domingo, 9 de julho de 2023

Energica Experia à prova

Enérgica. Feminino singular de enérgico, adjectivo. Enérgico é aquele que tem ou em quem há energia. Vigoroso. A Energica Motor Company é um construtor de motos eléctricas orgulhosamente sediado em Modena, Itália e define o seu trabalho, aqui fotografado pelo Gonçalo Fabião, como “the ultimate expression of Italian luxury”. A companhia é hoje controlada pela norte americana Ideanomics (IDEX para os seus acionistas) e esta cotada na NASDAQ, segundo maior mercado de acções do mundo, depois da Bolsa de Nova York, e que se caracteriza por reunir empresas de alta tecnologia em electrónica, informática, telecomunicações, biotecnologia e áreas similares. 


Na gama da Energica, a Experia chama a si toda a atenção por se assumir como a primeira “Green Tourer” da historia do motociclismo. Importa, pois, na opinião deste ESCAPE, mais do que fazer os ensaios do costume ou desafios irreais sobre a autonomia enunciada – bons para ego e para o “like”, todavia totalmente desajustados da realidade – tentar provar se o que a marca diz é verdade. Estamos perante uma moto de turismo? [vamos deixar a fantasia verde propositadamente de lado, com o objetivo de não nos zangarmos já :)]. 


Numa ciclística que viria a revelar-se inquestionável - quadro em treliça de aço tubular, conjunto de suspensões ZF Sachs e travagem brembo - a Energica Experia monta um motor eléctrico de 306V, do tipo Síncrono de Ímanes Permanentes (PMASynRM) – 80 CV e 115 Nm – alimentado por uma bateria de polímeros de Lítio com 22.5 kWh (Max.) e 19.6 kWh, capaz de, segundo a marca, 1200 ciclos de carga para 80% de capacidade. 

O BOM 
O primeiro contacto com a Experia revela uma moto de aspecto trail concebida para gente com alguma experiência de motociclismo. Apesar do esforço feito pela marca no equilíbrio do conjunto, o peso sente-se e obriga a alguma adaptação em especial nas manobras a baixa velocidade. Felizmente temos uma marcha atrás (eléctrica, obviamente) que muito facilita as manobras. A posição de condução é correta. 


O sorriso abre-se quando rapidamente entendemos que vamos ter autonomia para muitos quilómetros. E sobretudo quando entendemos e aceitamos o modo ECO - suficiente para circulação urbana e em via rápida junto da cidade - sabemos que somente temos de nos preocupar com recarregamentos ao fim do dia, já em casa. 


Notem que o Ride by Wire oferece quatro modos de motor pré-configurados e mais três totalmente configuráveis, juntamente com quatro modos de travagem regenerativa e seis modos de um muitíssimo útil controlo de tração que limita a entrega das doses massivas de binário ao asfalto. Na verdade, caso a Experia fosse um Western Spaghetti o seu soberbo comportamento e generosa autonomia seriam o “Bom” desta historia. Todavia a questão principal mantem-se em aberto: estamos perante uma moto de turismo? 

O MAU 
Para responder a tal questão é necessária estrada e são necessários quilómetros. E como dizia a minha avó, aqui a porca torce o rabo. O acerto das suspensões oferece eficácia, todavia também entrega excessiva dureza. E não podemos sequer falar em conforto quando falamos de banco – quer para condutor, quer para passageiro. 


A minha anatomia fez “dislike” à curvatura do banco e à ausência de espuma do mesmo. E ao fim de umas dezenas valentes de quilómetros encontramos algo que a marca vai ter de evoluir positivamente, se quer falar em turismo quando anuncia esta moto. Lamentamos. No entanto aqui somos honestos e transparentes. Este detalhe juntamente com uma protecção aerodinâmica que também precisa de revisão, não sendo impeditivo do mototurismo terá de ser melhorado. 

O VILÃO 
Para aferir ainda da capacidade turística da Energica Experia há também que cuidar da alimentação. De forma muito simpática foi me oferecido um cartão de carregamento para utilizar nos vulgarmente denominados “postos de carregamento de carros eléctricos”. Os “postos de carregamento de carros eléctricos” são infraestruturas que permitem o carregamento das baterias dos veículos eléctricos. Estes postos estão instalados na via pública ou em espaços privados com acesso público, como supermercados, áreas de serviço ou hospitais. Existem vários tipos de postos: normais, rápidos e ultrarápidos. 


Vamos ser claros: nunca os consegui usar. E nunca os consegui usar porque são manifestamente poucos. Muitos dos que existem estão inoperacionais. Aqueles que funcionam estão quase sempre ocupados. Mesmo com o auxilio de uma APP acabei por perder a paciência e optar exclusivamente pelo denominado carregamento domestico. Numa palavra: adaptei-me. 


Obviamente que a marca e o importador não são responsáveis por esta realidade. Dizem-me que o investimento a ser feito actualmente e nos próximos meses é brutal e vai revolucionar a rede de carregamento. Compreendo. Todavia o “livre carregamento” é claramente o “vilão” desta historia. Não faz sentido termos um excelente software, a moto, sem ter um hardware, possibilidade de alimentação, à altura e que a faça correr sem fim. 


Estamos então perante uma moto de turismo quando conduzimos esta Energica? Sim, sem duvida. No entanto temos que assumir que a Experia é um ponto de partida e não um destino em si mesmo. Tem natureza e alma de viajante, claramente. A natureza pode e deve ser trabalhada rumo a mais prazer e eficácia. A alma acaba por ser limitada por factores que lhe são alheios. 


Há que compreender também que a Energica Experia assume-se como uma moto exclusiva e tem, como tal, um preço a condizer: pouco mais de 29.000€ são necessários para, havendo disponibilidade de entrega, levarem uma a passear. Ficaram com pena de não ler uma ficha técnica em prosa? Ok. Aqui está (link) uma, no site da marca, em tabela.

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