quinta-feira, 18 de setembro de 2025

Voge 625DSX à prova

Há motos que chegam de mansinho, sem fanfarras nem luzes de néon, mas que, logo ao primeiro punho aberto, nos arrancam um sorriso cúmplice. A Voge 625 DSX é precisamente isso: uma trail de média cilindrada que não precisa de gritar para se afirmar. Basta deixar o motor respirar, sentir o equilíbrio do conjunto e perceber que estamos perante uma proposta que quer conquistar quilómetro a quilómetro. 


A 625DSX é uma trail/crossover de média cilindrada, pensada para viagens, commuting e passeios em estradões, com rodas 19”/17” e vocação “all-round”. É a evolução da 525DSX, agora com motor maior, eletrónica mais completa e equipamento mais “premium”. A Voge 625DSX surge colocada como opção de valor forte face às “midsize” (Benelli TRK702, CF 700MT) e um patamar abaixo das “hardcore” tipo Ténéré 700/Tuareg 660, com preço E também pode aproveitar a um utilizador experiente que procura uma “segunda moto” para aventuras e passeios sem o peso/preço das big-trails. 


Recordamos que a Voge é a divisão “premium” do gigante chinês Loncin. Enquanto ecossistema industrial a Loncin fabrica, há anos, motores e scooters para a BMW Motorrad (parceria industrial continuada), o que ajuda também a explicar níveis de acabamento/fornecedores (KYB, Nissin, Metzeler) que encontramos na 625DSX. 

O CORAÇÃO QUE PULSA A 270° 
Na ficha técnica, a Voge 625DSX impressiona. O motor é um bicilíndrico em linha de 581 cc, com cambota a 270°, pensado para replicar o carácter de um V-twin, mas com a suavidade e eficiência típicas de uma configuração moderna. Os números são claros: 63 cv às 9 000 rpm e 57 Nm às 6 500 rpm. Mas, mais do que os números, é a forma como entrega a potência que seduz. Há corpo a meio-regime, elasticidade suficiente para a cidade e alma para viajar sem complexos. 


O chassi é um quadro perimetral em aço com subquadro desmontável. Suspensão: KYB invertida de 41 mm, ajustável em pré-carga e extensão (174 mm curso); atrás mono com reservatório e totalmente regulável (181 mm curso). Travagem Nissin, duplo disco 298 mm à frente + 240 mm atrás; ABS de dois canais desligável. Rodas/Pneus: raiadas tubeless 19”/17” equipadas com Metzeler Tourance 110/80R19 e 150/70R17.

UMA TRAIL DO DIA-A-DIA 
No trânsito urbano, a DSX revela-se surpreendentemente dócil. A altura de assento (835 mm) é acessível para uma trail, e os cerca de 206 kg em ordem de marcha não a tornam pesada nem intimidante. O guiador largo garante manobrabilidade, e a posição de condução ergonómica deixa-nos preparados para horas de utilização. Desde o momento zero, a mexer nela parada ou a serpentear no trânsito, a 625DSX é ágil, dócil, intuitiva. O commuting — casa-trabalho, trabalho-casa, voltas curtas pela cidade — revelou-a confortável, eficaz e prática, com o motor sempre disponível e uma ciclística de fino recorte: quadro afinado, suspensão certa, tudo a conspirar para uma condução natural e descomplicada.


Em auto-estrada, mantém velocidades de cruzeiro com naturalidade, protegendo o condutor com uma frente robusta e um conjunto que transmite estabilidade. Nos troços de curvas, a agilidade vem ao de cima: a ciclística é intuitiva, o conjunto entra em curva sem esforço e mantém a linha com segurança. 

TECNOLOGIA DE MOTO GRANDE 
É também aqui que a 625 DSX surpreende mais: ecrã TFT a cores com navegação, conectividade Bluetooth, câmara frontal HD, ABS e controlo de tração desligáveis, monitorização da pressão dos pneus, iluminação full LED, entrada USB, descanso central, proteções laterais e de cárter. Tudo isto de série. A lista impressiona, sobretudo quando nos lembramos do preço de ataque. 


A escolha de componentes não engana: travões Nissin, suspensão KYB, pneus Metzeler. Sente-se solidez na montagem, atenção ao detalhe, e um esforço real para oferecer ao condutor não apenas uma moto acessível, mas uma moto com dignidade, capaz de ombrear com propostas de marcas mais tradicionais. 

IMPONENTE E ROBUSTA 
A VOGE 625DSX não precisa de truques: a primeira impressão é das que ficam coladas à retina — visualmente impactante. Imponente sem arrogância, robusta sem excesso, aquela presença que nos faz abrandar meio segundo antes de rodar a chave. Mas uma trail mede-se também fora do casulo urbano. Em estrada de montanha, onde as curvas pedem corpo e cadência, a VOGE 625DSX confirmou a boa estrela: mantém ritmo em estrada rápida e entra em curva com vontade, sem sobressaltos. A dois, com a Miss Yoshimura na traseira, a resposta do motor manteve-se cheia e limpa. A Miss Yoshimura gostou de viajar ali porque a moto consegue ser confortável, eficaz e divertida. 

E porque uma trail pede pó nos cotovelos, houve fora de estrada. O ADN trail confirma-se fora do asfalto. As rodas de 19” à frente e 17” atrás, com jantes de raios sem câmara, e os pneus Metzeler Tourance, combinam-se com a suspensão KYB regulável para dar confiança em estradões e pisos menos previsíveis. Não é uma enduro radical, mas sabe sujar as botas com competência. 

Notem que esta não é experiência imune a reparos, e ainda bem: dá-nos margem para exigir mais. A proteção aerodinâmica podia ser mais generosa (já é aceitável, mas há espaço para ganhar fluidez). O banco do condutor merecia um toque extra de conforto — resolução fácil em futuras versões. E, numa nota mais subjetiva, sentimos a ausência de controlo de cruzeiro (cruise control): a moto faz cruzeiros elevados com facilidade e deixa a sensação de que alberga bem mais potência e mais estofo. 


Ficou um lamento: sem malas, não pudemos cumprir a viagem longa que a moto parece pedir. É pena, porque tudo indica que a VOGE 625DSX está talhada para quilómetros sérios, para aquele mapa que se vai desenhando à medida que o depósito baixa. No balanço, a fotografia é nítida: a VOGE 625DSX surpreende. Seduz pela honestidade simples, pela forma como encaixa no quotidiano e, ao mesmo tempo, nos pisca o olho à estrada aberta. Não é apenas uma compra sensata; é companhia com alma de viagem. 


E, por falar em surpresas, vamos à cereja no topo do bolo desta Desert Sand. A VOGE 625DSX sorveu 4 litros de sumo de dinossauro por cada cem quilómetros de sorrisos, solicitando a marca uma transferência bancária de 6.592€ e a estrada dos teus sonhos espera por ti. Nota que se desejares carregar ainda mais a tua aventura, o conjunto de malas by Loboo, está disponivel por 998€ e garante que cada viagem é feita com estilo e audácia. 


Que os puristas, os conservadores, os elitistas e os preconceituosos mais rígidos fechem os olhos e suspirem: esta moto não veio para obedecer, veio para desafiar, para arrancar sorrisos e leva uma nota elevadíssima nesta prova. 

Raterómetro ********* (9/10)

2 comentários:

  1. Só é mesmo "pena" que a escolha do design frontal seja propositadamente enganadora, para se parecer com aquelas coisas europeias com o dobro da cilindrada...

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  2. É verdade que no design frontal da VOGE 625DSX há ecos de outras motos europeias — mas deixo a pergunta: terá sido a Ducati a primeira a puxar linhas tão trabalhadas? 🤔 Ou antes a KTM? Ou a BMW? Ou até os japoneses, que também beberam daqui e dali?
    No fundo, todos nos inspiramos uns nos outros — na vida e nas motos. 😉 O importante é que o resultado funcione e emocione quem vai guiá-la. E essa parte, garanto-vos, a VOGE cumpriu de sobra

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