Será fundamental - como alguns dizem - conhecer o passado para compreender o presente e perspetivar o futuro? E será que podemos encontrar algum denominador comum entre a muito portuguesa vila de Porto de Mós e a Serie Z da nipónica Kawasaki?
Relaxem. Aqui vão encontrar o relato da experiência Kawasaki Z900 2025: aquele momento em que mais de cinco décadas de genuína histórica evolução do motociclismo, se cruzam com um espaço geográfico milenar onde tudo assume uma certa aura misteriosa. A começar pelo nome do lugar onde estamos. Um porto? No interior? De Mós. De quem?
Sou motociclista. Dos verdadeiros. Ou seja: dos apaixonados. Dos verdadeiramente apaixonados e comprometidos com o motociclismo. Não perco uma oportunidade para andar de moto. É um prazer e não um trabalho. É um deleite e não um ganha-pão. Gosto de sol, sal, pó, desconforto, corpo moído e sorriso nos lábios. Detesto ar condicionado. Assim, aproveitei a viagem ao coração do Parque Natural da Serra de Aire e Candeeiros e fui de moto, obviamente. Sou motociclista.
CONHECER O PASSADO
E estou com este “claim no claim”, como se diz no surf apenas por um motivo: de moto apercebemo-nos de detalhes que passam completamente ao lado quando viajamos literalmente “enlatados”. Eu tento explicar. Quando sai de Lisboa decidi “surfar” estradas litorais nomeadamente a nossa conhecida Nacional 247. Assim, ao chegar à misteriosa Porto de Mós - que não parece, mas dista cerca de trinta quilómetros da linha de costa – apercebi-me que descemos para uma espécie de planalto inferior. Se a nossa direcção vem do mar para o interior, não atravessamos montanhas dignas desse nome e descemos…, ali houve certamente água e navegação num passado mais ou menos recente.
Após a pormenorizada apresentação estática do modelo 2025 da 900 serie Z da Kawa e já depois do excelente jantar que decorreu no hotel quartel-general, decidi ir investigar. No silêncio da noite, assim que saímos do hotel ouvimos água. Há logo ali uma ponte. É o rio Lena, afluente do Lis. Há também um circo de montanhas ali à volta. É o Parque Natural da Serra de Aire e Candeeiros, com as suas encostas em pedra calcária, cujo interior encerra belíssimas galerias visitáveis em Grutas como as de Santo António, Alvados e Mira d`Aire. E o mistério começa a desvanecer-se, ganhando contornos de realidade.
Apesar de rodeada por tais montanhas suaves, na verdade Porto de Mós encontra-se a pouco mais de cem metros de altitude face ao nível médio do mar. E quando falamos deste pedaço de Portugal falamos de uma ocupação milenar da região que pode ser conhecida no Museu Municipal. Ali estão expostos diversos fósseis e ossadas de dinossauros e também testemunhos da ocupação humana em diversas épocas, como sejam vários objectos de pedra lascada e polida (do Paleolítico e Neolítico), moedas e lanças de ferro da época romana.
Afinal o nome Porto de Mós terá tido origem na época da ocupação romana, em que o rio Lena, que então era navegável, encontrava aqui um porto, no qual se carregavam e descarregavam as pedras das Mós (moinhos) talhadas numa rudimentar pedreira existente na região.
A LENDA Z E MEIO SÉCULO DE ADRENALINA PURA
Desde o seu nascimento em 1972 com a icónica Z1, a série Z da Kawasaki tornou-se sinónimo de desempenho, inovação e carácter. A Z1 não só ajudou a sublinhar uma nova era no mundo das motos de alta cilindrada, como colocou a Kawasaki no topo da engenharia japonesa, graças ao seu motor quatro cilindros em linha de 903 cc e à sua fiabilidade lendária.
Ao longo das décadas, a família Z cresceu com firmeza, mantendo sempre o ADN irreverente que a distingue: motos com presença marcante, condução emocionante e um espírito que se tornou assinatura. Modelos icónicos como a Z1000, Z750 ou a mais recente Z H2 continuam a desafiar convenções, fundindo tecnologia de ponta com uma atitude pura e agressiva.
Hoje, a nova geração da Z900 pretende manter viva esta herança — com um equilíbrio entre potência e agilidade, electrónica avançada e o estilo Sugomi que se impôs como imagem de marca. Mais do que uma moto, a série Z é um símbolo de liberdade, rebeldia e paixão sobre duas rodas com muito motor
COMPREENDER O PRESENTE
A Kawasaki define o estilo Sugomi como uma filosofia de desenho que transmite energia e presença intensa, agressividade contida e um magnetismo quase animal — como um predador prestes a atacar.
Mais concretamente, o Sugomi expressa-se em linhas afiadas, posturas musculadas e uma aura ameaçadora, mas elegante. As motos desenhadas segundo este conceito parecem vivas mesmo quando estão paradas. É uma combinação de estética e atitude, onde cada elemento do desenho - desde os faróis angulosos até à posição baixa do guiador - contribui para um visual marcante e inconfundível.
Na visão da Kawasaki, o Sugomi vai além do visual: é também uma experiência. A resposta do acelerador, a precisão da ciclística e até o som do escape estão pensados para provocar emoção e respeito — como se a moto tivesse uma personalidade própria.
A LENDA DA NAZARÉ OU ONDE O MILAGRE VENCEU O VAZIO
A experiência dinâmica começou de manha cedo com um périplo algo aborrecido pelas longas retas ao redor de algumas franjas a sul do denominado Pinhal de Leiria. Curiosamente a estrada levou-nos ao Sitio da Nazaré que é hoje um bairro da Nazaré e local de passagem para os novos peregrinos das agora mundialmente famosas Gigantes da Nazaré.
Aqui a curiosidade é que Porto de Mós e o Sitio são protagonistas há séculos da chamada Lenda da Nazaré que de forma muito sucinta conta que correndo o longínquo ano de 1182. D. Fuas Roupinho, alcaide de Porto de Mós e cavaleiro valente, caçava nas falésias agrestes da Nazaré, montado no seu cavalo impetuoso. A manhã era cerrada de nevoeiro - um clássico regional - e o cheiro a maresia misturava-se com o galope frenético da caça. Subitamente, uma corça surgiu entre as brumas, fugidia, desafiando o cavaleiro a segui-la pelos trilhos traiçoeiros junto ao precipício.
Sem hesitar, D. Fuas lançou-se na perseguição, cego pela adrenalina e pelo instinto. No entanto, ao fim de poucos instantes, percebeu o engano fatal: a corça desaparecera no nada — e ele galopava a toda a velocidade para o abismo. À frente, apenas o vazio, o mar revolto e a morte certa. Foi então que, num gesto de desespero e fé, D. Fuas terá gritado: “Nossa Senhora, valei-me!”.
Nesse instante, como que travado por uma força invisível, o cavalo estacou com os cascos cravados na pedra viva, a escassos centímetros do precipício. A morte passou por ele… mas não o levou. Tomado pelo milagre, D. Fuas desceu do cavalo, ajoelhou-se, e prometeu ali mesmo erguer uma ermida em honra da Virgem. E assim nasceu a Ermida da Memória, sobre a gruta onde se encontrava a imagem de Nossa Senhora da Nazaré — negra, misteriosa, vinda do Oriente, guardada ali desde tempos imemoriais.
Desde esse dia, as falésias da Nazaré deixaram de ser apenas pedra e mar. Tornaram-se solo sagrado, onde o divino e o abismo se cruzam. Onde o rugido das ondas ecoa histórias de fé, coragem e milagre.
“SUGOMI” ELEVADO A NOVO NÍVEL
Prestada que foi homenagem à História, rumamos enfim ao interior e às estradas retorcidas do Parque Natural das Serras de Aire e Candeeiros, nesta época do ano emolduradas por um verde intenso que nos faz imaginar que estamos numa ilha britânica. Aqui foi tempo de filmar, fotografar e enfim desfrutar de toda a intensidade e agilidade da Z900 2025.
Num mundo em que a paixão pela condução se cruza com o rigor da engenharia, a nova Z900 surge como um hino ao equilíbrio entre potência bruta, controlo refinado e estética provocadora. E para quem já conhecia a versão anterior, a nova geração é uma carta de amor à evolução inteligente — sem perder a alma.
À primeira vista, o desenho impressiona. A Kawasaki mantém o espírito “Sugomi”, mas eleva-o a outro nível. As linhas são mais afiadas, a postura mais agressiva, e os novos grafismos conferem-lhe uma presença quase felina, pronta a atacar o asfalto. A iluminação full LED foi redesenhada e os novos piscas acrescentam sofisticação sem comprometer a rebeldia.
Mas é debaixo da pele que sentimos verdadeiramente o salto tecnológico. A nova Z900 recebe um painel TFT mais evoluído, com conectividade Bluetooth através da app Rideology. Já não é apenas uma naked musculada — é uma companheira inteligente, que se adapta a ti, ao teu estilo e ao teu dia. Notem que a actualização da aplicação irá oferecer novas funções.
O motor mantém-se fiel ao inconfundível tetracilíndrico em linha de 948 cc - 124 cavalos às 9500 rpm e binário de 97,4 Nm às 7700 rpm. Todavia a entrega é suave e precisa graças ao novo corpo de injecção e a uma afinação ainda mais cuidada da eletrónica – cortesia da unidade de medição inercial (IMU) de seis eixos.
E por falar em eletrónica, a 2025 vem equipada com modos de condução melhorados e controlo de tracção. Já o Kawasaki Cornering Management Function (KCMF) faz a gestão do ABS. Contem ainda com um quickshifter bidirecional (que funciona quase desde o ralenti) que transforma cada mudança de caixa numa extensão da nossa vontade. Notem: até sistema de controlo de velocidade de cruzeiro aqui vão encontrar.
A ciclística também não ficou esquecida. O quadro em treliça de tubos de aço de alta resistência é uma delícia de precisão. A suspensão foi revista para oferecer um compromisso mais apurado entre conforto urbano e agressividade em curva, e os travões oferecem agora melhor sensibilidade na manete, inspirando confiança a cada ataque às curvas. Contem com peso de 213 quilos com o depósito de 17 litros cheio de sumo de dinossauro.
Z900 SPECIAL EDITION
No mercado podem ainda encontrar a A Kawasaki Z900 SE (Special Edition). Esta é uma versão aprimorada da Z900 base, oferecendo componentes de alta performance e acabamentos exclusivos que elevam a experiência de condução.
São as seguintes as principais diferenças da Z900 SE. Suspensão Premium, na traseira amortecedor Öhlins S46 com ajuste de pré-carga remoto, proporcionando maior estabilidade e conforto; na dianteira forquilha invertida de 41 mm com ajustes de compressão, retorno e pré-carga, permitindo uma afinação precisa para diferentes estilos de condução. Travagem de alto desempenho oferecida por discos dianteiros Brembo de 300 mm com pinças radiais monobloco Brembo M4.32, resultando numa travagem mais potente e precisa.
A Z900 SE possui ainda uma estética exclusiva com pintura especial em Metallic Spark Black com detalhes em Candy Lime Green, destacando-se visualmente da versão standard. Há ainda acabamentos adicionais, como o protetor de calor em carbono no escape Akrapovič e o banco com costuras de estilo artesanal, conferem um toque premium. Contem também com equipamento adicional como escape Akrapovič em carbono e carenagem do painel de instrumentos em fumo, protecção de depósito em gel e cobertura de assento traseiro na cor da moto, realçando o visual agressivo.
A nova Kawasaki Z900 2025 não é apenas uma actualização. É a confirmação de que a alma Z continua a viver — mais viva, mais tecnológica e mais ligada do que nunca ao coração de quem a conduz, sendo oferecida por um preço muito interessante: a marca solicita uma transferência bancaria de 10.890€ pela versão base ou 12.690€ pela edição especial.