segunda-feira, 6 de março de 2023

Vespa GTS Super 300 Sport à prova

Setembro de 1945. Apesar da inexistência de consenso acerca da data precisa do fim da Segunda Guerra Mundial, é aquele o momento que geralmente se aponta como o fim do conflito militar global mais abrangente da história. Para o tema que nos interessa agora, sabemos que a indústria e a economia da Itália pós Guerra - assim como de muitos outros países da Europa e do mundo - estava absolutamente destruída. Tal como a maioria das estradas do país. 

Foto: Gonçalo Fabião

No fim da Guerra, a Piaggio - construtora de navios e principal construtora de aviões italiana - estava como tudo em Itália: na miséria. A empresa abandonou então a aeronáutica e decide entrar na indústria dos veículos de massas, um pouco inspirada na ideia de Henry Ford, isto é, fabricar veículos utilitários e baratos que chegassem ao maior número de potenciais compradores. 

A primeira tentativa de Enrico Piaggio, baseada numa pequena moto utilizada por paraquedistas, foi um modelo de moto conhecido como “MP5” e apelidada de ”Paperino” (o nome italiano do Pato Donald) devido ao seu desenho peculiar. Não estando totalmente satisfeito com o resultado final, Piaggio terá pedido a Corradino D’Ascanio para criar um veículo simples, robusto e barato. A moto deveria ser fácil de conduzir tanto para homens como mulheres, ser capaz de transportar um passageiro e – muito importante - não deixar as roupas de quem nela andavam sujas. 


Todavia D’Ascanio, um engenheiro aeronáutico responsável pela criação e construção do primeiro helicóptero moderno fabricado pela Agusta, não tinha grande interesse por motos, considerando-as mal cheirosas, barulhentas, desconfortáveis e pouco práticas. Corradino D’Ascanio acaba por aplicar a sua paixão aeronáutica ao motociclismo. A sua moto teria de ser uma espécie de pequeno avião. Para reduzir o barulho e a sujidade colocou o motor junto à roda traseira. E com a ajuda de Mario D’Este, acaba por criar o primeiro projecto de Vespa que viria a ser fabricada na nova reinaugurada fábrica da Piaggio em Pontedera em abril de 1946. 

A Vespa é enfim apresentada ao mundo na primavera de 1946, no Golf Club de Roma. Os jornalistas que foram ao evento dividiram-se perante uma “moto que se assemelhava a um brinquedo”: uns fascinados, outros céticos. Na feira de Milão desse ano venderam-se as primeiras 50 unidades e a partir daí as estradas de todo o mundo nunca mais seriam as mesmas. Em dez anos, mais de um milhão de unidades da scooter foram produzidas. Incrível? Até a língua italiana ganhou mais uma palavra, “Vespare”, que significa "ir a algum lugar de Vespa".


Para esta inacreditável história de sucesso muito contribui um momento singular. Sendo um veículo destinado às massas a Vespa nunca deixou de tentar conquistar as elites. A partir dos anos 50 Hollywood veio dar uma ajuda absolutamente determinante. 

Em 1953 – precisamente há 70 anos -, Gregory Peck e Audrey Hepburn surgem montados numa Vespa, no filme “Férias em Roma”, de William Wyler, a provocar um simpático caos nas ruas da Cidade Eterna. Com este momento que aos olhos de hoje até pode ser considerado algo ingénuo ou mesmo apalermado, a popularidade da Vespa deu um salto considerável, nomeadamente no estrangeiro, tendo as suas vendas disparado. Na verdade, após estas imagens, a Vespa conquistou uma aura de facilidade de utilização mixada com glamour e cosmopolitismo que nunca mais viria a perder. 

 

Quatro anos após o lançamento da última versão, esta nova gama Vespa GTS vem cheinha de detalhes clássicos e deliciosos que dá gosto descobrir lentamente e inclui quatro versões, cada qual com o seu espirito próprio: a clássica e elegante Vespa GTS, a contemporânea GTS Super, a desportiva GTS Super Sport, e a tecnológica Vespa GTS Super Tech, todas propulsionadas pelo motor mono EURO 5 300 HPE (23 CV, 26Nm) de quatro válvulas. O quadro pouco mudou. Como sempre foi o caso ao longo da história da Vespa é feito estritamente de aço, um material sustentável porque é 100% reciclável. Notem que de que este chassi continua a ser, de certa forma, um exclusivo mundial Vespa. 

UMA LARANJA RICA EM VITAMINA 
Mas afinal quantas vezes já andaste de Vespa? Quantos quilómetros já terás feito numa lenda viva assim? Pois…, foi já aos comandos desta laranja mecânica que me apercebi que esta era uma linha importante em falta no meu extenso e glorioso curriculum motocilistico. 

Foto: Gonçalo Fabião

A versão aqui provada foi a Vespa GTS Super 300 Sport. E rapidamente me apercebi que não tinham sido assim tantas as vezes de Vespa e os quilómetros de Vespa na minha vida. E não há lugar para dúvidas. Assim que nos sentamos na moto, muito rapidamente compreendemos que estamos perante um veículo único. Pelo seu desenho e sobretudo pelo seu comportamento. 

Foto: Gonçalo Fabião

Arrumar e desarrumar a Vespa do estacionamento é a coisa mais fácil de todos os tempos. E para todos: menino ou menina, adolescente ou velhinho. A posição de condução é proeminente face à moto. Quero eu dizer com isto que vamos sentados de uma forma diferente face a outras moto da mesma tipologia o que todavia nos permite que estejamos sempre prontos para espetar o ferrão desta GTS Super 300 Sport na primeira fila de automóveis que encontramos pelo caminho. 

Foto: Gonçalo Fabião

A dinâmica fluída e única da Vespa faz-nos ainda sentir que estamos muito perto do asfalto, numa permanente corrida com todos os outros utilizadores das ruas da cidade ou mesmo das estradas dos arredores. 

Foto: Gonçalo Fabião

As novas suspensões - o clássico monobraço dianteiro com monoamortecedor e um duplo amortecedor traseiro com ajuste de pré-carga - em conjunto com a soberba rigidez do quadro em ferro, provocam um sentimento de conforto, segurança e eficácia desconcertantes, ao ponto de questionarmos: estamos mesmo a conduzir uma scooter com pequenas rodas de 12 polegadas? 

DIAS FELIZES
Julgamos que tudo isto aproveita a todos na sua diária vida urbana, no entanto caso a Vespa GTS Super 300 Sport nos sussurrar a pedir um passeio por uma qualquer bonita praia ou montanha da região é de dizer que sim, obviamente. 

Foto: Gonçalo Fabião

Temos motor, desempenho e conforto. Só não temos protecção aerodinâmica e essa aqui é mesmo a natureza das coisas. A vocação turística e até itinerante que as Vespas de grandes porte sempre encarnaram contínua intacta tendo mesmo sido incrementada com um banco surpreendente confortável. 

Foto: Gonçalo Fabião

Os dias em que tive comigo esta “Laranja Impulsivo” foram dias divertidos. Dias em que a Vespa GTS Super 300 Sport coloriu a cidade, as estradas dos arredores e sobretudo coloriu a minha vida com sorrisos e boa disposição enquanto provocava com a sua fluidez os cinzentos e aborrecidos automobilistas. O Vespão reclamou pouco mais de três litros e meio de líquido inflamável por cada cem quilómetros de esbanjamento de estilo, solicitando a marcar uma transferência bancária de 7.600€ para que este veículo icónico transforme os vossos dias em dias muito mais felizes.

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