segunda-feira, 26 de junho de 2023

Honda XL750 Transalp à prova

Ver-te a sorrir, eu nunca te vi 
E a cantar, eu nunca te ouvi 
Será de ti ou pensas que tens 
Que ser assim 
Muda de vida 
Se tu não vives satisfeito 
Muda de vida 
Estás sempre a tempo de mudar 
Muda de vida 
Não deves viver contrafeito 
Muda de vida 
Se há vida em ti a latejar 

Isto é António Variações, algures nos anos oitenta do século passado. Muda de vida, dizia. E é apenas genial. Depois, um colectivo mais ou menos patético, denominado Humanos, fez uma versão sofrível desta obra-prima. Lamentavelmente, quase todos conhecem a cópia e poucos a versão original. Deixamos aqui o original porque isto é um blogue de motociclismo. E sobre motociclismo escrevemos o que nos apetece. Somos livres. E sempre seremos! A fotografia aqui apresentada é como sempre do Gonçalo Fabião.


Podia ser uma dificuldade ser o último a escrever sobre a Honda XL750 Transalp. Só que não. É tão, mas tão fácil, ser o último a escrever sobre esta moto que até dói. “Honrar o passado”. “Valorizar uma herança” com “tecnologia de formula um”. “Verdadeira dual sport multiusos”. Bolas! A serio? 

   

Ano de dois mil e vinte e três. Quem tem o privilegio de ser convidado para conhecer a moto em primeira mão é isto que tem para oferecer ao seu leitor. Ou seja, a cartilha que a marca lhe ofereceu durante um par de dias. A lenga-lenga interminável de um press release escrito por outras palavras? Ou…, transformar um objecto único, como é a nova Transalp, como são uma e cada uma das motos que provamos, em mais do mesmo, “pronto para tudo e perfeito para todos”. Até quando? Bolas. Não deves viver contrafeito. Muda de vida, pah! 


Livres, críticos, sempre a tempo de mudar porque à vida a latejar, o que importa saber é ao que sabe a nova Honda XL750 Transalp e a quem eventualmente aproveita esta moto. É isso que as pessoas desejam saber. O resto são cantigas. Como a dos Humanos e não como a do Variações. Copias, imperfeitas. 


Por exemplo. Quem terá nascido primeiro? O ovo ou a galinha? Terá sido a CB750 Hornet – provada aqui (link) – ou a XL750 Transalp a nascer primeiro? A base motriz é a mesma - bicilíndrico de 755 cm³ (91CV e 75Nm) – ainda que lapidada de forma diferente. Isto para ti faz sentido? Já agora. E para centrifugar ainda mais. Sabiam que a relação peso potencia desta XL750 é muito idêntica à da Rainha, sim falo da CRF 1100L Africa Twin. Isto para ti faz sentido? 


Isto é. Quando falamos da nova Honda XL750 Transalp falamos pois de uma trail de media cilindrada que parte da unidade motriz de uma naked e assume a mesma relação peso potencia de uma grande trail de natureza turística. Isto para ti faz sentido? Mudar de vida, dizia… 


Na verdade quando estamos perante a Transalp do século XXI estamos perante uma moto que respira perfeitamente o ar dos tempos que se vivem. Um tempo de partilha, fusão, razão, aproveitamento, simulação, metamorfose, prazer. 


Partilha de componentes com outras opções que no papel até podem ser antagónicas, como é o caso da unidade motriz aparentemente nascida para a Hornet. Fusão de passado rumo a um aproveitamento que cruza gerações, uma moto que agrade ao motociclista experiente e também ao cristão-novo, dai a moto estar disponível também em verão dita compatível com carta A2. 


Simulação pois a questão impõem-se: falas muito mal das “gordas” todavia é mesmo com esta moto leve – pouco mais de 200 Kg em ordem de marcha - e fofinha que queres passar os alpes, depois de atravessar a Península Ibérica? – recorda ainda que tens de voltar… 


Um tempo de partilha, fusão, razão, aproveitamento, simulação. Um tempo também de metamorfose. Hoje cada um gosta de pintar a moto à sua imagem. A Honda, esperta, dá-te a tinta. A versão base pode ser colorida com pacote urbano ou pacote turismo ou pacote aventura ou pacote rally ou pacote conforto ou todos os pacotes juntos, a saber: cidade, turismo, aventura, rally e conforto. É prómeninoeprámenina. Metamorfose. Impossível esconder a gargalhada. 


E por fim prazer. A XL750 Transalp é de adesão imediata e intuitiva. Fácil de usar na cidade devido à correta posição de condução, rapidamente nos chama para o lazer seja ele subir e descer uma estrada de montanha pelo asfalto tirando partido do nervo motriz e do quickshifter malandro ou subir e descer a mesma montanha no entanto por maus caminhos tirando partido da leveza da ciclística – o quadro pesa pouco mais de 18 Kg e oferece certeza na condução – do acerto suave das suspensões e, obviamente, da roda 21’ na dianteira. 


A Honda XL750 Transalp é muitíssimo mais e melhor do que o que dizem e escrevem sobre ela. Surpreendeu muito pela sua facilidade de utilização em ambiente urbano e no fora de estrada que o comum dos mortais faz: lento, sinuoso, curto e já ali ao lado no monte lá de baixo. Reclamou quatro litros e meio de combustível por cem quilómetros de “honra ao passado” – é só parvo, sim? – pedindo a marca 10.600€ por esta moto que será uma das motos do ano 2023. A ficha técnica? Está aqui (link).

Sem comentários:

Enviar um comentário

Site Meter