onde a gravilha é o nosso terreno, para uns, a consola que manda avisos acesos para a pista é ocupação de outros, ali ao nosso lado a Jessica seguia atenta, uma quase enfermeira, que ali é doutora a enviar led’s e a dar bandeiras. 


Ah, e os pilotos, as equipas, como foi?.. perguntam .. pois disso sei pouco ... mas vamos lá tentar um resumo da coisa. 
Primeira bola a sair do saco: Ducati, Ducati, Ducati. Três bolas, aliás sete, como viria a verificar-se. Depois .. nous avons Quartararo, ce garçon é mesmo bom, já sabíamos. Binder também, é bom e isso é um facto, a gente já não quer saber dele, mas ele ainda quer saber de nós e não nos larga. Mais à frente, quem é este Marquez ali em P7? Alex! Voilà, a Ducati é um bom elevador. E as Aprilia, homem, as Aprilia
Então cá vão .. P10,11 e 12, tipo trigémeos, Miguel a 0,015 segs de Aleix e com 0,094 de avanço a Maverick, com o (agora) nosso Raul a fazer P16, a três décimas do seu colega de escritório. 
É bom? É mau? É o ‘kaká’ como diriam os nossos irmãos brasileiros. 


As Honda a perceberem que a escalada vai ser dura, Joan e Marc com muita tabuada por aplicar, noutra garagem a austríaca, Pol e Augusto a demonstrarem porque fugiu Miguel daquela cruz chamada GASGAS, Rins coçando a cabeça, perguntando-se que raio de mota será aquela??.. Nakagami seguindo seu tranquilo passeio pelos últimos tempos nesta classe rainha, acho eu, Miller a concluir que não abrirá muitas grades de minis para festejar pódios e Morbidelli, que continuo a considerar grande piloto, a insistir em sua atrapalhação em desembrulhar aquela Yamaha, mas será que lha entregaram sem instruções de montagem? 

E pronto, se do assunto MotoGP não espero que desatem a estar de acordo comigo, até porque eu é mais bolos, já quanto à sensação única de chegar ao AIA, depois de uns meses longe, cumprimentar e ser recebido por uma mancha laranja que nos sorri sempre, que está lá para nos ajudar em qualquer altura e que se despede com um abraço de ‘até amanhã’, mesmo que o amanhã leve duas semanas, pois nesse aspecto espero ter-vos deixado bem claro: WE LOVE THIS GAME.

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